segunda-feira, fevereiro 28

curioso? não!

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Lá diz o velho ditado "a curiosidade matou o gato...". O ditado é clássico e verdadeiro. A curiosidade é algo que existe dentro de nós, um mal incurável que raramente nos abandona ao ponto de nem medirmos a ameaça e o perigo. Curioso, não?! Não há solução. A curiosidade é uma praga e faz mesmo parte dos genes dos portugueses atraídos por comportamentos anti-sociais e acontecimentos trágicos. Se há um acidente, se duas pessoas discutem por qualquer motivo, aglomera-se logo à volta uma pequena multidão que acaba por se envolver dando palpites e, por vezes, piorando ainda mais a situação.

Este sábado o mar foi cruel para dois rapazes amigos que se aventuraram nas rochas da Praia de Lavadores em Gaia. Caíram e desapareceram nas ondas revoltas. Desde que o alerta foi dado, decorrem operações de busca, bastante limitadas às más condições do mar. A curiosidade fez com que muitos populares acorressem ao local, parando de propósito os carros para irem espreitar dificultando o acesso e a actuação dos meios de socorro ao local, e detendo a caminhada para dar a sua própria versão dos acontecimentos.

Sendo a curiosidade inata no ser humano, provavelmente não seremos mais curiosos do que outros povos. Afinal deve ter sido por causa da curiosidade que os portugueses se meteram em aventuras além mar, atravessaram oceanos em barcos frágeis e descobriram meio mundo. Mas, provavelmente, andamos a orientar a nossa curiosidade para objectivos que não valem a pena e que não nos levarão nunca a descobrir o bom senso. Como é que se compreende (aqui o link da notícia) que um pai leve um filho de doze anos numa mota de água para junto do perigo? Qual o entusiasmo que os moveu a colocar a própria vida em risco a pretexto da curiosidade?


sexta-feira, fevereiro 25

como um peixe fora de água

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Um dia foi pescador, quando ainda morava em Kélibia, uma aldeia branca e solarenga na costa mediterrânica da Tunísia, de onde saiu fugido das maledicências de um regime opressor e de uma sociedade inconformada.

Numa noite de Janeiro, Habib embarcou no pequeno barco de um estranho amigo, por oitocentos Dinar. Consigo, uma dezena de homens atravessaram o Mediterrâneo e desembarcou clandestino, oito horas depois, na costa italiana, para o início de uma nova vida, uma nova sobrevivência, num novo lugar onde provavelmente também seria indesejado, ou com sorte, até tolerado.

Esse renascer é sequela do maldito dia em que apenas ele sobreviveu ao naufrágio do pesqueiro que matou os seus três companheiros. O mar revolto, ao largo da Pantelária, quis que fossem eles e não a si. Devolveu-o à terra para sua desgraça. As viúvas de Kélibia não lhe perdoaram esta vitória. Menos por ter sido ele e não um de seus maridos o sobrevivente, mais pela própria fortuna que a sua fé exprimia. Privilégio de qualquer forma. Excluindo-se de algum modo por não ter sido acolhido pelo mar que o alimenta. A água salgada, o sustento daquela gente sofrida e que lhe ditara as leis durante a vida. Era um homem só e, por isso, mesmo que morresse não haveria viúva que chorasse por si.

Ao cruzar aquela imensidão azul, sem perspectivas e à sua sorte, ele decidiu que seria a última vez que navegava. Hoje, Habib vagueia pelas vilas da Sicília. É mais um entre os refugiados que sobrevivem da caridade humana e parou de sonhar que um dia morreria no mar.


quinta-feira, fevereiro 24

vista das minhas janelas

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Acordei sob um céu azul e sol radioso e chego aqui envolto num manto de nevoeiro, que cobre os telhados, dilui a cidade no firmamento e apaga o fio do horizonte. Gosto deste mistério das manhãs de nevoeiro no Porto, deste contrastante despertar que paira sobre a cidade, do brilho de um novo dia a ocidente e a bruma fresca e parda de melancolia a oriente.


quarta-feira, fevereiro 23

testemunho a pedal [3]

