segunda-feira, novembro 29

a livraria mais bela

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Ainda um outro dia, depois de encerrar o expediente no gabinete e dirigindo-me à Praça Carlos Alberto, na esquina da Igreja do Carmo, fui solicitado a dar indicações. Desta vez, um casal de turistas espanhóis munidos de um mapa da cidade me perguntaram: La librería Lello? Dime donde? E lá tive eu de desenferrujar o meu portinhol, apontando o dedo na direcção da livraria mais bela do mundo, pois para mim é!

Elogiada desde sempre pela sua beleza arquitectónica exterior, sendo a sua fachada em Arte Nova um dos emblemas arquitectónicos da cidade invicta, é no seu interior que quem lá entra não evita dispersar por instantes a sua atenção dos livros e encantar-se com o estilo ímpar da Lello. Esta pérola do Porto recebe repetidamente as mais diversas distinções mundiais. Ainda este mês, um guia australiano, o "Planet's Best in Travel 2011" editado pela Lonely Planet, considerou-a como a terceira mais bela livraria do mundo, sendo mesmo descrita como "uma pérola de arte nova".

A história da livraria remonta a 1869, ano em que é fundada na Rua dos Clérigos a Livraria Internacional de Ernesto Chardron. Após o imprevisto falecimento de Chardron, aos 45 anos de idade, a casa editora foi vendida à firma Lugan & Genelioux Sucessores. Em 1894 Mathieux Lugan vendia a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que possuía então uma livraria na Rua do Almada. Associado ao irmão, António Lello, mantêm a Livraria Chardron, com a razão social de José Pinto de Sousa Lello & Irmão, até 1919, ano em que o nome da sociedade muda para Lello & Irmão Lda. Tendo sido desenhado de raiz para ser uma livraria, o actual edifício foi inaugurado em 1906, com a presença no dia de abertura de, entre outros, Guerra Junqueiro, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa.


(Foto de Aurélio Paz dos Reis no dia inauguração em 1906)

"A riqueza de tons do grande vitral, o recorte gracioso das janelas, a balaustrada da galeria e os grandes candelabros situados nos ângulos que demarcam esse espaço, as linhas das ogivas que se entrelaçam no tecto (...), deixam o visitante deslumbrado". A 13 de Janeiro de 1906, no dia da inauguração, era assim que um jornalista da época classificava a Lello & Irmão.

Em 1994, as obras de restauro a cargo do arquitecto português Vasco Morais Soares permitiram que continuasse a manter o seu esplendor.

De visita obrigatória, à Rua das Carmelitas, nº144, afluem cada vez mais curiosos. Quando lá entram, os visitantes são envolvidos por um ambiente acolhedor, numa viagem instigadora onde se respira história e madeira. Uma ampla sala, onde os livros pontificam numa decoração impressiva, dá acesso a uma belíssima escada ornamental. Perfilam-se algumas mesas onde se expões alguns dos livros, bancos revestidos a couro e estantes a toda a altura da galeria perfazem o espaço próprio de uma livraria moderna, mas que guarda a memória e o ambiente místico de uma livraria antiga, cheia de história nas paredes e nas lombadas dos seus livros. Nos pilares destacam-se os bustos de distintos homens de letras: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros. O tecto, lavrado e rendilhado, resguarda no centro uma luminosidade translúcida que provém do amplo vitral. Quem lá entra, fica de tal forma maravilhado que olvida olhar para os livros e deslumbra-se com a divinal estrutura fazendo disparar, incontroláveis, os flashes, para no final da visita soltarem inevitáveis exclamações: "Vês como valeu a pena entrar!"



livraria-lello in Portugal

Então e tu? Entra, vá lá... Mesmo aí sentado nessa cadeira só tens de clicar na seta e rodar o cursor em todas as direcções, para que possas também passear pela livraria e apreciar a beleza deste mágico espaço de cultura. Desejo-vos uma boa semana.


(fonte: www.boasnoticias.pt ; www.360cities.net)


sexta-feira, novembro 26

todos ao teatro

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Há anos que o Teatro Sá da Bandeira no Porto esteve à venda pela módica quantia de 5,5 milhões de euros. Pois, ao que parece, recentemente surgiu um interessado em comprar a casa de espectáculos mais antiga do país, só que, contrariamente às expectativas de vermos o teatro renovado, a proposta implica a transformação do teatro num hotel!

