segunda-feira, maio 30

e a caça é da grossa

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A época oficial da caça ao voto prossegue intensa e à lei da troika. Os interessados saem do covil em busca das suas presas, os eleitores indecisos e necessitados. A campanha eleitoral entrou na semana decisiva e os predadores políticos já cercam os redutos eleitorais na ânsia de abocanhar as suas vítimas. Na caça ao voto o caçador é por demais sagaz e sabe muito bem o que quer. A fauna eleitora é ingénua e está desprotegida sempre à mercê dos ataques. O desfile de engodos aquece o entusiasmo, as arruadas sobem à cabeça dos candidatos à governação, e os tiros para o ar misturam-se com os trovões e molhadas que S. Pedro tem ofertado. Está muito renhida a caçada ao ponto das sondagens anunciarem um empate.

José Sócrates, qual caçador furtivo, dispara em todas as direcções, tendo já acertado várias vezes no seu dedo grande do pé esquerdo e em dois ministros que iam a passar. À custa de tanto tiro falhado não se perspectiva repetir a sua melhor época. Espantou a caça toda e anda agora com armamento pesado completamente desadequado. Anda armado até aos dentes com um canhão de optimismo ao melhor estilo dos caça fantasmas. A polvorosa de beijocas e bacalhaus não deixam margem para exercícios de carácter e requerem a mira mais apurada para não dar de caras com um funcionário público. Apesar de as audiências estarem a diminuir os autocarros chegam pejados de reformados à procura da merendinha.

À custa de tanta falta de jeito para as armadilhas, Passos Coelho continua evasivo. Apresentou-se à caça com material titubeante, muita pólvora seca e falta de pontaria, nomeadamente ao calo do seu pé direito. Os seus fiéis perdigueiros partidários farejaram estratégias mas não conseguem convencer os “bichos” a irem de livre vontade para dentro da jaula. Antigos caçadores do PSD foram chamados a aguçar as setas laranjas e saíram com a sua arma de destruição massiva em batida à raposa socialista. Manuela ainda acossa o inimigo e afia as garras a votos caídos por danos colaterais, sabendo que os descontentes com o governo se deixam apanhar mais facilmente.

Paulo Portas elege a pesca submarina. Tudo o que vem à rede é peixe, diz, e lança o arpão aos votos dos desfavorecidos que costumam habitar as feiras e os mercados. Já os eleitos para se empanturrarem em jantares-comício, onde a malha é mais apertada, por não conseguirem fugir são facilmente apanhados. PP até já sonha vir a ser primeiro-ministro garantindo que formará a invencível armada submarina para afundar..., isto é, governar o país. Não, ele não disse isto nos debates, foi mesmo um devaneio que teve. E se não chegar a primeiro-ministro pelo menos quer ser ministro de alguma coisa.

Jerónimo permanece adepto da caça desportiva. Sabe que o voto na CDU nunca o irá levar ao governo mas mesmo assim dá um tirito ou outro enquanto sorve mais um copinho de tinto. Esta época, os caçadores comunistas estão particularmente focados nos votos mais novos, “sobretudo ao pequeno-almoço, porque são mais tenrinhos e dão para fazer uma canja extraordinária”, porque é pelo estômago que se agarram os votos. Ele está ciente que as expectativas excedem em muito tudo o que pensava antes do início da caçada e mesmo que o pecúlio continue escasso virá para a praça pública propagandear a sua vitória.

O caçador mais perigoso de todos é o Louçã porque com aquela voz de seminarista a apontar aos votos intelectualizados, da classe operária à classe média, vai tentando hipnotizar as suas vítimas. É fiel às suas convicções e tácticas de caça do Bloco e acredita que sendo postas em prática de certeza absoluta de que a economia nacional levará a maior implosão de que há memória. Crê que conseguirá a maior colecta de sempre e, embora diga que não se coligará com os socialistas, também ainda não explicou como vai conseguir chegar a ministro para depenar a classe alta.

A caça de subsistência ainda é praticada por outras comunidades indígenas que na ânsia de conseguirem um lugar à mesa no assento parlamentar exploram regiões mais isoladas do universo partidário português. Para todos eles apenas lhes resta a caçada aos gambuzinos.

