segunda-feira, janeiro 31

"ainda estás (de) verde!?"

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Um judoca nunca é bom ou mau. Não contabiliza os combates que ganha ou perde. O melhor do judo foi a primeira coisa que aprendeste, logo após teres vestido aquela fatiota branca e engraçada. Tu aprendeste a cair. Não começaste logo a agarrar o judogi, ou a medir forças para derrubar o teu oponente. Como aprendiz de judo, primeiro escutaste, observaste a um canto para não atrapalhares os outros no jeito correcto de cair. E foi um cai, levanta, cai, levanta, cai, levanta… E quando já sabias cair, o mestre fez um teste. Numa fila de judocas mais experientes foste derrubado por cada um deles. Um a um te cumprimentaram, te derrubaram. Esperaram que te levantasses. Cumprimentaram-te outra vez, derrubaram-te outra vez. Foi uma seca! Pois foi. Tiveste de ser valente e paciente. Se alguns desistiram no inicio foi porque perceberam que teriam de cair muitas vezes. Mas, tu foste um aprendiz corajoso e entendeste o sentido mágico e prático do judo. Aquele que está à tua frente é teu amigo. Ele não está ali para te magoar, nem para te puxar o tapete. Ele está lá para te ensinar a cair direito. E, a melhor parte, ele espera que te levantes e te prepares para repetir a técnica. Não há raiva, não há maldade. Não há nervosismo, não há dor, não há nada. Os olhos dos judocas costumam estar assim. Numa tranquilidade total… Não queiras ter pressa, não queiras aprender truques e manhas para te tornares um vencedor. A vitória está dentro de ti, mesmo antes de começares a luta, superando os maiores medos, desafiando-te a ti próprio. A aprendizagem é um ciclo de descobertas. Cada etapa, cada ciclo da vida é uma repetição mais ou menos regular de cair e levantar. Aprendeste a lutar desde cedo. Aprender a vencer demorou bastante. E é justamente por ser desejada que a vitória é arrebatadora. É por ser conseguida que se torna emocionante.

Juu Dou, "caminho suave" ou "caminho da suavidade", na língua japonesa, é um desporto praticado como arte marcial, fundado por Jigoro Kano em 1882. Os principais propósitos do judo são fortalecer o físico, a mente e o espírito de uma forma integrada, para além de desenvolver técnicas de defesa pessoal. Com milhares de praticantes em todo o mundo, o judo tem tido um aumento significativo, não se restringindo a homens com vigor físico mas estendendo os seus ensinamentos às mulheres, crianças e idosos. A sua técnica utiliza basicamente a força e peso do oponente contra ele, e a vitória representa apenas um fortalecimento espiritual.

A tarde de sábado foi entretida no pavilhão da Faculdade de Desporto. Um pai também serve para estas coisas, para o levar e aguardar que termine cada sessão de treino. Para o acompanhar em mais um torneio. Para o apoiar, incentivar e ver vencer.



sexta-feira, janeiro 28

ó faxabôre, é a conta...

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foto: noticias.up.pt

Três colegas de trabalho juntam-se para almoçar no Café Piolho. Um deles prefere o prato do dia (o económico). À jovem basta-lhe uma sopa e uma salada mista. O mais guloso quer degustar uma francesinha especial (batatas fritas e ovo a cavalo). Bebem bebidas variadas e rematam o repasto com dois cimbalinos. Esperam pela conta em animada cavaqueira. O empregado trás a conta à mesa e debate-se qual a melhor forma de pagamento. - Cada um paga o que comeu e bebeu, diz ela. - Não, não, se ele convidou é ele que paga, diz ele olhando para o amigo! Então o lambuzão da franscesinha e autor do convite, dá a brilhante ideia: - E que tal se fossem contas à moda do Porto!!! Ora, o que ele quis dizer com “as contas à moda do Porto” foi que se resolveria a questão com a simples aritmética: divide-se pelo número de participantes. Assim, cada um pagaria 1/3 da despesa. Já ouvi algures uma teoria alternativa sobre esta expressão. Que essa história das “contas à moda do porto” se refere a porto de mar, não à cidade do Porto, e que os marinheiros, por terem que partir logo a seguir à estadia, cada um para o seu destino, tinham de saldar as suas contas. Pois não sei qual das teorias será a mais certa. Mas uma coisa é certa, estando à partida subjacente a ideia que nenhum se vai aproveitar da situação, ou seja, escolher um menu mais caro, da próxima vez acho que vou pedir a francesinha.