Classificado como imóvel de interesse municipal, o Teatro Sá da Bandeira, fundado em 1855 e reestruturado em 1877, mantendo ainda os traços arquitectónicos dessa época, é uma das salas mais emblemáticas e históricas do Porto. Diz fonte camarária que estará, em princípio, protegido por lei, o que impede a sua transformação para outro fim. O Águia D'Ouro foi outra sala de espectáculos que o Porto viu desaparecer. Não é bem o caso do Sá da Bandeira, que continua a exibir espectáculos (exibe actualmente o “As Encalhadas” e vai depois receber o espectáculo “Pinóquio, O Musical”), mas o antigo teatro e cinema Águia D'Ouro, que recordei neste poste, esteve abandonado por uma vintena de anos até ser comprado e transformado num hotel ‘low-cost'. Considerado um dos mais emblemáticos edifícios da Baixa portuense, decorrem hoje as obras e apenas a fachada resiste à transformação.

Ao longo da sua história, esta sala foi palco de grandes acontecimentos, tendo ali apresentado todo o tipo de espectáculos, nomeadamente teatro, revista, musicais, ópera, televisão, concertos de música, circo, cinema, entre outros filmes lúdicos exibidos madrugada fora. Para além de ser protegido pelo PDM, o Sá da Bandeira está implantado numa zona classificada como Património da Humanidade, pelo que também o IGESPAR terá uma palavra a dizer caso se tente alterar a função do edifício. Apenas pergunto, será assim realmente? É que depois do que assistimos, a autênticos atentados urbanísticos à nossa cidade perpetrados por este edil camarário à revelia de qualquer parecer superior, sinceramente eu tenho sérias dúvidas. O poder político local tem demonstrado negligência e um comportamento danoso no decorrer de todo este processo, revelando total desprezo pela cultura e pelo futuro do património da nossa cidade. Tudo bem, compreende-se que a câmara não tenha capacidade financeira para adquirir o teatro mas poderia ao menos intervir na questão. Assim o fez quando o Sr. La Féria pretendeu adquiri-lo e, ironia do destino, ofereceu depois o Rivoli ao mesmo senhor! Haja investidores e logo os interesses especulativos brotam que nem cogumelos. Vários edifícios históricos da cidade estão a ser preparados para acolher hóspedes. Um exemplo disso, e bem perto do Teatro, é o Palácio das Cardosas, na Praça da Liberdade. Passa por reformas de charme para depois esperar a chegada dos turistas endinheirados. Ao património português que está a morrer há muito tempo, pouco se faz para o evitar. Um dos grandes defeitos deste país sempre foi ter uma memória curta e deixar apagar o passado.

Corre pela net uma iniciativa que visa consciencializar a malta para o que pretendem fazer ao Teatro. A ideia é simples: dar um passo firme na defesa do que é nosso, motivando uma mobilização pacífica. Vamos colar lembretes (post-it’s) com frases reivindicativas na fachada do Teatro e assim lembrar a todos que passam o que realmente está em causa. Hoje mesmo irei lá colar o meu.




quinta-feira, novembro 25

ao sabor da música

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A música tem sobre nós, seres humanos, um poder surpreendente. Diverte, relaxa, acalma, excita, educa, cura, e até nos enerva quando é péssima. Pelo que sei a música produz endorfina, o que nos dá uma sensação de alegria e prazer. A música desperta emoções, é vibrante, sedutora, delirante. Tem uma magia misteriosa que nos encanta e nos deixa em transe. Faz-nos vibrar e dançar ou entedia-nos e adormece-nos. Faz com que muitos cantem e outros cheguem às lágrimas. Para mim, a música é também um estado de espírito. Transporta-me através do tempo, faz-me relembrar passagens da minha vida, épocas, lugares, situações e pessoas. Gozo das delícias de uma melodia com num sentimento mais apurado e harmonioso que me desmaterializa. Não tenho mesmo jeitinho nenhum para cantar e muito menos sei tocar qualquer instrumento musical. O mais importante é que ouço música por prazer, seleccionada ao meu gosto pessoal e estado de alma, como uma válvula de escape para cada momento mais egoísta. Agora que vos dei bastante música voltem lá para o vosso trabalho. Vá!


quarta-feira, novembro 24

requisitado

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O direito à greve é um direito inalienável, adquirido com o 25 de Abril e, da minha parte, merece todo o respeito, porém também sei que não é sinónimo de concordância.