A caça ao voto não mudou nada nestes 37 anos. Basta recordar como têm sido feitas todas as campanhas. Alguém se lembra de ver um partido a fazer uma campanha eleitoral a falar aos portugueses do que pretende fazer se for eleito para formar governo? Ninguém. e por um motivo muito simples. Porque gastam o tempo de antena só a acusar uns aos outros em vez de falarem deles próprios e dos seus programas. Bem sei que é uma forma airosa de meterem a viola ao saco e não cumprirem as promessas que fizeram na ânsia de obter o voto. Há milhares de votos sem dono, num país deprimido e oprimido, onde vale tudo menos arrancar olhos. Quer dizer, se for preciso arrancar um ou outro, também não seja por isso. As técnicas são muitas e passam por vários meios até o papelucho entrar na ranhura da urna. O político nacional percebe tanto de caça como uma perdiz de finanças públicas. Sai à rua para caçar ursos com fisgas. O ambiente de festa é criado para o momento, nem que para isso seja preciso usar algum fogo amigo, ou seja os meios autárquicos partidários da mesma cor. O ambiente rural, que leva a beber um copinho de tinto às 9 da manhã. O ambiente popular, propício a beijar putos ranhosos e pessoas em geral, algumas de higiene duvidosa. Todos sabemos que a gente se deixa caçar de qualquer maneira. O povo quer e põe-se a jeito. E neste país o cidadão que se põe a jeito já está caçado. Só falta pôr uma maçã na própria boca e deitar-se em cima de uma travessa. O cidadão indeciso, aquele que o político procura apanhar, não está para grandes dissertações sobre a situação económico-financeira do país. O povo que é na sua grande maioria simples, e na sua intelectualidade gente que sente e pouco sabe, está cansado de ser maçado pelas projecções dos querem ganhar a todo o preço. O que deve ser avaliado é o trabalho, a ética, o carácter das pessoas. Apesar de viver com dificuldades, não precisa que gajos que não sabem o que isso é venham dizer que compreendem que tem de pagar contas no final do mês. Compreendem! Exactamente, o quê? Quando gastam milhares de euros na campanha? Os políticos não compreendem nada do que é a vida de um cidadão. O povo está cansado de manipulações políticas, e muitos decidem o voto na hora do voto ou, na larga maioria, nem lá põem os pés. Este estratagema não dá mais resultado. Uma campanha limpa é mais vencedora. Os actuais políticos são os grandes perdedores pois enquanto deveriam apresentar soluções, projectos com uma política séria, perdem tempo com o passado, remoto e recente. Se querem ser bem sucedidos nesta coisa de caçar votos, não podem endrominar ainda mais. Sejam claros na mensagem, empenhados na transparência e digam em verdade o que vão fazer. Sem relambórios. Sem falsos argumentos. Cabe agora a cada um de nós não desiludir estas pessoas que arriscam a honra, o carácter e a idoneidade para nos governarem. Por isso votem e, por muito que vos custe, tentem levá-los a sério.


sexta-feira, maio 27

com festa e festarola é o que o pobo se consola

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"Triciclar" é um dos projectos anteriores

Mais uma festa, mais um fim-de-semana do arco-da-velha. Como tem vindo a acontecer desde a primeira edição, também este ano os portões de Serralves se irão escancarar ao público às 8 horas da manhã de Sábado e permanecerão abertos ininterruptamente durante 40 Horas, até à meia-noite de Domingo, permitindo aos visitantes assistirem e participarem em centenas de eventos que acontecem nos vários espaços de Serralves e com actividades para todas as idades, para todas as famílias e para a família toda. São mais de 250 eventos em diversas áreas da arte contemporânea: actuações para crianças e famílias, performance, música para todos os gostos, improvisada, pop rock, electrónica, experimental, jazz, dança contemporânea, acrobacia, teatro de rua e de marionetas, cinema, vídeo, fotografia, ufff... A edição deste ano do Serralves em Festa terá continuidade com a apresentação de várias actividades fora dos muros de Serralves, com animação cultural em vários outros locais. A entrada é à borliux pessoal. Vamos lá que Serralves espera por nós!




quarta-feira, maio 25

arruada

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A caravana de um conduzido partido andava pelas ruas da Invicta. Caras novas, tachitos velhos, carros reluzentes, todos eles cobertos de propaganda eleitoral. Gente eufórica no seu partidismo. Bandeiras ao vento. À sombra, dois cidadãos já com as cabeças descobertas de pêlo e pela aparência com muitos anos de vida, resistência e trabalho, assistem de longe. Trajados com roupas já com algumas visitas de traças no guarda-roupa. Gente de vidas controladas até ao euro. Olham um para o outro e desabafam: “lá vai o nosso rico dinheirinho”. A caravana passa, sorrisos num tom amarelado, “beijoqueiram” e viram para o lado. Fazem lá ideia do que vai na alma do povo. Do que sabem o quanto custa ganhar o pão-nosso-de-cada-dia.


