quinta-feira, março 31

...e feitos num 31!

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Eu estou lixado
Tu estás lixado
Ela esta lix...ada!

quarta-feira, março 30

uma alternativa revolução

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Convidado de Pedro Correia, por um dia deixei de estar no gabinete e, muito bem recebido aliás, fui ao Delito de Opinião puxar a brasa à minha sardinha. Mais uma vez aproveito para agradecer o convite que gentilmente me foi endereçado pelo Pedro. Aqui fica o que fui lá dizer:


Uma alternativa revolução

Existem vários factores para trocarmos um veículo de combustão interna por outro de propulsão humana. Estes factores são bem conhecidos. Podem ser qualificados tanto pelos benefícios ambientais, sociais, económicos como humanos. A desvantagem é que sempre se fala deles de uma forma isolada, minimizando assim a verdadeira magnitude do problema.

A primeira coisa que vem à mente é a emissão de gases de efeito estufa e as suas nefastas consequências já conhecidas: as alterações climáticas, a chuva ácida, o ar poluído. O impacto ambiental dos veículos de propulsão humana é inofensivo comparado ao veículo de combustão interna.

Os veículos a motor são um “bem” de consumo que, por sua vez, exigem outro tipo de recursos, principalmente energéticos e de infra-estruturas urbanas, mas também muitos outros de forma secundária. Numa época de obsessão e de alta competitividade, a sociedade impulsiona as pessoas a ganhar mais para consumir mais. Os veículos a motor satisfazem essa necessidade mas a um preço muito alto: Os preços dos combustíveis estão a ficar proibitivos e sucedem-se os acidentes com perdas humanas e materiais, bem como o caos no tráfego. O carro faz parte de um estilo de vida consumista e afecta de uma forma irresponsável os recursos naturais do planeta.

Perspectiva-se uma crise energética, que se não merecer adequada atenção da nossa parte as consequências serão agravar a crise social e económica. Os veículos de combustão interna não são social ou economicamente viáveis, e num curto espaço de tempo tornam-se obsoletos. Promovem um estilo de vida sedentário, a poluição sonora que emitem aumenta o stress enquanto a bicicleta oferece um ritmo de vida mais humano.

A bicicleta é um veículo economicamente sustentável, socialmente justo e benévolo.

Para mim um ritmo de vida mais humano significa controlar o tempo, respirar tranquilamente e, assim, desfrutar de corpo e mente mais saudável, atento para o momento. Quando eu vou na bicicleta tenho de dominar o corpo, cobrir-me de paciência e manter a cadência. É uma válvula de escape, dá origem à reflexão e, portanto, ao desenvolvimento da consciência individual, enquanto o carro leva à obsessão, ao sentido de urgência e à falta de consciência individual. A bicicleta faz parte de um estilo de vida mais simples, económica, saudável e de lazer, em suma, é mais humana.

A minha experiência de mudança foi sendo gradual. Dei-me conta de tudo isso e decidi finalmente pôr de lado o carro e contribuir de forma mais positiva para a sociedade (o pagamento de impostos não é a única maneira de contribuir). Deixei o carro e no dia-a-dia uso a bicicleta na cidade. Tento rodar em artérias de baixo tráfego, bem alerta e com uma velocidade moderada, aprendendo a lidar com a ignorância, o abuso e a burrice de alguns condutores. A bicicleta leva-me menos tempo para percorrer algumas distâncias urbanas, com a vantagem de poder passar e parar em locais que noutro meio de transporte não o poderia fazer.

Reconheço que não será fácil. A força de vontade será sempre a primeira motivação. A seguir basta adquirir uma bicicleta do tamanho e finalidade adequadas. Ir gradualmente adquirindo experiência e condição física. Aprender com outros ciclistas urbanos e compartilhar as suas próprias experiências. Junte-se a necessidade de um transporte digno e eficiente público. As composições do comboio e do metro oferecem espaço complementar para transportar as bicicletas. Desenvolver a consciência individual e social. Volto a dizer, a mudança não será fácil, porém, se você fizer isso antes de a necessidade de deixar o carro em casa o “forçar”, então a transição poderá ser mais espontânea.

Concluindo, o uso do automóvel é ecologicamente irresponsável, socialmente injusto, e economicamente cada vez mais insustentável.


segunda-feira, março 28

o velho e o menino

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Antes ele era um menino, falava como um menino, sonhava como um menino. Fez-se homem, pensou como um homem, trabalhou como um homem. A vida ensinou-lhe o que mais ninguém poderia ensinar. Aprendeu com os próprios erros e, com tantos, aprendeu a não comete-los de novo. Sempre viveu pobre, não teve berço e o amor de mãe foi-lhe negado à nascença. Nunca teve um grande amigo que o aconselhasse mas foi de confiança que a escola da vida lhe foi ensinando. Acima de tudo aprendeu o amor, não o amor próprio, mas o amor para com os outros. Muito se honra de ser pobre e a humildade é o mais importante que tem. Um sentimento orgulhoso, dirão, mas o que hoje vive na realidade não o faz esquecer a emoção sentida quando da primeira garfada num prato de comida. As mãos deslizam suaves pelo cabelo do seu bisneto. - Agora encontro-me feliz, diz-lhe. Consegui chegar até aqui e mantive vivo o menino que tenho dentro de mim. Agora ele faz-me companhia nas horas tristes. Deixa-me a sorrir com as suas brincadeiras e histórias do faz-de-conta. Eu sei que é apenas uma ilusão mas prepara-te, primeiro para ser alguém e depois chegará o dia em que irás entender estas minhas palavras, e nesse dia voarás tão alto que todos aqueles que me julgaram e que me humilharam, dizendo que eu não era nada, sentiram que o destino já estaria traçado, coube a mim simplesmente adia-lo.


