Uma noite como tantas outras e a cidade que dorme, aqui e ali sobressaltada por gatos e pássaros num louco frenesim. Apesar de toda esta agitação, só se ouve o silêncio, um alarme proveniente do poderoso som do vento, como palavras que se sobrepõem umas às outras, ganhando velocidade e descontroladas inundam numa dimensão cada vez maior, cada vez mais grave. Por vezes há avisos subtis que permitem permanecer em alerta, ou reagir e fugir enquanto há tempo! De um momento para o outro um tremor aparece do nada, o chão parece falhar e balança debaixo dos pés como se tudo estivesse sobre um baloiço gigante. As paredes embalam-se perigosas e o tecto faz companhia ao movimento do chão. Qual monstro adormecido, subitamente acordado pelo bater de asas de uma borboleta, reage explosivamente e, sem apelo nem agravo, destrói violentamente tudo à sua volta. Os alicerces tremem, os sonhos são arrasados. São ruas desertas de pessoas e inundadas de uma multidão de destroços. A imprevisibilidade, a inevitabilidade, a morte. A dureza das consequências deixa-nos sem ar, como se nos atingisse em cheio com um murro no estômago. E o penoso tempo vai passando, sentindo e tentando ignorar as réplicas que, apesar de não terem a mesma intensidade, estremecem o temor mas não a esperança. A revolta da terra vai passar. Restará arrumar as palavras que se espalharam, que flutuam e balançam como se fossem as penas perdidas de uma almofada rasgada. Não se sabe o tempo que demorará a repousar a poeira da emoção sobre o chão de sofrimento. Fica um momento na vida, como se tudo tivesse acontecido, imaginário, abstracto. Desabada a serenidade, arrumada a um canto da vida, permanece à espera que a memória a solte e feche a ferida que se abriu no coração.
Katie Melua - I Cried For You
Katie Melua - I Cried For You
10 comentários:
Perante a força e a fúria da Natureza, nada mais resta ao Homem senão render-se à forte evidência da sua frágil mortalidade...
e aos que dela escaparam, homenagear, com gestos práticos, aqueles que não o conseguiram...
E quando a Natureza se revolve e o seu coração se parte faz imensos estragos.
Não te lembras,mas já passaste por esse susto.Fugiste para a rua ao cólo da tua mãe.
Um abraço
Tens razão pai, desse eu não me lembro, no entanto já passei por alguns mas felizmente leves sustos.
Abraço
Paulo,
e.. nem com estes 'lembrete' que a Natureza vai dando o H se compenetra da sua irremediável pequenez!
Uma Páscoa Feliz!
um abraço e o meu sorriso amogo :)
mariam
errata: 'amigo'
...tenho estado a ouvir k.Melua, que adoro!
e... obrigada!p'las palavras deixadas :)
A agonia de não ter para onde fugir toma conta de nós e o pânico instala-se mais rápido do que aquilo que se espera.
Bj,
(i)
Eu tenho sempre presente um pensamento, ao mesmo tempo um desejo:
Se acontecer, espero estar na rua!
Eu tenho medo :S
Não penso nisto obssessivamente, mas quando vejo acontecer tão próximo...fico com um friozinho na barriga, confesso!
Bj
Prefiro nem pensar...
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