(Foto de Estela Silva / Lusa. O líder do CDS/PP, há uns anos, durante uma arruada na baixa do Porto.)


terça-feira, maio 24

um roteiro de bicicletas pelos caminhos de Portugal

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Uma boa notícia para todos os amantes das pedaladas, cicloturistas, bêtêtistas, enfim, ciclistas... Portugal terá um roteiro para circulação de bicicletas. Este é o objectivo de Paulo Guerra dos Santos, que depois de em 2010 ter percorrido 4500 quilómetros pelo país, saiu este domingo da Torre de Belém a pedalar pelos caminhos de Portugal e a promover a mobilidade ciclável.

O projecto “Ecovias de Portugal” pretende sinalizar, em mapa e em GPS, as vias de reduzido tráfego automóvel ou só para bicicletas, onde se pode pedalar em segurança, e incorporar informações úteis, como números de emergência, oficinas de bicicleta e pontos de interesse turístico ou onde comer e dormir.

O percurso inicial, até Monsaraz, será a Ecovia nº 1. "Vou pedalar cerca de 200 quilómetros em seis dias, com paragens em Vila Franca de Xira, Coruche, Mora, Arraiolos e Évora. Por dia farei cerca de 30 quilómetros, está ao alcance de qualquer um", disse o Paulo. Já tem reuniões marcadas com as autarquias por onde passará e com clubes de BTT, dos quais espera receber contributos sobre os melhores percursos. O objectivo é abranger todo o País em dois anos. "O roteiro vai ser positivo para as regiões porque agregará a oferta turística que está dispersa". "Na última década, houve uma explosão do BTT e do cicloturismo e se houver informação sobre os melhores caminhos mais pessoas vão aderir. Os tempos de crise também fazem as pessoas reequacionar o que gastam em transporte e a bicicleta é um meio económico, faz bem à saúde e fica a conhecer-se muito melhor os sítios por onde se passa", diz este apaixonado das duas rodas, professor e Mestre em Vias de Comunicação de 28 anos que usa sempre a bicicleta para se deslocar em Lisboa, até mesmo quando vai sair à noite.

Para avançar com o projecto, Paulo Guerra dos Santos teve de recorrer a patrocínios. A viagem até Monsaraz pode ser acompanhada no site http://www.ecovias.pt.vu/ ou no Facebook, em "Ecovias de Portugal".

Fonte: CM

segunda-feira, maio 23

é só um pouco mais de azul

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A cidade acordou com olheiras
por ter folgado até às tantas
e as varandas da Ribeira
ainda estavam azuis e brancas

lá em baixo até o rio tinha
um tom menos barrento
mas bem na alma era dragão Douro
portista a cem por cento

e tu agora que chegaste
vindo de longe vindo de fora
que festa é esta perguntaste
qual é o santo que reina a esta hora

é só um pouco mais de azul
é só um pouco de euforia
é só um pouco mais de azul
porque amanhã é outro dia
que dia que dia
e é preciso começar de novo

há muito quem beba do fino
e coma em pratos de marfim
a gente primeiro come a relva
e faz a festa no fim

e vai trabalhar sem dormir
como se nada fosse
e até a segunda-feira
tem um sabor agridoce



Os Moderados de Paranhos, foi um projecto de adeptos dos Dragões que editaram em 2003 o single "Só um pouco mais de azul", com letra e música de Carlos Tê. O vídeo foi gravado por mim a partir da emissão da extinta NTV.

Ok, já chega de festejos azuis e brancos. Ficarei a aguardar pelos da próxima época. :-)

domingo, maio 22

ska dos campeões

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"Engraçado como a letra da música permanece tão actual"




Os Moderados de Paranhos, foi um projecto de adeptos dos Dragões que editaram em 2003 o single "Só um pouco mais de azul" onde inclui as canções "Ska dos campeões" e "Balada do Tribunal".

A letra e música são da autoria de Carlos Tê.

Participaram também:
Rui Vilhena, Sérgio Silva, Pedro Ferreira, Vitor Silva, Elísio Donas, Mónica Ferraz, Paulo Coelho, Carlos Polónia, Helder Gonçalves, Rui "Cenoura" Ferraz, Fernando Pinheiro, Fernando Nascimento.

