No Porto existe uma rua que alguns ainda chamam de Santo António. Assim era em tempos da monarquia e no dia 31 de Janeiro de 1891. Nesse dia ocorreu a primeira tentativa para o povo se livrar de vez da monarquia. O golpe, como se sabe, correu mal e assim fracassou aquele que seria o primeiro passo para a República. As tropas e o povo revoltosos foram vencidos pela guarda municipal instalada nas escadarias dos balaústres da igreja de Santo Ildefonso. A República tinha durado uma manhã. Passados 19 anos desses acontecimentos foi definitivamente proclamada a República em Portugal e a Rua de Santo António mudou de nome pela primeira vez em 5 de Outubro de 1910. Em 1940, durante a ditadura salazarista, recuperou a toponímia religiosa. Por fim, abandonou-a algures após o 25 de Abril. Hoje chama-se Rua 31 de Janeiro, tal como a baptizaram na I República e ainda há quem insista no nome do santo, por amor ao próprio, por hábito herdado da ditadura ou por saudosismo monárquico. Nas cidades a toponímia é parte da identidade cultural e do percurso histórico, são uma inestimável fonte de auto-estima e orgulho das suas gentes. Na cidade do Porto a Rua 31 de Janeiro representa essa memória e esta data é assinalável. E não é só na Rua 31 de Janeiro que perdura o movimento republicano. Alves da Veiga, Sampaio Bruno, Basílio Teles, João Chagas, Aníbal Cunha, Alferes Malheiro, todos eles se manifestam ainda hoje nas ruas do Porto. E alguns deles em artérias incontornáveis da cidade. Será difícil visitar a igreja de Cedofeita sem passar pela Aníbal Cunha, ou chegar à Praça da Liberdade sem percorrer a Sampaio Bruno, ou ir à Cordoaria sem atravessar o Jardim de João Chagas, ou passar pela Trindade sem cruzar a Alferes Malheiro, todos homens que tiveram abrigo na cidade do Porto, que estão nos fundamentos democráticos e na base de uma das mais esquecidas e vibrantes aventuras. E desta data saiu a conhecida expressão popular, “vê lá se arranjas um 31”.
Há quem chame jornalismo a isto
Há 4 horas
10 comentários:
Pois eu ainda não arranjei um 31, se calhar porque sou completamente anárquica, não sou nem monarca, nem republicana.
Eu ainda lhe chamo a '31 de Sto. António'..., agora o que não fazia ideia era que tinha sido a Gi a baptizar a rua....;D
Não fazia ideia da origem dessa frase do 31.
Aqui também há quem ainda chame ponte Salazar à 25 de Abril. O que, convenhamos, é um bocadinho pior do que deixar o antigo nome do santo na rua. Por mim, chamo-lhe apenas ponte sobre o Tejo e à outra Vasco da Gama... :)))
É sempre bom ouvir esta música... :D
Resto de bom Domingo!
Como Portugal poderia ser hoje diferente se o 31 de Janeiro de 1891 tivesse triunfado. Talvez não tivéssemos sido obrigados a suportar o Botas, que nos afastou irremediavelmente dos caminhos da Europa
Eu logo vi que a Gi andava metida em coisas antigas!
Gostei da explicação do "vê lá se arranjas um 31”...
Muito interessante!
Aproveito esta postagem, para te agradecer o que deixaste escrito Paulo.
Também me tens motivado... aliás, foste a motivação de eu começar a escrever sobre a Mós.
Sinto que entendes o que falo. Pois a maior parte das pessoas acham que eu exagero nos sentimentos e sensações que descrevo.
Eu e tu, sabemos que ainda é muito mais do que aquilo que podemos dizer. Há coisas, que de fato, só sentindo-as...
Gosto de ler o que escreves. Gostava de ver mais coisas escritas por ti. Escreves muito bem e expressas-te duma forma muito clara.
Escreve mais Paulo. Também me motivas...
Um beijinho grande e muito obrigada por toda a tua partilha...
Maria Cristina Quartas
:))
descobri pq num atino c o nome das ruas no porto, cada rua tem dois nomes...okis, quase cada uma lolol mas tumem inda sei algumas, mas atrapalho me sempre. ;)))
xinhinhuuuuuuuuuuuuus pa tu da lua
Continuo a chamar-lhe a Rua de Santo António, como toda a gente lhe chama, mas nunca esqueço, que tudo começou no Porto.
O Carlos talvez tenha razão, quando diz, que "Portugal poderia ser hoje diferente se o 31 de Janeiro de 1891 tivesse triunfado."
PS: A morte da Rosa Lobato de Faria apanhou-me de surpresa!!!
Gostei do blogue. Fui lendo, mas parei para comentar aqui, o Porto. Porque sou uma "alfacinha" com alma tripeira.
Até breve!
Tenho tantas passagens por essa "31 de Janeiro"... Foi lá, por exemplo que comprei o primeiro disco, "Words" do FR David, onde mais tarde regressei para comprar o "Th final cowntdown" dos Europe... e por aí fora, em jeito de banda sonora.
Abraço.
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