segunda-feira, março 29

ontem deixei-a assim!

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Digo e volto a dizer, só quem faz, ou já o fez um dia, sabe qual é a sensação maravilhosa de acordar cedo, numa manhã de domingo, sair de casa ainda antes do raiar do sol, calibrar os pneus da bicicleta e dar ao pedal ao encontro das distâncias. Acreditem, é um prazer sentir o ar puro e fresco que se respira antes das emanações poluentes dos automóveis. Escutar aquele silêncio que só as manhãs de domingo têm. Abrir os olhos para o efeito luminoso de um dia que promete vir a ser prefeito. A bicicleta não é só o pretexto conveniente que ainda recentemente encontrei para me proporcionar saúde e bem-estar físico, mas é sobretudo uma verdadeira paixão que tem o poder de uma máquina do tempo, o de me fazer transportar num curto espaço de tempo para lugares conhecidos, outros desconhecidos, que se descortinam para lá de uma curva, de uma montanha, ao desafio único de conquistar quilómetros com o próprio suor. Pelas mais variadas e conhecidas circunstâncias, este ano fui adiando o início da minha época pedaleira. Para auto-estímulo, ou simplesmente regozijo da minha boa forma física, relato aqui o passeio que fiz ontem com o meu amigo e companheiro do pedal, o Rui.

Ainda meio atarantado com a mudança de hora, saí de casa dos meus pais, na praia da Madalena, e pedalei até à Câmara Municipal de Gaia, onde nos encontraríamos. Aquele primeiro trecho a subir serviu sobretudo para um teste e aquecimento às pernas. Admirado por ter chegado ao local marcado antes dele, restou-me esperar e arrefecer por uns dez minutos, até que ele lá apareceu e juntos escalamos os restantes e íngremes metros da Avenida da Republica para virar-mos à esquerda. Eram as tais primeiras horas da manhã, a estrada nacional 222 estava calma, perfeita para um ritmo de passeio e para uma conversa. O Rui acabou por ceder à minha insistência e lá revelou que uma súbita indisposição intestinal tinha sido a razão do seu atraso. Ahhh, tu tavas era todo borradinho, foi o que foi, gracejei com ele e seguimos tranquilos.

A temperatura não era muito baixa, a estrada estava húmida e volta e meia sentia-se um ventinho agreste de frente, mas com o esforço das subidas não sentíamos frio! Vencida a segunda mini-montanha do dia, e já depois do Parque Biológico, descemos satisfeitos e sem problemas de maior a não ser um grande alívio pelo desgaste natural de quem tem faltado aos treinos. Depois de outra subida, seguia-se mais outra descida, até surgir a mais longa e desgastante escalada até ao topo. Ainda que não esteja ao alcance do leitor, é difícil narrar com fidelidade toda a gama de sensações, odores, calores, tremores e suores frios por que passamos quando descíamos a uns alucinantes 80 km/h aqueles 4 quilómetros em direcção a Crestuma/Lever. Restava ainda uma curta subida e respectiva descida até à Barragem e estava ultrapassada a última dificuldade do dia. Num instante circulávamos já na margem oposta pela estrada marginal ao Rio Douro, a nacional 108, de regresso a casa. Mais à frente juntámo-nos a um pequeno pelotão de entusiastas das pedaladas como nós e, par a par, à conversa seguimos viagem contemplando a magnífica paisagem. Íamos fazendo uma curva mais apertada quando me aproximei do ciclista que se esforçava à minha frente. Cumprimento-o e felicito-o pela boa forma e levo como reposta uma gargalhada e a garantia que não serão os seus 72 anos a fazê-lo parar. Na rotunda do Freixo separámo-nos do grupo. À entrada da ponte Luis I despedi-me do Rui e só parei no Cais de Gaia para um gole de água. Se bem que já estava na hora de voltar, ainda resolvi repousar um pouco e curtir a paisagem do velho casario. Solitário e vitorioso, fiz a derradeira etapa na maior das calmas, na companhia de um Douro barrento e de um mar revolto. Cheguei a casa com 60 Km pedalados, muito feliz e ainda com todo um domingo pela frente. Hoje o meu corpo ressente-se, dorido, o que me leva a recordar e a contar esta epopeia ciclista com satisfação.

Boa semana.

sexta-feira, março 26

classificados

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Para mim escrever é um acto solitário e só escrevo quando tenho vontade de o fazer. Apenas tenho de a sentir, a tal da vontade. Nem que seja somente um desabafo, uma contradição, um disparate, quando escrevo é porque sinto a necessidade de contar algo que ganha corpo nas palavras por mim ditas. Percebi que escrever aqui no gabinete me dá uma ilusão de partilha, porque este é também um espaço propício às revelações, às sensações e até para algumas confissões. Às vezes, ou muitas vezes, nem sei mesmo o que falar, o que contar. Ou porque aquilo que sinto não o quero dizer, ou porque até quero dizer e mesmo assim não o digo, acho que há um limite para o dizível e um espaço para o inefável. Quando escrevo não penso tanto no que vou dizer. Posso estar numa de pessimista ou optimista, sentir-me algo atrevido ou emotivo, relutante em querer as palavras mais delicadas e rebuscadas, só sei que quando escrevo digo o que quero, o que sinto, de uma forma mais ou menos espontânea. Deixo assim que os meus pensamentos, emoções e sensações se traduzam em palavras..... e elas, traiçoeiras, também não querem dizer tudo.

Bom fim-de-semana, ó faxabôre...


quarta-feira, março 24

e pronto...