Bom fim-de-semana.


quarta-feira, janeiro 26

o carteiro

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Agora, na era dos telemóveis, dos esse-eme-esses, da internet e do correio electrónico, o que sobra para o carteiro deixar na nossa velha caixa do correio? Contas para pagar e pouco mais. Que crueldade lhes fizeram ao nos dar todo um mundo online, um vazio de pensamentos e de sentimentos perfumados! O romantismo de receber uma carta de escrita cuidada, das mãos de um mensageiro a pedais, é um romantismo extinto. Ontem foi o Dia do Carteiro e hoje adornei este texto com mais um ícone da sétima arte, o Carteiro de Pablo Neruda, quebrando o lacre de um envelope de memórias, de uma esperança teimosa, numa viagem com cartas na sacola até um tempo onde o carteiro ainda era um mensageiro pelas aldeias. De uma aldeia com personagens reais, familiares, que me deram inspiração para criar estas pequenas histórias.

O carteiro é uma esperança ambulante. No bucho da sua sacola de couro não se conhecem classes sociais, não há lugares distintos, não há idades. Ali todos se conhecem, todas as línguas se falam e todos se entendem. Uns o esperam com receio, outros com entusiasmo. Numa espera macia e suave. Assim, aquela saudade agoniada ficava ali mansinha. Olham o relógio, mas havia um horário mágico para se olhar. Se não acontecesse, se não se ouvisse o trim-trim e o nome gritado bem alto pela mesma voz, só na outra semana, quem sabe. Não havia endereço, nem número da porta. Apenas um nome e o lugar.

Tia Ilda vai cantarolando, enquanto estende a roupa no quintal. E canta de cor, quando o carteiro chega com uma carta na mão e grita o seu nome: - Dona Ilda, Dona Ilda, chegou carta para si. - Para mim! Ai, há quanto tempo eu não abria uma carta! Uma letra miudinha e torta do seu afilhado trouxeram-lhe saudades e muitas lembranças ao pensamento. E as lembranças são como as cerejas, em que umas puxam as outras e tudo se vai adocicando. Depois vem o carinho imaginado, as mãos trémulas que acariciam o papel, o canto do parágrafo borrado por uma lágrima descuidada: - Ai que querido, meu rico filho! Ouve António, eles vêm cá passar o verão...

Tio Farrincha debruça-se com cuidados de artesão sobre a folha de papel branco e desenha uma caligrafia bonita, ornamentada, que enche de orgulho o antigo guarda-freios. Reclinado na velha cadeira de nogueira enaltecida no terreiro de luz, relê manuscritos transparentes de tão fininhos, guardados num subscrito com as bordas verdes e amarelas: "Aeropostal, par avion". Com o vagar e a minúcia de uma caneta de tinta permanente, escreve palavras pensadas, sentidas na alma mesmo. Contorna o sobrescrito com a língua, para acicatar a goma que sela as palavras gravadas, e dá uma última lambidela no selo postal: - Toda a gente me gaba a letra, aventa ao carteiro com um sorriso sonoro que lhe empina o bigode. – Pegue, é para a minha irmã que vive no Brasil.

À soleira de outras portas, cartas de amor são recebidas, como as de antigamente, que já ninguém escreve, e que trazem retratos amarelecidos com a usura do tempo. - Menina Fernanda, esta cartinha veio para si. Com o coração acelerado pela secreta emotividade em querer rasgar logo o envelope, ela resiste e guarda-o no peito como se um tesouro fosse, na irreprimível esperança de ler os escritos de amor antes de pontuar uma imensa saudade. A conversa solta-se e ele revela-lhe: - Sou eu que as leio a maior parte das vezes! Sei da vida de quase toda a gente, já viu menina! E ainda arranjo tempo para conversar e dar atenção às pessoas. Lembra-me a minha mãe que era das poucas que sabia ler e escrever, e assim ganhava mais uns trocados para alimentar cinco filhos. Lia e escrevia as cartas do povo. Terei lhe herdado o jeito ao que parece!

No vale fértil encaixado entre montes, as amendoeiras em flor vão estendendo aquele manto branco que a todos envolve na pertença da terra e na promessa de boas colheitas. Parece um postal ilustrado, como aquele que vou bisbilhotando no maço de cartas que o carteiro carrega. - Mas este postal é da Borgonha e vem escrito em francês!: “Chérie, je suis en Dijon et il fait froid…”. O sol morno ilumina as ruas íngremes, as casas e janelas aferrolhadas parecem escondidas à coscuvilhice. O silêncio é apenas interrompido pelo coro desafinado dos cães que parecem anunciar a vinda do carteiro. Para ele, longas são as horas que pedala, em contra-relógio, para fazer toda a distribuição. Pára ali, espreita aqui, petisca acolá, pedem-lhe o favor que deixe uma encomenda na estação de comboios. Só que o relógio continua a ditar a sua tirania e mais vale dar corda aos sapatos antes de cair o breu da noite. Numa aldeia solitária, um carteiro é sempre uma boa companhia, e ainda por cima uma companhia rotineira, diária, pontual. O café central serve para se inteirar que o Sr. José Maria não está porque foi para a cidade, para a casa do filho.

