quinta-feira, dezembro 31

as boas vindas ao MMX

Partilhar



Não tardará muito e ele estará aí a bater à porta para render o velho rabugento MMIX. Foi-se mais um ano. Foram-se mais doze meses de instantes, momentos, alegrias, memórias, ilusões, situações, tristezas, certezas, miudezas… E tu tem calma ó Tempo, andas sempre com tanta pressa e para quê! Até parece que foges de alguém! Será do passado? Relaxa pá, respira um pouquinho, tira uma folga, umas férias, sei lá! Dá tempo ao Tempo. Ano após ano, retomas essa correria desenfreada de números, ponteiros, cucos, calendários, sombras, dias e noites, noites e dias, sempre apressado, sempre stressado. Espera só um minutinho que não te roubo muito tempo. É que é cada vez mais difícil acompanhar o teu ciclo e eu já não caminho para novo, sabias? Muitos dizem que às vezes és o melhor remédio, tenho que admitir que em alguns casos és mesmo, mas como eu disse só em alguns casos. Não estou com pressa e gostaria de aproveitar mais o caminho, que tal me deixares apreciar as paisagens distraído num devaneio e, esquecido que passas, poder estancar os teus dias. Mas tu rebocas os meus pensamentos, desbotas as minhas lembranças. Vês, já passou mais um bocadinho e ainda não te disse sequer metade do que pretendia! Pronto, despeço-me de ti seu ingrato, venha de lá essa nova década, esse novo ano e com tão poucos feriados…

Feliz Ano Novo e desejos de boas entradas com muita alegria e consumo mínimo.


terça-feira, dezembro 29

que virtualidade tão real

Partilhar

Excluindo o trânsito caótico, a hora de ponta no estacionamento do centro comercial e a confusão de gente que há à 2ª feira, uma ida ao cinema pode também ser um bom programa de inverno. Assim eu e o meu jovem herdeiro lá nos aventuramos ao encontro de amigos e de óculos na mão fomos assistir à megaprodução do momento, Avatar. Não se preocupem que tentarei revelar o menos possível, se isso me for possível!!!

James Cameron, o realizador de "Terminator", "The Abiss", "Aliens", "True Lies" e "Titanic", transporta-nos para um hipotético futuro de mundos alienígenas, planetas pitorescos e déjá-vu’s argumentados nas telas de cinema. Pandora é um lugar psicadélico, repleto de vegetação fluorescente, com uma flora de encher os olhos e uma fauna hostil, bem ao estilo de "Jurassic Park". A analogia com os índios do continente americano é evidente, relegando-nos de imediato para um antigo western ou para o recente "Apocalypto". O desenvolvimento da história resume-se à ambição desmedida e ganância do ser humano em relação aos recursos naturais do planeta, e de certa forma o enredo remete-nos para a prática colonialista, comum a séculos de história e a contínua destruição de habitat e meio ambiente causadas pelo Homem. A missão do protagonista visa controlar um organismo artificial e infiltrar-se na tribo de habitantes indígenas, ou alienígenas, como queiram, criando um vínculo com estes seres de três metros, aspecto felino, pele azulada, cauda e orelhas pontiagudas. Associar Avatar a filmes como "Dances With Wolfs" e "Matrix" não deixa de ser engraçado. O argumento tem algumas inconsequências mesmo com a notável criação da espécie e cultura Na’vi (ai o que nós poderíamos aprender com eles!), a acção entra depois num diabólico carrossel de efeitos especiais bem à moda de "GI-Joe"… alto que já estou a revelar a ponta do iceberg e não quero aumentar o rombo ao "Titanic"! Com a técnica aprimorada de James Cameron e o excelente trabalho da equipe de efeitos visuais, a tecnologia 3D coloca-nos dentro da cena com um realismo tal que nos deixa pregados à cadeira durante quase três horas. Aqui, sem serem visualmente evasivos, os efeitos em terceira dimensão foram criados em função da narrativa e são tão singelos que surgem naturalmente. Depois do que vi e à parte do facto de ter ficado com os olhos irritados, gostaria que houvesse uma sequela do filme, só pelo simples gosto de conhecer um pouco mais daquele fascinante povo e planeta.

