quinta-feira, dezembro 30

aproveitando o balanço...

Partilhar ... o que foi 2010?

Pois bem, pessoalmente não me posso queixar muito. 2010 foi para mim um ano muito positivo. Embora o blogue tenha andado um pouco murcho, ao longo de não sei quantos postes por mim publicados fui transmitindo sinais de tranquilidade, emoções e realizações pessoais. Quanto ao que se passou no país e no mundo é um déjà vu! De ano para ano vivem-se as mesmas crises, anti-crises, antíteses de uma sociedade pobre de valores e mascarada para a realidade.

E o que será 2011?

"Mistééérioooooo..." Como qualquer português que se preze, eu também gosto de dar os meus palpites. É um costume típico, bem português, mandar uns palpites para o ar. Fazer adivinhações / previsões / antevisões de muitas coisas do que se vê e ouve no nosso quotidiano. Aliás, todos nós gostamos de dar largas ao Zandinga que cada um tem dentro de si. "Brucho!!!" Ora, é claro que na esmagadora maioria das vezes são tiros no escuro e só saem imprevisões! Quase sempre somos traídos pelo sexto sentido que acomodamos na consciência ou pelo dedo mindinho, o tal que adivinha tudo. No entanto, das poucas vezes em que se acerta um palpite, quando as probabilidades se contam pelos restantes dedos, é ver o pessoal a vangloriar-se, "Vês pá! Eu sabia. Só não acerto no Euromilhões!!!" (aplica-se também ao Totoloto, ao Totobola e às presidenciais da tasca). Eu cá não nego à partida ciências que desconheço mas não tenho tido muita sorte no paranormal. Só um céptico superficial poderá negar os poderes que uma bola de cristal tem para adivinhar / prever / antever o que o novo ano nos reserva. E a bola prevê que muita coisa vai mudar, para pior, diga-se, mas tal como eu ela não quer avançar com o resultado final porque sempre que fez este tipo de previsões caíram em saco roto e o mais certo é errar novamente. No entanto deixa uma mensagem de esperança prevendo um aumento da polémica, com muita troca de acusações, pantufadas e entradas por trás.

"2011, dá-me a tua camisola".


Vamos desejar 365 dias de boa sorte, alegria e saúde na nossa conta pessoal, mas temos que administrar tudo muito bem para que dure e perdure.

FELIZ ANO NOVO!



quarta-feira, dezembro 29

mobilidade que contagia

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Assim que vi este cartaz no metro pensei cá com os meus botões: "olha pá, chegas atrasado 30 anos". No tempo em que eu calcorreava Fânzeres e Rio Tinto, de casa para o colégio na camioneta da Gondomarense e do colégio para casa de autocarro e troleicarro, ou então era assim, fazia longas caminhadas, entre aventuras e coisas de rapaz, só para poupar umas moedas para gulodices. Nesse tempo é que o metro me teria dado jeito, pensei eu! Bom, é certo que agora também me dá, e que jeito, só que a viagem é na direcção oposta. A finalidade da mobilidade, de um sistema de transportes eficaz nas cidades, é a movimentação de pessoas e não de veículos. É sempre bom saber que a mobilidade urbana se está a expandir para um dos concelhos mais populosos da área metropolitana e muito deficitado em meios de transporte.

Segundo a Metro do Porto, ao longo de cerca de 60 quilómetros de extensão da rede, nestes oito anos o metro transportou 275 milhões de passageiros e percorreu cerca de 32,7 milhões de quilómetros, o que corresponde a 2.500 voltas ao diâmetro da Terra. A nova Linha Laranja (Linha F), a sexta linha do Metro do Porto é inaugurada e entra em operação comercial regular no próximo Domingo, dia 2 de Janeiro, ligando O Estádio do Dragão a Fânzeres e passando a servir o concelho de Gondomar mas, conforme se previa, não chega ainda à sede do concelho. Com o novo percurso, que representa um investimento de 135 milhões de euros, a Metro do Porto totaliza 80 estações ao longo de 67 quilómetros de linhas. As estimativas indicam que a Linha Laranja implicará mais de 12 milhões de passageiros por quilómetro, apontando benefícios sociais e ambientais na ordem dos 176 milhões de euros, ao longo de 20 anos.

