Livre! Já és livre. És livre porque te reinventaste na coragem. És livre porque estás viva. E como estás viva esta noite… Mais viva que a própria vida! Louca de alegria, numa loucura incontida que voa cada dia mais alto em busca do infinito, que o infinito não te basta. Fica-te bem um pouco dessa loucura, dessa liberdade. És livre porque com as tuas próprias mãos, com o teu sangue, derrubaste as paredes da vergonha. Quebraste amarras farpadas dessa cortina de ferro. Destruíste em cacos de memória o cimento da infâmia que te separou os filhos. Que te tirou o futuro, tão grande lá do outro lado, onde se voa e não se rasteja. Os homens são ocos, tão ocos que já não sabem ser loucos, quando ser louco é só ser humano.
Há muito que esse muro merecia cair. Ao fim de vinte e oito anos de vergonha, o Muro de Berlim caiu por terra, pelo seu próprio peso. Com ele caiu toda uma ideologia política, um sistema autoritário, um capitalismo de estado. Com a Glasnost e a Perestroika na URSS, durante o governo de Mikhail Gorbachev, deu-se o início ao processo de abertura política e de novas liberdades dadas à população e que contribuíu definitivamente para a ruína de todo o sistema soviético. Há vinte anos o muro desapareceu quase tão depressa como surgiu. Irmãos que foram separados à força reuniram-se em família, como um povo, uma cidade, um país, um velho continente. Mas a vergonha continua espalhada em muitos outros locais. Muros invisíveis que não foram construídos à nossa volta, mas dentro de nós. Muralhas difíceis de derrubar que quando pensamos já demolidas, os alicerces ainda restam profundos, espetados nas nossas vidas. Muros mais altos e intransponíveis que foram erguidos desde 1989. Enquanto restar alguma pedra, conservaremos o ódio, a indiferênça, o medo, o egoísmo, o racismo. Outros muros, outras lamentações. Há ainda tantos muros por derrubar.
9 comentários:
E que orgulho nos dá essa queda! Que nunca deixemos de derrubar muros, sejam eles de que natureza forem!
:) Beijinho
E que orgulho nos dá essa queda! Que nunca deixemos de derrubar muros, sejam eles de que natureza forem!
:) Beijinho
Felizmente que acabou, e já faz tempo.
Deveria ter acabado há mais tempo...
Nunca deveria ter existido! Mas isso se calhar já seria pedir muito.
Surpresa das surpresas: outros muros foram erguidos ainda não há muito tempo.
Bem, se calhar nem é assim uma grande surpresa.
Abraço, pah!
§-refiro aos muros de betão, porque os outros são mais difíceis de derrubar!
Que cada vez haja menos muors e mais pontes entre todos.
Embora concorde com tudo o que escreves, não consigo celebrar enquanto se continuarema aerguer outros muros, Paulo.
Claro que existem muitos outros muros, mas mais difíceis de derrubar que esse, de tijolo e cimento. Os outros são invísiveis, construídos com preconceitos e egoísmos, daí levarem o seu tempo até serem ultrapassados... ;)
Beijocas!
Foi uma prova de fogo, um adiamento da felicidade. Não digo que tenha sido algo bom, no entanto, ensinou muito ao mundo.
Bj,
(i)
Sem dúvida que derrubar muros é bom, mas tal como dizes ainda à muros por derrubar e honestamente tenho pena dos que se vão erguendo!
Preferia que existissem mais pontes ou outros caminhos em vez de tamanhos obstáculos!
Bjs
sim, é verdade, ainda há muitos muros por derrubar.mas ter essa consciência é derrubar um muro alto e poderoso: o da indiferença.
obrigada pelo post.
obrigada pela visita e - muito - pelas palavras.
abraço :)
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