sexta-feira, março 25

um passeio que poderia sem bem mais alegre

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(foto do blogue porto do crime)

O Jardim do Passeio Alegre é um dos jardins românticos do Porto e um dos locais à beira-rio de visita obrigatória. Goza de uma personalidade própria. Está localizado na Foz do Douro, junto ao Castelo de S. João Baptista, ponto de passagem pela marginal do Douro em direcção a Matosinhos. É um jardim oitocentista, com uma extensa área, tem uma forma triangular envolvido pela Av. Carlos I (junto ao rio), a Rua de Dom Luís Filipe (de onde saíam os exames de instrução automóvel – quem se lembra?) e a Rua do Passeio Alegre (que dá nome ao jardim). Possui variadas espécies vegetais, como as suas famosas palmeiras, árvores de copas e plantas ornamentais. Possui chafariz, candeeiros de ferro fundido, obeliscos, da autoria de Nicolau Nasoni levados da Quinta da Prelada, um coreto metálico e um mini-golfe, onde outrora passei verdadeiros momentos de entretenimento. Tem algumas fontes decorativas, o Chalet Suíço (quiosque de música), monumentos e bancos para um aprazível descanso.

Entre muitos valores patrimoniais e culturais da chamada Foz Velha, assume particular interesse pela sua singularidade, a zona do Passeio Alegre, dada a harmonia do conjunto que se estende desde o Castelo da Foz, até à chamada zona dos Pilotos, onde se situa a Torre de S. Miguel o Anjo.

A Rua do Passeio Alegre foi recentemente objecto de intervenção pela CMP (da responsabilidade da empresa municipal Águas do Porto) em toda a sua extensão. A meu ver foi uma uma oportunidade que se perdeu, pela falta de ambição de projectos e vontade deste executivo, que deveria ter valorizado e revitalizado toda zona envolvente, da Cantareira à Foz do Douro, reservando tudo o que tem de bom, e que já é dado de forma natural, privilegiando obviamente o eléctrico. Mas não! em vez disso, removeram os carris (o que infelizmente impossibilitou a ligação de eléctrico desde o Infante até à Rotunda do Castelo do Queijo). Podiam ao menos manter a linha à volta do Castelo da Foz, e ligá-la à existente, permitindo a sua passagem de volta pela Avenida das Palmeiras (Av. de D. Carlos I). Em vez disso a CMP optou por obras baratas, como cimentar passeios e a repavimentação de algumas ruas daquela zona (para quê gastar dinheiro se o que interessa é que fique baratinho…!). Ao menos lembraram-se de construir a via ciclável na Rua Coronel Raul Peres. Mas isso não chega. Entre os novos molhes até aos pilotos, a Avenida das Palmeiras permanece na mesma. Mantém um estado degradado, preenchida de carros (e quartos) virados para o rio, sem uma ciclovia digna da função. Toda a zona requer uma intervenção urgente, que adopte um critério de disciplina urbana visando a sua preservação e característica original, e isso passa pela impreterível retirada dos automóveis e a construção de uma via que dê uma continuidade tranquila ao passeio das bicicletas. Quanto aos ciclistas que chegam pela via ciclável existente, tanto quem vem junto ao rio como quem chega vindo da Avenida Brasil, (no meu caso montado numa bicicleta equipada com pneus de 20mm), dificilmente arrisca pedalar num piso lunar de granito onde supostamente se encontra a ciclovia (!!!), ou no paralelo irregular da avenida, e opta pelo asfalto da rua rejuvenescida. Outros, equipados com pneus BTT, pelo menos têm uma boa alternativa que é atravessar os caminhos sombreados pelas árvores do jardim.

A zona do Passeio Alegre tem valores históricos e artísticos que deverão ser considerados, não apenas como elementos urbanos mas sim como fazendo parte de um todo que deve viver em estreita relação com a natureza. A preservação da moldura do jardim é importante, e é necessário o seu enquadramento com o rio, numa visão moderna que acautele os espaços e a sua qualidade. A cidade e todos nós só teríamos a ganhar.

(Poste clonado de um gajo que anda por aí na bicicleta.)


quarta-feira, março 23

um pingo de bom senso, no mínimo!...

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Arrancou, recentemente, o Censos 2011, o maior levantamento estatístico sobre a população portuguesa. Esta mega-operação feita porta-a-porta tem por principal objectivo traçar um retrato fidedigno dos portugueses, tanto a nível individual, como familiar e perceber como somos, onde vivemos, como vivemos e em que condições trabalhamos. Disseram-me que poderia responder ao inquérito pela net a partir do dia 21 mas avisou-me o bom senso para não ir logo na conversa e desatar a congestionar e entupir o serviço online, como de facto aconteceu logo no primeiro dia. Mas passando os olhos pelos formulários, eis que surge a questão nº 32. Informam o inquirido que: se trabalha a recibos verdes, mas tem um local de trabalho fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica efectiva e um horário de trabalho definido, ou seja, de forma ilegal, a opção a assinalar será "trabalhador por conta de outrem"! Então, quer dizer, a entidade patronal usa e abusa do “colaborador”, age em desacordo com a lei, e as pessoas têm de assinalar a cruz que indica exactamente o contrário? Para quê? Para ficar bonito nas estatísticas do governo? Ou apenas para camuflar os falsos recibos verdes de trabalhadores com plenos direitos sociais? E colocar uma cruz numa “outra situação” uma hipótese vaga que não reflecte a realidade de muita gente, de uma subordinação laboral imposta ilegalmente. Andei eu, na década de 90, quatro anos a passar recibos verdes ao Estado, de uma forma ilegal, e afinal era trabalhador por conta de outrem, sem contrato como deveria ter, com os benefícios/obrigações que daí deveriam resultar! Que parvo que eu fui.

