segunda-feira, fevereiro 22

a princesa do Atlântico

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Há quase dez anos eu a visitei pela única vez. Apaixonei-me de imediato pela beleza natural da Madeira e pela simpatia do povo madeirense. Percorremos toda a ilha durante uma semana. Da cidade do Funchal partimos à descoberta, junto á orla marítima, pelas suas estradas sinuosas e contrastes sociais, de Câmara de Lobos à Ponta do Sol. Da Calheta até Porto Moniz onde paramos para desfrutar das piscinas naturais. Seguimos pela costa norte, pelos túneis húmidos até São Vicente onde visitamos as grutas. Até Santana o passeio torna-se cada vez mais fantástico, paredes meias entre o mar e a escarpa da montanha. As pessoas com quem nos cruzamos pelo caminho são da maior simpatia, o cheiro a maresia misturado com o das flores é inesquecível, por todo o lado é o verde e a água. Do Machico seguimos uma estrada que atravessa uma paisagem semi-deserta e, sem o saber ficamos a conhecer a Prainha, a única praia de areia fina em toda a ilha. Divertimo-nos a deslizar as ruas do Monte nas famosas cestas, subimos às serras como o Pico Ruivo e o Pico do Areeiro, cruzamos e acabamos bem no meio de um arraial madeirense que afinal não passava de uma festa política alaranjada. Disseram-nos que lá no alto da Eira do Serrado o miradouro tem uma vista deslumbrante. Sem palavras e de olhos bem abertos eu confirmei isso mesmo, e nem dei pelas minhas vertigens ao olhar lá para baixo, para a cratera do vulcão. Descemos depois a única estrada que levava até ao Curral das Freiras, um intenso e longo ziguezague, escarpa a baixo. Aí os nossos estômagos já reclamavam atenção quando na procura de um sítio para comer nos destivemos por momentos num largo e procuramos indicações. Uma menina de uns nove ou dez anos que estava sentada num murinho saltou e veio ao nosso encontro. Atrás dela vieram também dois outros meninos mais pequenos. Os três estavam descalços e vestiam roupas já desbotadas pelo tempo e um pouco sujas. A menina aproximou-se do carro e abeirou-se da janela com um sorriso encantador e um brilho nos olhos. Levantou as mãos, juntas em concha como a guardar alguma coisa, e perguntou-me de imediato: O senhor quer comprar este passarinho? É muito bonito, o meu irmão apanhou-o ali há bocado. Não minha menina, nós não queremos ficar com o passarinho… Então podem me dar uma moedinha? Sabe, é que tenho mais oito irmãos…

Todas as tragédias são iguais, na dor, no desespero, na imprevisibilidade, na perda imensa e irreparável. Sabemos todos disso. Às vezes, por opção, procuramo-nos desligar, na medida do possível, das notícias, das tragédias, das imagens de sofrimento, mas o dilúvio que assolou toda a ilha da Madeira não me pode deixar indiferente e chocado. E na minha mente não pára de surgir a recordação daquela carinha suja e sorridente, da menina que um dia me quis vender um passarinho. Questiono-me agora o que poderá ter acontecido a ela e aos seus irmãos?


terça-feira, fevereiro 16

mãos à obra

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Pacatamente entretido com o meu dia-a-dia no gabinete, recebi ontem de manhã uma chamada normal no meu telemóvel. Diz filho. Oh pai, o chão da cozinha está todo levantado! Hããã… levantado! Como assim? Levantado! A tijoleira saltou do sítio e está toda levantada como se fossem tendinhas. Ah não te preocupes, devem ser duas ou quatro, eu depois trato disso. Mas ó pai, é na cozinha toda!...

Afinal não era mesmo uma partidinha de carnaval. Eu não queria acreditar no que via à minha frente. O soalho da cozinha estava quase todo arrancado do chão, como se uma toupeira tivesse passado por ali ou a cozinha simplesmente tivesse encolhido. E agora? Ainda atónito, tentei encontrar alguma explicação. Retirei algumas tijoleiras mas o cimento estava seco. Humidade não é! E se for o gás!!! Ufa… só acalmei quando o técnico me garantiu que não havia nenhum tipo de fuga. Inspeccionei todos os cantinhos da casa por mais sinais, mas nada. Tudo normal. Não tenho conhecimento de grandes obras no prédio nem notícias de sismos na zona. Que raio, mas que estranho fenómeno fez isto!? Tenho o apartamento há tantos anos e nunca antes tinha tido problemas assim. Nem de propósito, a minha vizinha da frente conhece outro vizinho que conhece um empreiteiro, que me esclarece: Ahhh… isso é bastante normal, não sabia? Eu, eu não! E nem precisa de ser uma construção velha ou nova, acontece. Acontece!!! Como assim? Pois podia ter sido noutro qualquer local do prédio. Olhe, calhou-lhe a si, foi o que foi! Sabe, às vezes acontece quando existe uma variação térmica bastante grande num curto espaço de tempo, e provavelmente as juntas das tijoleiras não tinham espaço como são pequenas, blá blá blá… Nessa altura eu nem o ouvia mais porque já só revia algumas imagens do filme “Um dia a casa vem abaixo” passarem-me à frente dos olhos! Aos poucos despertei para a realidade cada vez mais adiada que a minha casa clama pela minha atenção e urgentemente por umas obritas.

