quarta-feira, junho 15

micro - nicles batatóides

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A maior ambição do homem é o microfone. Dêem-lhe um microfone e ele falará um qualquer discurso, dirá o que lhe vai na alma, cantará um bailinho da Madeira - e a isso me refiro a dar atenção, abrir os olhos e dar ouvidos, ok, vocês entenderam. Talvez uma estória interessante aqui ou ali, mas de facto, resumindo o texto, haverá um ou outro momento em que sairá uma qualquer asneira. Ah, como o ser humano fala barato. Apontem o microfone à vox populari que o povo opinará absolutamente sobre tudo. Se o assunto for futebol ele chamará a atenção para si. No que toca à política, mesmo que entenda pouco ou quase nada do assunto, fala, fala, fala, e no final não dizem nada. Mas todos têm opinião. Caso goste de discorrer uma conversa da treta então é melhor dedicar-se ao croché pois ele terá uma longa estória para contar. E melhor que a sua. Falar das novela da vida, ui, isso acontece o dia inteiro. Personagens, jargões, cenas divertidas, se não perceber do tema é melhor prestar atenção. Nos primeiros minutos escutamos, ou fingimos bastante bem. Na verdade, vamos juntando argumentos para uma boa desculpa e sair de fininho.

Ou o orador tem o dom de prender audiências ou então está feito. Ele deve ter uma piada preparada para o melhor momento, falar alto, rir mais alto porque o riso contagia, deve dissertar a sua história como a mais interessante do que alguma vez já foi. Até pode ser muito chato mas ele está ali de microfone na mão para chamar atenção. A verdade é que todo mundo tem seu momento de microfone na mão. E não adianta se esconder. Toda a assistência está de olho arregalado e ouvidos bem abertos. “E quem é aquele?!"

Todos temos um momento onde somos ouvintes, mas também tem um momento onde falamos pelos cotovelos. Com a esposa, com os filhos, com os amigos à mesa de jantar. Alguns falam muitas banalidades. Outros possuem um vozeirão e nem necessitam de microfones. Quem tem voz, quer falar, não é mesmo? E que bom seria se todos nós discutíssemos apenas sobre o que entendemos. Se discutíssemos apenas sobre o que entendemos, o mundo teria conversas mais interessantes. Por isso repito, o grande problema do homem é o microfone. E o grande problema, insisto, é que não gosto do microfone. Não tenho dotes oratórios, nem de estar especado no palco. Gosto de ficar na plateia, de ser um entre pares, um tipo simples, humilde e até corajoso, mas quando me dão um microfone para a mão… mas aí fica o silêncio. Tenho vontade é de escrever. Aliás, não sei se deu para perceber, mas isso está a acontecer comigo desde que comecei o texto.


8 comentários:

redonda disse...

:)também prefiro escrever, no entanto, não iria sair de fininho, mas ficaria a ouvir um "discurso" que fosse como este texto :)

Filoxera disse...

Gostei deste texto. Um exercício de imaginação engraçado.
Beijos.

FM disse...

Confesso que me apetece comentar, e muito. Talvez por lidar com o microfone há mais de duas décadas, e em inúmeros palcos... Mas cou limitar-me a rir e a acrescentar que não empresto o meu. (risos)
Abraço.

Kok disse...

Há os que escrevem e há os que falam.
E há também os que falam o que outros escreveram.
É assim. Cada um expressando-se conforme as suas capacidades e o seu modo de estar na vida.
Ainda bem que tu és dos que escrevem, podendo mesmo escreveres sobre o que outros falam, possibilitando que outros te leiam.

1 abraço pah!

Rui disse...

Diz-se que há 3 coisas que aterrorizam um homem !
1 - Morrer
2 - Falar para um público
3 - Morrer a falar para um público.

Anónimo disse...

Também sempre gostei mais de escrever do que de falar. Por isso tinha pavor dos exames, quando tinha de ir às orais.

Teté disse...

Há quem goste muito de ouvir a sua própria voz, enquanto só diz banalidades ou verdades Lapalisse...

Mas uma coisa é conversar com amigos, que disso eu gosto, outras usar um microfone para falar para um público - e disso também não gosto, nem para mim, nem para os tais que só dizem banalidades e nos fazem adormecer com os seus longos discursos... :)))

Laura disse...

Já tinha reparado que não viste o microfone escondido, ahhhhhhh.

Mas uma coisa é certa, a maioria fala sem conhecimento de causa, nem sabem o que dizem, mas nem assim ficam calados, é por isso que não se entendem nem uns nem outros...

Já agora falar com o meu pessoal, os amigos, amigas, ah, vá lá, qual microfone, a gente quer é rir...que para enervar chega o dia a dia.

um abraço.

laura