segunda-feira, dezembro 28

programa de inverno

Partilhar

Não é surpresa para ninguém que por esta altura a natureza muda de figura e entramos na estação do frio e da chuva, como se já não tivesse eu notado nos pés e nas orelhas os rigores da estação! Bem, nesta época o clima altera-se subitamente, está ventoso, este ano em demasia, o céu cobre-se cinzento e chove a potes. Ontem a noite estava particularmente fria e a tempestade fustigava fortemente a janela, deixando no ar um cenário de magia e temor, convidando-nos a ficarmos bem juntinhos, a curtir o sofá e o edredon, procurando o nosso aconchego também no calor humano. Que não hajam dúvidas, o cenário do lado de fora da janela era assustador. Com a chegada do frio há sempre um certo encanto e magia, a cada Inverno que passa acontece sempre a mesma coisa, e mais intenso quando ele resolve aparecer de verdade. Na televisão passava a segunda sequela do filme "A Idade do Gelo", que por incrível que possa parecer eu ainda não tinha assistido, e numa noite assim como essa o tema do filme não poderia ser o mais apropriado para me aquecer os pés e o bom humor. Se pudesse eu hibernava!

quarta-feira, dezembro 23

à conversa com o Pai Natal

Partilhar


Logo este ano que eu não tinha planeado escrever a minha carta ao Pai Natal, ao contrário do que fiz no ano passado, não é que por uma feliz ou infeliz coincidência, acredite quem quiser, encontrei-o aqui no gabinete! E nos preparos que vocês podem testemunhar, todo acalorado e bem refastelado!

Eu
- Ó xôr Pai Natal, mas então o que vem a ser isto! Olhe que este é um gabinete de respeito, hããã! E já agora, reparando bem em si, diga-me cá, você é mesmo o Pai Natal? É que com esses modos vai lá vai, ó Faxabôre?

Pai Natal
- Ei Man,
achantra lá essas perguntas, pá. Já pareces a velha! Primeiros, deixa que te diga que tens aqui um gabinete muito porreiro, pá. É quentinho e confortável. Segundos, cheguei com aquela ridícula farda vermelha toda encharcada, despi-a e estendi-a a secar enquanto me aqueço um pouco ao som do rock. Terceiros, pá, por acaso não terás por aí umas cervejolas fresquinas? É que já enjoei a coca-cola. De resto tá-se bem, Man!

Eu - Sabe Pai Natal, não estava mesmo nada à espera de o encontrar aqui e muito menos deparar com um velho todo curtido, de piercings e tatuag
ens!... Não estou a reconhecer o velhinho bondoso e bonacheirão que tira fotografias nos centros comerciais para agradar a criançada! Olhe lá, o senhor não deveria estar por esse mundo fora a trabalhar e a preparar as suas encomendas?

Pai Natal
- Ho ho ho… eu só trabalho dois dias, pá, de 24 para 25! Para além do marketing só faço as entregas ao domicílio. Estou farto de poses fotográficas e putos irrequie
tos, os paizinhos deles que os aturem. Ah, e já nem falo da tal da gripe!

Eu
- E o que faz nos restantes 363 dias do ano?

Pai Natal - Toco guitarra o ano todo, tás a ver! Afinal, sou ou não sou o patrão! E vamos já combinar uma coisa pá, daqui prá frente eu não te chamo de Paulofffvvvskyi, ou lá como é, e tu não me chamas de Pai Natal, que eu não sou pai de ninguém, ok Man?

Eu, o Man
- Ok Man, está combinado! Então como quer que o chame?

Pai Natal
- Eu sou o Nicolau, Nico p
ara os amigos, e olha que de santo tenho muito pouco, como podes ver Man! Agora ando a curtir numa de rock, da pesada, tás a ver? Vai um charuto, Man?

