-Meu filho, vai lá deixar esta carta nos Correios. Pega dinheiro para os selos. As moedinhas tilintam na mão do rapaz. A carta da Dona Fernanda dobra a esquina. Demorará uns quatro ou cinco dias até chegar ao destino. O menino não sabe, mas carrega nas mãos um mundo de sentimentos, porque a Dona Fernanda escreve tudo, solta-se nas frases, fala das alegrias e sobretudo das tristezas. Dona Fernanda é teimosa, insiste em escrever aos parentes com papel e caneta, não quer usar o telefone nem sabe o que é a Internet. Nada lhe tira o papel manuscrito, a carga de sentimentos sinceros em traços, cheiros e amassos de uma folha dobrada pelas mãos queridas. A viúva que não faz mais que cuidar da terra, do gado e de esperar que os filhos mandam lembranças. É teimosa como uma mula e não quer ir para junto deles. Fica por lá, a tomar conta dos tarecos e das rugas. O Joaquim, o único rapaz do lugar, é que lhe faz os recados e companhia. Ela quando escreve é como se estivesse a conversar com outra pessoa. Pelos traços da letra percebe o estado de espírito de quem lhe escreveu. E comove-se. Seus olhos percorrem as linhas da carta trémula e despejam uma lágrima de saudade. E como gosta quando recebe uma carta! A aposentada aguarda sempre com ansiedade a chegada do carteiro, a vinda de boas novas dos filhos. No Natal e no seu aniversário recebe postais e cartas. Tesouros guardados na cómoda entre combinações e meiotes. -Já vieste meu filho? Deixaste a carta direitinha no marco? Fica com o troco e compra uns rebuçados para ti.
Há cinco mil anos, as cartas eram escritas em pequenas tábuas de barro, depois de pedra, madeira e, derivado desta, celulose, a folha de papel, que arrancada, voa, literalmente, milhares de quilómetros levando as mal traçadas linhas cheias de saudades e lembranças.
8 comentários:
Pena que já há poucas D. Fernandas e memmórias como estas.
E gostei muito do final, com o troco para rebuçados.
Bom dia! Que saudades de uma carta!
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
aqui fica uma!
Olá!
Agora as cartas que recebo são as das finanças, do banco e publicidade :=(
Saudades de cartas a sério...
Beijoicas
Paulofski, eu adoro escrever cartas! A sério! Nunca recebo nenhuma, mas há alturas em que escrevo sempre, para muita gente, amigos, familiares, conhecidos mais queridos. Quando vou de férias, compro postais ilustrados do local onde estou e escrevo. No Natal, compro postais e esrevo. E adoro, e escrevo diferentes palavras para cada pessoa. Para mim, fã absoluta da internet, do mail, do msn, do bate papo no gmail, A carta ainda é uma instituição!
Beijos p'ra ti e p'ras tuas cartas :-)
Paulofski, eu adoro escrever cartas! A sério! Nunca recebo nenhuma, mas há alturas em que escrevo sempre, para muita gente, amigos, familiares, conhecidos mais queridos. Quando vou de férias, compro postais ilustrados do local onde estou e escrevo. No Natal, compro postais e esrevo. E adoro, e escrevo diferentes palavras para cada pessoa. Para mim, fã absoluta da internet, do mail, do msn, do bate papo no gmail, A carta ainda é uma instituição!
Beijos p'ra ti e p'ras tuas cartas :-)
É verdade que já não se recebem cartas da familia, dos amigos ou de simples conhecidos.
Telefone e mail é o que está a dar!
Ainda haverá quem tenha e use uma caneta?
Eu tenho uma mas já não a uso; vou escrever sobre ela!
Akele abraço, pah!
O meu pai escrevia cartas que eram verdadeiras epístolas.
Há papéis de carta muito bonitos.
Eu nunca gostei de escrever cartas, mas gostava de ler algumas.
Lembras-te dos "pen-pals"?
adorei o post!
estas cartas que levam carinho em cada linha escrita,,,
já não escrevo uma carta "de verdade", dessas de colar o selo com cuspo na ponta do dedo, à algum tempo!
apenas tenho uma correspondente, uma amiga muito velhinha, um dia talvez conte...
mas, tenho a mania de dar bilhetinhos manuscritos, a amigos(as), aos filhos... com recados, poeminhas, assuntos vários... onde às vezes faço também um pequeno desenho!
boa semana
um sorriso :)
mariam
Enviar um comentário