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A ideia (destes “postes”) foi tentar demonstrar que não é preciso ser-se um super-herói para andar de bicicleta no Porto, nem de empreender nenhuma odisseia quando se pretende pedalar pelos arredores. Além de ser possível fazer, é bastante mais fácil do que aquilo que as pessoas julgam, e vão ver que 50km por semana não é nada de especial. Acabam por ganhar bastante tempo e poupar preocupações nestas pequenas deslocações. Tudo depende do ciclista. Eu fui aprendendo com os erros que cometi e cometi bastantes. Basta haver bom senso para se circular em segurança. Nas ruas pedalar sempre na faixa da direita e permitir as ultrapassagens, se isso não condicionar a nossa segurança. Seguir sempre no mesmo sentido dos carros. Procurar estar atento aos peões, que saltam para a estrada sem olhar, e não esquecer os carros estacionados. Soube através de sites de bike commuting que um dos acidentes mais comuns entre ciclistas acontece quando pessoas abrem as portas dos carros sem verificar se vem alguém atrás (este não experimentei!). Há que saber quando podemos andar depressa e quando devemos andar devagar. Sempre que as houver, devem aproveitar as ciclovias e evitar ao máximo pedalar nos passeios, que podem ser bem mais perigosos do que pedalar na estrada. Prever os movimentos súbitos dos transeuntes, adultos e crianças, contar com carros a sair de garagens e não esquecer os animais. Existem ruas com muitas ratoeiras. O piso pode ter buracos, tampas de saneamento altas ou fundas, pode acontecer por exemplo entalar a roda da frente no carril dos eléctricos (ai como eu sei disso). Convém avaliar as condições do piso quando está molhado e ter cuidado na abordagem a uma rampa ou subir um passeio, que por mais baixo que seja deve-se sempre tentar fazer com um ângulo aberto e com o rabo fora do selim. Depois só falta os cuidados da bicicleta, não esquecer de calibrar os pneus, verificar o estado dos travões, a iluminação, lubrificar as engrenagens. A meu ver, a bicicleta de ciclo-turismo que tem um selim e posição mais confortável, reflectores e luzes, pode ter amortecedor, guarda-lamas, alforges, tudo isso a um preço bastante acessível, é a ideal para quem se queira iniciar nestas andanças.

(Um exemplar de citybike. Não é minha mas poderia ser)

E para finalizar, demonstro com
números o tempo que demoro de casa ao trabalho nas várias hipóteses à hora de ponta e pelo percurso atrás descrito (aqui o mapa do percurso) em vários meios de transporte:

Carro
: 40’ (20 minutos dos quais desperdiçados a procurar uma vaga de estacionamento grátis. Se o deixar nos parques posso dizer adeus a 8€)

Transportes públicos: 30’ (10´a pé + 5´de metro + 15’ de autocarro, excluindo os tempos de espera e o passe mensal)
Bicicleta: 15’, nas calmas, de graça e sem poluir.

Ou seja, há outras alternativas ao individualista automóvel. Os solitários automotorizados ocupam muito espaço nas ruas e todos nós saímos prejudicados. Temos de perceber o quanto somos dependentes de um símbolo de status que é cada vez mais dispendioso e um empecilho das cidades modernas.


* Um agradecimento especial ao Miguel Barbot pelo incentivo.


terça-feira, fevereiro 22

testemunho a pedal [2]

