sexta-feira, julho 31

parabéns mano

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É na infância que descobrimos um mundo de aventuras, conquistas e amigos sem limites. Na nossa infância tudo é mágico, tudo é vida, desde lançar um pião até ao primeiro beijo. Na infância tudo é tão simples, a alegria e a felicidade apenas feitas de emoções nos bolsos e uma bola nos pés. Aprendemos o que é verdade e o que é mentira, ganhamos sonhos e decepções, percebemos que existe um momento certo para tudo. Num minuto choramos e no outro brincamos. Quem não se lembra daquele tombo da bicicleta ou do presente de Natal mais desejado. É a fase mais linda da vida, onde criamos a base para o nosso futuro. Onde não falta tempo para a brincadeira, para uma palavra amiga, um abraço acolhedor e uma história antes de dormir.

Ambos partilhamos uma infância maravilhosa. Os brinquedos, as brigas, o abraço dos nossos pais, a amizade e a sinceridade. Partilhamos tudo. Tu és o amigo que conheço há mais tempo!
Feliz aniversário mano.

quarta-feira, julho 29

bordado a carinho

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(A velhinha máquina de costura da avó Nanda)

Largou no chão a boneca e fantasias de gente pequena. Ficou especada observando a avó que bordava num pano de algodão. Os seus olhos arregalados mal conseguiam acompanhar os rápidos movimentos da máquina de costura que desenhava e atravessava o pano, ponto por ponto, num emaranhado de cores e linhas soltas. O que estás a fazer avó? Estou a bordar um paninho meu amor, gostas? E porque fazes isso? A avó senta a netinha nos seus joelhos. Sabes minha querida, eu faço estes desenhos para dar alguma alegria a este pano liso, como tu que me dás cor à vida sempre que estás comigo. Perplexa, escutou as palavras da avó deixando a cabecinha acenar aos seus doces afectos. Bordei lençóis para anjos, fronhas de muitas cores, cobertas e cobertores. Este paninho vai ser um lençol, terá o teu nome e te aquecerá os sonhos, todas as noites, como os que fiz para o teu papá.

A vida também pode ser um bordado colorido num pano imaculado. Os anos passam, ficam sérios e brancos como panos de linho onde a arte e o carinho surgem coloridos, alegres e plenos de felicidade no sorriso dos netos.



segunda-feira, julho 27

as melhores coisas da vida não são coisas

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Se achamos que o nosso tempo é que é importante porque andamos sempre tão ocupados, bem ou mal, a contabilizar o tempo gasto nisto ou naquilo, nunca paramos para pensar naqueles para quem o tempo é realmente importante. Um mês é fundamental para quem tem o salário em atraso; Uma semana é determinante para a futura mãe que corre o risco de ter um bebé prematuro; Um dia, cada dia que passa, tem um profundo significado para uma pessoa que tenta vencer uma doença grave; Uma hora é crucial para o estudante que faz um exame; Um simples minuto faz toda a diferença para quem acabou de perder o comboio; Um segundo, ou uma milésima parte dele, é o suficiente para um atleta bater um recorde. Se tentarmos compreender a nossa dimensão, tentarmos relativizar a importância das coisas, o perigo de uma guerra, a solidão numa prisão, a dor da indiferença e a agonia da fome, deveríamos considerar aquilo que julgamos ser um verdadeiro problema. Vale a pena pensar nas pequenas coisas, naquelas em que geralmente não reparamos, simplesmente porque nos parecem demasiado insignificantes para perdermos tempo com elas.

sexta-feira, julho 24

reverência ao destino

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Vivemos dias estranhos. Vivemos uma profunda crise civilizacional. Para muitas pessoas a vida não é nada fácil e entre o difícil e o impensável, cada vez mais, o imoral torna-se banal. Seja fácil ou difícil, fundamental é não perder o controle.



