sexta-feira, novembro 27

incauto

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Há muito que não paravas de reclamar comigo. Sempre que te rodava a chave, do teu interior se ouviam uns grilinhos cada vez mais irritantes, captava sinais de luzes que te iluminavam o painel, a todos incomodavam a rouquidão do teu escape e as pingas de óleo que já choramingavas. Eu posso muito bem viver sem ti, ah pois posso, mas todos autobeneficiamos da tua autoconfiança e sei dar valor à tua autonomia. Se te troco pelo autocarro ou pela bicicleta é porque não tenho sempre a necessidade dos teus automatismos, sabes bem disso. Pronto, impunha-se! A tua amiga automobilista, confidente das tuas autocríticas, fez-te a vontade e levou-te à revisão, mas o relatório da tua autópsia abalou definitivamente com a auto-estima da minha conta bancária. Autómato que fiquei ao ver o teu orçamento, não me deixou alternativa e autografei o cheque porque, confesso, preciso de ti e bem afinadinho. Na tua autodefesa tens o facto de nunca me teres deixado apeado na auto-estrada e só por uma vez teres posto em causa a minha autoridade. Eu, autodidata que até sou, inventei, investi, limpei em teu autobenefício e tu foste perdoando as amolgadelas e os riscos da minha autoria. Só mesmo tu é que ficarias todo vidrado com um autocolante da aprovação na inspecção! Meu velho amigo, a PDI toca a todos, até aos automóveis. Muito provavelmente teremos de seguir juntos pela velhice e, a não ser que queiras ficar descalço a guardar galinhas como esse teu primo ferrugento que conheceste no ano passado, vê lá se te autopromoves por outros cem mil, ou mais! Pois é, tudo tem o seu desgaste e automaticamente o seu preço. E assim lá se foi o meu rico subsídio de natal!

Um bom fim-de-semana, deseja-vos o autor!

quinta-feira, novembro 26

and the show must go on...

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A voz dos Queen, calou-se há 18 anos. A 24 de Novembro de 1991 e com apenas 45 anos, Farrokh Bommi Bulsara morria em Londres. Freddie Mercury, a sua voz, o seu carisma e as suas canções permanecem. Tempo de homenagens, até os Marretas decidiram fazer uma nova versão ao estilo raposódia do tema ‘Bohemian Rapsody’. Eu tenho saudades…


quarta-feira, novembro 25

abram a porta

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De todos os tipos de violência, a que é praticada em ambiente familiar é uma das mais cruéis e perversas. O lar, que é identificado como um local acolhedor e seguro, passa a ser um ambiente de constante perigo, palco diário de um estado de ansiedade e medo permanente. Envolta num emaranhado de emoções e relações afectivas, a violência doméstica mantém-se como uma sombra da nossa sociedade.



Tal como as vítimas, os agressores têm um novo perfil. Mais jovens, possuem alguma instrução e são socialmente bem estruturados, não necessariamente alcoolizados ou sob influência de drogas. Tanto pode ser o marido, o pai, o companheiro, o namorado, o ex-marido, o ex-companheiro ou o ex-namorado que não aceitou o fim da relação. Tanto podem ser homens ou mulheres. O agressor, no íntimo do lar, abusa da violência física, psicológica e até sexual sobre o conjugue, sobre os pais, os avós, os filhos, crianças e adolescentes. É um problema universal que atinge milhares de pessoas, não costuma obedecer a nenhum nível social, económico, religioso ou cultural específico, na maior parte das vezes é exercida de uma forma silenciosa e dissimulada, continuada, nem sempre denunciada por medo e vergonha, sendo as mulheres em larga escala as que mais sofrem. A pouca auto-estima, a dependência emocional ou material da vítima em relação ao agressor, são normalmente factores de aceitação, raras vezes conseguem desligar-se do ambiente opressor em que vivem e dificilmente procuram ajuda externa. Esta violência cobarde não tem necessariamente de deixar marcas físicas. Com o objectivo de ferir, a violência praticada por elementos da família tem mais impacto na questão psicológica, é caracterizada por rejeição, humilhação, discriminação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida onde, em muitos dos casos, o agressor faz com que a vítima se sinta culpada.

