terça-feira, janeiro 31

reposte [18] relacionamentos

Partilhar

Neste oceano de relações que é a nossa vida, é inevitável que se criem vínculos: amizades, carinhos, respeito, cordialidade, preocupação… Mas, por essas mesmas relações às vezes ficamos vulneráveis. São atitudes nossas que não encontram a receptividade esperada, são preocupações que só aumentam a energia desajustada dos problemas e são as palavras, muitas palavras, que dizemos ou que nem dizemos, para não magoar mais, para não ferir, para não ser conivente, ou aumentar as coisas que já estão em desarmonia.

Alguns de nós são do tipo que falam demais, vomitam palavras sem contexto, palavras que parecem nem vindas do pensamento. Despejam tudo, inconfidências, palavras e sinais, sem se dar conta do resultado final e que gere mal entendidos, acusações, silêncios.

Outros de nós são do tipo que falam bem menos, não se intrometem, meditam bastante sobre o que dizer, têm cautela excessiva e acabam perdendo a oportunidade do momento certo para falar. Têm medo de se expor, receio de se magoar e de magoar, mais medo ainda de não ser aceite, e muitas vezes falam só o que o outro prefere ouvir, resultando um discurso politicamente correcto, incoerente, vago.

No entendimento e relacionamento familiar, de amizades ou de grupos sociais a habilidade de comunicar deve ser cuidada, falar apenas aquilo que precisa ser falado, nem uma letra a mais, que é para não se meter onde não precisa, e nem uma letra a menos, para não ficar com algo “entalado na garganta”!

Muito poucos de nós são bons na arte de comunicar, e mesmo assim em poucos momentos! E já que a vida não tem roteiristas, e somos nós mesmos que falamos de improviso, um pouco mais de atenção aos desequilíbrios da nossa comunicação poderá facilitar nas relações, gerando mais empatias e bem estar.

Com a aceleração do desenvolvimento de novas ferramentas para a Comunicação, temos acesso a muito mais informação e podemos ampliar inúmeras vezes o nosso networking. Com a nossa actividade e comunicação empresarial como a produção de trabalho, estudos escolares que precisam de ser realizadas pelo computador, acabamos nos acomodando à rapidez e à facilidade de comunicação proporcionadas pela Internet e nos desabituamos com as maneiras tradicionais de interagir e relacionar com as pessoas, perdemos algo com a virtualização dos relacionamentos. Já contabilizas-te quanto tempo gastas em frente ao computador e o quanto dessas horas realmente aproveitas?

sexta-feira, janeiro 27

tal qual como bonecos

Partilhar

Bom, Bom, Bom fim de semana...

quinta-feira, janeiro 26

“gasolina? não precisamos. oficina? nem pensar!… e eles a ver-nos passar”

Partilhar



Foi à tangente, mas mais uma vez confirmo que a bicicleta é o veículo ideal para a cidade e para curtas distâncias. De novo, voltei a chegar antes que o carro do meu vizinho.

Outro dia precisei de usar o carro e dei com o depósito na reserva. Fui abastecer a uma estação de serviço, coisa que não fazia há muito tempo, e nem quis acreditar quando percebi que a 95 oct. passava dos 1.6€. Hoje vem esta notícia no CM, blheeec…


Nunca a bicicleta teve tanta razão de ser quanto neste momento.

(o titulo do poste foi inspirado de um famoso spot televisivo dos 80'as. Quem se recorda?)


segunda-feira, janeiro 23

então que seja mesmo...

Partilhar


... um bom ano.

quinta-feira, janeiro 19

memórias do Reijin

Partilhar

Assistindo a toda esta tragédia com o paquete italiano Costa Concordia, envolvendo milhares de passageiros e tripulantes com mortes e desaparecidos registados, o que tudo leva a crer tenha ocorrido pela incúria e incompetência do capitão e tripulação, lembro-me do que se passou em Abril de 1988, bem junto à varanda da casa dos meus pais na praia da Madalena com o cargueiro japonês de bandeira do Panamá e tripulação sul-coreana, o Reijin. Na altura eu era um feijão verde, andava na tropa em Espinho, pelo que só vim a saber do acontecimento no dia seguinte, primeiro pela boca de camaradas da tropa e depois pela televisão. As notícias classificavam o Reijin como o “Titanic dos carros”. Com o recente acidente do navio de cruzeiro italiano também já ouvi o mesmo tipo de comparação infeliz, o “Titanic do Mediterrâneo”, talvez pelas semelhanças nas circunstâncias dos acidentes.


