quinta-feira, abril 2

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Ainda com os olhos fechados, estica o braço e tacteia a mesinha de cabeceira, à procura do maldito despertador para retardá-lo. Todos os dias é a mesma luta para se levantar da cama e começar as rotinas. O rádio não desiste em entrar pelos seus ouvidos, insistindo em atordoar que já passam das sete da manhã. Como uma criança, espreguiça-se lentamente e boceja, adiando mais que possível o inevitável. Levanta-se sonolento e segue às apalpadelas pelas paredes até se deter diante do espelho, desfocado e estremunhado. Leva as mãos aos olhos, à cara inchada do sono, e vê-se desconfiado. Não havia como negar, naquele instante o seu reflexo era tudo menos agradável. Num movimento brusco abre a torneira e com a água fria desperta os sentidos. Acordado do seu devaneio matinal enfia-se sob o chuveiro que aquece. Depois segue-se a aventura. Um verdadeiro calvário, quase diário, que deveria encarar com toda a naturalidade. Com alguma paciência, prepara a superfície num momento de delicadeza e carinho para consigo mesmo. Pelas bochechas até ao pescoço, com muita suavidade no queixo e debaixo do nariz, com toda a calma e habilidade raspa a lâmina cortante, esticando bem a pele até ficar lisinha como o rabo de um bebé. Termina, lava a cara com água fria para fechar os poros e, delicadamente, passa um creme hidratante para acalmar o ardor, dando umas palmadinhas ao de leve até secar. Com um pedacinho de papel higiénico estanca o pequeno e indolor corte cutâneo que o sono descuidou. No final, com um ar de desdém, atira a gillette para o lixo com a total garantia de ser aquela a última vez que precisou dela. Daqui para a frente, a sua pele voltará a ficar mais rica em vitaminas e camomila, hidratada e suavizada pelas oscilantes e exclusivas massagens, possíveis até de fazer durante o banho matinal.


Depois lembra-se do relógio e vê que já está atrasado, como sempre!

7 comentários:

Inês Brito disse...

Movimentos já tão habituais que se tornam mecânicos a quem os tem de realizar :)

Bj,
(i)

Kok disse...

Não me vou dar ao trabalho de explicar o porquê;
Somente refiro que me detive um pouco mais na leitura daquela parte onde dizes:
...e segue às apalpadelas...
É curioso como uma singela referência, um verbo e um substantivo, despertou a minha imaginação...!
Akele abraço, pah!

Sandra. disse...

:)))

gajos pela manhã :)) lolollllllllll

xinhinhus pa tu da lua

Gi disse...

E depois? Vesitu umas Denim?

Rafeiro Perfumado disse...

Eu tratava era de substituir esse rádio por um que não te tente entrar nas orelhas!

Abraço!

Almeida (pai) disse...

Quanto eu gostaria de voltar a ter vontade de mandar o despertador pela borda fóra
Um abraço.

Tó (Mano) disse...

Levanta-te mais cedo...