Falar é completamente fácil quando se tem em mente palavras que expressam a nossa opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer.
Fácil é julgar as pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrarmos os nossos erros e reflectir sobre eles.
Fácil é ser amigo, fazer companhia a alguém e dizer-lhe o que ela deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
Fácil é analisar a situação alheia e aconselhar sobre ela.
Difícil é vivenciar a situação e saber o que se deve fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando alguém nos deixa irritados.
Difícil é demonstrar o nosso amor a alguém que realmente nos conhece.
Fácil é vivermos sem termos que nos preocupar com o amanhã.
Difícil é questionarmos e tentarmos controlar as nossas atitudes impulsivas e, às vezes, impetuosas a cada dia que passa.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver apenas o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que julgávamos ter visto.
Fácil é brincar como um tolo.
Difícil é ter que ser sério.
Fácil é dizer “olá” ou “ como está?”.
Difícil é dizer “adeus”.
Fácil é abraçar, apertar a mão.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é saber amar.
Fácil é ouvirmos uma música que toca.
Difícil é ouvirmos a nossa consciência.
Fácil é perguntarmos o que desejamos saber.
Difícil é estarmos preparados para ouvir a resposta.
Fácil é querermos ser o que desejamos ser.
Difícil é termos a certeza do que realmente somos.
Fácil é chorar ou sorrir quando temos vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar.
Fácil é beijar.
Difícil é entregar a alma.
Fácil é fazermos parte de uma lista de endereços.
Difícil é ocupar o coração de alguém.
Fácil é ferir quem nos ama.
Difícil é tentar curar essa ferida.
Fácil é ditar regras
Difícil é segui-las.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Fácil é exibirmos a nossa vitória a todos.
Difícil é assumirmos a nossa derrota com dignidade.
Fácil é admirarmos uma lua cheia.
Difícil é conseguirmos ver a outra face.
Fácil é viver o presente.
Difícil é desenvencilharmo-nos do passado.
Fácil é sabermos que estamos rodeados de pessoas que nos são queridas.
Difícil é sabermos que nos sentimos sós no meio delas.
Fácil é tropeçar numa pedra.
Difícil é levantarmo-nos de uma queda, magoados e feridos.
Fácil é desfrutar a vida a cada dia que passa.
Difícil é dar o verdadeiro valor à vida.

(Reverência ao Destino... Carlos Drummond de Andrade)

Bom fim-de-semana.


quinta-feira, julho 23

às vezes

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...nem sei o que escrever. Ao certo nunca sei, mas às vezes é algo que tento fazer. Sento-me diante desta máquina infernal e deixo que os dedos decidam libertar esta necessidade de me fazer entender, sobre algo sem o saber. Sinto o tempo perder-se entre teclas, hesitações, correcções, a encontrar o fio da meada. E quase sempre dá vontade de rabiscar, rasgar a frase, refazer tudo quando não se tem nada para dizer. Mesmo que, de vez em quando, haja chuva, vento, tempestades de verão, não faz mal se há falta delas, de repente, até estamos a dizer coisas acertadas.




quarta-feira, julho 22

à vontade

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Predisposição, impulso, determinação, instinto. É querer, estar, é poder. Viver livre nas opções, actos e sentimentos. Por ânimo, satisfação ou consciência. Na força ou na falta, boa ou sem. Do freguês ou contra, estejam à vontade.

