segunda-feira, janeiro 26

quadras populares

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As meninas dos meus olhos
são duas pobres mendigas,
sempre a pedirem esmolas
aos lábios das raparigas.


Costumei tanto os meus olhos
a namorarem os teus,
que, de tanto os confundir,
já nem sei quais são os meus.

Quem bem ama, nunca esquece
a quem ama. - E tanto assim
que, de tanto que me lembras,
ando esquecido de mim.

Como o vento é para o fogo,
é a ausência p'ró amor:
Se é pequeno, apaga-o logo;
se é grande, torna-o maior.

Ausência tem uma filha
que se chama Saudade;
eu sustento mãe e filha,
bem contra a minha vontade.

Toma lá meu coração
e a chave p'ró abrir.
Não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir.

Se cair a tarde triste,
Com ar de que vai chover;

não te esqueças dos meus olhos,
que choram por te não ver.

Quatro letras mal escritas...
Olha, amor, o que te digo:
Já fui aprender a ler
para me escrever contigo.

-Pobreza não é vergonha
nem devia ser tristeza:
Vergonha é ter, como tantos,
Pão alheio em sua mesa...

São parvos, não rias deles,
dos outros dizemos nós.
Às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.

Não te faças mais do que eu,
que não és menos nem mais;
debaixo da terra fria,
todos seremos iguais.

Eu não sei por que razão,
alguns homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

- Ouve muito, e fala pouco.
Aprende com paciência.
Em sabendo que não sabes,
chegaste à melhor ciência.

Não compres mula manca,
pensando que há-de sarar;
nem cases com mulher má
cuidando que há-de amansar.

Quando o loureiro der baga
e a cortiça for ao fundo,
só então hão-de acabar
as más línguas neste mundo.

Que serve chorar agora,
se já remédio não tem?
Se o chorar fosse remédio,
chorava eu mais que ninguém


Recolha de:
José Gomes Quadrado

Mós do Douro
fotografias minhas
Dezembro 2007


21 comentários:

mjf disse...

Olá!
" Ausência tem uma filha
que se chama Saudade;
eu sustento mãe e filha..."
Nem imaginas como est faz sentido actualmente para mim ;=(

Beijocas
Boa semana

Patti disse...

Eu já me perdia era por essas ruelas a passear e fotografar como tu fizeste tão bem.

Por entre o luar disse...

=) giras:D

beijinhos *

Si disse...

O ambiente perfeito para sustentar estas quadras, que de tão sábias só podem mesmo encerrar experiências de um povo inteiro.

Sunshine disse...

Boa noite ó faxabôre :)

Assino por baixo o comentário da Si.

Essas fotos têm uma luz mt especial.

Bjs

Uma boa semana.

VAP disse...

Apresentação das quadras é soberba!

mariam [Maria Martins] disse...

Paulo,

gostei muito!
e as fotos estão fantásticas também!

boa semana
um abraço e um sorriso :)
mariam


tenho por aqui estado a ler o que ainda não tido lido, foi um gosto! incluso, ficar a conhecer mais um pouquinho do Paulo.

Maria Cristina Quartas disse...

Que saúdades meu Deus!....
Mós.... sinto o seu cheiro e ouço o "toc,toc" dos cavalos, e das campainhas das cabras... sinto o calor da lareira... e ouço a banda a tocar no dia da Nossa Sra da Soledade....
Fica a saúdade a nostalgia, de momentos que apenas só existem na nossa lembrança.

Parabéns pelo Blog e um grande abraço

Maria Cristina Quartas

paulofski disse...

Maria Cristina, siga os links: http://dasmos.blogspot.com/, http://mosdodouro.com.sapo.pt/ e a nostalgia estará mais presente para atenuar a saudade das Mós.

Volte sempre. Abraço

blog dAsMós disse...

Caro Paulo:
A paixão não se explica... Mas (neste entusiasmo de amar, as Mós) é bom sentir que não estamos sozinhos...
Abraço amigo

Maria Cristina Quartas disse...

Há coisas que ficam no sangue e se gravam na alma...
Há coisas que não se explicam - sentem-se...
E com a idade, aprendemos a sentir a terra que nos corre nas veias, com a qual nos identificamos e sentimos a nossa essência.
Sinto que começo a viver para trás, e ir ao encontro da minha infância... dos dias felizes ...

paulofski disse...

Carlos,

Cristina,

E o que fica, a saudade dos que me ensinaram a sentir o amor da terra, das pessoas, das Mós é o elo de ligação que nos lembra de onde viemos e quem somos.

Maria Cristina Quartas disse...

Os cheiros, as sensações, as histórias... que estão gravadas na nossa memória...
Lembro-me de todos os pormenores de há 40 anos atrás, no Terreiro, na casa dos meus avós, dos meus tios...
Sinto-os todos vivos. Sinto hoje, que talvez tenham sido as pessoas que mais de perto de mim estiveram.
Tenho saudades desse tempo...

paulofski disse...