Não bastando isso, agora leio isto: “Sem-abrigo recenseados em habitação de luxo. Dormem na Gare do Oriente e são recenseados nas Torres São Rafael e São Gabriel, as duas torres emblemáticas do Parque das Nações.”

Belisquem-me, ó faxabôre! Estas pessoas merecem mais respeito. Coragem era saber quantos são, como vivem, porque estão nesta situação! Continuam a querer obrigar-nos a enfiar a cabeça na areia. Somos um povo que vive na ilusão, na aparência e mais uma vez estes "Censos" que deveriam fazer um recenseamento que retrate minimamente a realidade e nos faça perceber como somos, onde vivemos, como vivemos e em que condições trabalhamos, apenas servem para fazer uma "cosmética estatística" ao real estado deste País!


segunda-feira, março 21

primavera

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A gaiola ficou aberta, esquecida. Em baixo, o menino espreitava. Lá em cima, a gaiola aberta e o passarinho sem perceber. Como sempre, vivia a sua vidinha a pular. Há quanto tempo as suas asas não batiam? Há quanto tempo vivia naquela gaiola? O menino, lá em baixo, vigiava. Fixava o olhar de boca fechada. Só os dois, no quintal da casa. Ele, escondido. Calado. Dividido entre a liberdade do verdilhão e o carinho que sentia por ele. Voa, passarinho. Fica, passarinho. Voa. E o passarinho pulava, de poleiro em poleiro. As suas asas sem bater. O menino escondido olhava a gaiola aberta. O passarinho bicava a alpista, bebericava, pulava, cantava. Sem perceber que o menino permanecia ali e que a gaiola estava aberta. Voa, passarinho. E finalmente o verdilhão descobre a abertura. Pula até lá. O mundo aberto e o passarinho parado na portinhola. Voa, passarinho. Voa. Volta, passarinho. Volta, voa... Espreitava agora a liberdade que o menino oferecia, sem barreiras de madeira, sem arames. Olhava para os lados. Para cima. Para baixo. Não voa. Não voa. Voou. Bateu as asas, desajeitado. Voou devagar. Voou, para perto. O menino saltou e procurou. Os seus olhos tremiam. Nem viu o passarinho voar, para a árvore ou ir para bem longe. Não viu. Correu pelo quintal e avistou-o novamente. O passarinho alcançou o muro. Parecia despedir-se. E voou. Foi melhor para ele. O menino sabe. Está livre, vai encontrar amigos, uma família. Ele sabe. Vai poder voar, cantar num ramo de árvore. Eu sei.

- O que fizeste foi muito bonito, Paulinho. Pode ser até que o passarinho te venha visitar!
- Juras?
- Tenho certeza.


sexta-feira, março 18

um jogo PECuliar

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Com o lançamento da versão IV do PEC, José Sócrates, um primeiro-ministro em fim de carreira que na versão remasterizada de “Os Vampiros” de Zeca Afonso seria “ele come tudo, ele come tudo, ele come tudo e não deixa nada”, pode ter o futuro garantido no mundo dos videojogos. Assim, 30 anos depois de Pac-Man, temos José Sócrates, o PEC-Man - um glutão português, já com várias versões mas que faltava ainda o videojogo. Eis o PEC-MAN IV, agora disponível para download grátis (mesmo se ainda não estamos em campanha eleitoral). O primeiro-ministro é a voraz cabeça de uma versão actualizada de um mítico videojogo dos anos 80, que a imprensa nacional, especializada ou não, revelou pela primeira vez em meados de 2010. José Sócrates surge no ecrã labiríntico a abocanhar todos os euros que lhe aparecem à frente, acumulando pontos e aumentando o IVA, ao mesmo tempo que foge a sete pés do FMI. A equipa autora do jogo, a empresa Teixeira dos Santos & Associados, Lda, já tem os direitos adquiridos para a versão final, "A Recessão".



Vídeo: "PEC - Programa de Estabilidade e Crescimento", reportagem do jornalista Mário Carneiro, exibido no programa Sinais de Fogo da SIC, em 2010.

Nota mesmo final: Espero que o leitor tenha a capacidade mental para não acreditar em tudo o que acabou de ler. Se não também não faz mal, está no país ideal. Basta antever o que nos dizem de cima...


quinta-feira, março 17

救済

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Prossegue no Japão um imenso esforço social, de mobilização, de recursos humanos e materiais, em busca de sobreviventes e apoio às vítimas da recente tragédia natural. A riqueza cultural do Japão e a seriedade impressionante das normas que regem a construção civil evitaram, por enquanto, uma tragédia maior. Mas a destruição causada pela força do tsunami, que se formou após o abalo inicial, é impressionante. A rede global faz circular à velocidade da luz, milhares de imagens e vídeos sobre o desastre por todo o planeta. Tirando proveito da tecnologia do Google Earth, dois trabalhos jornalísticos merecem destaque. Comparam as situações antes e depois do terramoto, nas localidades japonesas mais atingidas. A agência de notícias australiana ABC produziu uma série notável de fotografias. O trabalho pode ser conferido aqui. Já o New York Times produziu, com auxílio do Google Maps, um trabalho que, além de apontar com precisão o epicentro do sismo e as áreas mais atingidas, associa, a cada uma delas, dados, vídeos e fotos sobre o Japão após o terramoto.