Em algumas sociedades, os homens vêem a violência como algo quase natural, como sinónimo da masculinidade, onde se institucionalizou que o homem é que manda! Pautam-se por tradições e preconceitos difíceis de alterar, de desfazer. Devemos fazer tudo para mudar estes comportamentos violentos, os agressores devem ser responsabilizados e julgados pelos seus actos e as vitimas podem e devem denunciá-los. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um terço das mulheres de todo o mundo já sofreu agressões físicas ou sexuais dos seus parceiros. Tenham acontecido essas agressões durante a infância ou na idade adulta, correm riscos elevados de terem, ou virem a ter, problemas de saúde. A violência doméstica possui aspectos políticos, culturais, policiais, jurídicos mas é também um caso de saúde pública e os profissionais de saúde estão numa posição destacada para perceberem os sinais e colher as denúncias de forma a intervir, ajudar a combater este flagelo.

Um projecto europeu que está prestes a avançar para o terreno em oito países, financiado em um milhão de euros pela Comissão Europeia, vai ser liderado por uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, coordenada por Henrique Barros. Chama-se DoVE

Uma nódoa negra ou um braço partido podem ser algumas marcas visíveis de um caso de violência doméstica. Mas, e o resto? "Não queremos o óbvio. Não queremos o braço partido. Queremos as formas mais subtis. Queremos perceber em que medida doenças para as quais nós não temos ainda um conhecimento exacto das suas causas podem estar relacionadas com situações de violência", explica Henrique Barros o coordenador do projecto DoVE. Querer perceber o que se passa na comunidade das "pessoas normais, pessoas como nós". Saber qual a frequência do problema da violência nos vários países europeus, possibilitar comparações e estabelecer uma relação mais ou menos directa com os problemas de saúde associados. Permitirá uma melhor percepção da expressão da violência de género, uma avaliação quantitativa da violência contra os homens, analisar o que se passa no mundo das relações homossexuais. As respostas podem trazer surpresas, mas, à partida, Henrique Barros espera encontrar valores elevados de violência nos mais jovens, mais homens batidos, demonstrar de uma forma científica e padronizada os efeitos na saúde, deparar com "poucas situações graves e muitas menos graves". Os dados do DoVE serão baseados em entrevistas a cerca de 800 pessoas de cada um dos oito países (Portugal, Suécia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Espanha, Grécia e Hungria). "No limite, queremos mudar leis. Queremos melhores estatísticas para melhor saúde". Um exemplo? "Meter a questão da violência nas consultas. Da mesma maneira que existe a rotina de medir a tensão arterial, era bom que também nos inquirissem directa ou indirectamente sobre este tipo de situações. Uma pessoa não vai ao médico a dizer "bateram-me". Vai dizer que lhe dói a cabeça, o estômago. Vai hoje, não melhora, volta amanhã. Há um consumo maior de cuidados de saúde. Temos de começar a perguntar. Caso contrário, podemos perder uma parte de um problema e que pode ser vital." Abram a porta às equipas da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto que vão contactar pessoas entre os 18 e 64 anos que vivem no Porto, escolhidas aleatoriamente. "É importante que saibam que lhes vamos bater à porta para falar deste tema difícil, que nos recebam e respondam", sublinha Henrique Barros. O facto de a violência doméstica ser um crime público coloca um dilema. O que fazer perante uma pessoa que diz que é batida todos os dias? Ser cúmplice ou denunciar? Nenhuma das duas. Propor ajuda, todo o tipo de ajuda, é a solução. Assim, na pior das hipóteses, a ajuda pode bater à porta.

Música:
- Do you really want to hurt me (Karen Souza)


terça-feira, novembro 24

ah, sua vaidosa!

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Para além da grande beleza que o nascer e o pôr-do-sol teriam no horizonte, a humanidade e qualquer outra forma de vida nunca teria existido se a Terra tivesse uma cintura de anéis como tem Saturno.



Não sendo claro se cientificamente esta recriação estaria correcta, é apenas uma curiosidade e uma simulação animada bastante interessante. Os anéis rodeariam o planeta sobre a linha do equador e, dependendo da latitude do observador, proporcionaria magníficas e deslumbrantes imagens celestes combinadas com paisagens de várias cidades do mundo. Poderemos imaginar os anéis nos céus de Paris e do Rio de Janeiro, sobre o Equador, como bela seria a noite de Nova Iorque. Nos cálculos foram levados em conta as proporções correctas dos anéis, os ângulos de visão e o limite de Roche, que define em parte a que distância os anéis poderiam se situar na órbita terrestre. É uma obra de Roy Prol acompanhada magnificamente com a belíssima Ave Maria de Schubert.