Eu, o Man
- Não obrigado… Nico!

Nico
- Sabes, pá, cada vez entendo menos esta gente. Porque será que alguns gostam de me imitar com barbas postiças se são maus actores, ainda por cima nem acreditam em mim? Pedem tudo e mais alguma coisa quando eu não prometo nada!

Eu, o Man
- Sabe Nico, eu acredito em si, ma
is do que nos políticos! Então explique-me lá como é que se passa assim tão de repente de bonacheirão a estrela de rock !?

Nico
- Yééé Man, curte. Os putos de agora só ligam à internet, aos telemóveis e às consolas. Nos últimos anos tenho recebido carradas de pedidos dessas coisas. Ora, como eu passo a maior parte do tempo lá na Lapónia de papo pró ar, tanto joguei que acabei por me viciar num jogo desses novos. Consolei-me tanto que até me converti em roqueiro! Tás a ver Man?

Eu, o Man
- Ah sim, não estou a ver! E qual é o jogo?

Nico
- Acorda, Man, é o Guitar Heroe. Actualmente, o sonho da
malta jovem é ser ídolo, não importa como. Querem sempre mais e mais e depois enjoam rapidamente! Não sei se sabes mas o jogo até que é bué da fixe, Yeaaah Man! Já experimentaste?

Eu, o Man
- Não, mas pelo que sei não devo ter unhas para aquilo. Estou surpreendido consigo, sabe? Estou pr’aqui a pensar se não descobri a face oculta do Pai Natal!?

Nico
- Ho ho ho… estás um cota do caraças, Man. Tu vê lá, pá, não me confundas com esses gajos. Até que sou da pesada mas nem tanto, tás a ver? Já tenho uma banda de rock e tudo, pá. Tás
a curtir o som? É porreiro pá.

Eu, o Man - Uma banda! A sério? Deve fazer uma dupla com o Rudolfo, imagino!

Nico
- Nããã, a esse narigudo revirei-lhe as antenas. Ó pra ele ali na parede, ho ho ho… Então não é que andava a reinar comigo e a escutar as minhas músicas. Se faço downloads ilegais isso é cá comigo. Shhhhh… e a velha não tem de saber disso, tás a ver?

Eu, o Man
- Estou, estou! Estou é um pouco aturdido com o que estou a ouvir. Mas que velho tão radical eu v
im encontrar. E as prendas, não se está a esquecer que tem o mundo à sua espera, ou vai dar a desculpa da crise mundial?

Nico
- E por acaso há crise por eu estar aqui na preguiça, há? O mundo que tenha lá calminha, pá, ou ainda encontram o sapatinho cheio de prendas das lojas dos chineses. E ai de quem reclamar das peúgas que ofereço.

Eu, Man
- Já agora, que mal lhe pergunte, não acha que deveria estar a ajudar as renas e os duendes. Devem estar cheios de trabalho la cima no Pólo, não estarão?

Nico
- E que trabalhem que é para isso que lhes passo recibos verdes
. Eu também tenho os meus métodos de gestão, pá. Isto agora com o desemprego que por aí há é fácil pró patrão, ou seja, pra mim. E sempre que me dá jeito, sou sabidola bastante para decretar um Lay-Off à empresa e aumentar a velocidade das renas. Se me aproveito disso? Claro que aproveito, pode quem manda, não é Man?

Eu, o Man
- Não posso crer. Você também é um desses oportunistas que se aproveitam do consumismo desenfreado da época para a exploração laboral?

Nico
- Confesso que não é lá muito honesto, mas que queres, pá?! Globalizaram o mundo de tal maneira que a tendência é de cada vez mais aumentar o consumo e deixar de honrar a tradição e o espírito do Natal


(entretanto toca um telemóvel, que não o meu)


…sim Maria, está bem Maria, tem lá calma Maria, já vou Maria!!!