Agora é mãos à obra, cimentos, orçamentos, aborrecimentos. Sem meias tintas, deixarei o gabinete encerrado a ganhar mofo e teias de aranha por uns dias e farei as minhas visitinhas aos vossos cantinhos.



Pedimos desculpa pelos incómodos causados. Seremos breves.


segunda-feira, fevereiro 15

ensaio

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Ah! O video eu escolhi a dedo.... Não foi por um qualquer motivo especial, apenas achei que também o iriam adorar.

sexta-feira, fevereiro 12

ai...

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põe os corninhos ao



Caracol, caracol,
vê se escolhes pedra mole;
caracol, caracol
vê se escolhes pedra dura...
Caracol, caracol,
põe os corninhos ao sol;
caracol, caracol,
vais andar sempre à procura!...


(para mais lenga-lengas faxabôre clicar nas imagens)


quinta-feira, fevereiro 11

o pequeno campeão

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Quase metro e meio de altura, corpo franzino, olhar meigo e abatido, o Joãozinho entra pálido no consultório à frente da sua mãe. Os seus olhos expectantes surgem por debaixo do inseparável boné azul e branco do Futebol Clube do Porto, que lhe aquece a cabecinha redonda e lhe cobre a carequinha que revela o seu diagnóstico. Perscruta para além da secretária e do computador e encontra do doutro lado um olhar risonho, já bem conhecido. Sobe com dificuldade para a cadeira e cumprimenta a senhora doutora. Mal completou 10 anos e já mostra responsabilidade. Já sabe todas as rotinas de cor e salteado. Vem se consultar, permitir, auscultar, apalpar, picar, confortar. A criança permanece atenta a todos os acontecimentos e visivelmente fixada no momento em que a senhora doutora revela à mãe os resultados das análises. Ao captarmos os pequenos sinais que as crianças nos dão ficamos impressionados ao ver a capacidade que possuem, tanto de coragem como de sofrimento. Será de novo necessário que troque a carteira da escola por uma cama de hospital. Terá de voltar à enfermaria, a um mundo já familiar, para mais sessões de exames, tratamentos e transfusões É ainda pequeno de tamanho mas enorme no seu heroísmo, de uma resistência e luta diária contra a doença. Mas o pequeno campeão, na sua restrita e dura experiência de vida, sorri e encolhe os ombros. Conhece o que é passado mas renova a cada dia a esperança no que é futuro.

Nos bastidores da vida real, os sonhos pessoais não são revelados e a luta diária de cada um deles não permanece ignorada. O momento que relatei saiu da minha cabeça mas pode muito bem ser a actualidade de muitas destas crianças que brincam ao lado da doença.

Hoje ocorre o Dia Mundial do Doente que, segundo o seu instituidor, o Papa João Paulo II, surgiu pela necessidade de assegurar a melhor assistência possível aos doentes. Toca-nos a todos sensibilizar de um modo afectivo, a compreensão, o carinho e o apoio de quantos se debatem com problemas de saúde. Toca-nos ajudar os nossos pequenos campeões e contribuir para um lugar pró Joãozinho.



terça-feira, fevereiro 9

chuvisco

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Quando me faltam palavras para os sentimentos do dia,
forma-se um nó e não consigo transformá-las em poesia.
Aí procuro os meus amigos poetas, escritores e blogueiros,
deles recolho revelações, confissões que se abatem em aguaceiros
de alegrias vividas, histórias partilhadas, de quem sabe porquê
um sorriso basta quando consolam o coração de quem os lê.


segunda-feira, fevereiro 8

imaginem

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Tanta inteligência, tanto poder de raciocínio lógico, e aqui estamos nós, parados, diante destes livros electrónicos que nos prendem e fascinam o olhar. Ficamos aqui, horas a fio, sentados diante destes quadros brilhantes que nos iluminam a cara e prendem a nossa atenção. Paredes invisíveis que aprisionam os nossos pensamentos, as nossas fantasias, todo o conhecimento. No gabinete, na sala, no quarto, em qualquer lugar, são milhões de pequeninas luzes coloridas que connosco comunicam. Para uns não passa de um meio de trabalho, para muitos uma companhia, para a maioria uma simples distracção. Uma fuga da realidade para quem tem uma vida triste, e para as pessoas normais uma outra normalidade, que as faz pensar e questionar. O ecrã do computador, da televisão, do telemóvel, prende-nos magnéticos como pequenos e loucos insectos, atraídos e enfeitiçados pelas luzes brilhantes, pelas imagens coloridas ao redor das quais, todos nós, todos os dias, nos reunimos e vivemos vidas que não são nossas, enquanto a nossa vida se esvai, nas sombras que produz.