segunda-feira, julho 20

um sonho tornado realidade

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Activadas pelos módulos de memória, deixo as lembranças da minha mãe pousarem suavemente no chão fino e poroso deste gabinete.
Num domingo quente, 20 de Julho de 1969, tinha eu 3 anos e uns mesitos e o meu irmão estava muito perto de soprar as velas do seu segundo aniversário. A casa estava num reboliço, quase vazia. Para além de nós os quatro já só restavam caixotes cheios de esperança, algumas cadeiras, as camas e pouco mais. Em cima de um desses caixotes estava a nossa televisão, sim, aquela da foto, uma daquelas de caixa de madeira e válvulas. Os preparativos da mudança para a casa nova já se faziam há alguns dias e a nossa chegada estava programada para o dia seguinte. Bem cedo a nossa mãe deitou-nos e despediu-se com um beijinho e um sorriso maroto, de quem prepara uma grande surpresa. Pouco antes das três da manhã fomos meigamente retirados do nosso planeta dos sonhos e levados para alunar no colo do nosso pai para assistir aos astronautas da Apolo 11 que chegavam à Lua. Pela primeira vez via-se a superfície lunar de uma forma tão nítida, um ambiente hostil de cinza, crateras e escuridão. Cheios de sono, lá nos foram mantendo acordados e informados sobre o que era a falta de gravidade ou porque não estava deitado na minha caminha, de tudo o que se passava lá tão longe, para que fossemos também testemunhas de um feito nunca antes alcançado por um ser humano que pisava outro planeta, mesmo que fosse apenas o satélite que todas as noites espreita a Terra. Pensando bem, acho que era por isso que muitas vezes me diziam que eu andava sempre com a cabeça na Lua, não sei! Bem, adiante, e lá estavamos nós, ensonados, a ver um homem movendo-se desajeitadamente com um fato esquisito, que representava toda a humanidade e dava um pequeno passo, o tal salto gigante, dava passos tão desajeitados como eu que ainda mal dava os meus.
Naquela noite, pela madrugada fora, grande parte da população mundial ficou colada aos televisores a assistir à mais extraordinária transmissão em directo de todos os tempos. Muitos portugueses recordam-se bem dessa noitada emocionante, das imagens a preto e branco, dos contrastes daquela sequência de imagens desfocadas e pouco movimentadas, da voz do locutor José Mensurado que comentava o inédito acontecimento. Escusado será dizer que não me lembro de rigorosamente nada mas, mesmo assim, agradeço que a minha mãe me tenha feito estar lá e com eles pousar no Mar da Tranquilidade. A chegada do homem à Lua foi a maior das aventuras e o maior feito tecnológico de todos os tempos. Embora os resultados científicos da missão tenham sido modestos e outros 10 homens tenham pisado o solo lunar até o final do Projecto Apollo, em 1972, nada pode ser comparado à força simbólica daquele passo.
No dia seguinte ao da chegada do Homem à Lua foi a nossa vez de chegar e pisar o chão da nossa casa nova, onde demos grandes e seguros passos em direcção ao futuro.


Frank Sinatra - Fly Me To The Moon



sexta-feira, julho 17

vá'mbora pessoal?

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Depois do stress da semana, seis dias inteirinhos a trabalhar arduamente na confecção, a saborear a poluição ruidosa e atmosférica da fábrica, a aturar o trânsito e o patrão, chega finalmente a folga! Apenas um dia pois as férias, essas, nem vê-las! Parece que o sol está para ficar e é melhor aproveitar! Onde ir então? Prá praia? Vá’mbora pessoal...
São quase oito da manhã de Domingo, a malta aglomera-se na rua do bairro e espera o transporte para a divertida excursão. Estão todos lá com o kit básico: calção largo e folclórico, camisola cabeada e justa, chapéu contrafeito do clube desportivo, chinelos comprados nos chineses, fato de banho verde fluorescente. No farnel apenas o indispensável: marmita com arroz de tomate, bolinhos de bacalhau, panados vários, broa de Avintes, sandes e pacotes de batatas fritas, coisa pouca! Na geleira azul não faltam cervejas e refrigerantes, enquanto as garrafas de água ficam de fora porque já não cabem!
A ferrugenta Toyota Hiace, que o Sr. Silva da mercearia emprestou, chega e começa o tumulto. A mãe grita: Vanessa, trás a cesta e o guarda-sol… O mais velho birra porque se esqueceu da psp, o puto chora porque quer ir à janela, ou quer fazer xixi, depois já não quer ir, a mais pequena de tanto teimar lá convenceu o pai a levar a bicicleta. E o raio do cão que não para de ladrar! O pai deixa-os com as arreliações e vai comprar cigarros e pilhas para o rádio. Vanessa, dá-me o telemóvel já! Um pandemónio…
Finalmente, depois de muita confusão e troca de galhardetes, o autocarro turístico lá se pôs em marcha, em direcção ao litoral, para a praia do costume. Pelo caminho, uma mistura de sons, choros, pimbas, cantorias, vamos à la playa ô ô ô ô ô, anima a viagem… F#&@-$£, esqueci-me de comprar “A Bola”!
Nove horas e chegam à praia. Um areal bege, perfeito, que logo se transforma numa superfície lunar cheia de cores e cabeças. Estendem-se toalhas estampadas com sereias, âncoras e rodas de leme, abrem-se guarda-sóis tricolores e floreados, espetam-se paus com panos publicitários para tapar o vento, montam-se tendas de campanha, douram-se os pêlos das pernas e dos braços, besuntam-se as caras e barrigas da canalhada. Aí, as raquetes de ténis, bolas, bóias, baldinhos de plástico, entram em acção. Vai dizer ao teu irmão para sair da água, jáááá! Ó mãe, tenho fome. Espera que ainda não acabei a Maria.
Ao meio-dia, o sol já está mais quente do que o interior da marmita. Estende-se a toalha na mesa à sombra, desdobram-se as cadeirinhas, todos sentados e quietos, começa a farra da comida. É uma festa à parte acompanhada de copos, talheres, pratos descartáveis e bolas de borracha vindas do ar… F#&@-$£, quem foi o gajo?
Depois, até às 4 da tarde, há que fazer a digestão do repasto. Corpos suados e pesados deitam-se à sombra, adultos e mais pequenos dormem a sesta, embalam-se ao som das ondas e dos roncos do pai. Quem não dormir ou toma conta do acampamento ou vai passear o cão!
Ao fim da tarde começa outra aventura, o regresso. Corpos queimados, vermelhos, cobertos de areia, sacodem-se, mal dispostos, juntam a tralha e a garotada, arrumam as amarguras e a alegria de novo na carrinha que os levará de volta ao bairro.
E assim termina um dia típico de praia de uma típica família.
Ó Pai...! Então pai, a senhora professora ensinou-me que devemos deixar as praias limpas! F#&@-$£...


