terça-feira, junho 30

ao ar, ao sol, à descoberta

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Imagem rapinada à sucapa do Ares da Graça da Patti

Nem foi preciso um sinal, prémio, ou mesmo um empurrãozito, para que eu me estendesse ao comprido... digo, para que estendesse neste arame alguns segredos meus que a Patti me propôs revelar. Pondo de lado o pouco jeito que tenho para a coisa, coloquei as mãos de molho, sacudi os preconceitos e estendi aos ares frescos da manhã alguns dos meus segredos neste estendal, para que seque a vergonha e brilhem as cores. Prendo-os com molas seguras, não que receie o vento mas antes porque ao prende-los fiquem mais descobertos e verdadeiros.

Mania: não tenho a certeza que seja uma mania mas que por vezes é um mau hábito, lá isso é! Quase nunca tenho pressas, mas não é por isso que teime em não usar relógio;
Pecado: Há algum tempo que a gula bate a preguiça aos pontos. Antes eram ela por ela, unha com carne;
Melhor cheiro do mundo: o aroma da cozinha da minha mãe. Também gosto bastante do cheiro da terra quente depois de uma chuva súbita;
Se dinheiro não fosse problema: o dinheiro é importante mas não é tudo;
Caso de infância: a timidez, que se tornou tão natural que ninguém já dá conta dela;
Habilidade como dono da casa: tenho aspirações a ser um dia dono da casa e também a ter uma empregada de limpeza. Como não a tenho e tendo a certeza de, pelo menos, ser o dono do aspirador, sou eu que aspiro a casa;
Não gosto de fazer em casa: pôr a roupa no estendal, bem disse que não tinha jeito para a coisa, e ter de a passar a ferro;
Frase: Não digo tudo o que penso e não penso em tudo o que digo;
Passeio para o corpo: e não só. Vou por aí sentado na minha bicicleta, com ela, perder o rumo;
Passeio para a alma: com muita calma a sentir o vento, descontrair a mente com o meu amor e a companhia do mar;
Irrita-me: pouca coisa. O egocentrismo, a chico-espertice, a inveja, a impaciência, a intolerância, a arrogância, mas essas péssimas características já estão incluídas na primeira resposta, por isso pouca coisa me irrita seriamente, para além do trânsito;
Frase ou palavra muito usada: o bom dia e o faxabôre;
Palavrão mais usado: o carago e de vez em quando alguns mais universais, os gestuais;
Desço do burro, subo o morro e rodo a roda: quando pedalo a bom pedalar e me fazem parar. É claro que estou a brincar. Dificilmente me viram do avesso e se me virem a visão não deve ser mesmo nada agradável.
Perfume: não é o Patchouli mas é também 100% natural, é a pele;
Elogio favorito: quando é sincero eu aceito mas quando é exagerado digo apenas, vai chatear outro;
Talento oculto: é tão mas tão oculto que ainda não o encontrei. E se alguém o descobrir por mim que me diga qual é;
Nem que fosse a última moda eu não usaria nunca: bigode;
Queria ter nascido sabendo: o que sei hoje.

Agradeço à minha querida vizinha e PresidentA da Associação Recreativa e Cultural deste Blogobairro Social, mas não me apetece agora passar o questionário a outros vizinhos. Com certeza deverá entender que ainda estou com uma enorme perguiça veraneia.

segunda-feira, junho 29

pronto

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Vou ficar por aqui e deixar que as palavras fluam à minha cabeça. Aliás, elas já cá estão, complicado é conseguir fechar os olhos, relaxar e deixar que cada uma delas ocupe o seu lugar, pois no congestionamento de verbos e adjectivos alguém tem que ceder a passagem, não é? Vou deixar que as ideias ganhem o seu espaço e tornem o objectivo mais prático pois caso contrário fica tudo num emaranhado de palavras com sentidos que, de tão diversos se tornam confusos e sem sentido. Não sei bem qual é a ordem mas deve recomeçar pelo princípio, passar pelo meio e deixar-se desenrolar até ao final, numa balbúrdia desordenada ao ritmo da batida dos dedos no teclado. Aliás, fazia-me jeito um teclado novo!


sexta-feira, junho 26

distracção...