Eu, o Man (a pensar com os meus botões e vendo-o a sair porta fora todo apressado) - Logo vi que a patroa manda mais do que tu, ó Nico!... Diacho, que esqueci de o lembrar da minha bicicleta nova!




Feliz Natal a todos e de preferência com prendinhas no sapatinho.


segunda-feira, dezembro 21

numa esquina perto de si

Partilhar

Algures, algumas vezes, já todos “tropeçamos” neles. Cruzamo-nos com seres humanos, pessoas que vivem na rua, que estendem a mão e nos pedem algo mais do que apenas uma moeda. Viramos-lhes a cara, fazemos de conta que não estão ali, mostramos desconforto e até sentimos nojo. Indiferentes, prosseguimos o nosso caminho, recusando ver a realidade que nos fere a alma e a consciência. É deprimente e chocante ver estas pessoas que bateram no fundo da sua condição social e às vezes humana, espezinhados pela vida, pela miséria, pela sociedade e pela injustiça. Por trás daquelas expressões vagas estão homens e mulheres, que já sem condições nem meios, tentam ainda manter um resto de dignidade e nos dão uma lição de coragem, de força e humildade, a todos nós que prosseguimos preocupados com as nossas pequenas aflições.

Ajudar reveste muitos gestos, muitas maneiras, muitas mãos, muito trabalho, muitas associações e todas valem a pena. Muito mais importante que a moeda, a comida e a roupa que possam receber, eles querem alguma atenção, querem quem fale com eles e que os ouça. Muitos provavelmente trocariam a esmola por um pouco de carinho. A solidão é brutal. Devemos o apreço e um profundo agradecimento aos que se preocupam, a todos aqueles que ajudam e se interessam, não só no Natal como no resto do ano, porque eles estão lá, sempre...

foto: Kirsten Bole

sexta-feira, dezembro 18

anunciando o que aí vem

Partilhar

Vem o fim-de-semana, depois a semana e finalmente vem o Natal. As decorações, multidões e habituais canções não as podemos evitar. Da onda consumista e doses maciças de publicidade que nos entra pelos olhos não pretendo anunciar. Anuncio que já me chegaram os odores inebriantes da época natalícia. Já lhes sinto o cheiro, um emaranhado de aromas que me desafiam e desejam alimentar o meu apetite voraz. Sinto o cheirinho da canela, do azeite e dos fritos colesterolizados. O perfume doce e tradicional de receitas feitas de sabedoria, em fornadas de prazer, que me aguça um desejo incontido e consolado de as receber num cabaz de fraternidade e calor humano. O espírito do Natal cheira-se na rua, nas casas de comércio tradicional, nos mercados típicos e barulhentos, nas praças de sortidos e encantados presentes. Se as mesas são fartas ou pequenas não importa, logo que o Natal seja vivido no conforto da companhia e regado a preceito. Da minha mãe já me sinto a lambuzar os dedos nas rabanadas e na tarte de natas. Da minha tia anseio provar o cabrito com arroz de forno e as filhoses de gila. Da minha sogra sonho com os coquinhos dourados e o pudim caramelizado. De Ovar quero deleitar-me com o pão-de-ló, e não me mete dó, da Serra desejo degustar o seu intenso amanteigado. Quero esses sabores açucarados que inspiram e convidam ao êxtase numa miríade de hidratos e calorias. Já me sinto pronto para as iguarias da consoada, encher-me de sonhos e folhados, queimar a língua na aletria e no leite-creme, redescobrir a contrastante textura do bolo-rei. Avelãs, amêndoas, amendoins, nozes e pinhões, venham a mim aos milhões. O espaço está há muito reservado, não farei nenhum tipo de restrição à gulodice. A bicicleta, essa que não perca pela demora!