“Por ti vou roubar os anéis de Saturno”, seria então uma declaração de amor já fora de moda!


Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse…

Herberto Helder

Ao ritmo que se produz lixo espacial não deverá demorar assim tanto, não acham?


segunda-feira, novembro 23

sexta feira passada...

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... saio do metro e rumo directo a casa. Num passo moderado, são mais ou menos uns dez minutos de caminho, no qual o pensamento insiste fazer-me companhia. E lá fomos nós quando um som forte e abafado de um avião que forçava os motores na sua subida, escondido entre as nuvens, chamou a minha atenção e me assustou o pensamento. Àquela hora da tarde o céu apresentava-se azul, metalizado, irrequieto por umas nuvens apressadas que teimavam entristecê-lo com tons de cinzento cromado. Mais à frente, ao entrar no jardim, dou de novo com o meu pensamento e juntos prosseguimos, ao ritmo das pernas e dos neurónios. O pensamento às vezes é uma coisa muito estranha, é como um microprocessador que debita imagens e sensações misturadas sem nexo. Deixa o raciocínio à deriva, num mar de realidade sem lógica, num ambiente tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Então, como dizia, eu atravessava o jardim tranquilo que existe a meio caminho e, ao sentir o vento húmido bater-me na cara, olhei de novo o céu já mais carregado a prometer chuva e da grossa. Naquele momento o pensamento alimentava-me a imaginação e transportava-me através do tempo, de volta a algumas imagens que tinha visto na véspera, no filme 2012, quando sou devolvido à terra pelas palavras de uma senhora que, à minha frente, estende o braço e oferece-me um papel colorido e um sorriso. Importa-se? Eu não, respondo perplexo, reduzindo a cadência. Por favor leia até ao fim, pediu-me com uma voz doce. Claro que sim! Agradeci-lhe, mantive o papel guardado na mão e segui o meu caminho. Nisto, salta-me a pulga detrás da orelha, atiça-me a curiosidade e, disfarçadamente, dou uma breve olhadela ao papelucho.



Mas que titulo mais estranho para uma imagem tão sugestiva! Pensei. Um casal que sorri e um alce tão bem disposto, de que estarão a sofrer? Questionei-me, enquanto ia acelerando o passo antes que começasse a chover. Chego à porta, e enquanto a mão direita procurava as chaves no bolso, a mão esquerda revirava o papel. Percebi que era um pequeno folheto desdobrável com muitos dizeres. Já dentro do elevador abri o folheto e li o seguinte:

Todo o sofrimento ACABARÁ EM BREVE

Outra vez!...

Em algum momento na vida, você provavelmente já se perguntou: “Por que há tanto sofrimento?” Há milhares de anos, o homem vem sofrendo muito devido a guerras, pobreza, calamidades, violência, injustiça, doenças e morte. Nunca houve tanto sofrimento como nos últimos cem anos. Será que um dia isso tudo vai acabar?

Sim, realmente isso deveria acabar, mas onde quererão chegar? Continuei a ler…

Que consolo é saber que vai sim, e muito em breve! A Palavra de Deus… (blá blá blá, só para atalhar) Depois que Deus acabar com a maldade e o sofrimento, a Terra será transformada num paraíso…

Ui, querem ver que já há argumento para uma sequela do filme!?
2013 - Agora é que é!

Eu acho que de deveria haver uma lei, um qualquer programa, sei lá, para nossa protecção contra este tipo de testemunhas. Nunca as palavras PAPEL PARA RECICLAR me fizeram tanto sentido! E depois do poste escrito e publicado fui à casa de banho aliviar o meu sofrimento!


sexta-feira, novembro 20

fui ver o filme 2012...