quinta-feira, julho 16

40 anos depois...

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... o Homem volta à Lua!

Neste
sítio da Internet podem viver ou reviver, de uma forma virtual, a partida, viagem e chegada do Homem à Lua.

A iniciativa é da biblioteca e museu presidencial John F. Kennedy que vai transmitir em tempo real todos os momentos desde a descolagem na terra até ao fim da missão.
Na plataforma online que recria o momento, o utilizador também pode consultar informação de arquivo, entre texto e imagens e interagir com os astronautas em missão.
O desembarque é 2ª feira pela noite. A partir daí, o site promete acção e muitos pormenores sobre cada momento da aventura na Apollo 11, 40 anos depois da viagem original. Para os astronautas em terra e admiradores de aventuras espaciais fica o link. Clique: http://wechoosethemoon.org/


quarta-feira, julho 15

sugestão

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Em tempos acalorados e conturbados, como estes que vivemos, o importante acima de tudo é manter a calma e dar preferência aos investimentos com maior liquidez: Uma caneca de cerveja com os amigos numa esplanada, com um pires de tremoços ou amendoins numa mesa de bar, a noite com uma boa companhia, loura ou morena, no sofá da sala, não há crise que resista.


terça-feira, julho 14

mensagem numa garrafa

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Ao dobrarmos a esquina das quarenta primaveras, o cabo da boa esperança para alguns ou o das tormentas para outros, lentamente tomamos consciência de que estamos realmente a ficar mais velhos e que o resultado do somatório de todos esses anos está, há já algum tempo, a ser creditado na nossa conta. Aos poucos deixamos de usar as palavras juventude e imortalidade, quase sinónimas, como máscaras para os excessos que fomos cometendo e dar lugar à tal da crise, que tanto pode acontecer antes ou depois dessa idade, não importa. Muitos de nós, quando damos conta dela, usamos a inteligência e a coragem para enfrentar a segunda parte do desafio com uma mentalidade madura, rejuvenescida, presente. Valorizam muito mais as suas potencialidades do que alguma vez o tenham feito. Outros, porém, talvez desconhecedores das suas capacidades ou tacticamente desmoralizados, tardiamente se dão conta que o tempo de jogo já não corre a seu favor e procuram disfarçar o indisfarçável, com alterações de última hora, na tentativa de corrigir erros cometidos, que pouco ou nada irão alterar o resultado final. O facto,é que temos de ser realistas e perceber que todos somos comuns mortais, mas se realmente queremos jogar o jogo da vida de uma forma saudável, com a melhor qualidade possível, precisamos de acertar o caminho e reflectir a nossa estratégia junto daqueles que amamos e connosco convivem. À velhice quase todos haveremos de chegar e, mesmo com saúde, a idade não deve ser motivo de depressão para quem quer que seja. De que adianta termos a sensação de sermos felizes se estamos rodeados de pessoas tristes e amarguradas? Devemos imaginar-nos capazes de continuar a sonhar e a amar, traçar e atingir objectivos, se possível realizar feitos anteriormente impensáveis e, mesmo que seja somente nas nossas mentes, sentir que somos verdadeiramente jovens. A velhice é só para quem a aceita dessa forma. Na figura que emoldura este poste falta a garrafa que melhor defeniria a etapa da vida que me sinto viver. Falta a garrafa de Vinho do Porto que, como se sabe, quanto mais velho melhor!