Antes de mais é preciso compreender as razões que motivam esta greve, as quais são mais que evidentes. Ao arrepio de constantes e falsas promessas eleitorais, o Estado que fomos construindo durante quase quatro décadas, não se tornou sustentável. A economia não encontra capacidade para se desenvolver, o povo anda desmoralizado e inevitavelmente está farto de ter que pagar mais esta factura. Não vale a pena sublinhar, novamente, que são as consequências do desmantelamento de alguns direitos adquiridos, da constante política de austeridade financeira, da derrocada imparável do Estado Social, que motivam mais esta união de revolta numa desilusão contra as políticas do passado e, sobretudo, as que estão em curso. Não podemos esquecer as condicionantes do passado, a desresponsabilização dos governantes. Se almejamos um futuro melhor, temos de unir esforços e trabalhar para que o país tenha um desenvolvimento mais sustentável e mais solidário. Deste modo as minhas preocupações vão para as novas gerações e sobretudo para o futuro do meu filho, pelo menos numa prespectiva mais justa do que é na realidade. Para que isso seja possível é, obviamente, necessária a colaboração de todos, dos trabalhadores, funcionários, reformados, desempregados, privados, públicos, domésticos, cidadãos dispostos a colaborar num período difícil, em que a exigência, a responsabilização e o esforço são pedras basilares. O que me revolta é saber que essa exigência e esforço nunca será igual para todos. Mas um ponto se torna claro, independentemente de toda esta prosa, estou ciente que as mudanças terão de ser profundas e terá que haver essa consciencialização de que é preciso reformar tudo, mas bem que podiam ser menos lesivas para os de sempre, para os pobres dos contribuintes.

E se precisarem de mim fui pedalar.


segunda-feira, novembro 22

os sonhos não envelhecem

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Não interessa muito saber qual deles será a pessoa mais velha a concluir o 12º ano de escolaridade pelo programa das Novas Oportunidades. Tanto o Mestre João André como o Sr. Zeferino Batista são bons exemplos de jovialidade. Em busca de um sonho, de novos desafios ou uma simples necessidade de reconhecimento, eles ensinam-nos que nunca é tarde de mais para arregaçar as mangas e aprender coisas novas. Eles encorajam outras pessoas que é possível o desabrochar de uma nova fase da vida adulta. Os homens e mulheres que se valorizam de acordo com esta nova visão de futuro, com esta oportunidade de seguir em frente, terão condições de dar às suas vidas um significado renovado. Velhos são os trapos e os sonhos não envelhecem.

«Estou no cimo de uma casa de diversos pisos. Depois de estar no alto vê-se vários horizontes. Vamos ver, mas sou capaz de corresponder às solicitações dos amigos e ir em frente».


domingo, novembro 21

ai os calores!

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Anda por aí meio mundo (ou quase) preocupado com o impacto e as consequências do aquecimento global, a crise financeira e os calores da Beyoncé, e logo aparece mais uma vaga para acalorar o futuro da humanidade. Já não é novidade, mas segundo este recente estudo coordenado pelo urologista Yelim Sheynkin, da Universidade de Nova Iorque, e publicado na revista “Fertility and Sterility”, os homens poderão estar a comprometer a sua fertilidade. Hoje em dia, milhões e milhões de homens usam computadores portáteis, especialmente na faixa etária mais propensa à reprodução e, devido ao menor volume e peso da máquina, torna-se muito natural que os utilizem nos mais diversos locais e utilizações, colocando-os assim ao colo. O referido estudo alerta a população masculina para os perigos que o calor libertado pelo computador pode provocar nos testículos. Mas afinal o que explica esta preocupação na relação directa entre o aquecimento do equipamento electrónico e o tomatal? Os investigadores utilizaram termómetros para medir a temperatura dos escrotos de 29 jovens que tinham portáteis apoiados nos joelhos. Verificaram que, depois de apenas dez ou 15 minutos de utilização, pode-se atingir uma temperatura insegura para a produção de espermatozóides, e que, mesmo com um suporte sob o computador, havia um rápido sobreaquecimento, ainda que os utilizadores não se apercebessem. Ao fim de uma hora a utilizar o portátil no colo, a temperatura nos testículos aumentou 2,5 graus. Segundo investigações anteriores o aquecimento do escroto em mais de um grau é suficiente para danificar os espermatozóides.

