A gaiola ficou aberta, esquecida. Em baixo, o menino espreitava. Lá em cima, a gaiola aberta e o passarinho sem perceber. Como sempre, vivia a sua vidinha a pular. Há quanto tempo as suas asas não batiam? Há quanto tempo vivia naquela gaiola? O menino, lá em baixo, vigiava. Fixava o olhar de boca fechada. Só os dois, no quintal da casa. Ele, escondido. Calado. Dividido entre a liberdade do verdilhão e o carinho que sentia por ele. Voa, passarinho. Fica, passarinho. Voa. E o passarinho pulava, de poleiro em poleiro. As suas asas sem bater. O menino escondido olhava a gaiola aberta. O passarinho bicava a alpista, bebericava, pulava, cantava. Sem perceber que o menino permanecia ali e que a gaiola estava aberta. Voa, passarinho. E finalmente o verdilhão descobre a abertura. Pula até lá. O mundo aberto e o passarinho parado na portinhola. Voa, passarinho. Voa. Volta, passarinho. Volta, voa... Espreitava agora a liberdade que o menino oferecia, sem barreiras de madeira, sem arames. Olhava para os lados. Para cima. Para baixo. Não voa. Não voa. Voou. Bateu as asas, desajeitado. Voou devagar. Voou, para perto. O menino saltou e procurou. Os seus olhos tremiam. Nem viu o passarinho voar, para a árvore ou ir para bem longe. Não viu. Correu pelo quintal e avistou-o novamente. O passarinho alcançou o muro. Parecia despedir-se. E voou. Foi melhor para ele. O menino sabe. Está livre, vai encontrar amigos, uma família. Ele sabe. Vai poder voar, cantar num ramo de árvore. Eu sei.
- O que fizeste foi muito bonito, Paulinho. Pode ser até que o passarinho te venha visitar!
- Juras?
- Tenho certeza.
- O que fizeste foi muito bonito, Paulinho. Pode ser até que o passarinho te venha visitar!
- Juras?
- Tenho certeza.
6 comentários:
O menino fez o que achava melhor para o passarinho. Acontece que os passarinhos de gaiola não estão habituadas à vida em liberdade, a procurar água ou comida, a perceber os perigos que os espreitam...
Assim a aventura da liberdade nem sempre acaba num final feliz! Temos pena!
Estou com a Teté, esperemos que os meninos do mundo não se lembrem de soltar os seus periquitos e canários! É que duvido que se safem um dia que seja.
Um abraço e boa Primavera.
Interessante... Inquestionavelmente.
Já não passava pelo teu "quintal" à algum tempo e soube-me bem...
Abraço.
A Teté "roubou-me" o comentário. Por isso, limito-me a subscrevê-lo.
A ave da imagem é uma felosa, não um verdilhão ;)ai ai ai
Grato pela dica Rui. O passarinho apenas motivou a inspiração.
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