Durante esta semana, entre o Natal e o Ano Novo, as viagens são gratuitas nos sete quilómetros de extensão e visam permitir à população das zonas servidas pela nova linha um primeiro contacto com o metro. As composições circulam sobre um tapete de relva, projectado pelo arquitecto Bernardo Távora, tendo sido criados 123 mil metros quadrados de zonas verdes. Estão a ser plantadas 2241 árvores e 3693 arbustos e trepadeiras ao longo da nova linha. O objectivo é sempre aumentar a qualidade de vida e a mobilidade de toda a população da zona envolvente. Hoje mesmo vou experimentar esta nova linha e voltar a calcorrear alguns dos locais da minha infância. E muito provavelmente, um destes dias voltarei lá com mais calma a passear na minha bicla.

terça-feira, dezembro 28

no sapatinho

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Quase todos chegavam num embrulho muito bonito, atados com fitinhas e laços coloridos, por alturas do Natal, ou mais tarde no aniversário. Outros vinham numa simples caixa de papelão castanho, empacotados. Houve alturas em que chegavam inexpressivos, reduzidos a notas de quinhentos escudos, dentro de um envelope não registado. Poucos ficaram amassados no correio, atrasados. Alguns estavam envoltos em embrulhos de papel, rasgados de impulso. Noutros era fita-cola que nunca mais acabava, e que desesperava! Surpresa? Hummm, nem sempre! Valor? O que interessa isso se é dado por amor. Muitos confundem o presente com a embalagem ou a embalagem com o presente, mas todos eles eram valiosos. É para mim!? Oh, não era preciso. Ahhh, muito obrigado... pelas meias! É que estava mesmo a precisar... A sério!



segunda-feira, dezembro 27

farrapo velho

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Antes de mais nada espero que os meus amigos tenham passado uma noite de Consoada e um dia de Natal com uma pontinha adoçada de satisfação. E o meu, perguntam vocês? Pois parece que me portei bem este ano e fui afortunado por mais um BOM NATAL, por mais uma celebração familiar que me permitiu retemperar energias de felicidade, todos à volta da mesa acompanhando o mastigar compassado das batatas e do bacalhau (ou da pescada para os mais esquisitos) e das doçuras da mamã.


E na calma do dia seguinte, até para "esmoer" as calorias natalícias, saí pela manhã enregelada a pedalar para me aquecer e deixar-me esvoaçar com as recordações da noite anterior. Deixar o pensamento percorrer na presença das grandes figuras do presépio da nossa existência, no sorriso lindo da avó Nanda, na sua constante preocupação que tudo estivesse bem saboroso, e do avô Eduardo que desta vez recebeu uma prenda minha para ler o Porto. Da cada vez mais amorosa e necessária companheira da minha vida e do meu filhote. Tudo num ambiente pachorrento de paz e amor, com o desembrulhar das prendas entre as traquinices da cadela Fofa e do gato Cookie.


Mas passados estes dias frenéticos de sorrisos, de compras, de barretes, de essémesses, de televisivas mensagens hipócritas de bom Natal, vai voltar tudo ao mesmo... vai voltar a crise, o debate político de tasca de aldeia, as manchetes televisivas qual "carrinha do peixeiro", os jornais de caserna, o miserabilismo nacional, a falta de confiança, a falta de ideias, e a culpa que é sempre dos outros... o farrapo velho de sempre!


sábado, dezembro 25

um filme de natal

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Era já de noitinha. Meio sonolenta e cansada, depois de um árduo dia de preocupações e preparativos em casa, caminhava agora por uma cidade deserta. Generosa deixou os filhos em descanso com os avós e vai em paz, pensando na vida, nas suas maleitas, observando quem nunca dorme, as árvores e as pedras da calçada. O seu destino é a igreja e o desejo de se juntar ao coro para cantar canções natalícias na missa do galo. As portas das lojas há muito que estão fechadas, as pessoas reunidas em suas casas, e nas ruas restam alguns resquícios de urbanidade: lixo ainda não varrido, passeios ainda não lavados, jornais do dia anterior por recolher, folhas secas levadas pelo vento, sonhos não trocados, sonos ainda não dormidos e despertares ainda não acontecidos. Dobra a esquina e passa junto à porta de um banco, um dos maiores. Do meio de alguns caixotes de cartão, acumulados a um canto, escuta tosse, muita tosse. Era impossível não dar com ele e observá-lo no seu sono e no encolhimento do seu corpo, acolhendo-se em si mesmo naquela posição fetal em que nos deitamos quando estamos desprotegidos ou abandonados. Ele dorme ali, escondido por um cão que lhe cobre as pernas encolhidas, e uma manta colorida que lhe serve de cobertor para o dorso e para o rosto. Generosa abranda o seu caminhar e aproxima-se lentamente.