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... finalmente pronta! Esta noite estarei de regresso à minha casinha, à minha normalidade, que tem agora um outro ar, um outro encanto, um cheirinho a tinta fresca, hummmmm…
A dupla trolheira Tony e Seixas, coadjuvados pelo homem do rolo e da cerveja, o Jacinto, foram uns verdadeiros mestres d’obras. Tive a sorte de arranjar pessoal porreiro, competente e honesto que me deixaram a cozinha e o apartamento num verdadeiro brinquinho. Mas, nem tudo foram rosas e não poderia haver bela sem senão. Uns certos bichos, que de carpinteiros têm muito pouco, apareceram lá e fora de prazo para me borrar a pintura. Diria até que se não fossem essas amebas tudo o resto teria corrido às mil maravilhas. Bom… adiante, agora vou é deixar assentar a poeira, por alguma ordem na casa e, aos pouquinhos, tentar comparecer mais vezes no gabinete, que isto aqui já só tem teias de aranha e caruncho.
Visitas precisam-se... “I’m on my way, home sweet home…”


sexta-feira, março 19

ser pai

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É sonhar, sentir, renascer.
É cuidar, dizer presente mesmo ausente. Contentar-se em ser coadjuvante, deixado para depois, importante.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, educar.
É amar.
É saber brincar e zangar. Segurar a mão e ter força para o levantar se ele cair ao chão.
É ajudar na gramática, fazer parte da temática.
É dar um puxão de orelhas, prudente, consciente.
É ser influente sem se impor, ser confidente. Compreender mesmo sem entender, admoestar e perdoar.
É ser ultrapassado, contestado, mesmo não se sentindo renovado.
É aprender errando e sorrir desculpando.
É dizer que a experiência só adianta a quem a tem, e só se tem vivendo.
É ser herói na infância, exemplo na juventude e amigo sempre.
É não esperar recompensa mas ficar feliz quando chega.
É ser pai outra vez, avô que não nega.

Obrigado pai.


sexta-feira, março 12

p.e.c. - porque eu compreendo

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Eu compreendo que o nosso país tem-se debatido com a perda de competitividade. Compreendo também que o elevado défice público e as sucessivas crises económicas têm-nos feito recuar na produtividade. O peso da despesa é demasiado elevado para o nível de desenvolvimento do nosso país, e isso é compreensível. Custa a compreender a falta de investimento e o sucessivo agravamento da taxa de desemprego. Por muito que se tapem os pés a cabeça ficará sempre a descoberto. A manta é curta e não dá para tudo. Esta é a nossa realidade e infelizmente não é de agora. Também não é de agora que sinto o mesmo apelo à nossa compreensão e paciência. Impõem… desculpem, pedem-nos o nosso esforço com o congelamento… ai esta cabeça, desculpem, eu queria dizer arrefecimento das expectativas!
Em suma, para fazer face e custear a crise, e que nunca mais tem fim, os poucos direitos que ainda temos vão-se definhando, pecaminosos. Sempre concordei que todos devemos fazer sacrifícios, sim eu disse todos, e como um bom português que me prezo lá me vou desenrascando! Cumpro e exerço cabalmente o meu trabalho, honro as minhas dívidas e pago os meus impostos, como é aliás o dever de qualquer cidadão. Quando à noite deito a minha cabeça no travesseiro eu durmo tranquilo, consciente que servi a Nação e não me servi dela.

Como já li, algures, concordo com a opinião de que o Estado português ainda não aprendeu a viver sob as regras duma união monetária. Não encontro soluções fáceis e a nossa economia continuará nos dias difíceis enquanto o povo for recebendo em escudos o esforço do seu trabalho e a pagar em euros todas as suas despesas. A estabilidade económica deste país é uma ficção e desde a entrada no euro não passa de pura ilusão.
Ora o governo, para novamente recuperar do défice, o económico e o de confiança perante Bruxelas, apresenta-nos um PEC. Diz que é um programa de estabilidade e crescimento mas cá para mim peca sobretudo por ser mais um plano de castidade e emagrecimento! É só para europeu ver. Uma vez mais sinto o apelo ao aperto do cinto, mas caros senhores governantes, notem que há muito que os furos se esgotaram. O povo já foi tão exprimidinho que só lhe resta a pele e os ossos. Ok, eu compreendo mais este aperto na fivela, que se aperte a barriga, mas permitam-me que procure na minha legitimidade de contribuinte e faça a questão fundamental. Gostaria muito de saber o que estes senhores têm andado a fazer com o nosso rico dinheirinho?

Bom fim-de-semana e até breve.


segunda-feira, março 8

there's a rat in my kitchen

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Aquilo ali já foi uma cozinha e muito pó e barulho se tem feito para que um dia o volte a ser. Tem as paredes e o soalho todos esburacados e, ao contrário do que canta a música que toca na aparelhagem, não andei por ali à caça de algum amigo roedor. Continuo com a casa em estado de sítio e como tal tenho estado fora do meu habitat natural, a abusar da hospitalidade da C.D.S.. Com muito jeitinho, dentro de duas semaninhas terei finalmente uma cozinha nova, a casa recauchutada e a aparecer mais vezes neste mofado gabinete.




Até breve.


segunda-feira, março 1

até breve

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Eis-me aqui, diante de paredes desnudas, chão esventrado e móveis empilhados. Este trolha de trazer por casa relaxa finalmente ao fim do primeiro dia de empreitada. Acompanhado de uma loura fresquinha e com o computador à sua frente, procura um pouco de normalidade. Sente que afinal pode até valer a pena ter-se metido num verdadeiro bico de obra.