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Os meus percursos a pedal podem não ser diários mas são variados. A descoberta é ilimitada. Tanto dá para esporadicamente pedalar até à escola, para as reuniões da Associação de Pais, para ir ao Dragão actualizar a filiação, ou simplesmente para apanhar ar nas trombas, a bicicleta encurta distâncias e junta o útil ao agradável. E o passeio que mais possibilidades me garante é o que faço sempre que vou a casa dos meus pais. De minha casa, na Prelada, desço a Avenida da Boavista até ao Castelo do Queijo. Aproveitando a nortada na marginal, da Foz à Ribeira é um instantinho. Bom, aí há sempre a possibilidade de seguir o rio até à barragem e atravessá-lo lá, mas desta vez estou preguiçoso e cruzo o Douro na ponte para entrar em Gaia. Sempre com a apaixonante tela invicta a acompanhar-me, faço um sprint pela Afurada até ao Cabedelo, reencontro o mar e sigo na orla até à Praia da Madalena para visitar a famelga, ou então para ir muito mais além. Outra pedalada mais ou menos regular é para o trabalho. E para arrepiar caminho, até porque marco o ponto às oito horas, opto por um destes dois trajectos a partir da Prelada: Depois de passar pelo Hospital, viro para o Carvalhido, sigo por Oliveira Monteiro, cruzo a Rua da Boavista até à igreja de Cedofeita e, a partir daí, qualquer direcção serve para o Jardim do Carregal. Este percurso tem o inconveniente do piso ruim e ruas estreitas, mas é quase plano, simples de fazer e encontro menos trânsito; A alternativa é entrar na Rua 5 de Outubro pela Estação de Francos, seguir cuidadoso para a Rotunda da Boavista, descer e subir Júlio Dinis, no Palácio viro para a D. Manuel II e voilá, eis-me no serviço 5km depois. Por aqui as ruas são largas, o piso é melhor, sobe um pouquinho e tem sempre bastante trânsito. Mas nem tudo são rosas quando se pedala na cidade. Há muita falta de respeito por parte de alguns condutores que não conseguem seguir a vida fora das suas caixas metálicas com vidros eléctricos e ar condicionado. Essas pessoas toleram um carro a mais nos incontáveis engarrafamentos, mas não costumam ver com bons olhos um ciclista desprotegido que se locomove à sua frente sem poluir. Mesmo sendo o ciclista um carro a menos! Acredito no entanto que se formos cada vez em maior número até estes se habituarão a conviver com os “maluquinhos” das bicicletas.

(e a pedalada continua…)


segunda-feira, fevereiro 21

testemunho a pedal [1]

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O Miguel no seu 1PNPeONP lançou o isco e eu apenas segurei o guiador com ambas as mãos, e acelerei nas teclas motivado a colaborar com o meu testemunho a pedal e "contribuir com umas linhas sobre a minha experiência, percurso realizado diariamente, principais dificuldades que encontrei e sugestões para dar aos ciclistas do Porto".

Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40.

Era apenas mais um dos (auto)imobilizados no engarrafamento urbano. Perdia paciência e euros só para estacionar o popó perto do trabalho, bem no centro da cidade. Com o início da revolução intermodal que o Metro proporcionou à área metropolitana, e dispensado de algumas obrigações paternais, voltei a ser adepto das caminhadas e sócio dos transportes públicos. Sem querer, mas dando-me já conta disso, a obesidade e a ferrugem pesavam-me no corpo e, a partir de uma certa altura da vida, ou se começa a ter alguns cuidados físicos e abandonar maus hábitos, ou então poderá ser mais difícil nos convencermos, se nos queremos sentir mais fortes e saudáveis, que teremos de adoptar outros estilos de vida mais ousados. Vai daí, comprei duas biclas, a Etielbina para mim e Maria del Sol para a minha cara metade, aumentei a frota com a pequena para o meu pequenote e, mais tarde, tive de arranjar espaço para a Gorka lá na arrecadação. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem, é absorver todo o prazer que elas me têm proporcionado.

(e a pedalada continua…)

sexta-feira, fevereiro 18

on/offrio

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O sistema informático da instituição teve um colapso grave, geral e globalizado. Desde anteontem que ficou em baixo e apenas hoje voltou a ficar operacional e começou a recuperar as suas anteriores potencialidades. Esta é a razão de algum do meu silêncio. Curioso o ambiente de pânico que por aqui se instalou apenas porque não tínhamos acesso à internet e a sensação de perda por não receber e-mails. Mesmo em casa fui relegado para um período de abstinência blogosférica. Com dois computadores em casa, nenhum é meu, note-se, sou um dependente da família também no que diz respeito a navegar pela rede cibernética. Pensar que há dez anos atrás as nossas vidas decorriam de forma perfeitamente equilibrada, sem computadores, sem internet, telemóveis e esta necessidade constante de estarmos em permanente comunicação, on-line, uns com os outros. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e já ninguém contesta a necessidade de acompanhar a pressa do tempo. Pensar que ainda outro dia o desenrascador para todo o serviço, o meu telemóvel, ficou sem bateria e tive de recorrer a alguns trocos e a uma cabine telefónica! Parecia ser protagonista de um filme já muito antigo!

Bom fim-de-semana


quinta-feira, fevereiro 17

ainda agora...

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Chuva que primeiro é mar
Formando ondas sem parar
Numa metamorfose da Natureza
Envolvida e feita de leveza
Agora é nuvem a viajar
Voando sentada no vento
Em constante movimento
Na minha cabeça a desabar...