John Mayer - Message in a Bottle


sexta-feira, julho 10

a grande aventura

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Sábado, seis da manhã. Algures na cidade, um gajo (aquele ali de preto e branco) salta da cama e sem bocejar cumpre o ritual habitual de qualquer manhã, menos o almoço, que em nada é pequeno. Veste uns calções almofadados no rabo e o fardamento apropriado para estas ocasiões. Divide os víveres pelos alforges costurados nas costas da camisola e besunta a pele exposta de camadas de protector solar. Deixa um beijinho à amada e um até já também. Desce até à arrecadação, coloca a restante armadura no corpo, monta na bicicleta e vai ao encontro do amigo e parceiro de longas pedaladas.
Nada preocupados com a distância que têm pela frente, nem se ou quando irão chegar, fazem-se à estrada em direcção ao Sul. O vento no rosto o faz sentir-se vivo e o caminho é lindo ao longo do rio Douro. Mais ou menos no local previsto, juntam-se ao pelotão que já está com os músculos pré-aquecidos desde Paços de Ferreira. Mais uma vez partem ao desafio, pernas leves como plumas, a viagem dentro da viagem segue paralela ao mar. Enquanto os outros deslizam suavemente nas suas lindas e esbeltas bicicletas de estrada, ele segue-lhes na roda, fiel à sua querida e grotesca bicicleta de montanha, verdadeiro tractor com as devidas proporções e adaptações.
Para um passeio cicloturístico até que está uma bela manhã e para surpresa e alívio da malta, desta vez, Éolo apareceu para ajudar. Vento de Norte é uma coisa, vento contra é bem diferente. Mais uma cidade desponta no horizonte. E mais outra e outra, a ondulante estrada nacional 109 rasga o litoral luso de alto a baixo. Fazem pequenas paragens para alimentação e hidratação sem deixar arrefecer a vontade. As pernas já reclamam descanso e até as subidas mais ligeiras, nos momentos em que a cadência das pedaladas fica reduzida ao mínimo indispensável, é precisa concentração máxima para enxergar as curvas, os cruzamentos e eventuais condutores de fim-de-semana.
Avista-se a verdejante e convidativa Serra da Boa Viagem, mas que fique claro que a verdejante serra só é convidativa se forem masoquistas, pois ao fim de mais de uma centena de quilómetros já é bastante exigente, e ter um pneu furado no meio da subida só serve para tornar tudo ainda mais memorável. Na descida a paisagem é tão bonita que compensa tudo.
Estrategicamente, na Figueira da Foz, um grupo de ciclistas famintos e cansados tem finalmente o merecido descanso para reposição de nutrientes. Claro está que gostariam também de repor as pernas e pulmões mas têm de se contentar com uns litros de coca-cola, rissóis e pão com chouriço.
Com um terço do caminho ainda por percorrer logo voltam de novo ao asfalto pelas longas rectas que se seguem. Já não sentem as pernas, quando muito sono e ligeiramente a desconfortável tortura do selim. O nosso herói, esse, continua firme, seguindo o velho truque de se ir deixando ficar para trás, muito de leve, muito aos poucos, segurando subtilmente os seus ímpetos em nome da sobrevivência. Mais paragens para alimentação e hidratação que se fazem agora mais demoradas para descansar. Chegam ao início da derradeira subida da Serra da Santa Catarina e livram-se de tudo o que é peso morto, do corpo e da bicla, para o porta-bagagens do carro-vassoura. Após o derradeiro esforço e a reconfortante descida até à Cova, felizes, chegam todos em grupo, triunfais ao fim da grande aventura.
Para algumas pessoas, estes tipos não passam de um grupo de cotas malucos metidos a radicais. Como assim!? Então, se pedalar por sete ou oito horas, até Fátima, fazem-no apenas por puro prazer e vontade? É, o mais importante para eles não é chegar ao destino, a algum lugar. O que importa é curtir a pedalada, apreciar a paisagem e o espírito de grupo até lá. De outra forma eu não saberia descrever esta mistura de adrenalina, vento, gravidade, sol, curvas, verde, sonho, esforço, contentamento, ar puro, calor, carros apressados, pernas pesadas, natureza, vontade.

E mais uma vez espero sobreviver a ela.



Clica aqui para leres o relato da mesma aventura, a do ano passado.
Bom fim-de-semana.