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... sobre as profecias dos Maias, as teorias apocalípticas e o fim do mundo agendado para daqui a três anos. Não tenho tempo para grandes considerações porque estou cheio de sono e estou a ver se termino de escrever este poste. Quem tiver tempo e vontade que o vá ver... Ó menos podiam ter revelado se os animais se salvaram! Bom, deixo-vos com essa dica e esta foto para pensarem durante o fim-de-semana. Instalem-se confortavelmente no gabinete, bebam um cafezinho e apreciem na aparelhagem esta excelente música cheia de belas imagens do videoclip que eu encontrei.


Jack Johnson - Atlantic City


Bom fim-de-semana.


quarta-feira, novembro 18

obrigado rapazes

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foto: Jornal de Notícias

Agora que fiquei bem mais aliviado com o golo de Raul Meireles, coloco o computador ao colo e vou entretendo-me a escrever o poste para publicar amanhã (hoje) enquanto vou espreitando a têvê. Finalmente! Agora já não escapa. Portugal vai com toda a certeza garantir esta noite a sua presença na fase final do Mundial, agendada para Joanesburgo a 11 de Julho de 2010.

Começou por ser um jogo do tudo ou nada, uma autêntica final, onde não só se garante o apuramento, mas também está em causa o prestígio do futebol português pelo percurso até aqui efectuado, e porque a selecção da Bósnia era tida como uma equipa das mais fracas desta última fase. No jogo da Luz, os matulões dos bósnios demonstraram que não são nada toscos e só não foram capazes de marcar golos porque estavam com uma pontaria
danada aos ferros. Muito provavelmente a baliza portuguesa estaria benzida, mas isso agora são outras rezas. Bom, apesar de todos os avisos que pudessem ter sido feitos sobre a equipa adversária, não jogamos nada bem e acabamos até por ter bastante sorte, aquela sorte que não tivemos em outros jogos.

Todo o dramatismo em torno do jogo em Zenica, ambiente de guerrilha (uiiii, já chovem óvnis na cabeça do bandeirinha!) e fanatismo exacerbado não conseguiram intimidar os nossos heróis lusos. Num campo mais apropriado ao cultivo de batatas, maltratado e acanhado, supostamente um infernozinho, Portugal apresentou-se personalizado, batalhador e sofredor perante a atiçada sobranceria bósnia (uiii… quase que era o segundo). Não me apetece agora analisar as opções técnico-tácticas de Carlos Queirós nem as incidências do jogo, limito-me a realçar a presença imbatível do Eduardo, a barreira intransponível do Bruno e do Ricardo, o grande esforço do Paulo e do Duda, a importância estratégica do Raul e do Pepe, toda a sabedoria e experiência do Deco, do Tiago e do Simão, as fintas endiabradas do Nani e do Liedson (olha… olha… quase que era outro!) e o sofrimento de todos os que não puderam jogar mas que roeram as unhas até aos sabugos. Aí está, acabouuuu…! Ufffa, desta vez não acabamos com o coração nas mãos até ao último minuto, nem obtivemos uma das famosas vitórias de “meio a zero” do sargentão. Foi uma vitória mais que merecida e que finalmente nos carimba o passaporte para a África do Sul.

Obrigado rapazes, parabéns Portugal!

a diferença é o que nos torna especiais

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É absolutamente utópico imaginar-se um mundo tolerante e despido de preconceitos. Entende-se a tolerância como aceitar as diferenças, políticas, religiosas, morais, sociais, de opinião... O Homem como ser sociável que é, vive em conjuntos de indivíduos com valores e ideais em comum, com as mesmas preferências, em permanente competição onde naturalmente se geram algumas barreiras de defesa. E um grupo unido na sua identidade usa-a para a sua própria sobrevivência como em comportamentos semelhantes que vemos nos animais. A segregação, a discriminação e o preconceito são algumas das piores características que o ser humano usa na defesa do grupo onde está inserido. Nós que somos a única espécie do género que vive neste planeta, e talvez por isso, somos tão pouco unidos. Não sermos preconceituosos é algo impossível, independente da nossa inteligência, educação, cultura e experiencias de vida. Todos nós que pensamos temos os nossos preconceitos e aplicamos nos outros os nossos rótulos. Qualquer um que tenha entrado neste gabinete criou de certa forma um determinado preconceito a meu respeito, e só por ler o que algures aqui publiquei. O preconceito por algo ou alguém é automático, instintivo e natural. Se eu vejo alguém que veste ou se comporta de uma forma diferente, já estou a fazer o meu juízo e a criar um preconceito, que nem sempre é negativo. A primeira impressão não deve ser a que fica. Aceitar o outro, como ele é, é não agir baseado em preconceitos, é ser tolerante. É entender e respeitar sem condescender.