Agacha-se com as mãos juntas por entre os joelhos dobrados, com cuidado para não o acordar, mas o seu coração dispara sobressaltado com o latido alarmante do cão. - Não se assuste minha senhora, ouve de uma voz cavernosa, ele é mesmo assim, assustadiço. - Peço perdão se lhe invadi o sono e o acordei, lamentou-se ela. - Ah, não faz mal, eu não estava a dormir e até estava de olho em si, diz-lhe o homem ao mesmo tempo que se revela, erguendo-se do leito improvisado. Mas subitamente o coração dela dispara e um nó aperta a sua garganta que seca. Vê um peluche numas mãos pequenas a sair do cobertor. Detêm-se sem palavras, desalentada com aquela cruel realidade. - É a minha filha, diz ele, já tão crescidinha e ainda brinca com bonecos, veja só! Generosa senta-se num banquinho perto da criança que dorme profundamente. A imagem daquela menina, já uma pré-adolescente, ali exposta aos rigores da madrugada fria, deixa-a dividida com um milhão de palavras e sentimentos que gritam na sua mente, imaginando como pode, se ela tem cama, casa e amor para dar aos seus filhos? Como é horrível estar-se assim!? Está na presença de uma sobrevivente, distante do seio materno, do aconchego do colo da mãe. - E a mãe, pergunta-lhe sôfrega? - Já cá não está… responde ele secamente. Não se preocupe minha senhora, já nos habituamos a aguentar o frio. - Mas e essa tosse? - Ah, quando chegamos a uma certa idade, qualquer pontinha de vento ou de humidade não perdoa, mas não vai ser esta maldita bronquite que me vai derrubar. - Devem estar com fome? - Não, obrigado por se preocupar mas não temos fome. Lá no albergue não nos faltam com nada e felizmente comemos sempre bem. Desta vez até trouxemos uns docinhos que sobraram da ceia de Natal...

Quedou-se em silêncio...

Eu sei o que está a pensar. Não é um presépio perfeito, pois não é! Não o escondo e nem tenho medo de admitir que já tive de mendigar. A má sorte e uns quantos vigaristas fizeram-me cair nesta miséria. E há por aí tantos como nós, mas ao contrário de muitos eu não me perdi na depressão e me entreguei à bebida ou às drogas. Não desisti de mim. E não desisti de procurar um futuro para ela... diz-lhe, enquanto ajeita o cobertor. Generosa escuta-o comovida - As portas fecharam-se para mim, sabe? É verdade, não desejo bom Natal a ninguém, não desejo... nada!... Estou amargurado porque só nesta época é que se lembram de quem precisa. Ela ouve-o agora com outra expressão. - Para mim isto do espírito natalício não faz sentido e até o considero hipócrita. Eu sei que nos outros dias não se anda a desejar mal uns aos outros mas será assim tão difícil ser-se solidário durante o resto do ano? Eu penso que não. Quando a saúde nos falta é que se torna tudo mais complicado. Mas quantos e quantos têm saúde, e vivem na pobreza? Quantos e quantos têm forças para trabalhar e vivem tristes e fracassados? Pessoas simples, que lutam muito, mas pouco conseguem. Quantos e quantos vêm o esforço de uma vida inteira desaparecer de um dia para o outro... e olha de soslaio para o edifício bancário. - É preciso erguer a cabeça, digo para mim mesmo. É lamentável quando confiamos e acreditamos piamente nas pessoas que depois, sem razão, nos viram as costas. Para quem apenas o dinheiro tem valor... De mim já espero pouco mas não como um fracassado. Espero viver o resto da vida de cabeça erguida e não vou sossegar enquanto não alcançar o cume desta montanha. Os grandes vencedores não são os que acertam à primeira, mas os que persistem até vencer. E olhe que paciência não me tem faltado...