Mas a maior ameaça à população japonesa provem de uma outra tecnologia, a nuclear. A fuga de partículas radioactivas na atmosfera. A ameaça não se sente, não se vê e não se cheira, mas é assustadoramente real. Nos últimos dias, o maior de todos os temores, que atrai a atenção e as preces de todo mundo, ironicamente, é causado pela mesma tecnologia que devastou o Japão em 1945, usada para outros fins. Não é a primeira vez que o Japão tem um acidente deste tipo. O mais recente foi em 2007, após um terramoto, nas centrais de Kashiwazaki-Kariwa. Sempre se soube que os reactores nucleares poderiam não ser capazes de aguentar grandes abalos sísmicos, e situações adversas combinadas, como é o caso de Fukushima. Catástrofes simultâneas podem acontecer. Na verdade há sempre uma grande probabilidade que aconteçam acidentes e falhas em locais de risco. O mesmo que ocorre no Japão agora, a dificuldade em se obter água para arrefecer os reactores, dentro de vários outros problemas combinados, tornou-se numa cadeia de graves acontecimentos que pioram a cada momento. A calamidade japonesa colocou novamente em xeque, em todo o mundo, a questão das centrais nucleares. O pior cenário da tragédia nuclear, a fusão do núcleo dos reactores, já ocorreu ou está a ocorrer a pior crise possível. A situação é dramática e parece estar descontrolada. As informações têm sido contraditórias porque o governo japonês quer evitar o pânico. Nunca é tarde para reconhecer o erro, porém, ainda há tempo para repensarmos a questão energética. Este é o momento para actuar e reflectir, para expormos os pontos fracos dessa tecnologia, e como é sério o risco de ameaça de milhões de vidas em todo o mundo. Se realmente acontecer o pior desastre nuclear possível, os especialistas prevêem que a região ficará inabitável por mais de 300 anos. Sobretudo para um país com uma densidade demográfica tão grande, não são apenas os japoneses que estão em risco, mas várias nações que optaram erradamente por essa tecnologia. Actualmente existem mais de quatrocentas centrais nucleares em actividade no mundo, a maioria no Reino Unido, EUA, França e Leste europeu. Ao longo da história nuclear mundial, fugas radioactivas e explosões nos reactores, por falhas dos seus sistemas de segurança, provocaram graves acidentes. O mais grave, em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, que para além de mortos e feridos formou uma nuvem radioactiva que se espalhou por toda a Europa. O número de pessoas contaminadas é incalculável. Submarinos nucleares afundados durante a 2ª Guerra Mundial também constituem grave ameaça. O mar Báltico é uma das regiões do planeta que mais concentram esse tipo de sucata. É emergente que o mundo inteiro interrompa os seus planos de expansão de desenvolvimento nuclear e rapidamente substitui-a essa fonte por outras limpas, renováveis e o mais importante, seguras.


quarta-feira, março 16

só num país esburacado

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Ontem mesmo, enquanto emborcava à pressa o prato do dia, a minha perplexidade atingiu os píncaros quando assisti a isto. Não que não tivesse logo dado conta que mais não passava de outra gafe da televisão do Estado. Já de manhã, a jornalista Carla Trafaria ao noticiar a greve dos camionistas, gentilmente apelidou os Gênêérres de “agentes de austeridade”! Compreendi-a. Mas o que me deixou engasgado com uma bola de golfe foi a sensibilidade do governo ao Approach dos senhores do Swing. Com as recentes alterações às tabelas de IVA, a prática de golfe passou a ser tributada à taxa máxima de 23%. Agora, o governo prepara-se para abrir uma excepção, aplicando-lhe de novo a taxa mínima de 6%. Foi como se tivesse levado, não com uma bola, mas uma pancada, um Shot, com o taco, o Putt, na minha cabeça. Então o primeiro-ministro que nos obriga a apertar cada vez mais o cinto, que exige aos portugueses sacrifícios pessoais, exigir-se-ia também por parte de quem governa, respeito e paridade, no mínimo! E no caso a situação ainda é mais grave e revoltante por ter aceite um Set de mordomias de uma elite de gente endinheirada e cada vez mais privilegiada. Esta ofensa ao direito mais elementar do seu povo que é o "direito ao pão", aos bens essenciais, num país onde muitas famílias vivem na opulência e muitos milhares de outras na mais extrema miséria, mostra a face porventura mais autêntica deste governo.

Approach: pancada de aproximação à bandeira;
Swing: movimento de rotação que o corpo faz para efectuar a pancada;
Shot: pancada;
Putt: taco utilizado para finalizar cada buraco, metendo a bola dentro do buraco;
Set: conjunto de ferros.


terça-feira, março 15

eu não acreditei...

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Todo este movimento de massas movido por uma população à rasca, levantou múltiplas questões aos que são ainda mais jovens. Ao meu filho assolaram dúvidas sobre o seu futuro, se escolheu o curso adequado (tem 16 anos, está no 11º ano de um curso técnico-profissional), se deve seguir a formação académica ou entrar logo no mercado de trabalho. Se valerá a pena continuar a estudar. Se alguma vez terá um trabalho estável. Se eu sou feliz na minha carreira! Muitos ses que eu “enrolei”, argumentando sem no entanto lhe garantir uma resposta definitiva. Agora, quanto a ter uma carreira!

Num ponto de vista frio e superficial, quando se fala em "carreira" normalmente pensa-se num método dinâmico e contínuo do relacionamento produtivo entre o ser humano, como agente em função do seu trabalho, e a sociedade, como beneficiária da sua actividade. Numa visão mais lírica da coisa pode-se considerar que o maior benefício para o trabalhador ao prosseguir uma carreira é aliar os seguintes ingredientes: objectivo, trabalho, realização. É legítimo.