Cá pra mim, se um tipo passa muito tempo com o portátil no colo, a fertilidade será o menor dos seus problemas. O problema talvez seja ter ou não ter uma companheira para fertilizar! Por outro lado, que o portátil no colo talvez não seja muito aconselhável à fertilidade masculina, concordo, mas convém lembrar que também atrapalha um pouco quando ela quer ficar por cima!


Bem, acho que vou sair e arejar.


sexta-feira, novembro 19

uma entre outros

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Dentro dos sapatos, os pés cansados arrastava. Exausta da gincana pelas poças da calçada, os saltos implacáveis feriam-lhe sadicamente os calcanhares. Nas mãos levava um envelope de onde remanesciam duas folhas de papel contendo a sua trajectória de vida. Mal concluíra o ensino obrigatório mas era licenciada na escola da vida. Experiência, sim, tinha e muita. Resolvia tarefas domésticas como ninguém, improvisava uma refeição com parcos alimentos, fazia magia com o dinheiro que poupara, uns míseros euros com que pagava as contas, vestia e educava os filhos. Tinha ampla experiência como mãe, filha, mulher... e esposa que foi outrora. Mas isso não deveria importar muito naquele momento. Foi assim que chegou à agência de trabalho temporário. Aproximou-se do balcão e apresentou-se para a entrevista: Generosa. Bonito nome. Pediram-lhe que aguardasse. Havia umas doze à sua frente, e outro remédio não teve senão esperar de pé e estampar no rosto todo o cansaço acumulado. Em silêncio percorreu com o olhar a sala enquanto muitas dúvidas lhe trespassavam o pensamento: E se lhe exigem um diploma, e se lhe pedem uma recomendação, experiência e alguns anos a menos? As candidatas eram chamadas para uma pequena sala, onde a porta se fechava assim que a transpunham. Não levavam mais de cinco minutos, cada uma, até estarem de volta. Viu chegar mais mulheres, iguais a tantas outras, na sala de espera, com o mesmo olhar perdido, no vazio de um mundo sem esperanças. Semi-desfeita pelos nervos, as pernas iam na mantendo firme, e com um meio sorriso agradeceu a primeira cadeira vaga. Generosa foi chamada. Buscou nas outras a confirmação de que seria mesmo a sua vez. Encaminhou-se confiante, pelo menos assim queria acreditar, em direcção à porta. Pediram-lhe que se aproximasse e se sentasse. O seu corpo exsudava tensão. Maneou a cabeça cumprimentando a senhora que a mirava distante. Olhou-a no fundo dos olhos, tirou os papéis do envelope e entregou-os para análise. Depois, apenas um silêncio sepulcral entretanto interrompido pelo matraquear das teclas do computador. Respondeu a questões de circunstância mas as palavras saíram-lhe cépticas da boca, querendo lhe dissolver a voz. A entrevistadora devolveu-lhe os mesmos papéis, para que os guardasse caso surgisse outra vaga, assegurou-lhe. Resignada, guardou-os com um sorriso suplicante, sabendo que as esperanças de candidata desqualificada se voltavam a esvaziar. Queria poder-lhe oferecer mais, mas não esmoreça Generosa, não esmoreça. Pois não! A sua inexperiência e o bilhete de identidade voltaram a trair-lhe expectativas mas a vida ensinara-a a ser persistente e corajosa. Agradeceu de antemão o favor pela entrevista, inspirou profundamente, vincou mais uma ruga e despediu-se com outro sorriso, agora mais convincente. Retocou a maquilhagem pela lágrima revoltosa e tomou fôlego para voltar a encarar a sua realidade, a ser uma entre outros.


quarta-feira, novembro 17

duelo ibérico

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“En el minuto 36 del amistoso Portugal - España, Cristiano Ronaldo pudo marcar un gol que no sólo hubiera abierto el marcador sino que hubiera pasado a la historia de los mejores goles del astro portugués del Real Madrid. Finalmente la acción se estropeó por la aparición de Nani y la colaboración del árbitro, el francés Antony Gautier.

Cristiano recibió en la banda izquierda, profundizó al área donde sentó a Piqué con un recorte perfecto y después remató con una estética vaselina con escaso ángulo. El balón superó a Casillas e iba camino de ser un gol para enmarcar. Pero apareció Nani y remachó de forma innecesaria el balón bajo palos. El árbitro Gautier señaló un fuera de juego polémico. Por un lado, Nani parecía en posición legal ya que le habilitaba la situación de Piqué, en el suelo. Pero además quedan muchas dudas de si Nani tocó el balón de cabeza sobre la línea o ya dentro de la portería. El gol, por lo tanto, debió servir al marcador. Hubiera sido un golazo extraordinario pero se fue finalmente al limbo.”