Depois de um copito do mata bicho para amaciar o gasganete, tem ainda de fazer uma última visita. Atravessa a ribeira, levanta a cabeça para a paisagem que se ergue no horizonte onde prosperam o xisto e as oliveiras, segue para uma casa isolada onde vive a viúva de um antigo pastor. A chegada do carteiro com o vale da sua magra pensão, representa um momento de alívio e felicidade, bem ilustrada no rosto da velhota, que desce a custo as escadas de pedra. Nestes locais mais isolados, a passagem do carteiro era uma réstia de vida e de esperança. – Olhe, já há dias que não falava para ninguém, diz-lhe a velhota. De ninguém ela espera uma carta, mas o carteiro traz-lhes a memória fugaz de um tempo em que as pernas e a vontade eram vigorosas. Um sorriso assoma nos lábios da velha que há momentos se vergava sobre a panela de três pernas: – Quer uma sopinha de couves? Parecem saber a pouco, estes breves momentos em que o correio distribui sorrisos que ninguém mandou, em que entrega palavras que ninguém escreveu...

No final do dia do carteiro revela-se um coleccionar de histórias, como se fosse uma daquelas máquinas Leica em que se gravava a memória efémera de um instante a preto e branco: - Cada dia tenho uma nova história para contar. Da poesia gerada pela natureza e a sua magia que me inspiram. Fazem-me lembrar um outro poeta e um outro carteiro. Pablo Neruda e o seu carteiro encantado pelas metáforas, da mesma forma que deslumbra a tela colorida desta paisagem, desta “minha” terra, enquanto levo no bojo da sacola as cartas, de quem Neruda dizia: “quanta verdade tristonha e mentira risonha uma carta nos traz”.



terça-feira, janeiro 25

cultivando a amizade

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A amizade é um sentimento que prevalece quando sincero. Deve ser um dos sentimentos mais autênticos que se pode ter por alguém, com entrega e partilha autênticas. Muito se fala deste nobre sentimento, práticas muitas vezes preenchidas de falsidade. Usa-se e abusa-se do valor da amizade com um descaramento tal que por vezes até enjoa. Ser amigo de alguém é ser companheiro sobretudo nas alturas menos boas. É ser conivente e dar apoio. É sentir felicidade quando os amigos estão felizes. Nem sempre se consegue isso, a vida obriga a uma dispersão de atenções, mas que nunca seja perversa e interesseira, caso contrário a palavra amizade estará desprovida de sentimento. Temos duas mãos, uma para dar e outra para receber, que dispensam outro tipo de interesses, e a isso é que eu chamo amizade.


domingo, janeiro 23

"pior do que está não fica"

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Só duas coisas se alteraram num procedimento que repito em todos os actos eleitorais: o local de voto e a hora que escolhi para exercer o meu acto cívico. Por norma voto pela manhã, mas hoje dava-nos mais jeito fazê-lo da parte da tarde e, assim, lá fomos por volta das 17 horas. Àquela hora, nas imediações da escola, o trânsito estava caótico, o que não é normal. Estacionei longe e fomos a pé. Num primeiro momento não estranhei ver tanta gente perdida no hall de entrada da escola. Ao contrário do que tem sido hábito, desta vez a mesa de voto mudou da escola de Clara de Resende (que está em processo de remodelação) para a vizinha Fontes Pereira de Melo, escola onde o meu filho estuda. Munidos do cartão de cidadão (o qual utilizei pela primeira vez para o que quer que fosse) e do cartão de eleitor (não foi por qualquer razão que o preservei, e essa certamente não foi para recordação), votamos na mais perfeita das normalidades. No entanto, à saída, notei que estava montado algum alvoroço e confusão. Ouvi comentários de revolta, senti a desorientação de algumas pessoas, o ambiente não era nada pacífico. No regresso a casa sintonizei o rádio do carro, para me inteirar das notícias, e tomei nota de muitas reacções ao que se passava um pouco por todo o país: Vários eleitores viram hoje os seus números de recenseamento alterados, sem aviso prévio, nas mesas de voto, tendo que esperar em longas filas com o cartão de cidadão na mão, para obter novo número de recenseamento, problema agravado pelas falhas nos serviços electrónicos disponibilizados pelo Governo, supostamente para facilitar o processo. Resultado: Várias pessoas desistiram de votar e mais uma vez a abstenção ganhou as eleições de mão beijada, não apenas como um sinal de descontentamento com a situação do país, mas também porque o Simplex boicotou o exercício do direito de voto a muitos cidadãos! Triste vai a democracia neste nosso país.