Escolher uma actividade profissional nem sempre significa fazer uma opção. A formação por si só não garante um emprego, nem tão pouco uma carreira na sua área de interesse. Esta escolha não é simples nem sequer justa. A maioria das pessoas necessita de ter uma actividade que, para além da componente financeira, também faça parte da realização pessoal a que cada um tem direito.

A ambição é benéfica mas não deve ser desmedida porque torna as pessoas insatisfeitas, invejosas e frustradas. Quem arregaça as mangas, trabalha com afinco e satisfação, atinge mais facilmente os objectivos a que se propôs, promove a estabilidade da entidade laboral, cria relacionamentos saudáveis, rende mais e, portanto, tende a ser mais bem reconhecido e remunerado.

Naturalmente que podes construir uma carreira estável, disse-lhe. Em quanto tempo? Isso não importa. Não te preocupes com isso. No presente deves construir os alicerces da construção concreta da tua vida, dia após dia, estudando e colhendo ensinamentos, desafios e novidades, construindo uma boa preparação para um bom futuro e uma boa carreira, mesmo se não para toda a vida, pelo menos por um bom tempo.


sábado, março 12

a luta é alegria

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Foi um movimento transversal de várias gerações que se reuniram, marcharam, conviveram, manifestaram, cantaram, dançaram, choraram, riram, saltaram, viveram, abraçaram esta memorável iniciativa que partiu de quatro amigos: João Labrinha, Alexandre de Sousa Carvalho, António Frazão e Paula Gil, criadores da página do protesto no Facebook, que não se consideram representantes e muito menos líderes de qualquer movimento.

Sábado, 12 de Março de 2011. Milhares de pessoas, novos e velhos, netos, filhos, pais e avós, empregados, fartos destes recibos verdes, turistas, quinhentos euristas, desempregados, licenciados ou não, reformados, muita gente que surgiu espontaneamente nas ruas e avenidas em vários pontos do país, como a Avenida da Liberdade em Lisboa, a Praça da Batalha no Porto ou o Rossio em Viseu. Foi um protesto apartidário, laico, ordeiro e pacífico, à procura de respostas e de soluções. Bateu o pé e fez-se ouvir.

Consequência directa da insatisfação deste grupo de jovens, que procuram alterar o status quo da precariedade laboral e as condições da educação no país, o protesto da Geração à Rasca pretende “reforçar a democracia participativa no país”, como se pode ler na Carta Oficial à Sociedade Civil do grupo. Protestam para que “todos os responsáveis, políticos, empregadores e nós mesmos”, ajam em concordância. Para quebrar este silêncio ensurdecedor dos mal pagos. Para que os portugueses consigam prosperar e melhorar a sua qualidade de vida. Para poder haver algo para todos e não só para alguns.

Mais do que concordar com este protesto, é um acto de solidariedade, de um desespero e revolta enorme. Não se pode culpar o povo abusado e espancado por chegarmos à angústia e a esta situação. A culpa é dos sucessivos governos pelas suas políticas aberrantes. Isto de levantar a voz pode até não levar a nada mas terá algumas consequências. Por alguma coisa é que somos recordados como os revolucionários dos cravos.


sexta-feira, março 11

o professor fedorento

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Agora que o corso carnavalesco passou, achei de bom-tom falar-vos de dois ícones da minha infância: de um gordo detestável, o professor Silva, e de outro impertinente, mas não menos fedorento, o mítico peidinho-engarrafado. Para quem não sabe do que estou a falar, o que acho uma falha grave, o peidinho-engarrafados, também há quem lhes chame bombinha de cheiro, é um recipiente minúsculo de vidro contendo um líquido amarelado, que depois de partido exalava um fedor característico, capaz de derrubar qualquer elefante no auge da sua opulência! Eu nunca entendi muito bem qual era o objectivo daquilo. Porquê gastar dinheiro e tempo se afinal até estamos equipados de intestinos e rabo, e os peidos já vêm pré-fabricados pela mãe natureza! Mas quem o fazia pelos vistos retirava gozo em observar reacções dos outros às suas partidinhas de carnaval...

Mas vamos ao que me interessa.

Estávamos no último ano da década de 70, e eu frequentava o ciclo preparatório no colégio, o Externato Camões em Rio Tinto. Soou o toque de entrada para a aula seguinte, a de Matemática. Um breve silêncio se gerou à chegada ao corredor do indescritível, adiposo e carrancudo, professor Silva. Hirto e autoritário, enxotava com a barriga quem não se desviava do seu caminho, para a sala de aula que naquela manhã seria leccionada no laboratório de química. No meio daquele emudecimento, um burburinho de risos acompanhava a sua passagem. Quase de seguida chegou-me a mostarda ao nariz. Um dos meus colegas de turma resolveu lançar um desses peidinhos-engarrafados para o chão, cujo odor empestava já todo o espaço. Antes de rodar a chave, o profe esticou a cabeça, arregalou os olhos e torceu o nariz. Vai haver bronca, pensei. Mas não! Manteve-se sério, voltou-se, abriu a porta e fechou-a depois de todos terem entrado ordenadamente. Sentou-se à secretária, fez a chamada em voz alta e ditou o sumário. Eu sabia que aquele comportamento tranquilo e sereno não era bom sinal, mas relaxei, pois o vento parecia soprar a nosso favor. Levantou-se de seguida e escreveu um exercício dos mais difíceis no quadro negro.

- Quero o exercício resolvido em trinta minutos, disse secamente. Conta para a vossa nota.

Um silêncio sepulcral instalou-se naquela turma.