Foge qu'esta é da grossa!...

(Estou-me a habituar a isto dos "postmóvel",publicar via telemóvel)

quarta-feira, fevereiro 16

uma bicicleta com e-stilo

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As bicicletas eléctricas são uma excelente forma de afirmar este meio de transporte como a alternativa para a circulação urbana. Na aparelhagem “corre” um vídeo da Grace Urban e-Bike, a chamada bicicleta do futuro. O velocípede que a firma alemã Grace, desde finais de 2009, pretende comercializar não é, à primeira vista, uma bicicleta qualquer. É um produto de alta tecnologia construído artesanalmente em alumínio, com alguns componentes em fibra de carbono e que, além do mais, é motorizada. Não se trata de um conceito propriamente inovador, mas o que a diferencia das outras é um motor eléctrico de 1300 watts alimentado por um grupo de baterias de iões de lítio recarregadas pelo rodar dos pedais. Dessa forma, quanto mais se pedalar, mais carga a bicicleta adquire, o que permite deslocar-se a uma velocidade máxima de 45 Km/hora.

A e-bike alemã é a reinvenção da bicicleta, que promete ser mais eco-friendly do que um cavalo (está escrito assim mesmo no site da marca). Apresenta um design sofisticado, é exclusiva, bonita, eficiente e ainda por cima bastante ecológica. Mas tem um “pormaior” que lhe retira alguma graça. Por enquanto é um puro objecto de luxo. Só é produzida sob encomenda e os preços variam entre os 4 e os 8 mil e tal euros. É verdade que há bicicletas tradicionais que ultrapassam largamente esses preços mas para o cliente alvo talvez não seja ainda suficientemente atraente para motivar uma mudança de hábitos. Quem sabe um dia, quando as pernas me falharem, eu não tenha uma!



terça-feira, fevereiro 15

"a brutalidade desta foto é acentuada pela serenidade do seu rosto"

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Bibi Aisha foi casada ainda adolescente. A jovem afegã de 18 anos fugiu dos constantes maus-tratos que sofria do marido. Foi encontrada em casa dos seus pais, onde buscou refúgio. Após o veredicto imposto pelo comandante taliban, que como sabemos são fundamentalistas islâmicos que impõem regras e determinam castigos desumanos contra as mulheres que se revoltam contra as suas “leis”, o cunhado da jovem prendeu-a no chão para que depois o marido executasse a mutilação. As orelhas e o nariz foram-lhe brutalmente decepados. Abandonada, a jovem afegã acabou resgatada por militares americanos e equipes de ajuda humanitária e integrada no refúgio para mulheres em Cabul, onde foi fotografada pela repórter fotográfica sul-africana Jodi Bieber. Actualmente Bibi Aisha vive nos Estados Unidos, onde se submeteu a uma cirurgia de reconstrução facial.

A imagem foi capa da revista Time em Agosto de 2010 e foi recentemente premiada com o grande prémio do concurso internacional World Press Photo 2010.

“Queria fotografar a beleza dela apesar do que lhe tinha acontecido”, disse Jodi Bieber em reacção ao prémio, numa declaração áudio publicada no site do World Press Photo. “Não queria retratar Aisha como a vítima. Eu pensei “não, esta mulher é bonita””. “Eu estava muito insegura do modo como a tinha fotografado, porque não era de um modo tradicional”, referiu, elogiando a revista Time pela coragem de publicá-la na capa.

A foto da jovem foi publicada com o título "What happens if we leave Afghanistan" ("O que acontece se deixarmos o Afeganistão"), para uma reportagem com fortes implicações políticas sobre a permanência militar dos Estados Unidos no país asiático, com destaque na situação das mulheres que vivem sob o domínio do regime taliban. Embora o acto de violência retratado cause choque, para o júri do World Press Photo a fotografia demonstra a dignidade da jovem afegã perante um caso de violência contra as mulheres.

Para o crítico norte-americano Vince Aletti, que também integrou o júri, este retrato não é só sobre aquela jovem em particular, “é sobre a condição da mulher no mundo”. “É uma imagem incrivelmente forte. Ela passa uma mensagem enormemente forte ao mundo, sobre os 50 por cento da população que são mulheres, muitas das quais vivem em condições miseráveis e vítimas de constantes violações”.