Um bom fim-de-semana, pleno de coisas boas e de preferência gastar o quanto baste.

quinta-feira, dezembro 17

à vizinhança

Partilhar


Bem que eu vos queria enviar uns postais de N
atal, daqueles tradicionais e pessoais por correio, mas para isso teria de saber as vossas moradas. Ora, isso eu não vos vou pedir e tão pouco me apetecia agora gastar o meu rico dinheirinho com envelopes e selos... Até porque nada me garante que os receberiam!!!



Levem lá o postalinho, ó faxabôre, e já é muito bom!



terça-feira, dezembro 15

a ilha

Partilhar

Alinhar à esquerda

Para pintar a tela, simplificou os traços do quotidiano e deu destaque ao movimento. Se prestarmos bem atenção, aqui ao lado, ouviremos o badalar de um antigo relógio de sala, trazido pelo murmúrio do vento. Do cimo da ponte, a escadaria ganha magia de diorama e o casario a cor forte do ocre que os telhados ainda seguram. Para a colorir foi generoso na intensidade da cor e na mística da sombra, inédita, que concedeu à luz matinal. A pequena aldeia onde as casas se aglomeram e os tectos se acotovelam, é um conjunto de velharias que coscuvilham, densas e compactas paredes com ouvidos, mulheres dentro da aldeia, da ilha, como que formando um corpo só. Estendeu a cor da vida de uma forma simples, com predomínio na família, para realçar a energia da gente tripeira no seu cantar original de pregões e palavrões. Uma suave brisa, vinda lá do fundo das margens do Douro, balouça os trapos remendados por amor, finas texturas encharcadas ao sol e roupas de domingo estendidas por mãos talentosas, libertando o perfume lavado do sabão azul e branco. E enquanto aperta pela ultima vez o botão, que regista aqueles passos aligeirados, deixa cair um sorriso inspirador, talvez de um sonho, talvez de um rumor, e voa livre um olhar de soslaio, para o cimo da ponte, como que repreendendo o fotógrafo lá no alto.

(fotografia encontrada na imensidão da internet)

Adenda: Pssss... eu logo vi! Não foi de propósito. Cliquei onde não devia e assim deixei a ilha fechada aos vossos comentários. Que granda nabo qu'eu fui!!!


sexta-feira, dezembro 11

olá malta!

Partilhar

Já aqui o devo ter dito, ou não, que este gabinete tem a porta aberta a quem quiser entrar? Não disse? Acho que sim! Este blogue é um espaço no qual procuro expor as minhas ideias, gostos, opiniões, mas, apesar disso, a verdade é que tem estado pouco frequentado, ou seja, eu não tenho sido um bom anfitrião. O prazer de ter construído este gabinete virtual foi aumentando na mesma medida em que a minha, dizem, veia para escrever, blá blá blá... foi evoluindo, eu fui tendo a oportunidade de conhecer um pouco mais aqueles que por aqui recebo. Fui sentindo o gosto de exprimir e partilhar na blogosfera as experiências e vivências pessoais, convergências ou até algumas divergências do que nos rodeia, da vida, do mundo, do quotidiano de cada um. Aprender não envolve apenas um formalismo, mas a sabedoria, uma arte que nos leva a exprimir aquilo que vivemos, vemos e sentimos, através não só da escrita, mas também de imagens, sons e vídeos... e tudo isso pode estar num blogue. Não há coisas fantásticas? Claro que há!

Acredito que não seja falta de vontade da minha parte, o certo é que a partilha e a convivência, neste e nos vossos blogues, tem vindo a diminuir. A falta de tempo, o trabalho e obrigações, que não devo esquecer, têm condicionado a minha presença mais assídua pelo blogobairro, como nós gostamos de o chamar. Não é a obrigação que nos motiva, mas a liberdade de mostrarmos quem somos, não apenas como vizinhos deste mundo cibernético, mas como pessoas. Até para a semana.

E hoje faço um brinde com um Porto Vintage ao
grande mestre .