O profe Silva era um acérrimo militante do Partido Comunista e da doutrina soviética de Brejnev. Era dos que insistia em ser o castigo físico a melhor forma de impor disciplina. E impunha-a. Aos distraídos dava piparotes nas orelhas, eu que o diga, e distribuía cachaços na nuca dos faladores, isto só na coacção e prevalência do medo. É que se metia a mão a sério, deixava um puto dias a fio com o corpo dorido. Noutras alturas dava-lhe para o pacifismo e outro tipo de experiências, de pequenas torturas, o que foi o caso dessa manhã.

Circulando com as mãos atrás das costas, vigiava o nosso esforço mental. Em passos lentos, foi-se chegando para o fundo da sala, para a zona de laboratório. Ninguém arriscou olhar para trás quando se ouviu o tilintar de frascos e tubos de vidro. Pôs-se a cantarolar. Não resisti e discretamente espreitei e vi-o a preparar um cocktail misterioso.

- Hei, hei... virados para a frente, disparou num ralhete.

Assim que terminou, confirmou se as janelas estavam fechadas, abriu um sorriso malicioso ao mesmo tempo que nos ordenava continuar a tarefa, sem barulho, e que estaria de volta a qualquer instante. Abriu a porta e saiu. Depois a dúvida instalou-se mas seria rapidamente dissipada. O gás foi abraçando a atmosfera da sala, invadindo as narinas de uma forma brutal. O fedor era mil vezes pior do que o do correspondente peidinho lançado ao seu caminho minutos antes. O solução do resultado da mistura de um ácido qualquer com uma pedra de enxofre no interior de um boião de laboratório era mesmo parecido!

Atordoados com o cheirete, instalou-se a confusão. Quem tinha lenços recorreu a eles para aliviar a agonia, quem não tinha agitava as mãos à frente do nariz ou girando como um pião os braços sobre a cabeça. Passados dez minutos, para o seu deleite, o sacana do profe voltava à sala para ver a reacção inversa nos alunos, visto que a bombinha de destruição maciça foi testada bem à sua maneira.

- E escusam de fazer essas caras. Fiquem a saber que também sei brincar e que a vingança fede.

Mufamos o resto da aula dentro da sala, com as janelas fechadas, a respirar aquele ar nauseabundo. E as partidas de carnaval não passavam disso, inocentes, numa época ideal para um álibi perfeito, das bisnagas, bombinhas, estaladinhos, etc, etc... mesmo que não agradasse aos professores.



quarta-feira, março 9

ainda é Carnaval, não os podem levar a mal...

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Há muito que estamos atolados nesta crise económica, e é mais que tempo de se falar abertamente e responsabilizar quem tem a seu cargo a economia desta grande empresa. É imperativo acabar de uma vez por todas com poderes que exploram e usurpam, com a aplicação de algumas leis aprovadas para esse efeito, o povo que dizem representar e defender.

O nosso país está em profunda depressão e merecemos pelo menos ter uma palavra e pedir explicações. É claro que já ouvi várias, de especialistas, mas na vida das pessoas que não têm grandes noções de economia, de pouco valem quando se sabe o quanto é difícil pagar as contas. Deixaram-nos puxar dos VISA’s, compramos casas e carros, contraímos dividas para pagar por elas juros cada vez mais exorbitantes. Somos o resultado da especulação e do consumo excessivo, para agora arcar amargamente com o devido preço e suas consequências. Certamente que temos muita culpa no cartório, mas na realidade os grandes culpados são outros.

Os bancos. Sem os empréstimos do mundo financeiro, concedidos a qualquer um sem qualquer tipo de dificuldades, teria sido bem mais difícil chegar à macro-crise que sofremos hoje. Tornou-se um ciclo vertiginoso que tem feito aumentar as falências e o desemprego. Uma constante dependência financeira, porque sem crédito as empresas não podem operar e a economia não recupera.

A Classe politica. Os maiores culpados, que sabendo o que estava a acontecer, os reais problemas do desemprego, pouco ou nada fizeram, não serviram as populações mas aqueles que pagaram as suas campanhas.


Eu não sou um especialista em economia, mas sei o suficiente para perceber que as crises económicas são o resultado de más decisões, de um sistema capitalista prevalecente, um pequeno grupo que tem uma quantia obscena de dinheiro acumulado, e da elite que nos governa.

As pessoas estão conscientes de que o poder não é duradouro e a única coisa que deve permanecer inalterada é a união. É minha firme convicção que a solução passa por investir no progresso, no bem-estar social e económico das famílias. O liberalismo económico tem levado algumas sociedades para um capitalismo mais selvagem e práticas desumanas de falsas expectativas. A economia não pode ter vida própria e se mover livremente, de uma forma injusta e sem o devido controlo. Assim como entendo que as pessoas não podem exercer seu trabalho sem uma ordem e um propósito definido, a economia não pode operar como um instrumento para interesses puramente egoístas e apenas servir os interesses de poucos. Não podemos ignorar que uma nação tem todo o tipo de bons trabalhadores e empresários, empreendedores que amam a sua nação. Outra coisa é a raça de abutres que sempre têm a tendência para tirar proveito dos outros, de viverem bem e à custa da manipulação, do engano, da força alheia.

Em relação ao nosso país, foco principalmente o problema da falta de emprego, a organização da nossa força de trabalho e a utilização racional dos recursos, porque não vivemos do valor fictício do dinheiro mas da produção, daquilo que dá valor ao dinheiro. A nossa riqueza é baseada na capacidade de trabalho das pessoas, as que fazem esta nação, e não só em aumentar e cobrar impostos. A produção seria maior se os rendimentos também o fossem. Produzir para ajudar o bem comum e promover uma vida mental saudável e enriquecedora.

