quarta-feira, janeiro 19

cuidados e caldos de galinha

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Ficar doente já foi bom um dia. Ah, se foi. Tínhamos febre, dores de garganta, e ficávamos na cama, cobertos até o pescoço por lençóis, enquanto os nossos enfermeiros particulares, os nossos pais, nos mimoseavam com um copo de leite morno, supositórios e caprichos. Dependendo do termómetro e do tempo da doença, a televisão poderia ser transferida para o quarto. E televisão no quarto, naquela época, era coisa fina, tratamento VIP. Ficar doente significava ter a exclusividade da mãe, que faltava ao trabalho e passava o dia colocando a mão na testa, ajeitando o pijama e os cobertores, perguntando se nos sentíamos melhor. Significava acima de tudo faltar ao colégio. E um aaaai, assim, bem demorado, tirava qualquer tipo de dúvida. Aí, fazíamos aquela cara de filho doente, pálpebras pesadas, com o corpo meio mole, e soltávamos aquela tossezinha malandra que fazia a mãe se preocupar, ajeitar a almofada e trazer uma colherzinha de xarope caseiro ou daquele que a gente fazia caretas só de olhar, já que naquela época remédio tinha gosto de remédio e precisava de um mimo extra para se poder suportar (lá vem mais um supositório). Em crianças precisávamos de mãos que apertavam as nossas, carinhosamente, e nos alisavam os cabelos prometendo que
logo, logo, ficaríamos bem, e voltavam com um copo de água.

Hoje não. Hoje é muito diferente. É só abrir a porta do armário e lá estão todos: o paracetamol, o ibuprofeno, o ácido acetilsalicílico. A febre passa mais depressa, é só um comprimido a cada seis horas e pronto. Os mimos da mãe chegam por telefone e é o comando do televisor que fica ao nosso lado para nos acomodar de alguma forma. São dias sem graça em que fico só, por minha conta e risco, recebendo em chamadas de telemóvel palavras de preocupação e de consolo. Sem contar os amigos que só se inteiram pelo blogue e deixam um simpático comentário (a quem devo uma justificação de faltas e retribuir as vossas amáveis visitas). Mas amanhã vai ser pior meu amigo, aproveita agora. Adoece hoje porque amanhã vai ser complicado. Amanhã, nem pensar em adoecer porque nem faltar ao trabalho vamos poder mais.

Ao estilo de António Lobo Antunes, a minha sátira aos homens com gripe:

Termómetro na axila, lenço na mão,
Xarope de cenoura prá constipação,
Um Ben-u-ron e rebuçados de mel
Que se pifaram as pilhas Duracell.
Não te quero pai, chama a mãe!
Vem cá mãezinha, isto está a doer,
Cabeça, garganta e o que mais houver,
Quero miminhos, festinha e doces palavrinhas
Que me aliviam da febre e das queixinhas.
Contigo a meu lado já me sinto melhor
Do que as receitas passadas pelo senhor doutor,
Não me tragas sopa, perdi o apetite,
Livra-me desta coisa terminada em "ite"
Que minha amiga não é, se é amigdalite!
Registos, medidas, tomas e doses,
Rolos de papel, narinas, tosses, viroses,
Zangam-me, sujam-me, cansam-me da cama,
Deixam-me fora de cena, em stresse,
Quando o Paulofski adoece, toda a família padece.


7 comentários:

Miguel Barbot disse...

Isso ainda não passou?
Estive 2 semanas no estaleiro... voltei às pedaladas e às corridas na semana passada.

Um grande abraço!

Teté disse...

Ficar doente já foi bom??? Olha, contaram só para ti, que nunca achei graça nenhuma... :s

Agora que noutros tempos estava lá a mãezinha ao lado e nos sentíamos mais seguros só por isso, também é verdade! :)

Enfim, outros tempos!

Rafeiro Perfumado disse...

Essa de ser mimoseado com supositórios...

paulofski disse...

Olá Miguel, aos poucos vou-me livrando da maldita virose, mas o que me dana é saber que a dita se apegou depois de umas pedaladas nocturnas.

Abraço

paulofski disse...

Pois é verdade Teté, até pode ser paradoxo, mas na realidade esses dias sabiam-me bem por não ter de sair de casa para ir pró colégio. Coisas...

paulofski disse...

Rafeiro, entre esses e as injecções, lá se fazia o sacrifício.

redonda disse...

As melhoras!


Gábi