sexta-feira, janeiro 21

a encher pneus também serve

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Não ter a mínima ideia do que escrever e tentar escrever, é como sair de bicicleta e só resolver aonde ir quando já estiver a caminho. Se bem que sair a pedalar assim é bem mais fácil, pois só se está condicionado à escolha do destino. Numa página em branco, o/a ciclista das palavras não tem esse poder. Ele/a não pode decidir aonde ir. Limita-se a uma combinação de oportunidades que é mais difícil de acontecer se não tiver uma bicicleta para pedalar. É preciso que tenha audácia, aventura, capacidade, dom, prática, inteligência, conhecimento, ânimo e café, todos ao mesmo tempo (pronto, o café pode ser com adoçante ó faxabôre). Se esses atributos não surgirem combinados, então só dá para encher chouriços. Como é muito difícil de surgir aquela combinação do nada, encher chouriços com alguma desenvoltura também vale. E é um excelente trunfo para encher uma página em branco (ou um post). Creio até que a maioria das crónicas geniais que leio por aí saíram de uma página branca de ideias e, naturalmente, saíram do enchimento de chouriços.

n.d.r.: a relação entre página em branco e o acto eleitoral de Domingo é pura coincidência.

Have a nice weekend.

quinta-feira, janeiro 20

delírio

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Já estou bem melhor, obrigado pelo vosso cuidado.

Ontem, na minha quarentena forçada, descontraído na arte de não fazer nada e quase a atingir a fase Zen, delirei sobre o que poderia fazer quando não se tem nada para fazer! Aliás, para dominar esta técnica é necessário alguma preparação prévia e passa por não fazer nada. Mas afinal, se não tinha nada para fazer, não podia ou deveria fazer nada porque, nesse caso, sempre teria alguma coisa para fazer! Como se pode ver, não ter nada que fazer é mais complexo do que se poderia imaginar! Pois neste momento, gostaria de dizer que não tenho nada para fazer, mas estaria a delirar novamente porque tenho imensa coisa para fazer e, no entanto, encontro-me a blogar, o que leva a crer que pelo menos uma coisa tenho de fazer! Acabar o poste e recomeçar a trabalhar!


quarta-feira, janeiro 19

cuidados e caldos de galinha

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Ficar doente já foi bom um dia. Ah, se foi. Tínhamos febre, dores de garganta, e ficávamos na cama, cobertos até o pescoço por lençóis, enquanto os nossos enfermeiros particulares, os nossos pais, nos mimoseavam com um copo de leite morno, supositórios e caprichos. Dependendo do termómetro e do tempo da doença, a televisão poderia ser transferida para o quarto. E televisão no quarto, naquela época, era coisa fina, tratamento VIP. Ficar doente significava ter a exclusividade da mãe, que faltava ao trabalho e passava o dia colocando a mão na testa, ajeitando o pijama e os cobertores, perguntando se nos sentíamos melhor. Significava acima de tudo faltar ao colégio. E um aaaai, assim, bem demorado, tirava qualquer tipo de dúvida. Aí, fazíamos aquela cara de filho doente, pálpebras pesadas, com o corpo meio mole, e soltávamos aquela tossezinha malandra que fazia a mãe se preocupar, ajeitar a almofada e trazer uma colherzinha de xarope caseiro ou daquele que a gente fazia caretas só de olhar, já que naquela época remédio tinha gosto de remédio e precisava de um mimo extra para se poder suportar (lá vem mais um supositório). Em crianças precisávamos de mãos que apertavam as nossas, carinhosamente, e nos alisavam os cabelos prometendo que
logo, logo, ficaríamos bem, e voltavam com um copo de água.

Hoje não. Hoje é muito diferente. É só abrir a porta do armário e lá estão todos: o paracetamol, o ibuprofeno, o ácido acetilsalicílico. A febre passa mais depressa, é só um comprimido a cada seis horas e pronto. Os mimos da mãe chegam por telefone e é o comando do televisor que fica ao nosso lado para nos acomodar de alguma forma. São dias sem graça em que fico só, por minha conta e risco, recebendo em chamadas de telemóvel palavras de preocupação e de consolo. Sem contar os amigos que só se inteiram pelo blogue e deixam um simpático comentário (a quem devo uma justificação de faltas e retribuir as vossas amáveis visitas). Mas amanhã vai ser pior meu amigo, aproveita agora. Adoece hoje porque amanhã vai ser complicado. Amanhã, nem pensar em adoecer porque nem faltar ao trabalho vamos poder mais.

