Um dia foi pescador, quando ainda morava em Kélibia, uma aldeia branca e solarenga na costa mediterrânica da Tunísia, de onde saiu fugido das maledicências de um regime opressor e de uma sociedade inconformada.
Numa noite de Janeiro, Habib embarcou no pequeno barco de um estranho amigo, por oitocentos Dinar. Consigo, uma dezena de homens atravessaram o Mediterrâneo e desembarcou clandestino, oito horas depois, na costa italiana, para o início de uma nova vida, uma nova sobrevivência, num novo lugar onde provavelmente também seria indesejado, ou com sorte, até tolerado.
Esse renascer é sequela do maldito dia em que apenas ele sobreviveu ao naufrágio do pesqueiro que matou os seus três companheiros. O mar revolto, ao largo da Pantelária, quis que fossem eles e não a si. Devolveu-o à terra para sua desgraça. As viúvas de Kélibia não lhe perdoaram esta vitória. Menos por ter sido ele e não um de seus maridos o sobrevivente, mais pela própria fortuna que a sua fé exprimia. Privilégio de qualquer forma. Excluindo-se de algum modo por não ter sido acolhido pelo mar que o alimenta. A água salgada, o sustento daquela gente sofrida e que lhe ditara as leis durante a vida. Era um homem só e, por isso, mesmo que morresse não haveria viúva que chorasse por si.
Ao cruzar aquela imensidão azul, sem perspectivas e à sua sorte, ele decidiu que seria a última vez que navegava. Hoje, Habib vagueia pelas vilas da Sicília. É mais um entre os refugiados que sobrevivem da caridade humana e parou de sonhar que um dia morreria no mar.
Numa noite de Janeiro, Habib embarcou no pequeno barco de um estranho amigo, por oitocentos Dinar. Consigo, uma dezena de homens atravessaram o Mediterrâneo e desembarcou clandestino, oito horas depois, na costa italiana, para o início de uma nova vida, uma nova sobrevivência, num novo lugar onde provavelmente também seria indesejado, ou com sorte, até tolerado.
Esse renascer é sequela do maldito dia em que apenas ele sobreviveu ao naufrágio do pesqueiro que matou os seus três companheiros. O mar revolto, ao largo da Pantelária, quis que fossem eles e não a si. Devolveu-o à terra para sua desgraça. As viúvas de Kélibia não lhe perdoaram esta vitória. Menos por ter sido ele e não um de seus maridos o sobrevivente, mais pela própria fortuna que a sua fé exprimia. Privilégio de qualquer forma. Excluindo-se de algum modo por não ter sido acolhido pelo mar que o alimenta. A água salgada, o sustento daquela gente sofrida e que lhe ditara as leis durante a vida. Era um homem só e, por isso, mesmo que morresse não haveria viúva que chorasse por si.
Ao cruzar aquela imensidão azul, sem perspectivas e à sua sorte, ele decidiu que seria a última vez que navegava. Hoje, Habib vagueia pelas vilas da Sicília. É mais um entre os refugiados que sobrevivem da caridade humana e parou de sonhar que um dia morreria no mar.
6 comentários:
Isso se alguns europeístas não conseguirem os seus intentos e o recambiarem de volta para a sua terra... :S
Bom fim de semana!
Curioso falares em Pantelleria ! Pertencente à Sicília, uma ilha a caminho da Tunísia, donde quase se avista.
Daí bebi um dos melhores vinhos que já bebi ! É o "Moscato de Pantelleria". As uvas, casta zibibbo (tipo moscatel) são deixadas a secar ao sol e ao vento em eiras, durante o tempo suficiente para ficarem “passas”. Nessa altura é que é feito o vinho, um néctar dos Deuses !
Esse tipo de emigração é uma constante dos países africanos para as costas italianas, com uma grande percentagem de sucesso !
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Este texto faz-me lembrar o filme que vi no fim de semana passado que ainda hoje me incomoda: “Biutiful”: a exploração dos ilegais norte africanos e orientais – para além de outros dramas e tragédias.
Olá amigo!
O inverno voltou e o meu sistema humonológico foi a baixo.
O meu político preferido é um charlatão.
Vim aqui para me rir, pois pensava que se tratava de uma anedota de fim-de-semana.
Afinal, um texto muito comovente. Bem escrito, não haja dúvida, mas triste, verdadeiramente triste.
Saudações e bom fim-de-semana!
Uma bela história sobre os dramas da imigração.
Bom fds
Lindo texto! Obrg.
Akele abraço pah!
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