(foto da net e da bagunçada que aquilo é)
Pela primeira vez eu vou ao Sudoeste na Zambujeira do Mar. Vou imbuído de um espírito reminiscente dos meus tempos de adolescente e campista, da lanterna petromax, do camping a gás (onde eu fazia uma arrozada de lapas com berbigão e sopas Knorr, de chorar por mais), do saco-cama, da tenda armada, e assim, enquanto vou e não volto, decidi partilhar as minhas remotas vivências de um veterano campista.
Eu quando era pequeno, ainda naqueles tempos que armava barraca, não passava um ano que não fosse com a minha família acampar nas férias. Para quem não sabe e esteja à procura de passar algum tempo longe das grandes cidades, na praia ou no campo, a bronzear-se ou embrenhar-se pelos mais belos trilhos da natureza, o campismo é o conceito ideal para um estilo de vida livre e masoquista. Creio que as minhas místicas aventuras nómadas estão na base do que sou hoje e da noção que tenho de família, como por exemplo de como era feita a distribuição das tarefas. Não me valia de nada resmungar, estrebuchar e molhar-me todo porque não me safava da ingrata e insossa tarefa de lavar a louça, o que executava primorosamente, por sinal. Longe vão os tempos em que nós parecíamos uns saltimbancos, viajámos e conhecemos o país, de lés a lés, e novas paisagens além fronteiras, no sempre fiel e carregado que nem um burro de carga FIAT 127. Juntos, vivemos um período de lazer, em pleno gozo de férias, num T2 de pano. Conquistamos bons momentos, boas amizades e até namoradas. Posso dizer que os dias que passei em parques de campismo foram sem dúvida os dias mais felizes da minha vida que passei em parques de campismo...
Mas o campista é singular na evolução humana. Como qualquer trabalhador suspira durante 11 meses por uns dias de sossego, de chinelos e papo pró ar, e uma vez chegado o tão ansiado mês de férias, o que faz? Vai dormir para o chão! Transfere a televisão, o frigorífico, panelas, um serviço completo de loiça de plástico, a cadela e respectiva descendência, roupa suficiente para enfrentar confiante os rigores da praia e toda a família, próxima ou afastada, para uma pequena réplica de um campo de refugiados, entre a fauna residente, formigas, melgas e o que mais houver. Aí, arma toda a barraca, perde a pachorra ao tentar encaixar meia dúzia de ferros e espetar umas quantas espias. No final do dia instala-se, com o alarido próprio de um grupo de morsas aconchegadas no areal de uma praia, no abrigo improvisado. Sente-se feliz por viver confinado por muros de arame, goza o espaço exíguo que lhe permitem as tendas vizinhas e enfrenta corajosamente o congestionamento que ele e seus pares provocam à porta de coisas tão banais como o chuveiro de água quente. Barafusta porque não consegue adormecer ao som da menina chorona mas, assim que entra no mundo dos sonhos, ilumina todo o parque com o seu ronco territorial, esquecendo-se muitas vezes que o som do metabolismo do ser humano se propaga com muita facilidade.
Mas há outros típicos campistas. No sentido descendente e económico da tabela dos barraqueiros, temos o caravanista que enfatiza a epopeica aventura dos povos nómadas com todas as comodidades caseiras, parabólica e micro-ondas incluídos, sobre rodas. A seguir, na escala, temos o campista residente, capaz de fazer inveja a um sultão árabe, pois é possuidor de um luxuoso abrigo com todo o conforto eléctrico e um grelhador fumarento, demarcado por sebes e que pomposamente chama de casa de praia. No meio da tabela acampa o campista básico, como eu e a minha família fomos em tempos e, por fim, na base da pirâmide, chegam os jovens de mochilas às costas.