Esta foi a minha participação no desafio que paira pelo blogobairro. Só espero que tolerem a falta de roupa das mocinhas lá em cima que tal como eu viram as costas à intolerância e ao preconceito. Lembrem-se do titulo do poste, ó faxabôre! O que realmente interessa é o sentimento e o interior das pessoas, sejam elas magras, altas, gordas, baixas, lindas, morenas, brancas, asiáticas, negras, loiras, índias…


terça-feira, novembro 17

foi um prazer

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Há tempos deste-me o teu calor e sabor,
Ofereci-te a boca doido para te beijar.
Sorvia-te cúmplice depois de um café,
Em roda de amigos, conversa de bar.
Escravo num trago, prendeste-me a ti,
Romance proibido em ritual de amor.
Cansaste-me a vontade, fintei-te, olé,
E separados ficamos, sem razão ou motivo.
Malvado o vento que te traz a mim, passivo,
As narinas me fustigas, ainda hoje te senti!
Mas há muito que me lembro te ter apagado
Da minha mente e agora respirar aliviado.


David Bowie - Ashes to Ashes (Live)


domingo, novembro 15

e é tão simples

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Chove e chove e chove
e a água é transparente e fria
e salto poças no meu caminho
e são mais que muitas…
Chora sobre mim
e a água bem perto encolhe-me o corpo
e deixa-me enrugados os dedos das mãos
e lava-me a cara, beberico-a doce.
De dentro para fora, de fora para dentro
e corre mais uma gota pelo meu casaco
e sinto arrepios pela espinha.
Escorre sobre mim
e abrigas-me no teu aconchego
e abraço-te e molho-te
e escorro sobre ti...



e é tão simples
numa quente e deliciosa música
ouvir da janela lágrimas que deslizam.



sábado, novembro 14

i gotta feeling

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music from Black Eyed Peas


Let's do it!


sexta-feira, novembro 13

miiaauuuu....

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Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. À medida que avançava, seu coração tiquetaqueava. Sóquando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Nada sobrava de sua anterior gateza. E o escuro, triste, desabou em lágrimas. E os olhos do escuro se amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto. Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro mora quem lá inventamos. _ ... Somos nós que enchemos o escuro com nossos medos. Metade de seu corpo brilhava, arco-iriscando. Quando a mãe olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam cheios de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.

De “O gato e o escuro”, Mia Couto.




quinta-feira, novembro 12

gabinetêvê [12]

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O anúncio publicitário português «Cinco Razões para não usar preservativo» foi considerado o melhor anúncio governamental europeu de prevenção da Sida num concurso internacional – dinamizado pelo governo alemão «European AIDS Video Clip Contest - Clip & Klar europe 09», segundo anunciou hoje a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/Sida.

O júri do concurso foi constituído por um conjunto de profissionais destacados da área cinematográfica, dos média e da prevenção da infecção VIH. A entrega do prémio ao governo português teve lugar hoje em Colónia, no âmbito da Conferência Europeia de SIDA que se realiza nesta cidade alemã até dia 14 de Novembro.

O spot premiado de promoção da utilização consistente do preservativo foi exibido nas televisões portuguesas em Outubro de 2007 e conta com a participação de diversas figuras públicas nacionais: Vítor Norte, São José Correia, Pacman, Cucha Carvalheiro, Sara Prata, Rita Salema, Bruno Nogueira e Alberto Quaresma. O anúncio vai agora voltar a ser exibido.

Fonte: Ciência Hoje





quarta-feira, novembro 11

público, publico

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Conhecem? Já os ouviram cantar? Sabem do que estou a falar? "De todos para um" (clica aqui para ver o vídeo), são funcionários cantores de um departamento da autarquia de Portimão, como poderiam ser enfermeiros mágicos de um centro de saúde, professores malabaristas de uma escola primária, polícias bailarinos da esquadra de Cedofeita ou actores dramáticos numa repartição de finanças. Colocaram-se a jeito, é degradante, que péssimos cantores, dizem por aí. O que quer que digam, estes funcionários públicos não deixam de ter alguma imaginação, espírito de grupo e tom de voz, no mínimo discutivel. Diz o povo que quem canta seus males espanta. Pois diz, cantam mal e espantam!
Aqui em privado, que ninguém nos ouve, com vontade e verdade eu, público, publico que é pelo facto de julgarmos o todo e não o individuo que paga o justo pelo pecador. Então, já que têm a fama, pelo menos que tenham algum proveito:




Numa repartição estão 4 funcionários chamados Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.