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...devaneio; imaginação; pensamento; condição de estar perdido em pensamentos; condição de estar a sonhar acordado... Acho que vos dou razão, este blogue está uma pasmaceira. O gabinete está profundamente mergulhado num marasmo. Tenho andado desligado, não tenho feito as minhas visitas aos blogues amigos. Faz tempo que não deixo um comentário nos vossos cantinhos, uma espécie de síndrome de rejeição apoderou-se de mim e tirou-me qualquer vontade de passar horas à frente do monitor. E quando finalmente me detenho aqui, fico parado, perco-me à procura nos cantos empoeirados da minha massa cinzenta o que escrever neste teclado. Às vezes lá sai qualquer coisa o que nem sempre quer dizer que lhe tenha dado toda a dedicação. Afinal eu não penso só nisto. Tenho procurado dar mais atenção a quem me rodeia, ao que me alimenta. As responsabilidades acumulam-se ao longo da vida, e o trabalho, mesmo sem vontade, tem sido um pouco mais exigente. Apenas troquei o tempo por um prazer diferente. Em frente ao mar procuro descontrair a mente, sentir o vento, sentado na minha bicicleta procuro sentir o corpo, perder o rumo. Examinando o meu álbum fotográfico, detenho-me numa foto antiga e dou por mim a fazer contas de quando teria sido tirada. Espantei-me por constatar que tem mais de vinte anos. Lembro-me vagamente da ocasião, mas o suficiente para entender o significado da passagem do tempo. Sempre e mais uma vez o tempo. Falta uma hora para amanhecer e não tenho sono. Vou ler, olhar mais fotografias, pensar e repensar. Vejamos o que virá a seguir. Sinto falta de vos lêr, bem breve farei uma visita. Estava mesmo a precisar destes dias de férias!

Bom fim-de-semana.



terça-feira, junho 23

a noitada

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À hora marcada, respondendo ao chamamento inebriante de um aroma apetitoso de odores doces e salgados, fortes e quentes que pairavam no ar, lá estávamos nós prontos e esfomedados para uma noite tradicional de euforia. Ao virar da esquina, contornando-se a barraquinha de tiro ao alvo, onde bonecos de variados tamanhos e tipos, caixas de jogos de lençóis, pratos pintados e garrafas de vinho se exibiam em recompensa, logo se descobriam os arredondados bolbos de alho-porro a dançar sobre as cabeças e irritando narizes. O cheiro a sardinhas e pimentos assados era cada vez mais intenso e atraente, um sinal de ansiedade para os nossos estômagos. Depois vinha o caldo verde com broa, as fêveras e o frango assado, tudo muito bem regado com o verde branco da casa e a inseparável Super Bock. O Porto inventou a noitada de São João e ela tinha sempre início nas Fontainhas. Música popularucha a sair alta e distorcida dos altifalantes, misturada com a barulheira de apitos, os vozeirões de cantorias e risadas dos tripeiros, pequenos grupos de todas as idades que se juntavam espontaneamente, formando rusgas de foliões cada vez maiores, de mãos dadas, serpenteando em correrias animadas entre mares de gente com ramos de cidreira e martelos de plástico na mão. Dali à Ribeira era um tirinho, quando se descia em louca correria as calçadas do burgo para se chegar a tempo de assistir à largada de balões e ao fogo-de-artifício. Depois, para voltar, era só escalar a Rua de S. João e a Mouzinho da Silveira até à Praça, sem antes atestarmos as panças com o carburante de cerveja. No palco montado na Praça, o conjunto musical levava a populaça à loucura total, e nem esse bailarico todo levava o pessoal a dar sinais de cansaço pois muito havia ainda a percorrer. Bora lá até ao Palácio? Bora lá! E a noite prosseguia nas voltas dos carrocéis, das cestas, à volta da mesa das barracas de farturas. Entretanto dava-se início ao mini campeonato sanjoanino de matraquilhos. Quem chegasse primeiro tinha o direito de escolher o parceiro, os restantes matrecos ficavam para a equipe adversária. A cada moeda de 5 escudos, o pessoal dava o seu melhor e o bota-fora era o esquema implantado para que ninguém reclamasse do árbitro. Enquanto alguns já jaziam deitados nos jardins do palácio, sucumbindo às marteladas nos braços das amadas, o maralhal rumava alegemente, entre chuvadas de marteladas, em direcção à Rotunda da Boavista, para nova rodada de divertimentos e de louras fresquinhas. Às tantas, já a luminosidade e a orvalhada matinal se faziam sentir, quando os bravos guerreiros se erguiam da ressaca e corajosos, aos pares, davam início à última e longa caminhada Avenida da Boavista abaixo para finalmente sucumbirem, também eles, ao cansaço e extremos báquicos no areal das praias da Foz, assim numa espécie de desfrute final da noitada de festa. Há diversos rituais da noite de S. João que desapareceram ou vão escasseando. Este ritual de percorrer quase toda a cidade, numa longa e bem regada noitada em êxtase, deixei-a para outros mais jovens a fazerem perdurar às mudanças do tempo. Agora, crescido, envelhecido e mais tranquilo, percorro a cidade com outros olhos, junto do meu amor, numa noitada de São João. Só mais uma coisa. Ontem à tardinha, enquanto esperava pelo semáforo verde numa das artérias da cidade, não resisti ao sorriso meigo e pedido tímido que uma linda menina me fez, o tradicional: Ó senhor, dê uma moedinha ao São João!