Volta a imperar o silêncio. E ela, sem nada dizer, ouve mais isto da boca dele:

Vá minha senhora, siga o seu destino. Mantenha essa pureza de sentimentos, acredite em si. Tenha paciência e não desista. Não olhe só para os seus defeitos, mas reconheça as suas virtudes e qualidades. Não importa onde está o ponteiro do relógio da vida. Apesar de não haver sorrisos e presentes o ano todo, é só querermos e conseguimos manter acesa a chama da bondade e da generosidade dentro de cada um de nós.

E, sem compreender muito bem o que tinha acontecido, Generosa lá foi de passo acelerado para as cantorias da igreja, pensando se tudo o que viu e escutou não passou de um sonho ou a mais pura realidade.


"Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação."

Charles Chaplin

Banda sonora: Foo Fighters - Home (Echoes, Silence, Patience and Grace)


quinta-feira, dezembro 23

last chance workout

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Pois é, mais um ano, mais um Natal, mais um pequeno sacrifício para se largar alguns a€reos para o nosso querido Pai Natal que, tal como eu, anda nas lonas… Está a aproximar-se a data limite para as compras de Natal e, como um bom tuga que me prezo, também me é tradicional completar a lista de presentes mesmo à última da hora, mas desta vez não. Desta vez resolvi encurtar a minha lista, de forma a sobrar-me tempo e dinheiro, até para outras coisas, como por exemplo manter a boa forma.

A todos um bom Natal, festas felizes, paz e saúde, blá blá...blá e preservem o bom humor e o espírito natalício, ó faxabôre, até para enfrentar o maralhal que entope o transito e as entradas e saídas dos shoppings. Isto é que vai uma crise!



terça-feira, dezembro 21

"os medrosos anónimos"

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“Teatrando” é um projecto do Centro de Educação e Terapia (CRIAR) de teatro e expressão dramática para adolescentes e jovens adultos que pretendem associar ao seu desenvolvimento e autonomia, uma formação e orientação na realização das suas actividades comuns. Este grupo de jovens conta já com quatro peças originais, apresentadas no Pequeno Auditório do Teatro Municipal Rivoli: "Conflitos", "Auto da Barca da Escola" e "Comunicando".

“Toda a gente tem os seus medos, são uma emoção central na nossa vida! Alguns são medos racionais e protegem-nos, outros irracionais e não sabemos lidar com eles...” Este foi o mote da reflexão que, perante muitos convidados, o Teatrando levou, ontem à noite, à cena na peça “Os Medrosos Anónimos”... Tem gente que tem medo de trovão e andar de avião. Outros temem os bichos e a escuridão. A criança tem medo do polícia e a velhinha do ladrão. E tu, de que tens medo? Eu, eu tenho medo de injecção. "Oh, pá, quem tem cu tem medo!..." ou "Quem tem medo compra um cão!..." Quando o medo começa a atrapalhar as nossas vidas, a solução (quase sempre é simples na teoria mas difícil na prática) é levantar a cabeça e compartilhar. É importante descobrir que outros sentem os mesmos temores e saber como enfrentar os seus medos.


Procurar através da arte dramática, da criatividade e convivência destes jovens, no desenvolvimento das suas necessidades e potencialidades, foi a forma que Teresa “Tecas” Madureira, encontrou para os orientar como protagonistas de um desafio que é representar. No grupo “Teatrando” simplesmente não existem diferenças, todos são estimulados a identificar as suas capacidades, a encarar os obstáculos e vencer os desafios que a vida e a sociedade lhes impõe. Juntos eles aprenderam a compreender o outro, convivendo com as suas personalidades de uma forma harmoniosa. Trabalham os aspectos da socialização, da cognição, o falar sobre as experiências do seu quotidiano, hoje eles conseguem ver que são especiais e bem mais capazes do que se viam antes. No palco passaram a ver a vida com outros olhos.