Adenda após o regresso da grande aventura: É claro que sobrevivi, cada vez com melhores e magníficas sensações. Estou como o aço!

quinta-feira, julho 9

serafim

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confere as horas, retira o casaco das costas da cadeira, olha à volta, desliga as luzes e encerra o expediente. Naquele dia a sorte não quis nada com ele. Que diferença faz mais um dia, pensa! Voltar a enfrentar a solidão, voltar já para casa, está fora de questão. Dá uns passos arrastados pelo passeio, pára mais à frente, apaga o cigarro e entra. Por ali decidiu ficar, sentado a um canto naquela sala castanha. Espera um pouco, atira o casaco para o sofá vermelho roçado e faz o primeiro pedido. Apeteceu-lhe algo um pouco mais quente, mais irónico, assim bem forte, o do costume. A música de fundo toca-lhe ao de leve até lhe arrepiar a pele. Recebe o primeiro com pressa, na ânsia de companhia. Pede-lhe que lhe diga qualquer coisa que não seja preto nem branco. O que ele precisa mesmo é de um doce cor de limão, de um ácido mistura de laranja e morango, do sabor do mistério que lhe dará a provar o sabor do fogo na garganta. Sabes há quanto tempo que não o sinto? Confidencia ao copo. Vá, conta-me lá qualquer coisa diferente, gradiente, do roxo ao violeta, que seja transparente, atraente. Estala os dedos para o empregado e pede outro. Canta uma música batida, de letra desconhecida e bate os pés no chão. Em alucinação pede mais um, de limão. Anda comigo sentar-te àquela mesa aos pés do balcão, pega no copo e aproxima-se. A crepitação da canção já é acidental, desfocada. Um pouco mais de amarelo na boca maleável para que o feitiço funcione, uma visão elástica, transparente reaparece. Olááááá… princesa, hoje demoraste!



First Take performs Jamie Cullum
- What A Difference A Day Makes


(depois de ter a foto e a música, o texto não foi difícil de imaginar)



terça-feira, julho 7

con dulce alegría

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Praça da Galiza, Porto (foto Wikipedia)

A caminho do liceu onde eu estudava, o do Infante D. Henrique, tantas vezes perto de ti passei e nem sequer te conhecia. Mesmo sem que desses conta disso, eu ficava atraído por ti, pela tua firme presença, pela forma como me sorrias quando passava perto de ti, logo tu a quem a vida não sorriu. Mas eu não te conhecia e olhava para ti como se fosses uma deusa da mitologia grega, tão elegante estavas, numa postura tranquila e relaxada. Como as mãos artistas de Barata Feyo tornaram uma rocha de granito frio e inerte numa figura tão graciosa e atraente. Percebia até no teu espelho de água verde uma certa vaidade reflectida das tuas origens, mesmo que fossem lágrimas de saudade das tuas gentes. Não mudaste nada. Os anos passaram por ti e tu continuas na mesma, a sorrir às nuvens e aos pássaros, como se o tempo não existisse. Lembro de uma tarde quente de verão, já com as férias grandes à porta. Eu e alguns colegas de turma fomos refugiar-nos aos teus pés e banhar-nos à descarada no teu pequeno mar. E tu lá estavas, iluminada pela sombra das árvores da tua praça, impávida e serena, como uma pomba ferida que permanece para sempre rodeada dos filhos. Nunca antes eu ouvira falar de ti, e de ti só sabia o nome escrito na pedra, Rosália. Alguns anos mais tarde voltei a passar por perto mas estavas tão atenta ao reboliço da estudantada que nem deste por mim. Depois procurei saber mais de ti e da tua obra, quem foi Rosália de Castro. Procurei ler as tuas poesias, saber do teu orgulho pela terra, pelas tuas gentes, pela tua Galiza. Ouvi os teus Cantares Gallegos e percebi o quanto o teu sorriso é genuíno e feliz, de quem brinca e toca piano para os filhos. Mas quem poderia saber o que te ia na alma se a tua poesia chora tristeza e sofrimento? Mesmo sem teres dado por mim confiei-te o nosso menino, mas nem era preciso porque sei que ali cuidas dos filhos dos outros como se fossem teus. Quando os vês chegar pela manhã, a entrar na escola, dás-lhes sempre os bons dias. Pedes-lhes cuidado para atravessar a rua. Sorris quando eles passam perto de ti, distraídos, para o jardim. É claro que percebeste como eles cresceram tanto. Já passaram cinco anos, sabias? O nosso menino e os colegas vão agora para o liceu, para uma outra etapa da vida. Vão conscientes que o patrono Gomes Teixeira, o dos números e das matemáticas, tem razão no pedido que faz nas paredes na sua escola. Trabalhai e sereis úteis, aprendei e sereis grandes. A ti, à escola, a todas as professoras e professores, profissionais e colaboradores, só temos de estar muito gratos pelo jovem que nos ajudaram a educar.