Quem o escreve é o diário espanhol Às na sua página da Internet, que prova com esta foto o que me tinha parecido ver na altura. Aquela extraordinária jogada e o sombrero que Ronaldo enfiou ao Casillas foi de lesa pátria ter sido anulado pelo juiz de linha e assim Portugal deveria estar a vencer a Espanha, campeã europeia e mundial, por cinco golos e não por quatro.

Mas que jogo, que partidaço. Um jogo amigável entre as duas nações ibéricas nunca se joga a feijões. Portugal e Espanha unem esforços para organizar em conjunto (!) o Mundial de 2018 ou de 2022. Mas os pupilos de Paulo Bento estão com toda la mobida, deliciando-me as bistas aqui no sofá e arrancando olés do Estádio da Luz, que merecia ter as bancadas mais bem compostas. Uiii... nuestros hermanos estão de cabeza callente e distribuem patadas menos amistosas mas parecem-me já resignados perante tão superior exibição da selecção lusa. E nem importa nada que o jogo não valha um balde de plástico... olha, já acabou!

Temos equipa, cantem o hino, desfraldem as bandeiras... Acalmem a padeira.


terça-feira, novembro 16

míscaro cá, míscaro lá

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Com as primeiras chuvadas de Outono várias espécies de cogumelos brotam dos solos, das raízes e de troncos de árvores. São de presença efémera. Hoje estão lá, amanhã podem já não estar. Os cogumelos são assim, nascem e desaparecem de um dia para o outro. Podem viver apenas um dia se as condições climatéricas não forem as ideais ou se entretanto forem colhidos por alguém para os servir à mesa como uma iguaria e satisfazer um qualquer prato gastronómico. De formas e cores diversas, são fungos misteriosos que povoam o nosso imaginário, como no conto da Alice no País das Maravilhas onde uma lagarta se refastela sobre um cogumelo. Despertam também medos e desconfiança graças à existência de várias espécies venenosas, algumas delas mortais. Mas quem é que não gosta de saborear uma pizza “al funghi”, um bife “au champignon” ou até um arroz de tortulhos? Cuidado, para se evitarem erros e acidentes a única forma de consumir cogumelos em segurança é conhecer e identificar muito bem as espécies. Ora foi mais ou menos esta a explicação que dei ao meu filho depois da sua curiosidade pelo facto de terem brotado vários destes cogumelos na nossa pequena floresta, mesmo em frente ao prédio onde residimos. E como eu não percebo nada de cogumelos mas gosto muito de os comer, relutantemente deixei-os lá pois confio mais nos que se compram nos supermercados. É que todos os cogumelos são comestíveis mas alguns só uma vez!


segunda-feira, novembro 15

organizem-se porra!

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Aproxima-se o dia marcado para a greve geral e essa é a pergunta que mais me têm feito ultimamente. Ora, a resposta vou guardá-la para mim e farei o que a minha consciência determinar quando chegar o tal dia 24, dia que foi escolhido pelos sindicatos para mostrar um “cartão vermelho” ao governo, do desalento e descontentamento dos portugueses em relação a isto tudo. Concordo que se manifestem mas valerá a pena? Esta greve vai mudar alguma coisa? Será a solução para ultrapassarmos a crise? Não imagino os conchavos existentes no mundo sindicalista. Cá pra mim acabou-se o sindicato idealista. Aquele que lutava realmente pelos interesses da classe que representava. Para mim o idealismo sindicalista é somente uma visão romântica do que foi a força reivindicativa das classes trabalhadoras de outros tempos, pois infelizmente a realidade está muito distante da força que os sindicatos representavam. Na actualidade vejo os sindicatos apenas como uma forma de rendimento das pessoas que os dirigem. Ganham dinheiro sem esforço, sem necessidade de prestar contas, de fazer bons serviços para os seus associados, e há muito tempo que vêm perdendo força na sociedade. Afinal para que servem os sindicatos?


quinta-feira, novembro 11

é dia de S. Martinho, é a festa da castanha, em vez de sol há chuva, é Outono ninguém estranha