Aisha diz ter posado para a fotografia por querer mostrar ao mundo as potenciais consequências de um novo governo taliban.


segunda-feira, fevereiro 14

namoro à moda antiga

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- Não é nada, diz-me o Biscoito. - Se fosse à moda antiga eu estaria lá fora e a Branquinha cá dentro.

Olha-me pra este gato pingado!!!

- Fffssss...


sexta-feira, fevereiro 11

inverno

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Vagueio vadio num espaço que me limita a existência. Desperto num lugar comum, entre sorrisos e carinhos, de afagos e delicadas brisas que me acalmam o alento. É o indefinido de mim que se apresenta reflectido no firmamento, cujo luzir da manhã me revela o presente. Não me detenho em águas tumultuosas, cujas ondas beijam ferozmente as areias da vida. Não me sinto dormente pelo gélido vento que me tolda os sentidos num caminho de aflição e desassossego. Percorro o caminho, saboreando cada partícula da chuva com uma sofreguidão e avidez como se me tivesse transfigurado numa criança de desejos incontidos. A estrada que me move está forrada de algodão doce, abençoada brandura que me intoxica os humores. Não lhe sinto azedume, travo amargo ou dificuldade. Não lhe vejo obstáculos que me firam o rodar. Miro um horizonte límpido, cuja linha do infinito me cumprimenta num aceno feliz e convidativo. Prossigo, liberto de tudo o que me apoquenta, numa pedalada segura, firme onde os pormenores da vida se aparentam cristalinos como as águas de um rio feliz e calmo.


quinta-feira, fevereiro 10

esta manhã...

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... disseram-me que se "celebrou" o dia nacional sembóios!!!

Achei piada à expressão.
Os utentes é que não!


quarta-feira, fevereiro 9

um... dois... experiência

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Numa pausa entre momentos sem computador, entro no gabinete pelo telemóvel. É a primeira experiência de um poste "móvel". A ver como fica!

terça-feira, fevereiro 8

reposte 8 [13 de Março de 2099]

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Lembra-nos o Google que hoje se celebra o aniversário de Júlio Verne, o génio da ficção científica. Assim, e sem melhor assunto, é reposto este texto que foi editado nogabinete a 13 de Março de 2009, uma sexta-feira 13. A tecnologia evolui e evoluirá de uma forma lógica e gradual enquanto o ser humano continuará e ser influenciado de maneira transcendental e irracional pelas suas superstições. (Segui a sugestão que o Rafeiro deu na altura e rebaptizei o robot, protagonista da história, para Magalhães).

13 de Março de 2099. Após a grande revolução andróide, que se tornara o único sistema operativo para todo o sistema solar, a sociedade era a família e educava uma criança de uma forma mais colectiva, sob a influência do pós-humanismo. Assim, como os seus amiguinhos, Félix recebeu o seu primeiro robot educativo, recheado de recursos e programado para ser o seu “big brother” que permitia, entre muitas outras funções, a sua mãe monitorizar todos os passos que dava assim que saísse de casa. Para um miúdo de apenas quatro anos, Félix demonstrava ser bastante inteligente e perspicaz, e dentro da sua inesgotável curiosidade queria conhecer melhor todas as potencialidades do seu novo companheiro. O pai programou o Magalhães para registar e reportar em tempo real tudo o que faziam, o que levou Félix a perguntar-lhes: E se eu não quiser que saibam onde estou? O pai riu, olhou para a mãe e brincou: Oh meu maroto, e eu posso saber como é que um menino do teu tamanho vai andar por aí sem que os pais saibam onde estás? É só para tua segurança, filho… Félix começou a olhar desconfiado para o seu robot. Se ele saía da escola e parava no parque para brincar, logo a mãe ligava a voz do Magalhães e lhe pedia para ter cuidado. Se aceitasse o convite de um amigo, a mãe cobrava explicações por ter trocado o seu caminho normal por outro que não era habitual. Ao longo do tempo, ele foi aceitando o robot, uma caixinha brilhante que já o conhecia bem, cada vez com maior amizade e carinho. Magalhães cumprimentava-o com cordialidade, perguntava se queria jogar xadrez com ele e, quando passavam junto de uma nave de gelados, o robot vibrava e avisava que o Mega de Morango, o gelado preferido do garoto, estava em promoção! O que deixava o Félix ainda mais curioso era mesmo saber como aquela máquina estranha podia fazer aquilo tudo, e isso para ele era uma fixação.

