Os que me conhecem melhor suspeitarão da minha presença aqui, mas eu não escondo o meu apego aos leitores, aos que me recebem nas suas mãos e procuram em mim pistas para pensar, para despertar o conhecimento. Os electrónicos vidros frios dos computadores nem de longe nem de perto conseguiriam traduzir o calor das minhas palavras. Não vos seria possível lamber o dedo e folhear uma página. Ou entranhar entre elas o vosso marcador de páginas favorito. Nem tão pouco sentir o cheiro guardado no encardido papel como se guardasse um segredo. Entre esta capa de cartão encerro um relicário do saber, da fantasia, da minha história, que com as suas narrativas narram também a vossa história. Um título, uma imagem, a cor que me escolheram permite-me sentir vivo e passar a ideia de que não serei apenas um objecto de decoração, mas talvez de consideração. Eu faço imaginar, viajar, levo a pensar e partilho novos mundos. Estou disponível, entrego-me, crio laços de amizade e de companheirismo. Denunciando o carinho que sentem por mim, nada supera o que eu sinto na palma das vossas mãos, a graça de me aconchegar contra o vosso peito. Depois de ser folheado, ser olhado com olhos de ver, de exibir as minhas ilustrações, noto que deixo no ar alguma suspeita e atiço uma apetitosa aventura apelativa à leitura. E à medida que vou sendo aberto é como se todo um universo de relações pessoais se enredasse entre mim e o leitor. Não sou mais que um livro, para as crianças aprenderem, para os jovens rirem, para as senhoras sonharem, para os chorosos chorarem, e até para me rasgarem, porque ao abrir um livro, novo, usado, velho e gasto, como na vida, chega-se mais além. Sim, sou um velho livro que jaz entre outros, num lugar sublime, uma estante de biblioteca, entre camadas de poeira numa fila de lombadas coloridas, e que aguarda paciente o dia em que volte a ser aberto e as suas folhas se soltem como fruta madura pelo tempo.
DELITO há dez anos
Há 54 minutos
7 comentários:
Ok, "pifei-te" a imagem, mas não as letras... (sorrisos)
Pois, se há quem tenha que ter paciência, são os livros.
Abraço.
Adorei o texto e a imagem! Aliás, até estranhei, para quem diz que o livro que precisa é de cheques... :)))
Beijocas!
Belo texto. Durante este fim de semana, na FNAC levamos um livro e trazemos outro em troca. Espero que valha a pena ir até lá.
Bom fds
Um livro, uma das poucas coisas que nos permite pegar nas palavras de alguém e criar um mundo e uma visão pessoal em torno delas. Uma fonte de informação e um objecto de que nunca prescindo vá para onde for. Recentemente tenho passado alguns dos livros que adquiro para outras pessoas instruindo-as a fazer o mesmo quando terminarem de o ler. Como tal também já recebi um livro dessa forma que ainda não tive oportunidade de ler. Será em breve e depois irei passa-lo com toda a certeza. Um abraço.
Mas apenas por mãos que mereçam...
Adorei o teu "velho" livro e as tuas palavras...
Sim estou a tomar o velho gostinho, mas não posso saborear, tu sabes :)))
Beijocas
Um livro é um amigo que nos pode acompanhar e toda a hora e para todo o lado, e que tem sempre coisas interessantes para nos contar.
Acho que foi o que pensou o Sr. Gutemberg!
Será possível que hajam mais pessoas a ler com regularidade depois de terem acesso aos blogs?
Pergunto porque já tenho ouvido afirmações nesse sentido.
Akele abraço, pah!
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