Ao estilo de António Lobo Antunes, a minha sátira aos homens com gripe:

Termómetro na axila, lenço na mão,
Xarope de cenoura prá constipação,
Um Ben-u-ron e rebuçados de mel
Que se pifaram as pilhas Duracell.
Não te quero pai, chama a mãe!
Vem cá mãezinha, isto está a doer,
Cabeça, garganta e o que mais houver,
Quero miminhos, festinha e doces palavrinhas
Que me aliviam da febre e das queixinhas.
Contigo a meu lado já me sinto melhor
Do que as receitas passadas pelo senhor doutor,
Não me tragas sopa, perdi o apetite,
Livra-me desta coisa terminada em "ite"
Que minha amiga não é, se é amigdalite!
Registos, medidas, tomas e doses,
Rolos de papel, narinas, tosses, viroses,
Zangam-me, sujam-me, cansam-me da cama,
Deixam-me fora de cena, em stresse,
Quando o Paulofski adoece, toda a família padece.


terça-feira, janeiro 18

onde é que deixei os meus lenços de papel?

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Como vocês podem perceber pela minha escrita fanhosa do poste anterior, eu não tenho andado lá muito famoso. Depois de uma noite em claro a fungar baba e ranho, entre lenços de papel, ataques de espirros e tentativas vãs de adormecer a ver o myzen.tv, fui acordado e puxado da cama pela consciente obrigação para enfrentar mais uma segunda-feira cinzenta, sem um pingo de vontade mas com nariz de palhaço. Cheguei mesmo a temer pela minha saúde mental, porque pela física...

É isso mesmo, apesar de querer estar para aqui com algum humor, estou também com uma constipação e das boas. Dores de garganta, rouquidão, gosma extra, nariz entupido e inchado de tanto fungar. Cansado de tanto tossir. Muito provavelmente foi por ter saído a pedalar ao final da tarde, mas quem pedala por gosto… Já preparei as receitas do costume, xaropes e afins. Desejo-me as melhoras. E desde já vos digo que se não quiserem ser hóspedes de um rhinovirus, ou lá o que isto é, é bem melhor passarem a outro blogue, e rapidinho.

segunda-feira, janeiro 17

estabilidade

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A vida devia ser uma corda sem nós, desatada pelo tempo, esticada e afinada, como afinal se está na vida, com a corda toda e bamba como nunca se deveria estar...

- Acorda!

- Ohhh… Deixa-me ficar só mais um pouquinho!



sexta-feira, janeiro 14

é um desentupidor, ó faxabôre...

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Não é por ter assistido a alguns dos debates televisivos entre os candidatos à Presidência da República, nem ir escutando o que se passa na caserna, que me lembrei agora de escrever isto. Não! Mas confesso que cada vez tenho menos pachorra para a política e para os políticos. Não lhes invejo a ambição, auto-promoção (ou vocação). Lutam encarniçadamente por um poleiro que eu detestaria ocupar, no entanto tenho de os apoiar (no sentido democrático da coisa, claro está). Mesmo que nem todos estejamos no mesmo barco (que há muito navega à deriva), alguém tem de o governar. O que me parece é que mesmo os mais idealistas e bem intencionados candidatos a homem do leme, acabam também eles por marear em águas turvas, desorientam-se e desviam-se da rota, indo de encontro às piores tempestades. Não sabem ou mostram não saber que a sua missão é servir o país e não servirem-se dele. É um ambiente cada vez mais pestilento e insuportável. Entupiram isto de tal maneira que, por mais que se puxe a descarga, não vão pelo cano abaixo.

Pfffff....


quarta-feira, janeiro 12

uma questão de juízo

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Um gajo começa a notar que está a ficar velho quando atende as dúvidas do filho:
- Oh pai, onde está o Tantum Verde? - Na casa de banho, porquê? - É que me dói a gengiva e está a inchar! - Ora deixa cá ver... Ahhh, sabes o que é? Estás a ficar com juízo, é o que é.
- Estou o quê!!!...


Quem nunca estremeceu só de ouvir pavorosas histórias dos famigerados dentes do siso? Pois eu ainda ranjo os dentes só de lembrar tudo pelo que passei por causa desses “adoráveis” dentes que chegam no fim da adolescência, logo a avisar: “Afastem-se que queremos passar”.