Elenco:
Afonso Carvalho
Andreia Cunha
Beatriz Valente
Daniela Viana
Maria João Silva
Pedro Sousa
Rafael Almeida
Tomás Babayans
... mais o Hugo que entrou de improviso. Os meus aplausos a todos, especialmente ao Rafa.


segunda-feira, dezembro 20

postal de boas festas

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... e assim decidi também vos enviar por e-mail!


sexta-feira, dezembro 17

lá fora...

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Não está frio nem orvalho. Está um grizo do... até me fez arrepiar caminho e chegar mais cedo no gabinete. Ahhhhh... e cá dentro estou tão quentinho! Estarei a ficar velho!?

Adenda músical ao poste (a este e ao anterior):

Oh Paulofski, se cá nevasse fazia-se cá ski...




o pagador de promessas!

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Há cerca de três anos, o discurso de José Sócrates sobre a nova Lei da Nacionalidade surpreendeu os que prestavam atenção às palavras do primeiro-ministro. Isto porque, no meio das frases da praxe, Sócrates pediu o esforço de todos por um país mais... pobre!



Passado este tempo todo, pelo menos não o podem acusar de não cumprir aquilo que prometeu...


quarta-feira, dezembro 15

voilá

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Eu sou feliz. Ontem eu estava assim. Hoje estou assim e certamente amanhã também estarei assim. É claro que tenho momentos em que me irrito comigo mesmo. Há alturas que me espanto com os outros, me entristeço com o mundo lá fora e me surpreendo com o mundo cá dentro. Contudo, mesmo não sendo muito sorridente, nos meus piores dias eu me considero um mal-humorado feliz.


segunda-feira, dezembro 13

um bom passeio

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Passear é já de si uma experiência agradável, mas se o fizermos num Domingo de manhã, na companhia do rio, do mar e da natureza, é ainda mais rico. A frescura matinal, o frenesim dos pássaros, o caminho que convida, o povo que circula num ritmo diferente da semana, o ambiente descontraído de ciclistas e turistas num passeio em família de maquinas fotográficas em punho. Para além de todos esses dados de interesse, o meu passeio de ontem teve um acrescento de novidade no regresso a casa: uma imensidão de pais-natais, vestidos a preceito, que vagueavam pelas ruas e iam enchendo as esplanadas dos cafés.

O passeio traz vários benefícios, não só à nossa saúde mas também ao ambiente. Tal pressupõe deixar o automóvel na garagem e circular a pé, ou de bicicleta no caso de se percorrer distâncias maiores. Num simples percurso a pé abrandamos o ritmo acelerado do motor e ganhamos tempo para apreciar a paisagem, respirar ar puro, assentar ideias, apanhar sol, aproveitar esse momento íntimo que é uma caminhada, a sós ou com uma bela companhia. Num passeio de bicicleta a nossa vida pode melhorar consideravelmente, pois enquanto o fazemos abstraímo-nos do dia-a-dia e os problemas passam para segundo plano, ou tendem a não parecer tão relevantes. E, se assim não for, há que fazer um esforço para que as distâncias não cansem tanto acompanhando e comunicando com outros amantes da arte do pedal.

Muito provavelmente algumas das grandes ideias de grandes génios devem ter surgido enquanto apreciavam um passeio, vendo e assimilando o mundo que os circundava, vivenciando cada forma, cor, brisa, aroma, experimentando cada sensação.


sexta-feira, dezembro 10

comensal

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Uma mesa vazia parece expectante, rectangular, fria. Qualquer coisa pode acontecer ali. Um reencontro, uma conversa, uma celebração. Uma toalha de linho segura a mesa àquele lugar, quente, àquela sala, para que algo aconteça. Uma refeição, um copo de vinho, um café. E é em torno da mesa de jantar que os convivas se reúnem em convívio por estas noites. O gosto pela boa companhia, pela boa comida. Os amigos. A celebração da vida. Já se disse que quando se come se inicia uma viagem. Nada melhor
nesta época do ano do que juntar todas essas coisas numa viagem gastronómica pela alegria, pela boa disposição e amizade confraternizadora.