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O frio já apertava e o estômago roncava das paredes. A rua fervilhava de cor e de gente. No ar o cheirinho habitual da época. Hoje, aquela rua poderia muito bem mudar de nome e passar a chamar-se Rua de Santa Castanhina. Enquanto lá dentro nas mesas da confeitaria os clientes iam estando, uns esperando à conversa, outros engordando as bochechas face aos apetecíveis açucarados e salgados festins, eu observava a rua pela janela. Ele, humano como é e tripeiro de gema, deixava-se envolver pelo ambiente pé-natalício, pelo fumo dos fogareiros, pelo estalar das castanhas sobre o calor das brasas. E eis que elas lhe chegam, quentinhas de boas, embrulhadas em papel amarelado que lhe aqueceu as mãos. Um punhado delas, enegrecidas, doiradas, que lhe queimavam docemente os dedos enquanto as descascava. Não as via mas notava-se bem a felicidade que se apoderava dele. Não há nada como uma castanha assada! Qual chocolate, qual pastel de nata! É assada na rua que a castanha tem o sabor do Outono. Come-se uma, vem logo outra, não se espera pela terceira, a quarta vem de imediato, a quinta é para saborear e a que faz meia dúzia é mesmo para se recostar na cadeira, a dele, improvisada à esquina, para depois esvaziar o resto da garrafa de tinto e dar graças aos castanheiros pela iguaria. Devolveu uma palavra e um sorriso de gratidão à vendedora, outra mártir do tempo e do calor dos assadores, pelo magusto oferecido e estendeu a mão pedinte aos passantes. E depois de registar este momento de delicadeza humana, pago o cimbalino e a nata e misturo-me também na tentação para depois voltar a um outro local de reunião e bater os dedos. Até parece que o teclado do computador também cheira a castanha assada. Desejam uma?

É claro que desejam... E eu também vos desejo um bom fim-de-semana.

(na aparelhagem roda um filme, Autumn Timelapse de LFK, com excelentes imagens das cidades do Porto e de Viana do Castelo. Para melhor visualização clique aqui).



assim como assim!...

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(Depois de ler esta notícia...)

Num mercado de peixe algarvio, uma peixeira apregoa alto e bom som:

- Há xixe…

- Shiiiiiu… cala-te mulher!

- Qu’é que foi home, só estou a chamar a freguesia ora essa. Há xixe...

- Shiiiiiu…Outra vez! Já disse para te calares.

- Ó home, decide-te! Queres que te venda a faina ou quê?...

- Há chicharro fresquinho.


terça-feira, novembro 9

descendo à terra

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Vivemos tempos difíceis. Um a um, vão caindo valores, princípios, sonhos. Reflectem os tempos que corremos que é muito difícil encontrar, hoje, alguém a dizer bem do que quer que seja. Ainda não abandonei definitivamente a esperança de haver alguma sensibilidade e bondade dos governantes. Eu gostaria de dar crédito à Justiça. De acreditar na solidariedade entre os homens. Confiar que a indiferença, o egoísmo, a maldade, que moram mesmo ao virar da esquina, podem ser apenas excepções à regra. Aceitamos as coisas como são, às vezes com incredulidade, outras vezes com indiferença. Já há muito poucas pessoas, atitudes, acções em que acreditamos e, no entanto, precisamos de algo em que apostar. Sem optimismo somos uma espécie de feras à solta, sempre a ver como podemos levar a água ao nosso moínho, sem solidariedade, sem amizade. Vamos procurar encontrar coisas boas, pessoas boas, decisões boas, acontecimentos. É nos que andam por aí a tentar ajudar, a tentar construir, a tentar melhorar, querendo contribuir para que o mundo em que vivemos melhore, que eu acredito.


domingo, novembro 7

o jogo...

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...foi de mão cheia. Cinco estrelas. O espectáculo mais parecia um monólogo em que de um lado se apresentou uma equipa mágica, demolidora, inspirada, precisa, soberba. Do outro, bem, do outro lado estava um conjunto de onze, chegaram a ser doze mas acabaram dez jogadores derrotados e vergados perante a mais emblemática vitória de todas as vitórias. E é o resultado que fica para a história:

Porto - 5, Bisitante - 0


sexta-feira, novembro 5

é relativo!