O siso é conhecido como o dente do juízo, supostamente por surgir numa idade em que o jovem tenha um mínimo de juízo, lá para os 16 anos. De facto, há casos e casos, mas no meu caso, eu só tive algum juízo muito depois de atingida a maioridade e de uma forma deveras traumatizante. Para meu sofrimento, os meus sisos inferiores nasceram inclusos, deitados num berço acanhado, totalmente fixados à mandíbula, e não romperam totalmente a gengiva. O mais complicado foram as inflamações, as dores, e a desagradável dificuldade em mastigar. Só tinha comida pastosa à disposição e bebia por uma palhinha, no mínimo por uma semana. Mas estar esfomeado até que não era o pior. Pior foi não conseguir falar direito e ter que fingir que era mudo, anotando tudo num papel. Mesmo não sendo um grande falador, nada foi tão constrangedor.

A extracção foi a solução e o martírio começou. Um a um, foram sendo arrancados e, porque o médico fez questão, passei por aquilo quatro vezes. Puxa daqui, abana dali, para meu espanto tudo se passou na maior das tranquilidades. Só até sair do consultório! No fim de tudo, eu com a cara toda inchada e babada, em casa, já sentia as dores do “parto” e compreendi o porquê de tantos remédios, anti disto e anti daquilo. Foram-se os sisos e com eles todo o meu juízo, pois nunca mais abri a boca para um dentista. O meu rapaz, que tem também um teclado direito como o meu, já foi ao dentista mais vezes do que eu. Mas como devemos encarar as coisas pelo lado bom, acho que vou contrariar o velho ditado e vou com ele mostrar-lhes os dentes. Rrrrrrrrrr...


domingo, janeiro 9

possibilidades

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Choveu muito durante estes dias e em quase todos eles o sol esteve longe. Hoje espreitou-me à janela, clareou o meu nicho de conforto, temperou o meu corpo dormente, e deixou-me um convite para abalar ao seu encontro. E sempre que posso vou buscá-la, triste no seu canto, e pedalo nela, brindando-me de consolo para o qual foi feita. Era muito suave a brisa que me balouçava na manhã fina, nas margens do Douro. Apoiado, estico-me para a frente para ver a estrutura da ponte e a força da corrente, que por baixo de mim corre para o mar.

Baloucei errante na plataforma rodada que alberga certezas e ficções, junto à melancólica marginal criando a sensação de estar em Veneza, mesmo ali, no Porto, enquanto do lado de lá, em Gaia, se sente o silêncio e a tranquilidade que imperam voláteis como o calor entre tonalidades frias. Não é só a intensa coloração dourada, nem a natural impetuosidade que o define. O Douro desliza encorpado, quase gelatinoso, sob a atmosfera luminosa deste tormento invernal.

Aqui o tempo passa depressa, ritmado pela própria cadência do Douro, que parece contrariar o marasmo da cidade. E ela, ignóbil bisbilhoteira, adora lá estar, a viajar suavemente pela cósmica visão do caminho das estrelas, sem para-quedas nem passaporte, invadindo o espaço cósmico e levando-me consigo, alapado no seu selim, como se fosse num qualquer satélite buscar o desejo, o despique do vento e a conquista das ladeiras, nesta elevada e deslumbrante liberdade que é pedalar.

Inspirar o aroma da maresia que se sente, a pureza e a braveza das águas rebeldes ou a educação de um iluminado motorista que passa por trás de mim, buzinando e acordando-me da sensação de estar num lugar estranho, coberto por lençóis e cores desbotadas de ilusão.

É melancolia, mas também um impulso, o que sinto quando passeio por estes caminhos de solidão e aprecio o casamento perfeito do rio e das azáfamas. Das gentes, das peixeiras, dessa nobre e descomplexada paixão pelo mar e pelo que é religioso. Dessa simplicidade de uma vida que estende os trapos entre o pestanejar sonolento de um dia de prazer.

E sentei-me quedo e calado junto ao mar, a assentar ideias e pensamentos, deixando-me empurrar pelo movimento das ondas e pelo sussurrar da rebentação. De me alongar um pouco mais sobre este cruzeiro portuense. Mas o relógio não me deixou envolver pela preguiça e me desopilou dos pensamentos para retomar o meu caminho…

...rumo ao Sol.


sexta-feira, janeiro 7

de quem é o chuço?