Bom fim-de-semana.


quinta-feira, dezembro 9

aniki-bobó

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"Aniki-Bóbó" é um filme português de 1942, realizado por Manoel de Oliveira, a sua primeira longa metragem de ficção. O filme inspirou-se no conto "Meninos Milionários" de Rodrigues de Freitas e foi quase totalmente rodado em exteriores, nas zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia. Ilustra as aventuras e os amores de rapazes e uma rapariga numa viagem à infância através do olho da câmara, o olho da memória. Dois rapazes, Carlitos (Horácio Silva, actualmente com 80 anos) e Eduardinho (António Santos), mantêm uma rivalidade devido à afeição que nutrem pela mesma rapariga, Teresinha (Fernanda Matos, também com 80 anos). Para conquistar as suas boas graças, Carlitos decide roubar uma boneca, aproveitando a distracção do lojista. Quando o grupo de amigos assiste à passagem dum comboio, Eduardinho escorrega, rolando pelo morro, caindo a poucos metros da linha férrea, gravemente ferido. Todos pensam que fora Carlitos a empurrá-lo e tratam-no com desprezo, mas o lojista que tinha sido testemunha do acidente repõe a verdade.

Quando o filme estreou no Cinema Éden, em Lisboa, foi mal recebido pelo público que o vaiou. O valor e a importância da obra só foram unanimemente reconhecidos muito após a sua estreia, encarregando-se o tempo de tornar "Aniki-Bobó" numa obra-prima do cinema português, apesar de muitos dos protagonistas serem actores amadores.

Aniki-BéBé
Aniki-BóBó
Passarinho Totó
Berimbau, Cavaquinho
Salomão, Sacristão
Tu és Polícia, Tu és Ladrão.

"Aniki-Bóbó", a fórmula mágica que nas brincadeiras de crianças permitia determinar, sem discussão, quem era polícia e quem era ladrão. Outras fórmulas mágicas existiram e existem ainda em algumas brincadeiras e jogos de muitas crianças, as caçadinhas, as escondidinhas, da bola… Surpreendentemente "Aniki-Bobó" continua a revelar-se moderno face a algumas realidades da vida, de liberdade e de responsabilidade, do imaginário de meninos livres, pobres e aventureiros. Fascinado desde sempre por esta emblemática obra cinematográfica portuguesa, nela me revejo, outrora parecido com o Carlitos, tanto no aspecto físico como na sua timidez envergonhada, silenciosamente apaixonado, sossegado, distraído e amedrontado, na cidade que me conhece e em lugares e cenários que a minha memória e a actualidade habita.

O filme de Manoel de Oliveira volta hoje, numa nova versão restaurada e remasterizada, a ser exibido nas salas de cinema portuguesas e será também editado em DVD. Também a curta-metragem documental "Douro, Faina Fluvial" de 1931, será exibida nos cinemas em complemento à longa-metragem. No próximo sábado o cineasta celebra 102 anos de vida. É obra.




quarta-feira, dezembro 8

beautiful boy

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Uma morte que nunca é esquecida. Ano após ano, os fãs de John Lennon concentram-se nos dias 9 de Outubro (do seu nascimento) e 8 de Dezembro (da sua morte) numa área do Central Park baptizada de "Strawberry Fields", numa alusão ao título da emblemática canção dos Beatles. Um mosaico no chão tem a inscrição "Imagine", uma das músicas mais famosas compostas por Lennon em 1971, após a dissolução dos "quatro jovens de Liverpool". John Lennon, o culto do artista com os seus óculos redondos, longos cabelos e comentários pacifistas, simbolizou uma época. Tornou-se uma lenda e continua ainda a inspirar novas gerações. Partiu cedo e deixou muita música por fazer... Como eu imaginaria o mundo hoje se Lennon ainda estivesse por cá? Não imaginaria um mundo diferente deste, pelo menos.



(A Perfect Circle - Imagine)