Havia um trabalho importante para fazer e Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém o faria. Qualquer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez. Alguém se zangou porque era um trabalho para Toda-a-Gente. Toda-a-Gente pensou que Qualquer-Um podia tê-lo feito, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria. No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qualquer-Um poderia ter feito.

Foi assim que apareceu o Deixa-Andar, outro funcionário para evitar todos estes problemas.

(Para melhor entender a anedota clica na imagem, depois no "START" e de seguida, uma a uma, nas actividades até ao "EXIT". Têm tempo até às 17 horas para acabar o expediente.)

segunda-feira, novembro 9

berlim

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Livre! Já és livre. És livre porque te reinventaste na coragem. És livre porque estás viva. E como estás viva esta noite… Mais viva que a própria vida! Louca de alegria, numa loucura incontida que voa cada dia mais alto em busca do infinito, que o infinito não te basta. Fica-te bem um pouco dessa loucura, dessa liberdade. És livre porque com as tuas próprias mãos, com o teu sangue, derrubaste as paredes da vergonha. Quebraste amarras farpadas dessa cortina de ferro. Destruíste em cacos de memória o cimento da infâmia que te separou os filhos. Que te tirou o futuro, tão grande lá do outro lado, onde se voa e não se rasteja. Os homens são ocos, tão ocos que já não sabem ser loucos, quando ser louco é só ser humano.




Há muito que esse muro merecia cair. Ao fim de vinte e oito anos de vergonha, o Muro de Berlim caiu por terra, pelo seu próprio peso. Com ele caiu toda uma ideologia política, um sistema autoritário, um capitalismo de estado. Com a Glasnost e a Perestroika na URSS, durante o governo de Mikhail Gorbachev, deu-se o início ao processo de abertura política e de novas liberdades dadas à população e que contribuíu definitivamente para a ruína de todo o sistema soviético. Há vinte anos o muro desapareceu quase tão depressa como surgiu. Irmãos que foram separados à força reuniram-se em família, como um povo, uma cidade, um país, um velho continente. Mas a vergonha continua espalhada em muitos outros locais. Muros invisíveis que não foram construídos à nossa volta, mas dentro de nós. Muralhas difíceis de derrubar que quando pensamos já demolidas, os alicerces ainda restam profundos, espetados nas nossas vidas. Muros mais altos e intransponíveis que foram erguidos desde 1989. Enquanto restar alguma pedra, conservaremos o ódio, a indiferênça, o medo, o egoísmo, o racismo. Outros muros, outras lamentações. Há ainda tantos muros por derrubar.

sexta-feira, novembro 6

é melhor parar por aqui!

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Quando uma porta começa a fazer creeeeeck, creeeeeck, sempre que a abrimos ou fechamos, provavelmente está na hora de lhe olear as dobradiças. Decidi dar este exemplo mas serviriam muitos outros para que, de algum modo, eu introduza aqui o tema da gestão doméstica sobre o ponto de vista masculino. Frequentemente, quando percebemos que alguma coisa está avariada, decidimos enfrentar logo o problema antes que ele se agrave, ou que alguém reclame. A questão é que a nossa definição de problema é diferente da definição de problema das mulheres. Se a lâmpada fundiu, isso não é um problema. Se a lâmpada ainda não foi trocada, isso já é um problema. Quando um procedimento doméstico precisa, ou terá necessidade de ser realizado, nós agendamo-lo de acordo com a nossa disponibilidade para um horário conveniente. Nunca no horário do futebol, quando se está na net, nem à hora da sesta. Nós temos o senso da prioridade e mais a mais é tudo uma questão de caixa de ferramentas. A louça não vai fugir e pode perfeitamente esperar que se faça uma soneca no sofá após o almoço. É que uma sesta adiada é uma sesta perdida! Se a tampa da sanita está erguida e precisamos de nos sentar, nós baixamo-la. Se estiver fechada e precisamos de fazer pontaria, então abrimo-la! Não há motivo para se fazer disso um drama. Amanhã é sábado, ora deixa cá ver: arrumar a roupa, limpar o pó, aspirar… Uiii, é melhor parar por aqui!