O Reijin fazia a sua viagem inaugural. Chegado a Leixões após viagem directa desde Nagóia, no Japão, o navio trazia a bordo uma carga milhares de automóveis japoneses, sobretudo da marca Toyota. Aportara em Leixões dias antes para descarregar algumas centenas de automóveis. Era um navio moderno, munido do melhor equipamento disponível na época. Tinha computadores e sistemas inovadores prontos a dar resposta rápida e adequada às situações, com pessoal supostamente treinado e preparado. Ao que foi dado saber, todo o know how tecnológico acabou por falhar quando foi necessário. Saiu do Porto de Leixões para o Porto de Vigo, a escala seguinte, sem proceder à reposição de lastro nos tanques, manobra essencial para a segurança do próprio navio. Sujeito à ondulação e em mar aberto, o navio tombou para a esquerda (a bombordo) e, incapacitado de recuperar o rumo e o reposicionamento, ficou desgovernado e à deriva. Empurrado lateralmente pelo vento norte, deslizou para sul da Foz do Douro, caindo sobre as rochas da Praia da Madalena que lhe provocaram rombos no casco e lhe fizeram o leito de morte. A tripulação foi salva, havendo a lamentar uma vida.


Nunca a Praia da Madalena havia sido tão popular. Nas semanas que se seguiram eram imensos os visitantes, engarrafamentos de carros, excursões de autocarros, curiosos vindos de longe com o garrafão de vinho só porque queriam ver o enorme barco de perto. Foi nessa altura que a expressão “ir ver o barco” se tornou popular, especialmente à noite no nosso grupo de amigos! E como era habitual no inicio do Verão, a malta juntava-se para uns banhos de sol e de mar na nossa praia, a praia da minha vida, muito diferente do que é agora. Numa dessas tardes quentes, alguns dos mais corajosos lançaram o desafio e decidimos nadar até lá. Foram muitos os que visitaram o gigante adormecido naquele Domingo. À medida que nos íamos aproximando da sombra do monstro de ferro, recordo-me bem do cheiro intenso a petróleo que se sentia. Como fui dos primeiros a chegar ao "ponto de embarque", uma gaiola de protecção de um gerador eléctrico, saquei logo o meu souvenir, uma placa avisadora do perigo em que nos poderíamos meter. As autoridades marítimas não andavam por perto e, mesmo à mão de semear, lá estava uma escada de corda que nos convidava a subir. E subimos. Lá em cima as vistas eram deslumbrantes, tudo enorme, tudo de pernas para o ar. Mais ao fundo, duas portas deixadas abertas nos guiaram para uma visão assombrosa, a dos hangares do navio, escuros e misteriosos, repletos de carros pregados às paredes. Com a adrenalina à flor da pele entramos nos carros e ligamos as luzes. Bem, aquilo iluminado era imenso, estranho e assustador. Entre buzinadelas e gritos de excitação trouxemos de lá vários objectos, desde chaves, ferramentas, escovas, tampões, sei lá mais o quê! Só rezava para que nenhum de nós caísse naquela medonha escuridão. Regressamos depois à praia com o que pudemos trazer, algumas chaves guardadas nos calções e o que pudesse flutuar. Quando chegamos à areia contamos a nossa aventura a quem lá estava,  que nos ouviu incrédulos sem saber o que andávamos a tramar, pois da praia ninguém nos podia ver com o encandear do sol a pôr-se por detrás do navio. 


Começou entretanto o desmantelamento do Reijin. O navio foi considerado perda total, bem como todos os veículos embarcados. À medida que desmantelavam o navio, eram retirados automóveis aos magotes, por gruas enormes, directamente para batelões, sendo depois transportados para uma área onde hoje jaz o maior e único sucateiro do mundo, completamente submerso. Meses mais tarde com as marés vivas e os temporais do Outono e Inverno o mar desfez o que restava da carcaça do navio. O impacto ambiental foi imenso e todas as praias de Gaia, até para lá de Espinho, foram conspurcadas com peças de automóveis, óleos e todo o lixo do navio. Ainda hoje se encontram facilmente alguns vestígios enferrujados dos carros presos às rochas, memórias do que outrora fora uma inesquecível aventura de Verão.