segunda-feira, dezembro 6

uma metáfora simples

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Com a quadra natalícia chegava o circo. O Natal significava cor, música, animais, palhaços, alegria, crianças, pais e Coliseu! Ano após ano, o palhaço pobre, inocente, solidário, mal vestido, transmitia uma melancolia esborratada na sua cara pintada e uma triste sensatez na bondade dos seus olhos. O espectáculo obrigava a que o palhaço nos fizesse rir, e as crianças riam. Riam das diabruras, traquinices, e das palhaçadas que fazia ao palhaço rico. Era actor alto, baixo, gordo, magro. Era palhaço careca, de peruca colorida, chapéu e nariz proporcionais aos sapatos. Eram homens engraçados que sabiam como ninguém tirar um sorriso espontâneo de cada criança. Todos se divertiam, até os adultos! Com o passar dos anos, eles, os verdadeiros palhaços, foram perdendo o seu lugar. A cada década alcançada, menos espaço eles tinham, e com eles também os pequenos circos foram desaparecendo, quase em extinção. O palhaço era a expressão da alegria, o palhaço era a expressão da vida no que ela tem de estimulante, sensível, humana. Os palhaços que antes divertiam toda uma família são agora parte do passado. Agora há outra classe de palhaços. Os palhaços contemporâneos. Actualmente somos nós os palhaços. Colocamos o nariz quando não queremos, tiramos quando não devemos. A cada momento que passa. Mas se a alegria estiver presente cultivemos o riso e a palhaçada. Acho que é mais ou menos por aí, com certas coisas da vida. E quem foi que disse que as coisas simples não são engraçadas?


sexta-feira, dezembro 3

valsa azul num palco branco

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Quase 24 anos depois do calcanhar de Madjer e da arma secreta de Juary terem dado a volta ao Bayern, com dois golos que depois deram a volta ao Mundo, os heróis de Viena voltaram ontem ao antigo Prater. E foi de memória, de recordações e de uma alegria genuína que se tratou este regresso ao palco que lançou o Futebol Clube do Porto para a primeira linha do futebol europeu. E de memória guardo bem as circunstâncias em como vivi esse momento.


Havia assentado praça na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, uma semana antes para o serviço militar obrigatório (só mesmo obrigado!). Naquele dia, 27 de Maio de 1987, depois da alvorada, as tropas recrutas formaram na parada do aquartelamento do Casal do Pote com o equipamento de ginástica vestido. A manhã despontou soalheira, mas de leste, por entre as camaratas, soprava uma fresca brisa ribatejana de fazer arrepiar o esqueleto. O meu estado de espírito não seria dos melhores, não só porque estava ali numa triste figura mas porque sabia não haver muitas hipóteses de poder a assistir à grande final. Aos recos, apenas lhes cabia a disciplina e prestar obediência, para só ao fim de seis semanas de recruta serem "promovidos" a maçaricos e conquistar o direito a entrar no bar de praças, local onde havia um televisor disponível. Restava-me pois um rádio a pilhas para me dar notícias das incidências da partida. Depois do rancho, já a caminho das camaratas, deram-nos a melhor das notícias. O Sargento Soares, indefectível portista que mal conhecia mas que a partir desse dia não mais esqueci, havia desenrascado uma autorização superior e mandou colocar um aparelho de televisão no refeitório. Após a ceia, impreterivelmente servida às 18:30h, arrumou-se a sala, alinharam-se as cadeiras e sintonizou-se a antena para vermos a transmissão da bola. Quando deram o pontapé de saída já todos os requinhos, ou feijões verdes, como preferirem, estavam a dar palpites e insultos ao árbitro. A larga maioria era adepta de outras cores, e poucos, muito poucos, roíam as unhas. A primeira parte não nos correu de feição. Eu e o Neves saímos ao intervalo para um cigarro retemperador, verter águas e refazer as fezadas. Para a etapa complementar, ao apito do árbitro, voltaram apenas três fiéis adeptos azuis e brancos crentes numa reviravolta. Eu o Neves e o Sargento Soares que se juntou a nós dizendo estar farto de ouvir bocas dos mouros! Todos os outros ou foram engraxar botas ou espreitavam para nos fazer troça com umas piadas. Mal eles sabiam que esses treze heróis (os onze iniciais mais o Juary e o Frasco) iriam voltar ao campo de batalha para conquistar a mais bela vitória frente aos bávaros. No fim do jogo nem é preciso dizer mais nada. Exultámos em delírio, abraçados num choro de incontida alegria e a soluçar como uns meninos, enquanto alguns dos descrentes voltavam incrédulos, curiosos com o que havia sucedido. O capitão João Pinto corria agora louco pelo relvado, com a taça bem segura pelas mãos, pousada na cabeça, e eu imitava-o, empunhando firme as garrafas de cerveja mini que iam parar à minha mão em substituição do vasilhame. Subitamente um estranho sentimento, misto de euforia e tristeza, se abateu sobre mim quando me apercebi de que faltava mais qualquer coisa. Não poderia estar na festa dos dragões, a festejar pelas ruas da Invicta rodeado das gentes tripeiras. E ali fiquei, sentado na soleira da porta a nortear o olhar no horizonte que escurecia, de pensamento perdido até ouvir o soar da corneta para o recolher.