A grande revolução andróide foi-se tornando o padrão mundial. Utilizado por todos os governos, monitorizava os humanóides, adoptando o uso de implantes, uma tecnologia desenvolvida para a colocação de um nano-chip, o Chipo, sob o couro cabeludo incorporado no crânio das pessoas, que através dele podiam fazer mil e uma coisas, desde controlar sistemas de reconhecimento, compras com débito instantâneo e reciclagem dos fluidos corporais. Nessa época, os implantes eram logo inseridos nos bebés mal nasciam. Assim, tanto os desaparecimentos, como abusos e maus tratos envolvendo crianças, foram simplesmente apagados do planeta. A pedofilia foi extinta e a violência quase passou à história. Todas as actividades humanóides que envolvessem identificação e localização do indivíduo eram realizadas com a rapidez do omnipresente Chipo. O planeta Terra tornara-se um local pacífico e bom para se viver. É claro que haviam algumas excepções! Algumas organizações rebeldes resistiam em países do antigo terceiro mundo e recusavam-se a adoptar a nova tecnologia. Teimavam em viver numa pré-história tecnológica. Ocupavam regiões longe do desenvolvimento do mundo real, numa espécie de reservas naturais, tentando aqui e ali sabotar e limitar o sucesso do sistema operativo, introduzindo alguns vírus maliciosos da velhinha Internet.

Naquele dia, Félix estava numa aula de Autonomia Privativa, a disciplina que menos gostava. Ele assistia à aula da sua mesa, numa ampla sala com vista para um imenso monitor transparente. Haviam um sem número de comandos na sua mesa, e o Chrome, uma superfície sensível à sua íris, exibia uma tabela de questões que teria de responder para ultrapassar mais uma etapa da sua formação. Félix estava cada vez mais pálido. Magalhães reconheceu-lhe imediatamente uma brusca mudança na sua pulsação e mesmo antes que ele instruísse o primeiro comando, abriu uma janela privativa no Chrome e propôs ao sistema um intervalo para dúvidas de ingenuidade. Receptivo a esclarecer dúvidas de ingenuidade, menino Félix?, questionou. Não é nada disso Magalhães! Já reparaste que dia é hoje?

É 13 de Março de 2099, sexta-feira 13!!! Porquê?!




segunda-feira, fevereiro 7

um país em duas rodas

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Encontrei um filme que mostra um quotidiano e estilo de vida notáveis. Remonta aos anos 50 e a um país do norte da Europa, à Holanda, o país das tulipas. Assim que o vi, esbocei um sorriso pelos insólitos modos (aos nossos olhos) que dão ao uso de um meio de transporte tão básico. Fiquei fascinado e fui logo pesquisar sobre a intimidade que os holandeses têm com as bicicletas. Até parece que eles já nascem sentados num selim a rodar os pedais. Muito provavelmente até aprendem a pedalar antes mesmo de saber andar. Na Holanda, andar de bicicleta é tão espontâneo como caminhar. Para se ter uma noção, actualmente existem cerca de 18 milhões de bicicletas, uma média de 1,1 bicicleta por habitante. Resulta que para eles, de todas as gerações, é natural fazer em cima de uma bicicleta aquilo que eu só aprendi aos 6 anos, deixei aos 18, e voltei depois dos 30, tudo o que pudesse sequer imaginar. Aquilo que para mim é hoje a minha realidade e um benefício extraordinário.



A Holanda é um país muito chato. É claro que quando digo chato digo plano, estão a ver!? A maior "montanha" terá uns 300 metros e é um país pequeno, com tudo perto. Da paixão que os holandeses nutrem em pedalar desenvolveram toda uma cultura impressionante, a 10 km à hora. As "fietsen" ("fiets" é bicicleta em holandês) estão por toda a parte. Um dos maiores clichés de Amesterdão, juntamente com os canais, as drogas e a prostituição legalizada, são as bicicletas que dominam o trânsito e as paisagens. São mais de 400 km de vias exclusivas às biclas. Se estiver a chover, ou a nevar, eles põem uma capa de plástico em cima do lombo e pedalam sem medo. As crianças vão nas cadeirinhas, à frente e atrás, para a escola. As mamãs vão depois ao mercado e regressam a casa carregando as compras do dia. Também são exímias em segurar o guiador com uma mão e com a outra escreverem mensagens no telemóvel. O pai já saiu a pedalar a sua bina para o escritório, de fato e gravata, e a segurar uma pastinha sem problemas. A senhora volta a sair de casa a pedalar, cabeça levantada estilo executiva, vestido da moda e salto alto para deslumbrar no caminho. E todos vão sem capacete porque ali, ali eles sabem andar de bicicleta… E eu que nunca estive na Holanda!!!...