E é com esta malta com quem irei coabitar neste próximos dias e noites. Estes acampam em qualquer sítio porque lhes apetece e não têm dinheiro para mais ou, se o têm, preferem gastá-lo em bebidas e substâncias inibidoras de neurotransmissão ou cujo consumo está previsto no código da estrada. Na minha modesta e inabalavelmente bem fundamentada opinião, os jovens têm uma abordagem bastante salutar do campismo, senão vejamos: Transportam consigo apenas o estritamente indispensável e tudo devidamente atafulhado numa única embalagem. A tenda, minimalista e com um saco-cama de asseio duvidoso, é uma espécie de sauna sufocante em miniatura, que os obriga a um exercício de alternância constante entre o rastejar e as cãibras nas costas. Comem o que calha, quando lhes apetece, logo que seja barato! Tudo o resto é irrelevante, a natureza, o local, a forma ou a companhia com quem se deitam. E já estou a ver o que me espera e a minha figurinha matinal, desgrenhado com olheiras e picadelas de mosquitos, a serpentear pelas tendas, e mesmo sem dizer uma única palavra a anunciar à vizinhança residente para onde vou, pois qualquer campista que se preze leva sempre o seu rolo de papel higiénico na mão. E isso sim, isso é campismo!
Eu quando era pequeno, ainda naqueles tempos que armava barraca, não passava um ano que não fosse com a minha família acampar nas férias. Para quem não sabe e esteja à procura de passar algum tempo longe das grandes cidades, na praia ou no campo, a bronzear-se ou embrenhar-se pelos mais belos trilhos da natureza, o campismo é o conceito ideal para um estilo de vida livre e masoquista. Creio que as minhas místicas aventuras nómadas estão na base do que sou hoje e da noção que tenho de família, como por exemplo de como era feita a distribuição das tarefas. Não me valia de nada resmungar, estrebuchar e molhar-me todo porque não me safava da ingrata e insossa tarefa de lavar a louça, o que executava primorosamente, por sinal. Longe vão os tempos em que nós parecíamos uns saltimbancos, viajámos e conhecemos o país, de lés a lés, e novas paisagens além fronteiras, no sempre fiel e carregado que nem um burro de carga FIAT 127. Juntos, vivemos um período de lazer, em pleno gozo de férias, num T2 de pano. Conquistamos bons momentos, boas amizades e até namoradas. Posso dizer que os dias que passei em parques de campismo foram sem dúvida os dias mais felizes da minha vida que passei em parques de campismo...
Mas o campista é singular na evolução humana. Como qualquer trabalhador suspira durante 11 meses por uns dias de sossego, de chinelos e papo pró ar, e uma vez chegado o tão ansiado mês de férias, o que faz? Vai dormir para o chão! Transfere a televisão, o frigorífico, panelas, um serviço completo de loiça de plástico, a cadela e respectiva descendência, roupa suficiente para enfrentar confiante os rigores da praia e toda a família, próxima ou afastada, para uma pequena réplica de um campo de refugiados, entre a fauna residente, formigas, melgas e o que mais houver. Aí, arma toda a barraca, perde a pachorra ao tentar encaixar meia dúzia de ferros e espetar umas quantas espias. No final do dia instala-se, com o alarido próprio de um grupo de morsas aconchegadas no areal de uma praia, no abrigo improvisado. Sente-se feliz por viver confinado por muros de arame, goza o espaço exíguo que lhe permitem as tendas vizinhas e enfrenta corajosamente o congestionamento que ele e seus pares provocam à porta de coisas tão banais como o chuveiro de água quente. Barafusta porque não consegue adormecer ao som da menina chorona mas, assim que entra no mundo dos sonhos, ilumina todo o parque com o seu ronco territorial, esquecendo-se muitas vezes que o som do metabolismo do ser humano se propaga com muita facilidade.
Mas há outros típicos campistas. No sentido descendente e económico da tabela dos barraqueiros, temos o caravanista que enfatiza a epopeica aventura dos povos nómadas com todas as comodidades caseiras, parabólica e micro-ondas incluídos, sobre rodas. A seguir, na escala, temos o campista residente, capaz de fazer inveja a um sultão árabe, pois é possuidor de um luxuoso abrigo com todo o conforto eléctrico e um grelhador fumarento, demarcado por sebes e que pomposamente chama de casa de praia. No meio da tabela acampa o campista básico, como eu e a minha família fomos em tempos e, por fim, na base da pirâmide, chegam os jovens de mochilas às costas.