O vídeo foi por mim gravado a partir da emissão da extinta NTV.

sexta-feira, maio 20

o São João é quando um portista quiser

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quarta-feira, maio 18

autêntico, fantástico, memorável

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O dragão de Miragaia é uma figura mítica. Segundo a lengalenga, o dragão de Miragaia é o único descendente de uma longa linhagem de rústicos tripeiros que povoaram outrora o cerco do Porto. Diz-se que seu pai era um enorme dragão de escamas azuladas, bafo flamejante e extensas asas plumadas, mas os genes da mãe, peixeira do Bolhão, acabariam por revelar-se predominantes.

Mirando-o de uma forma vaga, ninguém acreditaria tratar-se de um dragão a sério. O semblante é medonho mas inteiramente humano. Tem dois braços, duas pernas, uma pança volumosa que lhe escapa muitas vezes para fora da camisa e reúne-se na taberna com os amigos nos dias de bola. É adepto ferrenho do FêCêPê, o que muito incomoda a esposa, honesta e trabalhadeira, que desaprova dispêndios com cachecóis, cotas de sócio e lugares cativos no estádio, para além do facto de ser por embirração adepta do Salgueiros. Todos a manhãs ergue-se da cama à mesma hora e vai ao quiosque da esquina para se inteirar das novidades. Compra o jornal o Jogo e folheia as revistas por achar que têm mais importância que as notícias. Ganha a vida como mecânico numa tipografia estabelecida na mesma rua do seu covil, instalado temporariamente num primeiro andar com duas assoalhadas, até aparecer coisa melhor. Não ganha por aí além mas o que arrecada é suficiente para a patroa não reclamar da vida. Sonha constituir família mas a companheira diz não ter vocação parideira e que um mamão é mais que suficiente.

Ninguém sabe ao certo em que consistem os hábitos do dragão de Miragaia mas existem várias teorias avançadas por gente de bons costumes e racionalidade desinteressada. Há quem diga que ele é um animal de hábitos! Que se alimenta à base de tremoços, amendoins regados com o ocasional copo de cerveja a pressão, mas também há muitos que afiançam terem muito cuidado para não serem incinerados pelos seus arrotos em labareda, afogueados pelo molho de francesinha. Não pode é abusar porque tem o fígado muito delicado, mas a credibilidade do médico saiu bastante abalada pela certificada profecia da vidente lá do bairro. Vão ser dois a zero, assevera, e ai de quem logo mais à noite ouse perturbar o prognóstico.


segunda-feira, maio 16

arranjando lenha para se queimar

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Noite cálida de um Sábado bucólico. Tudo numa absoluta normalidade. Tudo seguindo uma abnegação normal, do mais formal possível. Um jogo de futebol num qualquer canal. Um sofá, uma cerveja gelada, um emissor e um receptor. Como num sussurro, sem esboçar expressão alguma, ele enuncia, afogado pela sisudez da situação, o que estava a antever. O silêncio é interrompido.

- Perdi o comando!

Nenhuma reacção entre os quatro que ali estavam. Nenhuma perplexidade. Fingem não ouvir e não evidenciam qualquer preocupação.

Agora com um pouco mais de apreensão ele vai sussurrando:

- Oh meu Deus! Perdi o comando!

O silêncio perdura. Será uma partida de mau gosto? Com uma coisa dessas ninguém brinca. Pelo menos com ele. Os restantes permanecem alguns segundos em reflexão sobre o que o acometia. O que pretendia? Momentos em que um examina o olhar do outro, à procura de respostas, à procura de algo que rompa aquele silêncio. E então voltam o interesse para as suas ocupações.

Dessa vez com veemência, aos berros, o pai clama:

- Mas alguém me ouve? Perdi o comando! Repito: Perdi o comando!

Em alvoroço levantam-se todos. Instala-se o pânico. Correm histéricos para todos os lados, sem chegar a lado algum. O pensamento comum era encontrar o comando. O reboliço entre os quatro é parado por um berro triunfal vindo da cozinha. O mais novo regressa com o objecto perdido

- Encontrei mãe! Estava dentro do frigorífico.

Um sorriso de alívio estampa cada rosto da família Pinho. O puto chega à sala com o comando do televisor na mão. Diante da família a sua pequena figura é a de um herói. Imponente e absoluto herói. Mesmo assim, o pai, como inabalável chefe de família ainda adverte:

- Quem levar o comando outra vez para a cozinha, vai se ver comigo!