Bom fim-de-semana!

quinta-feira, dezembro 10

picada de enfermeiro

Partilhar



Ontem acordei disposto a ter um dia normal, um dia igual a tantos outros! Depois do snoozer habitual com o despertador, tentando-me acordar aos bocejos, saltei da cama num impulso e um estímulo mais que nervoso, vindo lá da sagrada zona sacro-ilíaca, acorda-me o cérebro e solta-me um esgar doloroso que me repuxou mais uma ruga da testa. Ui, agora é que estou feito! A praguejar com os botões do pijama, arrastei-me pela casa e nem uma chuveirada às pressas me curou o mau humor, nem me aliviou a incómoda dor que ao mínimo movimento me flamejava a nádega esquerda. Lentamente principiei a rotina de dar formas mais civilizadas à minha triste figura, encarei o rosto ao espelho, afaguei uma repa de cabelo que insistia em encaracolar-me a manhã e saí de casa. O mesmo caminho de sempre, os mesmos jardins, a mesma música, o mesmo frio infligido. As apertadelas no metro trouxeram de volta algum calor, mas breve. Aguardei com paciência que os outros passageiros saíssem e segui ao meu ritmo, lento. À mínima sacudidela do autocarro saltavam as letras do Destak e deixei a leitura para outra altura. Chegado ao ponto de desembarque, desço num estilo coxo, discreto mas que me garantisse uma imagem de cidadão saudável, afastando a possibilidade de alguma patologia motivar aquela minha caminhada. Vagarosamente, chego tardio no gabinete. O mesmo trabalho acumulado e desta vez com hora marcada para uma pica no braço. Para além do meu gabinete de trabalho terei por uns tempos de criar e secretariar outro. Ossos do ofício! De manga esquerda arregaçada lá fui oferecer mais uma vez o braço à picada de enfermeiro e deixar entrar o anti-H1N1 e seus sintomas colaterais de braço dolorido, leve febrícula, ligeira dor de cabeça e uma sensação de cansaço. Toda esta polémica de vacinar ou não a gripe A associada à minha dorzinha de estimação, e que se manteve desagradável a cada movimento insuspeito do meu corpo, fez-me lembrar quando eu era criança e como não me incomodavam todas as injecções que a minha enfermeira privativa me dava. As habilidosas mãos da minha mãe faziam-me sentir um valente. Já o meu pai, habituado que estava a prestar outro tipo de cuidados, tinha uma agulha mais pesada, a qual me deixava por vezes com um andamento coxo, igual ao de ontem, só que durava por mais uns oito dias! São quase três da manhã, tenho o braço e o rabo doridos, não encontro posição para dormir e estou para aqui a escrever sobre a minha curte pré e pós vacina. Podia-me dar para pior! Acho que tive uma ideia, vou procurar numa morna xícara de chá de camomila a influência necessária para encontrar o sono perdido.


segunda-feira, dezembro 7

tck tck tck... chegou a hora

Partilhar



“Se todos conseguirmos fazer do nosso pequeno canto, um mundo melhor, ele vai reflectir-se no mundo dos outros”...

Escreveu aqui a Patti há dias, comentando assim o post "quem sabe um dia"… Permite-me que recorra às tuas sábias palavras para emoldurar esta minha pequena participação na campanha pela justiça climática. O pouco que todos os dias pudermos fazer por ele, pode certamente melhorar o mundo de todos.



sexta-feira, dezembro 4

não, não estou com gases

Partilhar

(vejam lá o videozito que está muito bom)