sexta-feira, junho 19

bom fim-de-semana

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(clicar na imagem para ler as quadras)

Cheira a Verão, a manjerico, a férias e a S. João.


quinta-feira, junho 18

mau, mau, Maria!

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Quando finalmente arranjo um tempinho para vaguear tranquilo no blogobairro, me preparo para dar água sem caneco e misturar alhos com bugalhos em cada blogue vizinho, pensei, nem é tarde nem é cedo, vou ver quem por aqui andou a mandar postas de pescada nos postes anteriores. Macacos me mordam se não fiquei com a pulga atrás da orelha! Afinal, é ou não é o burro que fica a olhar para um palácio? Pra mim aqui há gato! Das duas uma, se me dizem que tenho memória de elefante e sei qual é a expressão correcta, aquela que sempre li e ouvi dizer, ou a Gi e a Teté puseram o carro à frente dos bois ou então estão a armar-se em carapaus de corrida, pensei eu pr'aqui com os meus botões! Ó menino Paulo, então nunca lhe disseram que burro é quem acredita em tudo o que lhe dizem? Pois é! Bem, mas como o seguro morreu de velho e o desconfiado continua vivo, pelo sim, pelo não, não estive com meias tintas nem fui por meios caminhos, dei corda ao Google e meti-me num 31. Que querem que vos diga? Foram duas ao burro e o burro no chão. Afinal havia mouro na costa! Não querendo fugir com o rabo à seringa e não dando a mão à palmatória, nem que me venham dizer que 2009 é o ano do boi, o que tem que ser tem muita força. Vou ser casca grossa, puxar a brasa à minha sardinha e ficar com um olho na cor do burro quando foge e o outro no palácio, ou no cigano!



Ai como o tempo voa! Com toda esta conversa sem pés nem cabeça não dei cavaco às tropas do blogobairro, mas pelo menos fica um belo chorrilho de dizeres e expressões populares, digam lá? Vou mas é pôr-me na alheta e dar uma volta ao bilhar grande antes que façam aqui um cagarim do cagaraças!


quarta-feira, junho 17

cinza

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Entre brumas a manhã surge acordada e de cara lavada. Sinto-a, plena de sombras, frescura e vida, numa ténue brisa de mudança, aquela que talvez um dia me fará regressar ao ponto de partida, qual D. Sebastião. Há momentos assim em que um corpo meio fraco fica mais activo. Há valores dos quais nunca deveremos abdicar, porque seguir o rumo de cabeça erguida e olhar nos olhos não é para qualquer um! O tempo tudo vê, tudo escuta, tudo revela... Como uma manhã de nevoeiro!

terça-feira, junho 16

conversa de jerico

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Há expressões que me deixam como um burro a olhar para um palácio. Expressões populares que alguns dicionários identificam como provérbios, adágios, rifões, refrões, máximas, aforismos, apotegmas, conselhos, princípios, axiomas, slogans, clichés... Sentenças populares que, em poucas palavras, encerram verdades ou máximas morais, confirmadas pelo decurso de gerações, que muitos dizem provirem de mitos, de contos, de fábulas e de lendas da história, e que os mais interessantes são os criados pelo povo. Os rifões populares são a expressão da sabedoria do povo, na sua experiência pessoal e colectiva, do seu sentir, das suas emoções, havendo-os de todo o tipo, das mais variadas origens, ditos de geração em geração, referentes a várias situações, criados e conhecidos apenas em determinadas regiões. São o próprio povo. Fazem parte da sua memória e cada qual, na sua simplicidade, carrega importantes ensinamentos adquiridos por gerações com base na experiência de um quotidiano quase sempre ligado à vida no campo. Um provérbio dito na hora e contexto certo diz mais que muitos considerandos que empregamos amiúde, no dia-a-dia. Todos somos capazes de citar, assim de pronto, pelo menos uma dúzia de provérbios e, curiosamente, se nos perguntarem qual a sua origem, o que significam ou onde os aprendemos, dificilmente seremos capazes de responder, mas sabemos quais as ocasiões para os empregar e qual o partido que deles poderemos tirar, isso é certinho como uma improvável conversa fiada da qual fui espectador:

- Bem se vê que burro velho não aprende línguas…
- E desde quando um burro carregado de livros é doutor!
- Pois, pois, a pensar morreu um burro.
- Fale, fale pr'aí que vozes de burro não chegam ao céu…

Às tantas apeteceu-me ter-lhes perguntado:
- Será que nunca ouviram dizer que quando um burro fala o outro abaixa as orelhas?


quarta-feira, junho 10

vamos lá

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Fotografia de Luis Valente

Chove muito, há muitos dias. Todos estes dias, torrentes de lágrimas escoam em sentimentos escondidos. Lenços ensopados de sonhos perdidos flutuam na tempestade. O mundo inteiro se encolhe à chuva, humedecido por tantas lágrimas, encharcado de sofrimento. É difícil explicar aos filhos deste povo o que se sente, porque verte liquefeito este dia. É fácil perceber no seu olhar que devemos regenerar forças e no conforto de um longo abraço sentir de novo a coragem flutuar. Vamos apressar o tempo que passa pelos nossos olhos arrastando as nuvens. Vamos parar o tempo que transforma uma pequena flor em ruas floridas e emplumadas ao sol, exibindo cores novas e mais frescas. Vamos com as aves no tempo que passa a voar em direcção à vida, pousar nas árvores sacudidas da chuva, sugar as gotas que pendem brilhando numa elegância renovada e limpa. Vamos ver o céu mudar de cor, iluminado, azul claro e mais leve. Vamos abrir as janelas, deixar a luz invadir o mundo inteiro de novo, secar as roupas ao sol. Cabelos ao vento, presságios, bicicletas, andorinhas. Vamos ver a lua aparecer, dizer até amanhã ao sol, acenar a uma estrela e a outra e outra... Vamos lá cambada!


terça-feira, junho 9

para a Raquel

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Estava a anoitecer e já eram horas de deitar mas a malandrinha não queria adormecer. O gato Zeus e a gata Vénus subiram para a cama e enroscaram-se à sua volta. Miau, miau, vá lá Raquel, tens de dormir para que os teus sonhos voltem, ronronou o gato Zeus. Cansada de tantas brincadeiras, recostou-se no pêlo macio dos seus amigos e dormiu profundamente. Um sonho tão belo, o mesmo de outras noites, voltou embalado de sorrisos e suspiros. Sonhava que abraçava o seu maninho e que o enchia de beijinhos. Sonhava o quanto brincavam juntos, os longos passeios que davam pelo espaço onde tantas e tantas estrelas brilhavam, fadas e príncipes contavam histórias de encantar. Manhã cedo acordou com um beijinho de parabéns. Lentamente esfregou os olhinhos e sorriu-lhe, sentou-se na beira da cama, encostou a orelhinha na barriga da mamã e fez-lhe festinhas. Bom dia maninho, hoje estou de parabéns.



sexta-feira, junho 5

num ambiente...

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... agradável, enquanto dormia o sono dos justos, numa destas noites eu tive um daqueles sonhos que, evidentemente, nunca se tornarão realidade. Sonhei que bem lá num futuro mais que perfeito, os automóveis estariam extintos pela escassez de hidrocarbonetos e a superfície da terra só seria calcada por rodas de bicicletas. Alguns carros, autocarros e camiões ficariam expostos em museus como relíquias do passado, memórias de um tempo carbonizado pelos óxidos e nós, de rabos sentados nos selins, com pés nos pedais e mãos no guiador, pedalaríamos felizes para sempre. Estão a pensar que estou a delirar, pois estou. É inegável a minha simpatia pelas bicicletas, máquina desengonçada que se estiver parada destrambelha-se no chão como um albatroz em terra, mas que ao impulso dos pedais se projecta esguia, veloz e silenciosa. É uma máquina do tempo, que está ali, pronta para quem quiser levantar-se mais cedo e experimentar a liberdade. Só quem faz, ou já o fez um dia, conhece a boa sensação de acordar antes do sol numa manhã de domingo, comer bem, vestir-se, calibrar os pneus da bicicleta e sair para umas longas pedaladas, respirar aquele ar tão puro e fino antes das emanações poluentes dos veículos motorizados cujos donos aquela hora provavelmente ainda dormem, de ressaca, preguiça, cansaço ou tédio. É um silêncio diferente, que só as manhãs de domingo têm, por as ruas se encontrarem quase vazias, num efeito de viajem ao passado, no espaço de uma época ou lugar onde não se vê a loucura, gritaria, individualismo e desrespeito. Acreditem sinceramente, não é só por isso tudo que tive esse sonho, mas pelo conveniente pretexto da bicicleta ser amiga do meio ambiente, de me proporcionar saúde e bem estar físico, pelo poder de me transportar em curtos espaços de tempo, a pequenos recantos de um paraíso que de outra forma não os teria desvendado. E o paraíso em questão não é só o lugar que encanta após umas curvas ou pelo subida ao cume de uma montanha, é a sensação única de a ter conquistado, com o próprio suor.




quinta-feira, junho 4

medo, que medo!