... em que o meu avô me levava em longas caminhadas na albarda do macho, dos amigos, das amêndoas, da volta ao povo, dos músicos da banda, da procissão vestido de S. José, dos primos que não conhecia, do rabusco, do calor de Agosto, das andorinhas, do pão fresco, do café do Sr. Santos, dos matraquilhos, dos banhos de tanque, dos dias felizes.

Maria Cristina Quartas disse...

Conheço tudo isso Paulo. E também conheço as formigas com asas... as sardoniscas nas paredes, o camalião...as moscas (chatas) ehehehehe... os alacraus...os morcegos a miar à noite... o pito barranqueiro...
Na nossa casa lá no cima, tinha isso tudo...
Conheço tanta coisa, que agora já não há.

paulofski disse...

Foi o recordar-me da casa lá em cima que se fez luz no fundo da minha memória. Chatas as moscas, que nos incomodavam a pele e comandavam o rabear do macho, qual chicote nas nossas pernas.

Terás de me contar o que é o pito barranqueiro!!!

Maria Cristina Quartas disse...

Olá Paulo
O "pito barranqueiro" é uma passarinho muito pequenino. É todo preto e tem uma linda gravata amarelo forte.
Este passáro faz os seus ninhos nas paredes ou barrancos. E longe das pessoas. É um pássaro muito solitário e inquieto.
Uma vez o meu pai mostrou-me um perto da Santa Bárbara.
Tem um piar muito engraçado... nem parece pássaro mas um gato.
Perto da minha casa, haviam muitos ninhos deles... nos barrancos dos terrenos das amendoeiras. E ao fim da tardinha é que andavam por lá...
Muito bonito.

Corticeiro disse...

Aparentemente tudo o que vivemos em determinada época nos parece trivial. Desesperamos com as rotinas do dia a dia como se fossem das coisas pior do mundo! No entanto, há o tempo que nos faz cair na razão. Para uns (poucos), esse tempo é do tamanho da eternidade, para outros, ontem, já foi eternidade de mais. O pior é que o tempo passa mas deixa marcas nas nossas memórias, e por vezes essas memórias - por serem só memórias - e por já não termos o prazer de disfrutarmos das rotinas de outros tempos fazem-nos sentir um pouco perdios.
Já imaginaram estar com o PC ao colo, sentados num môcho junto à lareira sentindo o cheiro maravilhoso que sai do interior da panela de três pernas?
Eu não! Mas lembro-me muito bem de uma viagem que fiz ás Mós, já rapazote, em que depois de pôr a conversa em dia com a minha avó, e enquanto ela me preparava o jantar na saudosa lareira (sem chupão)e nas panelas de ferro - como era vulgar chamar-lhes, e não de três pernas - eu lia à luz da candia, uma revista de futebol comprada no quiosque da Bertrand na estação da Régua. Nessa altura, o assunto em voga era a equipa milionária do Cosmos de NY, onde pontificava um jogador português chamado Séninho, juntamente com monstros sagrados do futebol como o Pélé, entre outros.
Hoje, vou ás Mós e já não vejo lareiras com as suas panelas de ferro, já não vejo os machos a percorrerem as ladeiras derriados com as cargas de amendoa, que à passagem pelo "cano" saciavam a sede, já não ouço o tilintar dos chocalhos dos rebanhos de ovelhas (e não de cabras), já não escuto os cantares das mulheres dos "ranchos" que percorriam os amendoais, as searas (sim searas), as vinhas e os olivais na labuta árdua do ganha pão, já não presencio as algazarras das mulheres que lavavam a roupa no "cano", ou esperavam pela sua vez para encher os cantaros nas bicas. Até já nem ao café do Sr. António Santos posso ir jogar matraquilhos ou pôr a conversa em dia, já nao ouço a rapaziada a jogar o "tiroliro" ás tantas da madrugada. Mas uma coisa é certa, ir ás Mós é magia, sim, magia que nos recorda o tempo em que viviamos com as nossas trivialidades, muitas das quais nos envergonharam por serem só nossas. Quisemos evoluír, viver melhor, e por isso deixamos a nossa Terra para trás. Mas o tempo, esse sábio malandro que nos criou um ficheiro sem que déssemos por isso, faz-nos sentir gratos por termos o privilégio de termos passado momentos maravilhosos na nossa querida Terra.
Grato por ser das Mós do Douro, sempre bela e eterna.

Maria Cristina Quartas disse...

Corticeiro...
que interessante as suas palavras. Gostei do que li.
Obrigada
Maria Cristina Quartas

paulofski disse...

Grato por ter deixado gravadas neste livro de presenças tão belas e emotivas palavras, o verdadeiro sentimento de todos os mosenses.


Bem haja Corticeiro

Anónimo disse...

maravilhoso fiquei comovido(da)