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(walking red umbrella / Julia Dumnova)

Estamos na era da tecnologia. Nos últimos anos a ciência mudou o mundo, um mundo em permanente evolução. Toda a sociedade beneficiou dessa evolução. Tudo é moderno, sofisticado. Tudo é reinventado. Mas, se observarmos bem à nossa volta, há objectos do nosso quotidiano que praticamente não se alteraram, não fizeram um upgrade. É o caso do chuço. Desde que foi inventado tem sido igual a si próprio, uma armação de varetas cobertas de
pano e unidas a um pau! Há uns que se dobram, uma ou duas vezes, cabem nas carteiras de senhora e até têm uma capinha extra. Mas, quando se abrem, são iguais a qualquer outro. De pano negro ou colorido, de uso publicitário, com moca de madeira, de plástico ou metálico, pequeno ou familiar, são todos iguais. Porventura remonta aos primórdios da civilização, em que algum australopiteco mais intligente, um dia, se lembrou de juntar umas folhas de palmeira, espetou-as num galho, e cantou dançando à chuva, do mesmo modo que Gene Kelly cantaria milhões de anos depois! E o pior é que ficamos sempre molhados.



É definitivamente um objecto incompleto na sua função. Até porque, decididamente, não guarda chuva nenhuma. E depois de f
echado, entra-se com ele nos autocarros, nos restaurantes, na casa dos outros e deixamos um rastro molhado num chão alheio. É um incómodo. O que fazer com aquele objecto desajeitado, molhado e frio quando a chuva passa? O que fazer com os que se vão embora e se esquecem do guarda-chuva em qualquer lugar. Sempre...

E de quem é o chuço que jazia revirado no passeio a caminho de casa? Certamente também andou a dançar à chuva...



qual é a coisa, qual é ela... [1]

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Pelo muito bem que faço não posso ser dispensada.
Se persisto aborreço. Se falto sou desejada?



quinta-feira, janeiro 6

reposte 7 [que doces]

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Até para desenjoar um pouco dos temas da política, da falta de disponibilidade (a minha, evidentemente) e deste tempo invernal que faz lá fora, fui rebuscar este poste nos arquivos do gabinete.
Bom apetite.


É inevitável que ainda se fale do Natal. Nas ruas, nas áreas comerciais, no íntimo das pessoas, no ambiente da cidade paira ainda o espírito natalício. Hoje sendo o Dia de Reis, o que para mim não tem grande relevância a não ser a de me fazer lembrar o aniversário do meu tio Bernardo, parabéns tio, enquanto noutras paragens é o dia devotado à entrega e troca de prendas sobretudo às crianças. Por cá, e a esta altura do campeonato, já só há dinheirinho para os saldos, para as contas e para comprar o último bolo rei, colorido, brilhante e pegajoso, que eu não gosto nadinha, mesmo nada ao ponto de já nem migalhas restarem do que havia ali sobre a mesa! Este dia assinala assim o encerramento das festividades natalícias e confesso que já ando com uma enorme vontade de desmontar a árvore, encaixotar os enfeites, as bolas, arrumar tudo até voltar a montar o circo no próximo. Tudo menos esvaziar a mesa. Hummm… Fecho os olhos e ainda sinto o aroma das iguarias, o prazer que me dá pegar numa amêndoa torrada, levar um punhado de pinhões à boca, os doces e os chocolates, pudins, cremes e rabanadas acabadinhas de fazer…
O palato e o Natal estão indissociavelmente ligados e se há altura para exageros é agora a altura para voltar ao ritmo, voltar ao exercício físico sem contudo deixar que algo fique sobre a mesa.


São servidos?




Zeca Afonso - Natal Dos Simples



quarta-feira, janeiro 5

show di bola

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No último dia de 2010, Lula da Silva passou a pasta da presidência brasileira para a sua sucessora e companheira de partido, Dilma Rousseff. Deixa o seu Brasil muito melhor que o encontrou, leio em vários artigos de imprensa e comentários nos blogues brasileiros. Não há um só indicador que indique o contrário. Para uma imensa maioria, Lula é o maior presidente que o Brasil já teve. Sente-se isso nos rostos da genti, sente-se na alma do povo brasileiro. Do povo que vive na pobreza, vitima do preconceito e da violência, das dificuldades de acesso à educação, à saúde. Da dignidade de uma vasta população que não teve a sorte de nascer num berço familiar e que sabe o que é passar fome. Um homem do povo que nasceu no meio da pobreza, operário metalúrgico e sindicalista de uma região empobrecida e sub-desenvolvida. Tosco, segundo alguns, fora do aparato social, segundo muitos, o mínimo que se podia esperar dele, com essas qualificações, é que fizesse um péssimo governo e que afundasse de vez o país. Mas não foi isso que se viu. O que se viu é que ele fez uma exemplar administração, aprovada por 87% dos brasileiros. Para eles o Lula será sempre lembrado.