O que herdamos do passado e este presente que nos afigura, é continuarmos a não saber conciliar o desenvolvimento mundial e conservar a natureza e a biodiversidade. Deveria fazer parte da obrigação do ser humano preservar, respeitar os ecossistemas, manter as espécies. Para se desenvolver, o Homem não tem de destruir. Destruindo o meio ambiente não se desenvolve coisa alguma, gera-se apenas pobreza de um enriquecimento de curto prazo. As florestas tropicais são os pulmões do planeta, mantêm o estado de equilíbrio de todo um ecossistema, de toda a Bioesfera, e o uso irracional da floresta leva rapidamente à erosão, à desertificação, à destruição da vida. Cada vez menos pessoas vivem num meio natural, rural ou florestal e a preservação é uma realidade distante para as pessoas que moram nas cidades. Para muitas, as suas rotinas, necessidades, o seu quotidiano faz com que se esqueçam que a sua própria existência depende da preservação e respeito do meio ambiente, depende das florestas, da água, do ar. Daqui a 150 anos a temperatura do planeta registará mais três graus, o gelo irá derreter mais rapidamente e fará com que os oceanos subam e reduzam a área terrestre. Se os países mais ricos não chegarem urgentemente a um entendimento, a um compromisso ambiental para que reduzam drasticamente as emissões poluentes, industriais, rodoviárias, é um facto e não uma visão futurista. O meio ambiente faz parte do desafio social que nós temos.



Copenhaga não é longe mas a caminhada será longa! Se é para a semana que começa a Cimeira onde supostamente vários líderes mundiais pedirão desculpa... perdão, negociarão sobre o clima, o aquecimento global, supostamente salvar o que resta acordando reduzir as emissões de gases, já se sabe que está cada vez mais distante que venha a ter sucesso. Infelizmente parece cada vez mais certo que a cimeira de Copenhaga sobre as alterações climáticas não irá ter resultados concretos. Cada um puxa para o seu lado e ninguém pensa realmente na saúde do planeta. Os países em desenvolvimento, como a China e a Índia, defendem que países ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido devem dar um "claro exemplo" na redução de emissões de gases como efeito de estufa. Na época de Bush, os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Quioto com o argumento que a redução exigida por Quioto (menos 5% de emissões) iria "arruinar a economia dos Estados Unidos"!, além de não exigir reduções aos países emergentes. Viu-se! A economia americana arruinou-se, arrastou muitas outras e não foi por causa disso. As possibilidades de se alcançar um acordo aumentaram com a chegada de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. No entanto, o presidente americano enfrenta um problema interno, já que o Congresso ainda não aprovou legislação para reduzir as emissões de CO2, o que se prevê vá colocar em causa um acordo em Copenhaga. Gostaria de esperar que algumas das medidas apresentadas fossem fortes e decisivas para realmente se darem verdadeiros passos para futuras reduções. A China como pais em desenvolvimento e actualmente o maior poluidor mundial deve tomar medidas concretas bem mais fortes. Os Estados Unidos, como maior país desenvolvido do mundo, deve assumir as responsabilidades do seu passado histórico de maior poluidor e adequar-se ao seu nível de desenvolvimento, repensar as suas metas para a redução das emissões até 2020. Tretas! Isto tudo não passará de mais tempo perdido, muitos milhões gastos em mordomias, em segurança histérica, em mega-manifestações, em suma, vão espalhar a confusão e enviar mais umas quantas toneladas de dióxido de carbono desnecessárias para a já mais que doente atmosfera. E mais uma teoriazita conspirativa para aquecer o ambiente: Alguns hackers acederam, através de um computador da Universidade de East Anglia (Reino Unido), a centenas de emails trocados entre conhecidos climatologistas britânicos e americanos, onde supostamente se discutem formas de manipular dados científicos para combater os argumentos dos cépticos e acentuar a ideia da origem humana do aquecimento global. E esta heim!

Bom, tenham pelo menos um quentinho fim-de-semana, ó faxabôre!

quinta-feira, dezembro 3

no confessionário

Partilhar

A rotina de escrever para o blogue coloca uma série de dúvidas e traz-me incertezas. Uma delas tem sido a escolha do tema. Ontem à noite, enquanto jantava, pensava no assunto, o que poderia escrever, e surgiu-me a ideia de falar sobre um tema ao qual muitos de vocês já devem ter pensado, ou não! A percepção cada vez mais consciente que a rotina de escrever para o blogue faz sobre as nossas vidas! A mim tem me feito bem, tem revelado as minhas emoções e sentimentos, o que é muito importante para o meu crescimento pessoal e busca constante de conhecimento, mas não fico a matutar muito sobre isso. Raras são as vezes que mal acabo de postar um texto já tenha imaginado o seguinte. É que passam muitas outras coisas pela minha cabeça e é sobre ela que escrevo agora! Algures sei que a perdi, mas onde!?

