sexta-feira, abril 20

a Escola da Fontinha ficou, de novo, sem gente

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Fontinha: Escola da memória



A Escola da Fontinha é o máximo sinal de cidadania e de criação possível, dentro de uma cidade. Cidade essa que parece que se abre para o mundo. Mas a forma como hoje se atacou aquele espaço é lamentável e derrota a esperança de todos aqueles que acreditaram na possibilidade da criação de uma outra escola, a escola da Vida.
A falta de sensibilidade e de abertura para a criação de um diálogo construtivo com a população da Fontinha foi desperdiçado, o que lá se passava não se compra, não se encomenda, e o que produz no futuro é incomensurável.
Desperdiçam-se energias e vocações de uma forma tão redutora que a única coisa que posso dizer é que estou triste.
E tristes estarão todos aqueles que fizeram daquele espaço um espaço de fruição criativa, criação, ocupação de tempos livre e formação contínua.
Tristes teremos de estar todos porque vivemos numa cidade maravilhosa que não tem uma visão para um Futuro, que, sabemos, cada vez será mais duro e difícil. Sabemos muitos que todas as formas informais de educação deveriam ser muito bem-vindas. Mas quem está no Poder não sabe disso.
A qualidade de uma cidade é revelada pelos seus interstícios e não pelas suas fachadas; é pela quantidade de espaços alternativos e pelo tecido cultural heterogéneo que estes juntam que se faz de uma cidade um espaço de memória.
Arriscamo-nos a perder a nossa!


Para sempre?


Mais um dia para recordar: o poder autoritário e economicista calçou as botas e veio para a rua fazer uma demonstração de força. Mas não é este desfile de moda, hoje tão banal, que torna o dia especial. O que o torna especial é a carga simbólica que transmite e a prova de que o fascismo anda a marchar pelo mundo.
Fechar escolas por falta de verbas é a desculpa recorrente daqueles que doutrinam a austeridade, mas a verdade é que uma população educada pode-se tornar inconveniente no dia em que começar a pensar.
Daí também a qualidade do ensino que existe ser cada vez mais fraca e formatada – não interessa o que sonhamos, interessa o que vamos fazer para ganhar dinheiro e para entrar no ‘mercado’.
Não interessa que saibam muito, apenas o suficiente para trabalhar uma máquina. Não interessa que tenha um sentido, interessa o sentido.
Se assim não fosse, não havia motivos para fechar a Es.Col.A, um projecto assente na solidariedade e no espírito comunitário, que decidiu ocupar um edifício abandonado de uma antiga escola e começar a educar e ocupar o tempo dos habitantes de um bairro esquecido no centro do Porto, dando um sentido às suas vidas.
O espaço Es.Col.A será talvez dos projectos mais honestos que existem em Portugal. Praticar o conhecimento e a educação desta forma só pode conduzir as pessoas e a sociedade à verdade e à justiça. Exactamente aquilo que não interessa existir quando se pratica a política do fascismo, que só consegue sobreviver em mentes vazias.
Ao decidir encerrar um espaço destes, de ouvidos tapados e de forma violenta, contra a vontade dos cidadãos daquele bairro, a autarquia do Porto só vem provar que é o melhor exemplo disso em Portugal continental.
À política da nulidade cultural (também adoptada pelo actual Governo) e ao carácter economicista e anti-social (tão bem demonstrado no processo do Aleixo), basta somar as políticas populistas e demagogas, assentes no princípio ‘fachada limpa/alma vazia’, à atitude ressentida e autista, personificada no carreirista político que é Rui Rio. Uma miniatura daquilo que estamos a viver no país e no mundo.
E é esta a linguagem com que o Governo actual fala, é esta a linguagem do poder internacional, sustentado no que gere valor financeiro. Mais nenhum valor importa. A receita é essa – uma linguagem austera, bruta e seca, mascarada de propaganda e demagogia, de uma violência física e espiritual que conduz ao fim do conhecimento e por sua vez ao fim da liberdade.
O simbolismo do dia de hoje é precisamente esse: assim como uma bota que pisa uma face humana para sempre, como escreveu Orwell, hoje um cassetete fechou uma escola. Para sempre?

 

A capacidade de sonhar permite a obra avançar!

O que hoje se passou na escola da Fontinha, com o despejo do movimento Es.Col.A, é retirar a capacidade de sonhar e de concretizar a quem diariamente luta por passar do sonho à obra-feita.
Os acontecimentos do dia de hoje ultrapassam em muito a capacidade de entendimento de qualquer cidadão perante a atitude da Câmara Municipal do Porto, ao acionar a ordem de despejo ao Movimento Es.Col.A.
Mas mais do que analisar, questionar e até julgar esta ação da CMP, urge muito mais aprofundar as atitudes dos cidadãos que contestaram este despejo. Foi visível a indignação sentida por todos, resultado da profunda incompreensão por toda a situação.
Como poderiam eles ficar serenos quando lhes é retirado, de forma violenta, parte do conforto emocional e imaterial que recebem desde movimento, que de forma voluntária, lhes presta algumas atividades pedagógicas e culturais?
Não podemos permitir que estes acontecimentos de violência e de falta de respeito se repitam, não são estas as atitudes que fazem do Porto uma cidade de “gente grande”. Grande na sua essência e que respeita génese da cidade, que valoriza as suas gentes e reconhece as suas capacidades…
Mais do que querer uma cidade reconhecida internacionalmente feita para os turistas e para o turismo, é importante querer e manter a cidade respeitada por todos os que dela fazem a sua cidade!

Porto24

2 comentários:

Teté disse...

A lei da bastonada voltou em força, com polícias que se queixam de agressões e injúrias da população, mas quando se vai a ver esta é que foi agredida e os tais elementos agressores e injuriosos eclipsaram-se, como por magia! Esta é a verdadeira face do fascismo, no seu pior... com Coelho e Rio a orquestrar! :P

Ca nojo!

ψ Psimento ψ disse...

Cá estamos nós em Portugal. Provavelmente vão repovoar as instalações com pessoas que vivem do rendimento minimo. Não que tenha nada contra quem vive do rendimento minimo mas é uma pena que uma iniciativa como esta se tenha perdido...
Abraços