Já agora, não haverá por aí um clube partidário qualquer interessado na transferência galáctica deste ponta-de-lança, na contratação deste centroavante exímio no jogo da governação? É que estando o mercado de transferências em aberto, seria de aproveitar. Até que ele já se mostrou disponível!



terça-feira, janeiro 4

isto é sério!

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Não obstante todos os esforços já realizados, e que se traduziram numa diminuição face a um passado recente, infelizmente a sinistralidade rodoviária permanece um flagelo nacional, com todos os prejuízos de natureza pessoal, social e económica que acarreta. Não podemos pactuar com comportamentos inadequados nas nossas estradas, constantes manifestações de uma absoluta falta de civismo por um número ainda demasiado significativo de condutores, com excessos de velocidade e condução sob o efeito do álcool. Portugal tem uma das taxas de sinistralidade mais elevadas da Europa. Felizmente, ao longo dos anos, as estatísticas têm revelado uma significativa diminuição do número de vítimas causadas por acidentes rodoviários. Todos nos devemos congratular com esse facto. Porém, se a evolução é positiva, a verdade é que ainda se verifica a perda de muitas vidas. Por altura das festas natalícias e passagem de ano voltam as campanhas de sensibilização na comunicação social e as operações de patrulhamento e fiscalização rodoviária, mas a prevenção não se deve restringir a isso. Deve começar em casa e sobretudo dentro do carro com os exemplos que damos aos nossos filhos. A prevenção rodoviária deve começar cedo. As crianças aprendem mais com os exemplos dados pelos pais, e, por isso mesmo, somos nós, os adultos, os principais responsáveis pela formação do carácter dos mais novos. Se formos capazes de transmitir pequenos ensinamentos aos nossos filhos, certamente que eles se irão tornar uns adultos mais responsáveis e conscientes da importância do papel que têm no que diz respeito à segurança rodoviária. Ser um peão responsável, dar-lhes a conhecer algumas regras básicas de trânsito e alguns tipos de sinalização mais comuns, a importância do uso do cinto de segurança, explicar-lhes o quão é importante cumprir essas regras e a utilização do capacete de protecção, enquanto passeiam de patins, de skate, ou sempre que pedalem na sua bicicleta.


segunda-feira, janeiro 3

anseios

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Bons momentos. Recordações, memórias, são retalhos daquilo que costuramos, dia após dia. E que vale a pena carregar algumas na mochila, mas outras, outras bem que as podíamos deixar pelo caminho e seguir viagem, sem vontade de dar meia volta para ir buscá-las.

Não creio que seja possível apagar completamente actos e palavras de que não nos orgulhamos, mas acredito que podemos sempre encontrar motivos para aprender com os erros e nos redimir deles. Fazer com que as melhores coisas que fizemos nos forneçam energias para eternizar novos momentos, novas palavras, novas caras, novas músicas, novas imagens, enfim, nova bagagem.

Para 2011 o mais importante é encontrar a maturidade suficiente para juntar os retalhos que componham a colcha da vida. Voltar ao passado é impossível, mas a melhor maneira de conjecturar um futuro melhor é criando. E como se faz isso? Com coragem, com muita coragem.


sábado, janeiro 1

de passagem

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Com a insignificante excepção dos anos bissextos, todos os anos duram o mesmo tempo? Relativamente, sim. Mesmo que no final de cada ano achemos que esse "sim" foi um ano que passou rápido? Tecnicamente, a resposta é não. De cada pessoa com quem falo, de algumas conversas que ouço na paragem do autocarro ou nas mesas do café, o que mais se diz por aí é que o ano passou devagar. Ora, eu tenho a ideia que um ano parece durar mais ou menos do que outro, ou porque um gajo andou entretido, ou então por que o viveu de uma forma aborrecida, entediado a fazer contas à vida. Um minuto, um segundo, pode durar mais do que outro, pode ser mais bem aproveitado se for vivido de uma forma intensa e apaixonada. É verdade que isso não passa de uma teoria, mas para mim 2010 passou a voar. Aliás, todos somados, fica aquela sensação que, porventura, os anos passam sempre depressa demais. De que o tempo corre quanto mais velho se vai ficando. Parece acelerar e ganhar balanço à medida que avança. O que é deprimente quando se sabe o que nos espera no fim da linha. Então, para variar, mais vale aproveitar os segundos todos que temos pela frente e acelerar ou diminuir a cadência para aproveitarmos a viagem, porque senão a vida é uma monotonia. Oh meu filho, nós estamos só de passagem, já dizia a minha avó.


Na passagem d'ano:

- Oh pá, boas entradas.
- Ahhh, obrigado… Mas olha que ainda não perdi muito cabelo!