quarta-feira, dezembro 2

quem sabe um dia

Partilhar

...voltarei a ser criança. Não, não me estou a antecipar a vocês e enviar desde já a minha carta ao Pai Natal! Iria simplesmente fazer umas pesquisas. Iria procurar um mundo diferente, muito diferente, onde as pessoas se lembrariam do que as rodeia, se importariam com o que fazem e pensariam nas outras. Um mundo que poderia ir ainda a tempo de ser melhor. Não quereria um mundo perfeito, não seria exigente ao ponto de querer o impossível. Muitos nem olham para a rua onde moram. A vida que têm já é exigente de mais para reparar nos outros, para cuidar. Eu entendo. Realmente, não ter uns sapatos que combinem com as calças, andar à chuva porque a gasolina está muito cara, não ter que ir trabalhar amanhã porque se está desempregado, estar constantemente a ser lembrado que é velho, não ter sinais exteriores de riqueza para exibir, não são preocupações que ocupam muitas cabecinhas! Muitas pessoas querem apenas o direito à justiça, não pediram uma vida infeliz e de miséria. Muitas pessoas não sabem como sair dali, têm um sorriso triste, um olhar vazio de quem sabe que vai passar o Natal sozinho, tal como os outros dias do ano. Algumas que bateram no fundo da sua condição social, e às vezes humana, homens e mulheres, que já sem condições nem meios tentam pelo mnos manter um resto de dignidade, de coragem e humildade para viver, e nós que seguimos preocupados com as pequeninas aflições mesquinhas do nosso dia-a-dia. Quem sabe um dia voltarei a ser uma criança e com paciência continuarei a procurar um mundo diferente, um mundo que nunca teve vontade de chorar, que nunca derramou algumas lágrimas ao ver o desespero que é não ter o que dar de comer aos seus filhos. Estarei a sonhar muito provavelmente e espero que muitos sonhadores me estejam a ler.


terça-feira, dezembro 1

manhãs de inverno

Partilhar

Como são doces estes dias de frio, mesmo quando chove. Há mais silêncio mesmo quando o vento bate cortante na janela. Tudo e todos se recolhem e procuram o aconchego de estar mais em casa. Sente-se mais o segredo, olha-se de olhos fechados e conserva-se o calor numa conversa de amor. Sente-se uma delicadeza que vem com a poesia, que vem mais íntima numa voz que fala baixinho. Chega na delicadeza de um beijo. Sente-se mais devagar, talvez para guardar o calor, e prolongam-se em lânguidas e preguiçosas conversas. Está-se em paz. Abraça-se o cobertor e aproveita-se os momentos mornos, na cama ou em qualquer outro lugar, aquece-se a alma que convida a bocejar. Fica-se junto, com um livro, a sonhar, a aquecer os pés. Olha-se mais para dentro, para dentro de nós, dos armários e das gavetas. A vontade que dá bebericar uma quente e relaxante xícara de chocolate, de chá, com uma fatia de bolo ou pão quente com manteiga. Tão simples! E lá fora, do outro da janela, que passem em câmara lenta, nuvens pesadas, frisadas, muito altas, a lembrar os Alpes onde a elegância branca das montanhas é reflectida nos céus. E o céu que se esconde num profundo cinzento é o responsável pela inquietude da vizinhança. Talvez tenham saído para beber um pouco desse sumo de nuvem, desse ar frio, mais fino, mais húmido. E quem sabe se não correm para suas casas para se acovardarem mais no sofá, diante da televisão, encolhidos e tolhidos, cada um ao seu estilo.

Um dia muito feliz mãe e pai. Um grande beijinho.