sexta-feira, fevereiro 4

um eléctrico chamado velho [2]

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(A Praia de Matosinhos) - foto: Filo Ladeira

Naqueles dias quentes e tórridos das grandes férias de verão da nossa infância, caso eu o meu irmão ainda não tivéssemos ido para a aldeia ou para um parque de campismo, havia um destino mais do que desejado, a praia. E a praia de eleição era a Praia de Matosinhos. O ponto de encontro por excelência naquele extenso areal era na Bola da Nívea. Num instante já estávamos a banhos de sal e de sol, nas corridas e partidas de futebol, a piscar o olho às miúdas, tudo num convívio descontraído com os amigos de sempre. Um cardápio perfeito para se absorver todo aquele imenso tempo livre que tínhamos. Mas não é da praia que quero falar. Como prometi no poste anterior resolvi contar a viagem mais radical que fiz da minha inconsciente, ou inconsistente, adolescência, vivida a bordo (!!!) de um eléctrico da Linha 19.

(O 19 na rotunda do Castelo do Queijo, a fortaleza ao fundo. Do outro lado é visível o que restou do petroleiro Jacob Maersk, a proa encalhada nas rochas da praia) - foto: Bahnbilder.de

O sol baixava lentamente o seu pano prateado sobre o oceano, no final de uma dessas maravilhosas tardes de praia. Era hora de voltar para casa. Com a pele temperada de sal, sandálias nos pés cobertos de areia, mochila pesada às costas, eu e o Geno seguíamos para a paragem do autocarro com a conversa solta. Íamos tão distraídos que nem demos conta que os outros estavam com pressa. O normal seria apanharmos o 88, pela Circunvalação, só que o resto da malta e o meu irmão resolveram ir ao centro comercial Brasília, na Boavista. Talvez nos tenhamos esquecido, já não sei. Vai daí, todos eles entraram no carro eléctrico que estava na paragem, pronto a sair. Depois, foi um corre-corre louco para alcançar o 19 que já iniciava a marcha. Chegados bem perto do veículo percebi que aquilo estava pior que sardinha em lata, não cabia mais ninguém, nem mesmo nas escadas. O eléctrico a acelerar nos carris e eu a ficar para trás. Mas o Geno foi rápido a decidir. Saltou para as escadas da outra porta e atirou-me o desafio: – "Anda lá, sobe para aqui". Eu que estava prestes a perder o fôlego, não calculei o risco e,  instintivamente saltei para o cavalo de madeira. Apoiei um dos pés no ferro do atrelado e agarrei-me com as mãos no sarilho metálico que recolhe e enrola a corda da vara de trólei, sem sequer imaginar no sarilho em que me estava a meter. Logo eu, um inexperiente na arte da "gunisse", estava ali em transgressão, e bem lixado por sinal. Para além de umas aventuras malucas na bicicleta, ou nos carrosséis de cestas, nunca antes havia experimentado tão radical aventura. E o eléctrico acelerava em direcção à rotunda do Castelo do Queijo, transferindo toda a sua energia cinética para o meu corpo. O peso da toalha molhada que carregava na mochila puxava-me para baixo, as sandálias escorregavam da barra de ferro, os braços resistiam mas os dedos ardiam de dor. - Porque é que isto nunca mais para! Pensava eu enquanto sentia lágrimas a escorrer no meu rosto. Só não percebi se seriam do vento ou do terror que sentia. Olhava para o Geno e ele ali, na maior das calmas. Olhava para os paralelos da estrada que passavam debaixo dos meus pés cada vez mais ameaçadores. Olhava para a janela em desespero mas não via nada. Eram mínimas as hipóteses de evitar um valente trambolhão e vir a ser passado a ferro pelo carro que seguia logo atrás... Até que, como que por um milagre, recebo um socorro inesperado de um qualquer anjo da guarda. A janela do eléctrico desceu abruptamente e de lá de dentro saíram duas vigorosas mãos que me agarram os braços e me puxaram para cima. Logo logo o eléctrico desacelerou nas agulhas para entrar na rotunda e parou para largar e receber passageiros. Ainda com as pernas a tremer e imobilizado de medo, prometi-me, ali mesmo, que voltaria a entrar nos trilhos. E entrei, entrei no eléctrico porque nunca mais andei pendurado nele.

