... saio do metro e rumo directo a casa. Num passo moderado, são mais ou menos uns dez minutos de caminho, no qual o pensamento insiste fazer-me companhia. E lá fomos nós quando um som forte e abafado de um avião que forçava os motores na sua subida, escondido entre as nuvens, chamou a minha atenção e me assustou o pensamento. Àquela hora da tarde o céu apresentava-se azul, metalizado, irrequieto por umas nuvens apressadas que teimavam entristecê-lo com tons de cinzento cromado. Mais à frente, ao entrar no jardim, dou de novo com o meu pensamento e juntos prosseguimos, ao ritmo das pernas e dos neurónios. O pensamento às vezes é uma coisa muito estranha, é como um microprocessador que debita imagens e sensações misturadas sem nexo. Deixa o raciocínio à deriva, num mar de realidade sem lógica, num ambiente tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Então, como dizia, eu atravessava o jardim tranquilo que existe a meio caminho e, ao sentir o vento húmido bater-me na cara, olhei de novo o céu já mais carregado a prometer chuva e da grossa. Naquele momento o pensamento alimentava-me a imaginação e transportava-me através do tempo, de volta a algumas imagens que tinha visto na véspera, no filme 2012, quando sou devolvido à terra pelas palavras de uma senhora que, à minha frente, estende o braço e oferece-me um papel colorido e um sorriso. Importa-se? Eu não, respondo perplexo, reduzindo a cadência. Por favor leia até ao fim, pediu-me com uma voz doce. Claro que sim! Agradeci-lhe, mantive o papel guardado na mão e segui o meu caminho. Nisto, salta-me a pulga detrás da orelha, atiça-me a curiosidade e, disfarçadamente, dou uma breve olhadela ao papelucho.

Mas que titulo mais estranho para uma imagem tão sugestiva! Pensei. Um casal que sorri e um alce tão bem disposto, de que estarão a sofrer? Questionei-me, enquanto ia acelerando o passo antes que começasse a chover. Chego à porta, e enquanto a mão direita procurava as chaves no bolso, a mão esquerda revirava o papel. Percebi que era um pequeno folheto desdobrável com muitos dizeres. Já dentro do elevador abri o folheto e li o seguinte:
Todo o sofrimento ACABARÁ EM BREVEOutra vez!...
Em algum momento na vida, você provavelmente já se perguntou: “Por que há tanto sofrimento?” Há milhares de anos, o homem vem sofrendo muito devido a guerras, pobreza, calamidades, violência, injustiça, doenças e morte. Nunca houve tanto sofrimento como nos últimos cem anos. Será que um dia isso tudo vai acabar? Sim, realmente isso deveria acabar, mas onde quererão chegar? Continuei a ler…
Que consolo é saber que vai sim, e muito em breve! A Palavra de Deus… (blá blá blá, só para atalhar)… Depois que Deus acabar com a maldade e o sofrimento, a Terra será transformada num paraíso… Ui, querem ver que já há argumento para uma sequela do filme!?
2013 - Agora é que é!
Eu acho que de deveria haver uma lei, um qualquer programa, sei lá, para nossa protecção contra este tipo de testemunhas. Nunca as palavras PAPEL PARA RECICLAR me fizeram tanto sentido! E depois do poste escrito e publicado fui à casa de banho aliviar o meu sofrimento!