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Desceu à garagem e pegou na bicicleta para ir trabalhar. Assim evitava ficar sem exercício e deixava o carro em casa, caso a mulher fosse às compras, buscar as crianças, ter que ir a um ou outro encontro que tivesse combinado. Já de saída lembrou-se que agora era um director de departamento. Não que desse muita importância às aparências, mas sabia que as pessoas que mais interessava impressionar desaprovariam vê-lo de fato e gravata a pedalar uma bicicleta de estrada, e se o fizesse teria de enfrentar olhares e comentários corrosivos. Então voltou ao quarto e trocou o fato e a gravata por uma camisola e um calção de licra. A esposa veio da sala e perguntou o que tinha acontecido. “Nada”, respondeu. “É uma pesquisa que estou a fazer sobre a teoria da relatividade aplicada à empresa.” “Que teoria é essa?” “É assim: vou chegar lá cedo, desmontar da bicicleta e, o mais certo, eles ainda não estacionaram os seus carros”. E partiu a pedalar pela manhã de sol, sob o olhar um pouco apreensivo mas muito terno da mulher.


quinta-feira, novembro 4

a brincar vos digo

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Nesta brincadeira que é inventar, reflectir a escrever ou escrever e contar, descobri uma certeza. Descobri que nada melhor se faz se não for realizado de uma forma inspirada. Digo isto porque só consigo transformar pensamentos em palavras se for movido pela coisa. E inspiração é algo que não se encontra todos os dias. Nessas situações, uma óptima saída é sair e inspirar o ar deste calor outonal, deste dia luminoso que faz lá fora. Ela mora nos desejos, nos sentimentos, nas histórias, nas pessoas, nos momentos que se cruzam na nossa vida. Quando assim não é, sente-se o peso da obrigação. E fazer algo só por pura necessidade, sem prazer ou vontade da alma, é para mim algo difícil e penoso.

(remake de um poste outrora publicado)


terça-feira, novembro 2

aqui há gato

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Por estes três dias prolongados que infelizmente findaram, fiquei em hibernação na casa dos meus pais, enquanto eles “fugiam” do temporal em direcção ao sul, lá para os Algarves. Se eu também gostaria de dar uma escapadela no fim-de-semana, gostaria, mas sem a esposa que teve de ir trabalhar não seria a mesma coisa. Despedi-me deles deixando-os descansados que eu e o Rafa ficávamos com a casa, a bicicleta (para o caso de haver umas abertas no céu, e houve!), leituras minhas e estudos dele, o computador, as plantas e os animais por nossa conta. Ora, num breve intervalo da minha ronda pelo blogobairro, dou com este sujeitinho literalmente alapado na poltrona do gabinete, com a curiosidade própria de um gato imberbe. Se o deixassem, ele vivia também sobre a mesa do escritório. Num salto mais preciso que um impulso para a cultura, logo acomodou o seu pequeno rabinho nas teclas do portátil que, num desesperado e desconcertante concerto de bips, chamava por mim clamando por socorro. Registei a ousadia do pequeno felino, entretido com o colorido do monitor e o som saído da máquina em sofrimento. Fiquei a observa-lo pensando cá com os meus botões que aquele seu atrevimento merecia que eu escrevesse sobre ele.

A minha mãe tem o nobre hábito de alimentar os animais vadios e os que foram abandonados que passam pela rua. Frontal à casa, existe um pátio com um pequeno jardim rodeado de muros e portão altos. Não é a primeira vez que um pequeno cão aparece a vaguear no seu interior, o que leva a supor ter sido atirado por alguém lá para dentro. Isso já sucedeu duas ou três vezes. Depois de alimentados e tratados os animais foram doados a outras pessoas que cuidaram deles. Desta vez foi um pequeno gatinho, com pouco mais de um mês, limpo e bem cuidado, destemido e meiguinho que apareceu a miar de fome no jardim. Certamente foi um acto intencional deixa-lo do lado de dentro, com o intuito, imagino, de ser adoptado. Este teve sorte e ficou em casa. A sua destreza, brincadeiras intermináveis e beleza felina, encantaram os mais novos e os mais velhos da família. Quem de início não achou lá muita piada às diabruras e garras afiadas do petiz foi a Senhora Dona Fofa, mas ele não se amedrontou lá muito com os dentes da cadelita e tem andado mais interessado com a extremidade oposta aos caninos, aquele irrequieto e peludo rabo que ela tem, hummmm... Mas o raio do bicho é mesmo amoroso, rebelde mas cativante, miador inveterado mas ternurento, incansável mas com um ronronar de encantar. Ele é o Cookie, Biscoito para os amigos.