Ontem, o jogo do Porto no Prater fez-me soltar sorrisos e memórias, até de uma outra final, a de Dezembro do mesmo ano, às três da matina, com neve e temperaturas negativas. O cenário branco e gelado de Viena fazia recordar outro palco glorioso, o de Tóquio, onde ganhamos a Taça Intercontinental aos uruguaios do Peñarol, mas aí eu já estive a assistir em casa, a torcer e a festejar com os meus melhores amigos.





сволочи русские

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Sabia-se que o objectivo da candidatura ibérica seria a médio prazo, e, até 2018, quem sabe se não nos tornaríamos definitivamente mais uma província espanhola! Mas os senhores da Fífia assim não quiseram e declinaram as azeitonas ibéricas dando preferência à vodka e ao caviar russo. Agora, que teria dado todo o jeito ao Zezinho desfraldar mais esta bandeirinha para distrair o pobinho, lá isso teria!



quinta-feira, dezembro 2

e bibó luxo

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Estou sentado num varandim da “área alimentar” de um dos mais tradicionais shoppings da cidade, onde me refugiei enquanto espero uma boleia que me levará a casa. Sinto-me como um peixe fora de água. Tento acordar do marasmo numa chávena de café, observando o reboliço dos corredores. Lá fora um vento outonal que sopra forte, trazendo as agruras do Inverno para quem anda na rua. Cá dentro parece que ninguém tem esse problema. Parece que ao transporem a porta automática deixam os problemas do lado de fora, enquanto acumulam dívidas nos cartões de crédito. Reparo no luxo das lojas, das que consigo ver, com montras que mais parecem guarda-roupas de alta costura, joalharias de reluzentes tentações e ostentações, estilizados televisores e computadores hightech, um luxo estampado em cada detalhe dos escaparates. De verdade ou de aparência, a maioria dos clientes também desfila o seu luxo. Que muitas pessoas podem e merecem viver rodeados de luxo eu não coloco em dúvida. O que não pode, a meu ver, é os ricos acharem que o mundo se restringe ao seu espaço e o dinheiro a única mola que move o mundo, esquecendo-se que a vida é uma comunidade. Que ninguém, mas ninguém mesmo, merece viver do lixo e no lixo, não me resta a menor sombra de dúvida. Espero que um dia as pessoas tenham consciência que entre o luxo e o lixo há um sonho dourado que se pode desfazer à mais pequena distracção. Vem aí o Natal e a afluência de fluxos de gente aos centros comercias, às mecas do consumismo. Somos consumistas, está-nos no sangue. Consumimos do que precisamos e, principalmente, o que não precisamos. Que cada um viva a sua vida com bom senso e responsabilidade, na construção de uma sociedade mais humana e fraterna, e que a esmola seja coisa do passado agora substituída pela partilha. Que venha o luxo na medida certa das posses financeiras e que o lixo nunca seja o destino de um ser humano.


quarta-feira, dezembro 1

aos namorados

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Há quarenta e oito anos selaram a união com o “Sim”, que nos deram a vida e nos ensinaram a vive-la com dignidade. Não bastaria um obrigado. A ti, mãe e pai, que iluminaram os caminhos com afecto e dedicação para que os trilhássemos sem receios e cheios de esperanças, não bastaria um muito obrigado. A vocês, que se doaram inteiros e nos incluíram nos vossos sonhos, para que também nós pudéssemos realizar os nossos. Pela compreensão e pura amizade nesta nossa longa viagem, não bastaria um muitíssimo obrigado. A vocês, pais por natureza, por amor e devoção, não encontro mais palavras para vos agradecer tudo isso. Mas é o que me acontece agora, quando procuro uma qualquer forma verbal de exprimir uma emoção tão forte. Amamos vocês!

Nós todos.