Xente - Berroguetto


sexta-feira, julho 3

afurada by night

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Virada para a Foz do Douro, a Afurada tem umas magníficas e únicas vistas sobre a margem ocidental da Cidade do Porto e a sua luz, ao fim do dia, é simplesmente deslumbrante. O seu santo padroeiro é o São Pedro e a festa é lhe dedicada com grande devoção. Gentes de trabalho e fiéis às tradições, todos os anos os pescadores prestam a devida homenagem ao Santo, com toda a pompa e circunstância, onde para além das cerimónias religiosas, se procede à bênção dos barcos. Há um par de anos, a vila foi alvo de uma profunda intervenção ao nível paisagístico e de ordenação de território, o que lhe conferiu uma merecida modernidade e, apesar de uma grande mudança, a Afurada está hoje mais bonita mas sempre típica.
Ontem à noite, lá fomos nós em família mais uma vez cumprir a nossa tradição de degustar umas grandes, gordas e suculentas sardinhas assadas à Afurada, muito bem regadas com um verdinho que até trepava pelas paredes.



Depois veio a diversão e, numa espécie de antevisão da próxima final da Liga dos Campeões, disputamos um renhido e sério Porto-Sporting nos matrecos. É claro que o Porto ganhou de goleada



De seguida, já com a taxa de alcoolemia dentro dos limites legais, fizemo-nos à pista de carrinhos de choque para perceber quem teria mais jeito no engarrafamento.



Não, não pensem que foi a mensagem subliminar, que se lê como aviso, que me fez tirar esta foto a um carrossel!



E ao fim da noite não fomos capazes de resistir à gula e assim metemos as mãos a umas gordurosas e doces farturas.
Foi cá uma farturinha!

Um Bom e Festivo fim-de-semana para todos.

quinta-feira, julho 2

ouve... sem preconceito

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Estes são dias das mãos abertas e não serão os últimos. Olha á tua volta. Estes são os dias dos mendigos e dos oportunistas. Este é o ano do homem faminto cujo lugar está no passado, de mãos dadas com a ignorância e legítimas desculpas. Os ricos declaram-se pobres e a maioria de nós não tem a certeza se temos muito, mas aproveitemos todas as oportunidades porque Deus parou de o fazer. Acho que algures, ao longo do caminho, Ele deve ter-nos deixado de fora, a jogar. Virou as costas e deixou os Seus filhos rastejarem pela porta das traseiras.

E é difícil amar, há tanto a odiar, esperançados quando não há esperança para dar. E o céu ferido, sobre nós, diz que já é demasiado tarde! Bem, talvez, todos nós, devêssemos rezar por tempo.

Estes são dias de mãos vazias, agarramo-nos a tudo o que podemos e a caridade é um casaco que usas duas vezes por ano. Este é o ano do homem culpado, a tua televisão toma o seu lugar e tu descobres que o que estava ali, está aqui. Então gritaste por detrás da porta, disseste "o que é meu é meu e não é teu", talvez tenha demasiado mas aproveitei as minhas oportunidades porque Deus parou de o fazer! E dependes daquilo que te venderam, tapaste os olhos quando te disseram que Ele não voltaria mais porque não tem mais filhos por quem regressar.

E é difícil amar, há tanto a odiar, esperançados quando não há esperança para dar. E o céu ferido, sobre nós, diz que já é demasiado tarde! Bem, talvez, todos nós, devêssemos rezar por tempo.




Esta canção, Praying for Time (Rezar por Tempo), aqui com tradução minha, foi o primeiro single a ser extraído do álbum Listen Without Prejudice Vol. 1, de 1990. Com esta música, George Michael quis transmitir uma escura e sombria reflexão sobre os males e injustiças sociais da época. Digam-me lá se não permanece tão actual?