Queen - I want to break free


Bom fim-de-semana


quinta-feira, novembro 5

moleza

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Quando me faltam palavras para os sentimentos do dia, é como se um nó cego se formasse nos dedos e me impedisse de transformar as palavras em poesia. Hoje fico-me por aqui, a mirar ao redor e a sorver as vossas palavras, de amigos, escritores, poetas com os seus humores. Palavras que consolam o coração de quem as lê e que bem longe nos transportam, nem sei bem porquê! Palavras que amigos blogueiros libertam e que me dizem muito. Assim, aproveito este sentimento, ou momento, que me trespassa para fazer um agradecimento, especial e sincero, a todos os que estão sempre presentes, de todas as maneiras. Também aos que não estão, porque não? É apenas moleza, disso podem ter a certeza!

quarta-feira, novembro 4

querem que vos conte?

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Eu conto. Quando dei por mim, estava eu de pé, perdido, com um papel na mão e um olhar inexpressivo para um mapa que, supostamente, me iria ajudar a decifrar o meu enigma: Como raio iria sair daquele labirinto. E ainda por cima a minha primeira e única aventura nesta giga-mega-multi-empresa começou com a inocente necessidade de adquirir um simples banquinho que fosse leve, confortável e regulável em altura. E deram-me esta ikea… digo, ideia: – Ó Paulo, porque não perguntas à Anna lá no site dos gajos? E assim foi. Virtualmente, dei com dito objecto, mesmo à medida das necessidades da minha cara metade. Nada que o nome com que o banquinho foi baptizado, de VITAMIN, não me tivesse sugerido que poderia até ser um iogurte ou um creme dermatológico em vez do nome de uma aldeia piscatória da Suécia ou de uma qualquer tribo do Senhor dos Anéis e fomos lá, comprá-lo.
É claro que tudo começou muito bem! Aquilo é enooooorme. Logo ao cimo das escadas rolantes, mesmo à entrada, oferecem espaço para a alimentação. Fiquei confuso. Até existe lá uma creche! Deve ser para que inconveniências como crianças ou fome não atrapalhem as compras, pensei! Lá mais para a frente, no final da minha aventura, até achei que nem seria má ideia se houvesse também um serviço de relações conjugais ou aconselhamento matrimonial! Li inclusive, há dias, que na Noruega o Ikea oferece a possibilidade dos clientes pernoitarem. Não sei se ficaria mais barata a estadia caso tivessem de montar as próprias camas! Assim até teriam de ficar uma semana! Adiante.
Entro num intrincado sistema de corredores, de sentido único, e percorro tudo o que não me interessa até chegar ao dito banquinho. Embora de início tenha ficado com dúvidas para que serviria, felizmente não aceitei o enorme saco amarelo que me foi proposto. O Ikea diz-nos o que podemos encontrar e quem quiser alinha, libertando assim espaço na sua vasta colecção de coisas para encher com mais coisas. Pelos vistos não foram só os portugueses que se deixaram enfeitiçar pelo negócio. Aquilo estava cheio de casais espanhóis que cá vêm entupir o parque de estacionamento e os corredores da loja, dando um colorido sonoro à experiência. Antigamente, íamos nós ao Corte Inglês! Mudam-se os tempos... E bem que se podiam inspirar na arrumação cuidada e minimalista dos espaços onde são recebidos, mas não! Circulam descuidados e animalescos (dando razão aos meus receios), de mãos dadas, a passear por cenários utópicos, imaginando-se num quarto Aspelund, confortavelmente deitados numa cama Camila, envoltos em têxteis Beata, admirando a textura dum móvel Bestå. É de facto uma loja multifacetada, tem tudo o que não precisamos num sitio só. Ali, “hombres” viris, machos latinos, transformam-se subitamente em dedicados elfos do lar, com particular interesse nas panelas, nos abat-jours ou em tábuas de engomar.
No meio do processo fiquei sozinho, como uma criança perdida, e fui salvo no último momento ao socorrer-me do GPS de bolso. O que me valeu foi o telemóvel para reencontrar a família. Munido do talão de encomenda, percorro, soando as estopinhas, todo o longo percurso que me iria devolver à natureza. As indicações levam-me até um descomunal elevador e, sem saber bem como, saio para um armazém tipo hangar de aviões, repleto de prateleiras cheias até ao tecto. Mais ao fundo, vislumbro finalmente uns raios de luz e aí as minhas esperanças de sobrevivência renovam-se. Uma vez chegados às caixas foi só seleccionar ,das 4 que estavam abertas, a que tivesse uma fila menor e esperar uma meia hora. O cheiro gorduroso que vinha da esplanada de alimentação, mesmo em frente, fez-me então perceber que já passava da hora do almoço, e o quanto a resistência pode ser fútil. Pagamento feito, ainda faltava um pequeno e relevante acto final, recepcionar o objecto motivador de toda esta epopeia. E o que é que era mesmo? Ahhh… o banquinho VITAMIN. Com a caixa debaixo do braço, seguimos cambaleando até ao carro, exaustos e aliviados por termos escapado à tortura. A nossa relação sobreviveu à provação do IKEA, bem como o banquinho que ainda resiste, não tivesse sido eu a montá-lo!




