A caminho de casa entra numa pastelaria para tomar um chá e trincar meia torrada. Na realidade está a adiar o momento de voltar a casa. A perspectiva de encarar os filhos a assusta. Gostaria de lhes levar boas novas, de coroar o final do dia com um “consegui”. Mais um dia nesta desesperante procura de um emprego, um trabalho, um biscate, qualquer coisinha que lhe alterasse o quotidiano e a auto-estima. Da sua ainda curta vida ela pretende apenas recolher algo de útil, fruto da sua prática, que a fizesse mais digna de ser vivida. Nesta busca por um futuro melhor, na constante perseguição do sim, qualquer palavra escutada, qualquer instante testemunhado, a torna numa atenta observadora à primeira oportunidade. Mas, sem nada que lhe prenda a atenção, baixa a cabeça e dá um gole no chá, enquanto lança um último olhar ao seu redor, onde outras almas adejam os seus assuntos em silêncio.
A um canto do salão, numa das mesas vazias encostada à parede, um casal de meia-idade acaba de se sentar. O alinho humilde, a contenção de palavras e de gestos, deixa-se enobrecer pela presença de uma menina, bem pequenina, de laço na cabeça e vestidinho esbatido nas cores, que com eles se senta à mesa. Mal consegue baloiçar as perninhas curtas mas percorre veloz com os olhos, sorridentes de curiosidade, tudo ao seu redor. Generosa fica a observá-los.
O homem, depois de contar as moedas que discretamente retirou do bolso, aborda o empregado, inclinando-se para a frente e apontando para a vitrina do balcão. A senhora, discreta mas impaciente, limita-se a olhar para a pequenota. Suspira enquanto lhe ajeita a fita cor-de-rosa que segura o cabelo. O empregado encaminha o pedido do freguês. Avó... avó..., clama a criança, apontando para o homem que trás um pratinho com uma simples fatia de bolo de chocolate. Contida na sua espera, a menina contempla agora o pratinho e a garrafa de sumo que o empregado deixou à sua frente. Por que não começa a comer?, matuta Generosa. Dá conta que os avós e a neta cumprem um discreto ritual. A avó remexe num pequeno saco de plástico e dele retira qualquer coisa. O avô agita um isqueiro na mão e espera. Quieta, a netinha aguarda também. Mais ninguém os observa além de Generosa e percebe então que naquela mesa se prepara algo mais do que saciar a fome.
São três velinhas, brancas, minúsculas, de tamanhos diferentes que a avó delicadamente espeta na fatia do bolo. E enquanto ela deita sumo para um copo o avô acende as velas. Muito compenetrados e discretos, os adultos balbuciam um cântico em uníssono: "Parabéns a você, parabéns a você...". Como um gesto ensaiado, a menina baixa a cabeça, quase encosta o queixo na madeira, e sopra a chama das velas. Imediatamente sorri e põe-se a bater palmas. A avó retira as velas, torna a guardá-las, a pequena aniversariante agarra finalmente o bolo com as suas mãos inquietas e come. A avó mira-a com ternura e limpa as migalhas e pepitas de chocolate que lhe caiem ao colo. O avô percorre os olhos pela sala e fita Generosa que estática se comove com a celebração. Seus olhos se encontram e ele constrange-se. Baixa ligeiramente a cabeça e ameaça vacilar mas contem-se, abrindo enfim um largo sorriso de satisfação.
A um canto do salão, numa das mesas vazias encostada à parede, um casal de meia-idade acaba de se sentar. O alinho humilde, a contenção de palavras e de gestos, deixa-se enobrecer pela presença de uma menina, bem pequenina, de laço na cabeça e vestidinho esbatido nas cores, que com eles se senta à mesa. Mal consegue baloiçar as perninhas curtas mas percorre veloz com os olhos, sorridentes de curiosidade, tudo ao seu redor. Generosa fica a observá-los.
O homem, depois de contar as moedas que discretamente retirou do bolso, aborda o empregado, inclinando-se para a frente e apontando para a vitrina do balcão. A senhora, discreta mas impaciente, limita-se a olhar para a pequenota. Suspira enquanto lhe ajeita a fita cor-de-rosa que segura o cabelo. O empregado encaminha o pedido do freguês. Avó... avó..., clama a criança, apontando para o homem que trás um pratinho com uma simples fatia de bolo de chocolate. Contida na sua espera, a menina contempla agora o pratinho e a garrafa de sumo que o empregado deixou à sua frente. Por que não começa a comer?, matuta Generosa. Dá conta que os avós e a neta cumprem um discreto ritual. A avó remexe num pequeno saco de plástico e dele retira qualquer coisa. O avô agita um isqueiro na mão e espera. Quieta, a netinha aguarda também. Mais ninguém os observa além de Generosa e percebe então que naquela mesa se prepara algo mais do que saciar a fome.
São três velinhas, brancas, minúsculas, de tamanhos diferentes que a avó delicadamente espeta na fatia do bolo. E enquanto ela deita sumo para um copo o avô acende as velas. Muito compenetrados e discretos, os adultos balbuciam um cântico em uníssono: "Parabéns a você, parabéns a você...". Como um gesto ensaiado, a menina baixa a cabeça, quase encosta o queixo na madeira, e sopra a chama das velas. Imediatamente sorri e põe-se a bater palmas. A avó retira as velas, torna a guardá-las, a pequena aniversariante agarra finalmente o bolo com as suas mãos inquietas e come. A avó mira-a com ternura e limpa as migalhas e pepitas de chocolate que lhe caiem ao colo. O avô percorre os olhos pela sala e fita Generosa que estática se comove com a celebração. Seus olhos se encontram e ele constrange-se. Baixa ligeiramente a cabeça e ameaça vacilar mas contem-se, abrindo enfim um largo sorriso de satisfação.
6 comentários:
É estranho este mundo de hábitos e preconceitos.
Ou não!
Sabemos (acho que todos) que a pobreza (falo da económica) existe.
Mas sempre, desde sempre, nos foi incutido o conceito de que é feio ser pobre.
Sobretudo por quem é rico; por quem sempre foi rico (financeiramente falando).
O que seria bonito mesmo era que ao fazer 4 anos a menina soprasse as velas de um bolo inteiro e que a Generosa voltasse a testemunhar ou até mesmo acompanhasse com palmas a canção de parabéns!
1 abraço pah!
A ternura, como tantas outras boas coisas da vida, não depende da capacidade económica...
:-)
Beijos.
Julgava que era uma repostagem, que a história da generosa não me era estranha... Afinal, não! É um seguimento... :)
Mas sim, o amor e a ternura não se compram! :D
Bom fim de semana!
Paulo, vim espreitar o teu blog,à espera de lêr os parabéns ao teu pai e deparo com outro aniversário que não o dele.
Fiquei emocionada.
Continuas a ser o meu filho sensivel
de sempre.Gostei do que li foi lindo,
e os parabéns ao pai foram dados pessoalmente.
Um beijo para ti Carla e Rafael
Mãe.
Gostei muito desta história.
um beijinho
Gábi
Emocionante... e muito bem descrito :-)
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