(falta apenas mostrar o souvenir que guardo do Reijin, agora colada na porta do quarto do meu filho)

segunda-feira, janeiro 16

a biblioteca

Partilhar



Distraída e impetuosa, agita o espanador sobre uma camada de livros onde está um livro intitulado “Guerra de Paz”, outro de nome “O Som e a Fúria”, um outro a que chamaram de “Ilíada e Odisseia”, e ainda outro cujo título são “As Vinhas da Ira”. Quase perdeu o fôlego. Sem conter o olhar, resvalou os dedos por abas descoloridas: “Orgulho e Preconceito”, “Cem Anos de Solidão”, “As Viagens de Gulliver”, “Rumo ao Farol”, “Lolita”... Então ela parou, maravilhada de que tão belos livros estivessem ali, alinhados naquela prateleira, naquela sala, naquela casa na qual passara tanto tempo. Deslumbrada que obras tão admiravelmente doces, terrivelmente verídicas, ali estivessem, a meio palmo do seu enfadado nariz e das suas conturbadas retinas, entre o odor do café e o timbre húmido do mofo, entre o caruncho do tempo e a candura da saudade... Mas saudade de quê, se não os vivera. Fascínio da aventura e bisbilhotice se era o que mais lhe apetecia. Assim, esquecendo a janela aberta, largou o espanador, desceu a escada e saiu à procura da vida. Não em busca do tempo perdido, do que tudo o vento levou. Apenas descuidada, distraída como uma alma errante, como se uma história quisesse ser sentida, como se toda a vida quisesse ficar contida, num só livro.

sexta-feira, janeiro 13

reposte [17... não é treze!] miiaauuuu....

Partilhar


Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. À medida que avançava, seu coração tiquetaqueava. Sóquando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Nada sobrava de sua anterior gateza. E o escuro, triste, desabou em lágrimas. E os olhos do escuro se amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto. Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro mora quem lá inventamos. _ ... Somos nós que enchemos o escuro com nossos medos. Metade de seu corpo brilhava, arco-iriscando. Quando a mãe olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam cheios de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.

De “O gato e o escuro”, Mia Couto.

quarta-feira, janeiro 11

descafeinado

Partilhar



Está sem tempo, atrasado, ocupado, ocupadíssimo, atarantado, pensando se conseguirá chegar antes de quem lhe telefona resolva desligar. Corre espavorido, esbaforido, feito num oito, numa borrada expressionista, escorrendo as mãos pelos vãos da escada. Precisa dar conta do recado, suar as estopinhas, suar a camisola, torcer o braço para garantir o seu ganha-pão. O chefe não compreenderia se voltasse ao gabinete sem o problema resolvido, um assunto de jeito. Vive roendo as unhas, procurando desatar um nó cego que uma besta qualquer deixou para descontar os seus achaques. Vejam, está atolado de trabalho, até ao pescoço, de mãos atadas, sem uma desculpa para esfarrapar. A lutar para manter a cabeça no lugar, para não ser barrado na porta. Rezando para a encontrar aberta quando voltar. De manhã à noite, corre. Corre feito barata tonta, sem tempo, sempre atrasado, ocupado, ocupadíssimo...

sexta-feira, janeiro 6

doce ocasião

Partilhar



A caminho de casa entra numa pastelaria para tomar um chá e trincar meia torrada. Na realidade está a adiar o momento de voltar a casa. A perspectiva de encarar os filhos a assusta. Gostaria de lhes levar boas novas, de coroar o final do dia com um “consegui”. Mais um dia nesta desesperante procura de um emprego, um trabalho, um biscate, qualquer coisinha que lhe alterasse o quotidiano e a auto-estima. Da sua ainda curta vida ela pretende apenas recolher algo de útil, fruto da sua prática, que a fizesse mais digna de ser vivida. Nesta busca por um futuro melhor, na constante perseguição do sim, qualquer palavra escutada, qualquer instante testemunhado, a torna numa atenta observadora à primeira oportunidade. Mas, sem nada que lhe prenda a atenção, baixa a cabeça e dá um gole no chá, enquanto lança um último olhar ao seu redor, onde outras almas adejam os seus assuntos em silêncio.