E eu vejo essa entrega no rosto de inúmeras pessoas. Resiste uma centelha de esperança que ainda brilha nos seus olhos. O triunfo virá da vontade de cada um, de todos, os que estão à rasca, pela união desta geração, que não é uma força política, mas um movimento social que vai crescer imparável nos próximos anos.


segunda-feira, março 7

só porque não há primeira!

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À excepção de um, todos os outros dias são uma mera circunstância de calendário, essa inquestionável resolução que os Homens encontraram para organizar datas, protelar as entregas e esquecer aniversários da esposa ou do casamento. E esse "um" é hoje.

O próprio nome, segunda-feira, é um disfarce dos mais descarados, porque na verdade é o primeiro útil dia da semana e não o segundo. Não passa de uma tentativa bem intencionada de iniciar a semana e pensar que um dia já passou. Mas não adianta, segunda-feira é o dia infeliz em que quase todos tem de largar as pantufas e regressar à faina.

Segunda é o dia em que se acorda de ressaca mesmo sem ter bebido uma gota. É o dia em que se tem a impressão de estar chover mesmo quando está um lindo céu azul. Quem mal levanta, atira o edredom e quem mais aparecer pela frente, senta no trabalho com ânimo de um prisioneiro e apressa o relógio para chegar inteiro pelo menos à hora do almoço. É igual a qualquer outra, menos se o seu clube perdeu, se o despertador não tocou, se amanhã é Carnaval. Não dá para mascarar porque não há como fazer tolerância de ponte.

Calma meu amigo. Calma que em poucos dias estaremos num lugar delicioso, em boa companhia, com uma cerveja fresca numa esplanada e ninguém a nos apressar para sair de casa, e esse lugar é o fim-de-semana. Dois dias de paraíso, de alegria, devaneio e tranquilidade. Mas com um único e cruel defeito: terminar numa outra segunda-feira.


domingo, março 6

"o último lugar ninguém nos tira, camaradas pá"

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Houve tempos em que assistir ao Festival da Canção da RTP juntava toda a família em frente ao televisor. Era o desfile das canções, a tradição do canto colectivo tão em moda nos idos anos 70, época de Ouro deste Festival. A votação telefónica dos júris distritais criava ansiedade e expectativa, a festa encerrava emotiva com a ovação ao vencedor que seria o representante nacional no Eurofestival. Lá nunca fomos felizes, quase sempre a canção nacional acabava nos últimos lugares. O género festivaleiro não é o nosso definitivamente. Entretanto o Eurofestival passou a outro nível, a festival de palhaçada e Portugal já alinhou.

Ontem entro no quarto do meu filho e espantado pergunto-lhe: Mas tu estás a ver o Festival da Canção!? Estou eheh, sabias que estão lá os Homens da Luta? A sério!

Pois fiquei a saber esta manhã que sempre foram eles os vencedores do concurso. Com a canção 'A Luta é Alegria', Jel e Falâncio serão os representantes de Portugal no Festival Eurovisão da Canção que este ano se realiza em Düsseldorf, na Alemanha. “Vamos apelar à luta e à alegria”, dizem. "Merkel escuta, vais levar com os homens da luta".

E não é que o raio da música ficou no ouvido!



A cereja no topo do bolo foi quando assim que soube qual a música vencedora, ouviram-se apupos da plateia, que esvaziou rapidamente o Teatro Camões, em sinal de protesto pela escolha. Já os restantes concorrentes do festival aceitaram calmamente a vitória dos Homens da Luta.

A letra da canção, preferida por 28 por cento daqueles que votaram pelo telefone, foi escrita por Falâncio, que anunciou a presença dos Homens da Luta na manifestação da Geração à Rasca, que irá percorrer as ruas de Lisboa no próximo dia 12.

Vai ser desta?


sábado, março 5

pessoal...

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... isto é assim. Não querendo vos maçar muito com o mesmo tema das bicicletas para ali, pedaladas para aqui, e como se não tivesse mais nada que fazer, decidi criar um novo blogue para andar na bicicleta de uma forma virtual mais intensiva. Assim o nabicicleta.wordpress.com está de portas abertas e pronto a quem queira dar uma volta nela, é só clicar e visitar. Lá estão contidos postes, não os postes onde se prendem bicicletas, mas os "postes" virtuais... dizia, de textos publicados que importei juntamente com os vossos interessantes comentários. São postes relacionados com as minhas aventuras nas binas e outras coisas, do Porto e não só.

O blogue está agregado ao O Planeta BiciCultura,
um agregador de blogues em Português, sobre a cultura da bicicleta e com bicicleta. O seu foco é na bicicleta como veículo utilitário de transporte, diversão e lazer, excluindo virtualmente a vertente desportiva (embora não seja um tabu), e como tal, aceita as contribuições de bloggers que façam parte dela, usando eles próprios a bicicleta como meio de transporte mais ou menos regular.

E pronto, é isto. Arranjei mais sarna para me coçar. O novo tasco ainda precisa de uns retoques à maneira e acabamentos na decoração e, em breve, espero retomar o meu ritmo nas pedalas até aos blogues da vizinhança. Ah, é claro que continuarei no gabinete pró que der e vier. Fiquem bem.

sexta-feira, março 4

como é da natureza das coisas a culpa morrer solteira em Portugal

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Passaram dez anos. A frágil e centenária ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, desmoronou-se à passagem de um autocarro que transportava gente da região de Paiva, de regresso de um passeio às amendoeiras em flor, seguido de três automóveis. A pedra e o ferro cederam, o caminho acabou abruptamente no vazio, a meio da ponte, e ninguém chegou ao seu destino. A fatalidade aconteceu e arrastou 59 pessoas para a correnteza furiosa do Douro. Morreram todos. Uma dor profunda tomou conta dos que perderam os seus queridos familiares e amigos. O País em lágrimas assistiu em directo pelas televisões às operações de resgate de corpos e viaturas. Sem poder enterrar 36 das pessoas desaparecidas as famílias enlutadas trataram de cuidar dos vivos, lançando uma associação social de apoio aos mais carenciados e às crianças órfãs da região.

