Carlos permanecia à janela. Contemplava a vastidão do seu quarto de pensão e pensava naquilo que não via. Pega no computador e resolve publicar um texto no seu perfil, do que sentia naquele mesmo instante. Era um dia de semana, casual e igual a tantas outras tardes de chuva. Apenas em duas frases, Carlos revela um súbito pensamento, quase sem sentido, só para ficar ali, incógnito e desinteressante. Depois saiu do blogue e espreita o Gmail. Nada de novo. Volta para o deslumbre da janela do seu quarto. Vigia de soslaio o monitor e naquele instante algo lhe desperta a atenção. Alguém comentou o seu texto. O seu ignorado blogue, confidente de longa data, recebia um comentário, o primeiro comentário, coisa nunca antes vista. Era um comentário sagaz e bem humorado. Assinava Flor de Lótus e do lado direito, uma pequena fotografia a preto e branco compunha o avatar. O que poderia ser uma jovem sedutora, dona de um sorriso e olhar distintos era apenas uma flor. Carlos lê com atenção as poucas palavras que a decoram e entra curioso no perfil da sua visitante. Queria saber mais, queria conhecer melhor essa Flor de Lótus, mas o que encontra é escassa informação, apenas suficiente para perceber que também tem um blogue. Ele vai lá, busca saber mais nas entrelinhas sobre o que ela escreve, por onde gosta de se perder no labirinto da blogosfera. Espreita todos os detalhes das imagens, percebe o cariz feminino nos textos publicados. Um texto em particular é tanto do seu agrado que resolve comentar, deixando um sinal de apreço. Imediatamente, como se estivesse à espera, Flor de Lótus retribui de uma forma atenciosa, simpática, singular até. Carlos é um homem acostumado com o concreto, não se deslumbra com palavras meigas, mas crê que em algum lugar algo maior o espera. Desde esse dia passa a publicar todos os dias, várias vezes ao dia, tudo o que lhe passa pela cabeça, e dela recebe sempre uma palavra banal. As confidências são trocadas na intimidade dos e-mails e passam a conhecer-se melhor numa rotina como de mão dada num virtual passeio.
3 comentários:
Não é por acaso que tenho lindos e queridos amigos virtuais e verdadeiros a quem conheço e com quem comparti pedaços de dias, de tardes, de almoços, passeios... Até te conheci a ti, foi engraçado e tudo à conta dos gémeos e das minhas subidas no caminho para visitar a Soledade, que me levou até ti e a um abraço feliz de conhecer um rapaz maravilhoso... Foi giro, mas sei que há gente que escreve o que nada tem a ver com eles, e gente que anda aqui pelo prazer de magoar, ferir e poucos como sabemos, são aquelas pessoas que conhecemos.
Uma coisa é certa, o tempo voa e a vida passa.
Um abraço da laura
Uma coisa já descobri há muito tempo: o mundo virtual é uma amostra do mundo real, onde há gente de todas as maneiras e feitios; ou seja, há gente sincera, simpática, divertida, carente, solitária, mas também gente aldrabona, manipuladora e com maus fígados. Nada de novo, portanto! :)
Quanto aos romances internéticos, pois, cada vez haverá mais, mas isso suponho que já é fruto de uma vida cada vez mais isolada que cada um leva! Há gente que não tem mais vida que casa trabalho, outros nem isso! E a tendência será cada vez mais essa, cada um no seu PC, TV, Ipod, consola, etc. e tal, cada vez mais isolado do mundo que o rodeia! Enfim, era bom que estivesse enganada... ;)
Não me parece que, no plano das relações, o mundo virtual seja muito diferente do real, Paulo. Na vida real também é comum as pax esconderem-se atrás de uma personagem laboriosamente construída, que apenas ao fim de algum tempo é desmontada. A diferença é que, ao contrário d que acontece no mundo virtual, no real as pessoas não mudam de sexo.:-)
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