terça-feira, dezembro 2

mas onde está o passarinho!?

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Quem atravessava o jardim, erguia os olhos para o arvoredo tentando vislumbrar os autores de tanta azáfama. Agradável e colorida, aquela tarde de um Domingo de Outono estava mesmo apetitosa para um calmo e familiar passeio por caminhos traçados entre a relva e as flores.
- Ó mãe, ele está ali!
- Quem meu filho?
- O cavalinho!
Correram para ele. O fotógrafo teimava em exercer ali a sua arte, o seu único meio de subsistência. Ocupava um cruzamento de caminhos ao lado de bancos e repuxos de água, perto de um quiosque tradicional coberto de revistas e jornais diários. Num quadro, seguro a um tripé, e na caixa da velha máquina ele expunha os trabalhos realizados e não reclamados para atrair o publico.
- Ó senhor, posso subir pró cavalinho, posso, perguntava o mais novo, fitando-o.
-Olhem só, que meninos tão espertos, querem um retrato? Recebe o olhar desconfiado do mais velho e um encolher de ombros como resposta. - Eu não quero tirar retratos, ripostava timidamente. Queremos subir para o cavalinho!
- Pois com certeza, os meninos mandam, venham cá!
Um à frente do outro, o fotógrafo colocava-os na garupa do cavalinho de madeira, preso à sua tarefa de modelo fotográfico. Estático, não se mexia mas eles não pensavam nisso. Num faz-de-conta intenso, já cavalgavam desenfreados como os cowboys e os índios.
- Querem tirar uma fotografia? Perguntava-lhes o pai. Acenaram as cabeças consentindo e interromperam a corrida ficando quietos em pose. Antigamente o mundo mágico da fotografia de jardim era basicamente uma simples caixa negra sobre um tripé com um furo por onde entrava a luz e do outro lado um pano escuro onde o fotógrafo se escondia por momentos. "Olh'ó passarinho" gritava do fado de lá enquanto apertava um botão! Poucos ainda se recordarão do tempo e quanto custava fazer uma fotografia rápida, “á la minute”, da necessária imobilidade da câmara e na qualidade da fotografia.
- Desculpe, mas esse líquido onde mergulha o papel não lhe faz mal aos dedos? Perguntava a mãe dos meninos. Ele sorria e respondia que já estava acostumado, é mesmo assim! Molhou o negativo no ácido que ajuda a transferir a imagem para o papel. No final pendurou o pequeno papel seguro por uma mola numa corda e pediu para que aguardassem uns minutos, para secar. Ele já perdeu a conta aos rostos e sorrisos que captou com a sua objectiva, à quantidade de vezes que montou e desmontou aquele cenário perfeito ao sonho e fantasia de tantos meninos. Quase todos gostam de ser fotografados sentados no cavalinho de madeira. Transportou a preto e branco para o papel simples momentos do quotidiano, da sociedade, do passado, que hoje são recordações na carteira e no álbum de muita gente. Não é incrível pensar como o mundo da fotografia e das máquinas fotográficas evoluiu? Como é agora tão fácil pegar num pedaço de papel retirado do álbum de família, coloca-lo num scanner e transforma-lo num ficheiro jotapegue que permite transportar um belo momento de outros tempos para este mundo virtual!



Tenho que agradecer aos modelos, o meu mano, a mim e ao cavalinho, que já não me lembro do nome, a amabilidade e paciência que tiveram com a sua pose para a realização deste poste!


PS: Voltarei depois de uns dias de descanso. Boa semana.

21 comentários:

DANTE disse...

A tecnologia sempre permitiu ao homem uma forma fácil de imortalizar pedaços de uma vida. São sentimentos impressos numa imagem.

Um abraço

Gi disse...

O passarinho foi com o pai-natal e o palhaço num comboio aocirco!

Benditos Scanners!

Patti disse...

Ainda há um olhó-passarinho em Viana do Castelo, lá em cima em Santa Lúzia.

Memórias de outros tempos, este teu post. E que queridos ficaram vocês os dois.

Boas férias então. Divirtam-se.

FM disse...

Esses cenários deixaram tantas saudades... Somos uns saudosistas. (risos)
Abraço.

PB disse...

Recordar é viver.Sem dúvida.

Um abraço, Paulo

Sunshine disse...

Coisas que deixam saudades...

Bom descanso.

Bjs

Anónimo disse...

Todas as fotografias têm uma pequena história, e quanto mais velha fica mais encanto tem...e sendo a tu a contá-la tem realmente um sabor especial.

Eu acho que fiquei melhor nesta foto (tirando o cavalinho claro...)
Aproveita este fds,ainda não desisti da ideia de ter mais um sobrinho....eh..eh.

paulofski disse...

Pois são Dante, grato pelo comentário.

Abraço

paulofski disse...

Oh Gi, tadinho do coelhinho!

Digitalizem.

paulofski disse...

É mesmo Patti! Vou conferir no próximo fds.
No Bom Jesus de Braga havia um.

Beijinhos

paulofski disse...

Se deixaram Francisco! Assim é uma forma de vivermos sempre jovens.

Abraço

paulofski disse...

Um abraço Pedro.

paulofski disse...

Obrigado Sunshine.

Bejios

paulofski disse...

Pensas que não sei, Tó! O que tu querias era levar o cavalinho para casa!

Quanto ao fds espero aproveita-lo muito bem!

Amassos

Rafeiro Perfumado disse...

A minha irmã tem uma foto do género, mas a chorar baba e ranho. Ainda hoje gozo com ela sobre isso...

Abraço!

Paula Crespo disse...

Os três da foto pressentiam que ainda um dia iriam ser falados... ;)
Bjs

paulofski disse...

Rafeiro, porventura a tua irmã perferia ter subido para o lombo de um rafeirito!

Abraço

paulofski disse...

Paula, pois é, está estampado na cara deles!

Beijo

Safira disse...

O cavalinho era arraçado de girfa, não era?

;)
BEijinhos e bom descanso

joana disse...

Ainda bem que as fotos existem para podermos ver o passado e o presente.
Recordar é viver.
Beijinhos

LeniB disse...

Não tenho nenhuma fotografia sentada num cavalo de madeira, mas recordo o retratista que as tirava no Jardim da Estrela, com todo aquele arsenal de cenários...tempos idos!
bjs