«Ninguém podia prever uma coisa daquelas e quem o proclama, mente», considerou o inspector de bombeiros Salazar Galhardo, que presenciou o colapso. «Se soubessem que a ponte ia cair, não tinham arriscado uma manifestação em cima dela com autocarros e uma série de automóveis», acrescentou, numa alusão a um corte de trânsito ali ocorrido meses antes em protesto pelos maus acessos a Castelo de Paiva. «O que fez cair a ponte foi o Inverno rigoroso e a necessidade de abrir simultaneamente as comportas de duas barragens, a do Torrão, no Tâmega, e de Carrapatelo, no Douro». «A ponte situa-se a jusante da confluência dos dois rios e uma olhadela atenta para as correntes dava para perceber que batiam directamente no pilar que ruiu. Se não fosse essa circunstância ainda lá hoje passávamos», garante.

O atraso da construção de uma nova ponte configura responsabilidade política dos sucessivos governos desde 1986. Vários projectos de reconstrução foram sucessivamente colocados na gaveta pelos governantes. O alarmismo dos autarcas da região tornou-se ensurdecedor assim que começaram a aparecer relatórios técnicos alertando para a degradação da estrutura. Os areeiros estavam licenciados para extraírem os inertes pelas entidades competentes. A sucessão de cinco cheias intensas nesse Inverno. Uma acumulação de causas, quer naturais, quer devido a negligência de diversos serviços levou à tragédia.

No plano político, o acidente provocou a imediata demissão do então ministro do Equipamento, Jorge Coelho. Em relação à responsabilidade civil foi assegurada pelo Estado que assumiu ressarcir com indemnizações.

«Na minha opinião, a Justiça só foi até onde a deixaram ir. Ou seja, o processo para mim foi manipulado», disse Horácio Moreira, ex-líder da Associação de Familiares das Vítimas de Entre-os-Rios. Considera ainda que, face à prova que lhe foi apresentada, o tribunal de Castelo de Paiva agiu bem ao absolver os seis técnicos arguidos. O processo tinha 29 arguidos: cinco técnicos da antiga Junta Autónoma de Estradas, o responsável por uma empresa projectista, 22 areeiros e o antigo presidente do Instituto de Navegabilidade do Douro.

"O mais triste disso tudo, é que se aquele ano não tivesse sido tão chuvoso, a ponte ainda era a mesma. Mas como houve mortes por manifesta negligência no tocante à manutenção da ponte, construída há mais de cem anos para o trânsito de carroças puxadas a cavalos, fizeram-se duas. Triste sina de um país em que é preciso morrer gente para se agir!". Para a população, isto não passa de “um rebuçado” para atenuar as críticas, mas que, de forma alguma, atenua a dor daqueles que perderam os seus familiares. Volvida uma década depois da tragédia, há famílias que nunca conseguiram fazer o luto, por falta dos corpos que nunca apareceram. A mágoa perdura.


quarta-feira, março 2

a professora

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(pátio interior da Escola Sec. Infante D. Henrique, Porto)

No primeiro dia, a forma como chegou, como se apresentou, a sua timidez inicial, desde logo me prendeu a atenção. Entrava rodeada de alunos, guardava nos seus pequenos braços uma pasta preta de cabedal, cheia de papéis e livros fotocopiados que amavelmente pedia para serem distribuídos pela sala. A doçura das palavras com que respondia às nossas constantes dúvidas, com a sua voz calma e abrangente, tinha o dom de me deixar concentrado nas filosofias de Platão, Sócrates (o verdadeiro), Aristóteles, num estranho anseio de aprendizagem. Durante as aulas colocava questões sempre oportunas, mostrando o seu interesse sobre as nossas rebeldes vidas de adolescentes. Não tecia comentários desnecessários nem desperdiçava palavras. Não era difícil perceber que era inteligente e culta e, por incrível que pudesse parecer, até os alunos indisciplinados permaneciam esbabacados, escutando-a. E eu, como eles, ficava abstraído de qualquer outra distracção, assistia aliciado à sua aula de Filosofia. No entanto, eu sentia-lhe alguma solidão. Por detrás daquela enorme e pesada secretária de madeira ela permanecia sossegada, de rosto tranquilo. Os seus olhos giravam irrequietos, ampliados pela graduação das lentes. Não se levantava nem mexia a cadeira. Era dia de teste e, como tal, não havia aluno que não estivesse munido de uma estratégia, de um truque para se socorrer de um auxiliar de memória. Será escusado dizer que eu também não escapava à cabulice da turma, ainda para mais Filosofia que eu gostava tanto… ui! Mas não, ela não dava a mínima hipótese. Ela via tudo, topava os olhares cúmplices, as expressões angustiadas, os movimentos suspeitos. Sempre sentada, pequena e responsável, atrás da enorme secretária, pedindo educadamente para que não nos enganássemos a nós próprios. Ali naquele canto ela dominava toda a turma, apenas ela e a sua inseparável cadeira de rodas que amparava a sua distrofia congénita, para toda a vida.

(hoje recordei a professora que mais me marcou pela positiva. Um dia destes recordarei o professor que deixou marcas, não só pelas minhas negativas)