quinta-feira, fevereiro 4

a propósito de várias crispações

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Sou contra qualquer iniciativa que tire ou adultere de alguma forma a liberdade de expressão. Qualquer medida que retire o direito que assiste a ter-se opinião. Qualquer tentativa de imposição ou manipulação intelectual. Mas não defendo a liberdade sem responsabilidade e sem reconhecer que ao outro também lhe assiste o mesmo direito de ter opinião, o direito ao contraditório. Se não houvesse regras que nos ajudassem a raciocinar como seres sociáveis, nada funcionaria ou a lei que prevaleceria seria a lei do mais forte. Necessitamos do senso comum, de regras simples de conduta, leis que nos conduzam e facilitem a vida em sociedade. Precisamos de manuais e directrizes que nos indiquem por onde podemos seguir e até que ponto podemos chegar. Em pleno uso da liberdade, que penso ainda possuirmos, devemos viver dentro dos direitos que nos são cedidos e com os deveres que nos são impostos. A crispação, política, jornalística, social, futebolística, qualquer que seja, seria bem menor se de manhã, ao pequeno almoço, cada um tomasse uma boa dose de juízo.


terça-feira, fevereiro 2

podia acabar o mundo

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Não há calendários que marquem o nosso tempo interior, séculos que podem separar o meu eu de hoje do meu eu de amanhã, as complexas e sinuosas medidas da memória, das memórias, os atalhos entre o que deixamos e o que esperamos encontrar. Existe também o estranho desencontro de ter o corpo num lugar, e a alma em outro, de já estar lá ou de ainda não estar aqui!

Rosa Lobato de Faria, in Prenúncio das Águas

Adeus Rosinha


why pad (pseudo ardósia digital)?

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Na semana passada foi mundialmente apresentado o novo brinquedo da Apple, o iPad, que é basicamente um iPhone com as mesmas utilidades e fraquezas sobejamente conhecidas, só que este não faz chamadas.
Sejamos francos, se até hoje vivemos bem sem ele quem precisará de um iPad?! Acho que não nos faz falta alguma. Como poucas empresas, a Apple sabe como reinventar o marketing e sabe como criar nas pessoas o desejo de ter mais uma necessidade. A Apple especializou-se em criar soluções para problemas que não existem. Poderão alguns dizer que esse é o grande mérito da gigante da tecnologia de Steve Jobs: criar necessidades até então inexistentes. Antes de aparecer o iPod, não era uma coisa normal sair-se à rua com auscultadores nos ouvidos a ouvir música. O walkman nunca se generalizou da mesma forma banal que é nos dias de hoje ouvir música a partir de um simples telemóvel. Recordo que para mim, consumir música era gastar uma ou duas horas sentado no sofá a ouvir os meus discos e cd’s, a manipular as capas e a ler as letras. Mas isso passou à história e a tecnologia encarregou-se de também alterar os meus hábitos e possibilitar ter dois prazeres em simultâneo, como por exemplo o de pedalar na marginal ao som de música jazz.
Mesmo sabendo que um computador já faz isso tudo, Steve Jobs estala os dedos e faz “delete” ao teclado. Depois, ter capacidade de armazenamento é coisa que para ele, no máximo, 64GB chegam e sobram. Para terem uma ideia, se os 250GB que normalmente vêm disponíveis nos computadores já são escassos, quanto mais!... Não sei se será burrice ou esperteza mas e o que dizer do facto do iPad só correr uma aplicação de cada vez? É sempre preciso sair de uma para aceder a outra! E para não ir mais longe, à luz da lógica, há de se convir que não faz sentido investir-se (ainda não sabemos quantos) muitos euros nesse novo brinquedo. Mas o que é certo é que todos iremos desejar ter um desses brinquedos de 10 polegadas e do mais puro design. Para além do iPhone e dos Macbooks dizem que ainda há espaço para um equipamento intermédio.
Imaginem só a facilidade que seria poder postar textos nos blogues a qualquer momento e em qualquer lugar, durante uma viagem por exemplo, onde todos poderiam partilhar fotografias, navegar pelo mapa, aceder aos e-mails dos amigos, à sua agenda de contactos, usar as redes sociais, ler e-books e aceder ao iPizza confortavelmente sentadinhos no sofá da sala sem aquele trambolho do portátil a aquecer as pernas. É que pelo que me percebi não deve ser tão confortável usá-lo quando se está de pé, sem ter onde o apoiar. Ok, ter um aparelho desses nas mãos pode até ser um verdadeiro estímulo ao sedentarismo, e depois!?




Para ser justo, o iPad é lindo e desejável, e não desdenharia de o ter, mas para já não estou mesmo nada a ver-me comprar um...