(Os gunas do carro eléctrico) - foto: Museu do Carro Eléctrico

Mãe e Pai, eu sei que vão ler este relato pela primeira vez. Muitas das aventuras por que eu e o Tó passamos só não as contamos na altura para não vos preocupar, acreditem. E quero que se lembrem que caso reprovem este inconsciente comportamento, o que é natural, estou quase nos 45. Portanto, tenho já idade suficiente para não ficar de castigo!


quarta-feira, fevereiro 2

um eléctrico chamado velho [1]

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(Dentro do 22 à espera do 18 para o transbordo de passageiros)

Li ontem na imprensa que no Porto os eléctricos andam mais cheios. Congratulo-me que este meio de transporte colectivo urbano e tradicional se mantenha em franca actividade. Em 2010, viajaram a bordo das três linhas de carros eléctricos da STCP (Sociedade de Transportes Colectivos do Porto) 390.000 passageiros, um aumento de cerca de 30% relativamente a 2009. Trata-se de um número recorde de pessoas transportadas desde a abertura ao público da Linha 22. O carro eléctrico é um meio de transporte recordado com saudade por muitos tripeiros. É com nostalgia que muitas vezes entro no 22, ao Carmo, atravesso o jardim da Cordoaria, desço os Clérigos, passo na Praça, subo a 31 de Janeiro, Santa Catarina, e desço na Batalha ou nos Guindais.

(Dentro do 22 a descer a Rua dos Clérigos)

A primeira linha de eléctricos da Península Ibérica foi inaugurada no Porto a 12 de Setembro de 1895. Nestes 116 anos, a rede de linhas de eléctricos teve um importante desenvolvimento, cobrindo praticamente todo o território da cidade e chegando aos concelhos limítrofes, a que se seguiu um processo de declínio que, designadamente na década de 80, levou a que este tipo de transporte passasse a ser praticamente marginal. Aos poucos, os eléctricos foram sendo postos de lado, desaparecendo das ruas. Começaram a aparecer os tróleis, depois os autocarros e o metro. Apenas o 18 se manteve em circulação, entre o Carmo e Massarelos, fazendo ligação com a Linha 1 que circula na Marginal do Douro, entre o Infante e o Passeio Alegre. Fica entretanto, e infelizmente apenas pela vontade, o desejo de ver o eléctrico chegar ao Castelo do Queijo, de o 19 voltar a subir e a descer a Avenida da Boavista, e a ligação entre o Infante e a Estação de São Bento pela Mouzinho da Silveira.

(O Turístico outra vez "bloqueado" em frente ao Hospital de Santo António)

O ressurgimento da Linha 22 e a Linha T, a turística Tram City Tour, foram uma mais-valia para a cidade. Costumam dizer, e com razão, que o “velho” torna a cidade mais bonita. Este é um meio de transporte muito agradável, não poluente e arejado, contemplativo, adequado ao turismo e à fruição de importantes espaços paisagísticos do Porto. Permite que as pessoas se movimentem no centro, melhorando a mobilidade e ajudando a retirar os carros dos passeios... quer dizer, isso quando os xôres automobilistas não se lembram de deixar os seu popós sobre os trilhos (o que é recorrente), estorvando ou mesmo impedimento a circulação. Em 2009 esse comportamento desadequado teve como consequência a imobilização dos veículos que totalizou 372 horas, o que corresponde a uma perda efectiva de 647 viagens de carro eléctrico.

(Ali um Audi devidamente "electrificado" com um "bilhetinho" lá para casa)

Para terminar só informar que anualmente o Museu do Carro Eléctrico organiza um belo cortejo com carros eléctricos históricos que desfilam pela linha da marginal relembrando assim o passado.

No próximo poste contarei a viagem mais radical da época da minha inconsciente, ou inconsistente, adolescência, vivida a bordo (!!!) de um eléctrico da Linha 19.