Não é apenas do F.C.Porto que eu gosto. O meu futebol é o futebol dos golos de calcanhar, dos penáltis falhados, dos saltos na bancada, das controvérsias ao intervalo. O meu futebol vive-se no estádio mais bonito do mundo, esfuziante e delirante nas goleadas, de espetar cinco secos no vencedor do campeonato anterior. Também das unhas roídas em angústia e, quando calha, contido q.b. nas derrotas. Vivem-se o futebol e a paixão em doses iguais e quando alguém nos pergunta se não é loucura isso do futebol nós erguemos bem alto as taças e citamos o grande capitão João Pinto: "Comigo, ou 'sem-migo', o Porto vai ser campeão!"
Hoje em dia, há demasiado negócio no futebol para o meu gosto. Eu preferia quando as crianças portuguesas jogavam futebol na rua, os nossos vagos candidatos a futebolistas demonstravam desde cedo a sua intimidade com a bola, cresciam e despontavam, faziam-se adultos jogadores abnegados, devotados ao clube que os singrava. Tais foram as dívidas que tivemos por cobrar a estes rapazes a quem demos a honra de vestir aquela linda camisola. Pois eu acho que agora valem pouco. É minha firme convicção de que metade disto começou a morrer no instante em que pela primeira vez se incorporou essa coisa da “indústria do futebol”. Dantes tratava-se de um jogo de homens, muitos falíveis e outros gloriosos. Em vez disso, o que temos é este futebol de autómatos do empresário manhoso. Um futebol de contracto e clausulas de rescisão, de movimentos bancários e cargas físicas, até porque o mais importante é o “encaixe financeiro”.
Por vontade dos dirigentes os treinadores não convocariam um só jogador lusitano, os seleccionadores nacionais das próximas gerações não terão outro remédio senão ir buscar nacionalizados para poder compor uma vaga lista de convocáveis. O público debandou das bancadas e, se ainda não debandou da televisão, foi por falta do que fazer. Afinal de contas, a própria têvê está há muito conluiada com essa absurda desumanização do jogo a que, à falta de melhor, demos o nome de “indústria”. No meu futebol continuará a caber a alegria do golo, o sentimento de injustiça e a matreirice do ponta-de-lança. No meu futebol cabem todas as vitórias e conquistas, e quero mais. A começar já esta noite, pelo jogo com o Gil Vicente.
4 comentários:
Falaste no grande João Pinto !
... ele chutava sempre com o pé que tinha mais à mão e o seu prato favorito eram os rissoles ! :))
Grande jogador !
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Concordo com todas as considerações do segundo parágrafo! Mas ouve lá, essa do teu coração só ter uma cor, e depois ser AZUL e BRANCO, não é uma contradição??? :)))
Bom fim de semana!
Serei sempre azul e branco.Já tinha mais de 20 anos quando festejei o primeiro campeonato ( embora fosse nascido nos títulos de 56 e 59, ainda não vivia com paixão o "ser portista"), mas depois disso tem sido um fartote de alegrias.
Este ano tem maus pressentimentos. Os jogos contra o Vitória foram fraquinhos e hoje com o Gil, nem se fala.
Talvez tenhamos um ano de jejum, para recomposição das tropas, mas as alegrias do último ano foram tantas, que dá bem para aguentar um ano...
É contraditória de facto Teté, mas a frase não é minha. A frase pertence ao extenso rol de frases míticas do grande capitão João Pinto. Aqui deixo mais algumas:
“Sim, estamos felizes porque estamos contentes.”
“Não foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais a mão!”
“O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correcta, deu um passo em frente…”
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