A um canto do salão, numa das mesas vazias encostada à parede, um casal de meia-idade acaba de se sentar. O alinho humilde, a contenção de palavras e de gestos, deixa-se enobrecer pela presença de uma menina, bem pequenina, de laço na cabeça e vestidinho esbatido nas cores, que com eles se senta à mesa. Mal consegue baloiçar as perninhas curtas mas percorre veloz com os olhos, sorridentes de curiosidade, tudo ao seu redor. Generosa fica a observá-los.

O homem, depois de contar as moedas que discretamente retirou do bolso, aborda o empregado, inclinando-se para a frente e apontando para a vitrina do balcão. A senhora, discreta mas impaciente, limita-se a olhar para a pequenota. Suspira enquanto lhe ajeita a fita cor-de-rosa que segura o cabelo. O empregado encaminha o pedido do freguês. Avó... avó..., clama a criança, apontando para o homem que trás um pratinho com uma simples fatia de bolo de chocolate. Contida na sua espera, a menina contempla agora o pratinho e a garrafa de sumo que o empregado deixou à sua frente. Por que não começa a comer?, matuta Generosa. Dá conta que os avós e a neta cumprem um discreto ritual. A avó remexe num pequeno saco de plástico e dele retira qualquer coisa. O avô agita um isqueiro na mão e espera. Quieta, a netinha aguarda também. Mais ninguém os observa além de Generosa e percebe então que naquela mesa se prepara algo mais do que saciar a fome.

São três velinhas, brancas, minúsculas, de tamanhos diferentes que a avó delicadamente espeta na fatia do bolo. E enquanto ela deita sumo para um copo o avô acende as velas. Muito compenetrados e discretos, os adultos balbuciam um cântico em uníssono: "Parabéns a você, parabéns a você...". Como um gesto ensaiado, a menina baixa a cabeça, quase encosta o queixo na madeira, e sopra a chama das velas. Imediatamente sorri e põe-se a bater palmas. A avó retira as velas, torna a guardá-las, a pequena aniversariante agarra finalmente o bolo com as suas mãos inquietas e come. A avó mira-a com ternura e limpa as migalhas e pepitas de chocolate que lhe caiem ao colo. O avô percorre os olhos pela sala e fita Generosa que estática se comove com a celebração. Seus olhos se encontram e ele constrange-se. Baixa ligeiramente a cabeça e ameaça vacilar mas contem-se, abrindo enfim um largo sorriso de satisfação.

terça-feira, janeiro 3

uma questão de atitude

Partilhar


(Foto de Sónia Arrepia na Massa Crítica de Dezembro, no Porto)

Andar de bicicleta é bem mais que uma forma de lazer que proporciona bem-estar físico e psíquico. A bicicleta é um simples e provecto meio de transporte. Pedalar faz bem à saúde e garante qualidade de vida. A menos que pedale uma tandem ou se dê uma boleia ocasional, a bicicleta é apesar de tudo um veículo individual e tem o poder de reunir grupos de pessoas, familiares, amigos que ao descobrirem novos caminhos, novas rotas, renovam e consolidam laços de amizade. Quando nos sentamos ao selim e pisamos os pedais todos somos ciclistas. O espírito de solidariedade, o respeito e a honestidade é o distintivo de quem pedala. Quando alguém entra no grupo e não está ao mesmo ritmo dos outros não fica sozinho. Ninguém deixa ninguém para trás.

A bicicleta é uma amiga, confidente e terapêutica. Leva-me para todo o lado e faz questão de tornar o meu quotidiano em algo maravilhoso. Chego ao trabalho bem relaxado. Com ela aprendo a saborear o tempo, a superar os meus próprios limites. A pessoa que faz da bicicleta o seu veículo de eleição não é a mesma quando volta. Chego a casa menos stressado. Às vezes pedalo sem um objectivo ou um destino definido. Pedalo como que por pedalar, como uma forma de ocupar o corpo com uma actividade determinada e libertar a mente para outras correrias. A bicicleta tem essa capacidade maravilhosa de nos desentorpecer, de nos fazer perceber a real dimensão da distância, do relevo, da temperatura. Ter os olhos abertos, descobrir outras visões da cidade, outras formas de ver o mundo.

Boas pedaladas.

segunda-feira, janeiro 2

este blogue é isento

Partilhar



isento de IVA;

isento de portagens;

isento de taxas moderadores.

moderado aqui só o administrador!