terça-feira, novembro 3

e agora, ainda estão faceiros?

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Face a isto e face àquilo, os últimos dias têm sido pródigos em novas facetas. Quem mais prevaricou? Quem mais vai, sem querer, dar a outra face? Ainda há muitas sombras nesta face oculta. Da investigação espero tudo menos um volte-face. Já estamos habituados a ver a lei fazer “faceliftings” de conveniência, cansados que a justiça tenha uma dupla face.
Pois o que este interface de notícias me dá a saber é que desta vez não deveriam ficar sentados com o livro a tapar a face. Espero que resolvam temperar a alface, isto é, investigar sem facilitar!



Será que me faço entender?


domingo, novembro 1

o som da frente

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Foi a companhia de uma geração, a arte de ouvir, uma marca registada. Foram noites bem passadas (não tinha hipótese de adormecer antes das três da matina), embaladas pelo vozeirão do grande António Sérgio! Pelas ondas hertzianas eu mantinha uma “conversa” com o radialista que me acompanhou em muitas madrugadas (e o que eu estudei a ouvi-lo!). Nesses tempos de adolescência ímpia e impune, ouvir O Som da Frente era uma atitude e uma alternativa. O Som da Frente (de 1982 a 1993) foi um programa de rádio que desempenhou um papel relevante na assimilação da música dos anos oitenta, numa forma alegre, intimista, psicadélica, onde ouvir era um vício, um estado de espírito do momento. Noite após noite, tocava as novidades musicais, contava histórias passadas ou futuras, num conceito oposto à estreia mundial, às tabelas de vendas e ao prato forte das “playlists” das estações de rádio. Propôs-se como um projecto de divulgação inovador, funcionou como um estaleiro de som, onde as ideias se transformavam em opiniões, o direito à diferença era simples e vanguardista. Uma tribo de fiéis seguidores chegou ao ponto de lhe dar um toque de magia, trazendo as mais recentes novidades de Londres e emprestando os discos, fazendo do Som da Frente uma montra de som enquanto experiência alternativa. Na época, o circuito de importação e a penetração da industria discográfica em Portugal não tinha a mesma expressão que tem actualmente. Na aparelhagem estava sempre uma cassete, dois dedos no "Rec" e no "Play" e assim fazia os meus “downloads” da época. A memória mantem uma saudosa lágrima de um programa de rádio que moldou alguns dos gostos musicais que ainda mantenho.

Com o passar dos anos a voz grave ganhou modulações, subtilezas e ressonâncias. Reservado e solitário, assim ficava António Sergio quando se sentava atrás do microfone nas quatro paredes de um estúdio de emissão, mas nunca se alheou da vida ou das gentes e sempre recusou estatutos especiais ou lugares privilegiados. O radialista faleceu. mas a voz por trás do microfone não deixou de estender o seu manto habitual.

Shriekback - "This Big Hush"(disco 1, faixa 17)