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Numa sala de aula, a professora pergunta aos seus pequenos alunos do que têm mais medo. Depois de um breve e tímido silêncio, um deles responde que tem medo do escuro, logo de seguida outro acrescenta que também tem muito medo de ficar perdido. Aí as respostas já se soltam sem medo, desenfreadas, uns têm medo das alturas, outros de morrer, e até do bicho-papão!... Vários medos foram confessados e anotados pela professora, cujo objectivo da pequena pesquisa era libertar os pequenos dos seus medos através do uso da razão. Mas uma das meninas permanecia calada e quieta, com um ar assustado, o que intrigou a professora. Por fim a menina lá falou que tinha muito medo do “malamém”! E o que é isso, perguntou-lhe a curiosa professora. É um monstro muito perigoso... E já viste esse monstro? Nunca vi, mas é um monstro tão perigoso que minha mãe pede todos os dias a Deus que nos livre dele, esclareceu a menina. Aí a professora já nem perguntava nada e só encolhia os ombros. Sabe senhora professora, quando a minha mãe acaba de rezar pede sempre a Deus... “e livrai-nos do mal. Amém”!

Não é preciso muito para se perceber o medo daquela menina, criado apenas pela sua imaginação e que muito provavelmente nunca terá ousado confessá-lo à mãe. Um medo terrível de algo que nunca existiu. Mas será que só as crianças têm medo do que desconhecem? Certamente, que não. O desconhecido gera medos em pessoas de todas as idades e desde sempre a ignorância das pessoas foi utilizada para se impor o terror do medo. Podemos ter tanto medo do desconhecido porque justamente os monstros criados pela imaginação geralmente são mais terríveis do que os reais, por exemplo o medo que temos da morte. O medo do inferno também tem feito reféns e o juízo final é outro tirano que atemoriza muita gente. Todos esses temores são frutos da ignorância e não há dúvida que também se tem medo de sentir medo! Enquanto a razão não se sobrepor aos medos, muita gente continuará a ser refém da própria ignorância.

Eu também tenho os meus medos e sempre tive pavor das alturas. Bem, agora já não terei assim tanto mas respeito-as como respeito a lei da gravidade que para mim é a mãe de todas as leis. Eu alimentava um medo da minha ignorância, um medo cego de voar, de um dia ter de entrar num avião e desconhecer qual seria a minha reacção. Ganhei coragem, voei e gostei, tanto que regressei da mesma forma. Mas poderei dizer que já perdi esse medo? Não, talvez ainda não o tenha perdido, mas percebi sobretudo que o medo não está nos aviões, nas alturas nem no nó do estômago. O medo é fruto de um jogo de poder que nos quer intimidar a todos, perpetuado pela nossa ignorância e por palavras de gente hipócrita, sem respeito pelo próximo, por ninguém, que intimidam pelo medo do castigo, pelo pavor da morte, a maior forma de perversidade e de terror que existe, o terrorismo verbal.

terça-feira, junho 2

da sátira aos homens com gripe à minha sátira aos jovens com viroses

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Xarope de cenoura prá constipação,
Um Ben-u-ron e rebuçados de mel
Que se pifaram as pilhas Duracell.
Não te quero pai, chama a mãe!
Vem cá mãezinha, isto está a doer,
Cabeça, garganta e o que mais houver,
Quero miminhos, festinha e doces palavrinhas
Que me aliviam da febre e das queixinhas.
Contigo a meu lado já me sinto melhor
Do que as receitas passadas pelo senhor doutor,
Não me tragas sopa, perdi o apetite,
Livra-me desta coisa terminada em "ite"
Que minha amiga não é, se é amigdalite!
Registos, medidas, tomas e doses,
Rolos de papel, narinas, tosses, viroses,
Zangam-me, sujam-me, cansam-me da cama,
Deixam a mãe e o pai fora de cena, em stresse,
Quando um filho adoece, toda a família padece.

"Paulofski"

segunda-feira, junho 1

até quando?

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... os adultos continuarão a violar os direitos das crianças?