E é com esta malta com quem irei coabitar neste próximos dias e noites. Estes acampam em qualquer sítio porque lhes apetece e não têm dinheiro para mais ou, se o têm, preferem gastá-lo em bebidas e substâncias inibidoras de neurotransmissão ou cujo consumo está previsto no código da estrada. Na minha modesta e inabalavelmente bem fundamentada opinião, os jovens têm uma abordagem bastante salutar do campismo, senão vejamos: Transportam consigo apenas o estritamente indispensável e tudo devidamente atafulhado numa única embalagem. A tenda, minimalista e com um saco-cama de asseio duvidoso, é uma espécie de sauna sufocante em miniatura, que os obriga a um exercício de alternância constante entre o rastejar e as cãibras nas costas. Comem o que calha, quando lhes apetece, logo que seja barato! Tudo o resto é irrelevante, a natureza, o local, a forma ou a companhia com quem se deitam. E já estou a ver o que me espera e a minha figurinha matinal, desgrenhado com olheiras e picadelas de mosquitos, a serpentear pelas tendas, e mesmo sem dizer uma única palavra a anunciar à vizinhança residente para onde vou, pois qualquer campista que se preze leva sempre o seu rolo de papel higiénico na mão. E isso sim, isso é campismo!
(eu, no relax matinal)
A todos um bom fim de semana, de férias, de passeio, what ever... Aproveitem-no bem.
7 comentários:
Ehehhe muito boas férias então para ti. Também fiz campismo com a minha família e mais tarde com amigos e este ano também planeio uns dias. Quem sabe não nos encontramos todos como vizinhos de tendas ;). Um abraço
Fico curiosíssimo para ler o relato desta aventura no Sudeste! Acampei apenas duas vezes na vida e uma foi na tropa. Isso não quer dizer que não tenha já dormido várias vezes em parques de campismo... significa apenas que as vezes que o fiz não tive de montar a tenda... Mesmo assim, não fiquei fã.
Do género, apenas a travessia em bando dos EUA e da Austrália numa "caracoleta" que se pára em qualquer lado e toca a ferrar uma soneca. E às vezes também dormia quando não era o meu turno de conduzir...
Boa estadia na Zambujeira ( tenho lá uma sobrinha a trabalhar que obviamente não vai perder pitada...) e espero que quando regresares não venhas com uma "overdose2 de... decibéis!
Gostei, ou melhor, adorei este texto... E garanto que virás com uma opinião interessante, assim o desejo, do Susodeste. Se me vires por lá, empresta-me, por favor, o repelente de mosquitos e, já agora, prepara-te para o pior: deitar às 6H00 e acordar às 08H (não, não disse 20H!), por causa do calor, é que não há árvores, nem sombras, mas há chuveiros unisexo. (risos)
Boa Viagem, de preferência, "mal" acampado, perdão, Acompanhado. (risos)
Abraço e... Até Já (vulgo TMN)!
Eu ando há que tempos a tentar convencer a jove a ir a uma dessas coisas, mas está complicado. Claro que um desses acontecimentos tem outro atractivo, com a bebedeira que a maior parte das pessoas tem, nunca sabes quem te entra pela tenda às 4:28 da madrugada...
Abraço e um excelente festival!
Boas férias e boas músicas!
Pela lista de "tipos de campistas" que mencionas, exceptuando o autocaravanismo já fui todos os outros, incluindo o permanente com todas as mordomias.
Foi em Porto Côvo durante 9 anos.
Mas já me curei! Agora ando a aproveitar convites para "passar uns dias" e só tenho que levar o corpinho e uns €uros, que o resto está lá!
Akele abraço, pah!
Eheheh, pois eu cá gosto muito de acampar... em hotéis de 5 estrelas! OK, estou a exagerar, um de 3 estrelas ou uma pensão asseadinha chega-me, lá dormir pelo chão já era! Mesmo em nova só acampei umas duas ou três vezes, nunca fui muito fã, então das filas para o duche e depois chegar e só haver água fria que a quente já tinha acabado, acabaram de vez com qualquer ilusão de aventura!
Mas pronto, depois de velhota e já com os ossos a chiarem de vez em quando, acabou-se! Para ouvir músicas que são pouco a minha onda, no meio de de malta com idade para serem meus filhos, onde as grandes bebedeiras e os decibéis ensurdecem qualquer um, ainda menos... :)
Mas pronto, cada um diverte-se à sua maneira!!! :D
eh eh eh...
e é tão boa a vida campista :-)
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