A época oficial da caça ao voto prossegue intensa e à lei da troika. Os interessados saem do covil em busca das suas presas, os eleitores indecisos e necessitados. A campanha eleitoral entrou na semana decisiva e os predadores políticos já cercam os redutos eleitorais na ânsia de abocanhar as suas vítimas. Na caça ao voto o caçador é por demais sagaz e sabe muito bem o que quer. A fauna eleitora é ingénua e está desprotegida sempre à mercê dos ataques. O desfile de engodos aquece o entusiasmo, as arruadas sobem à cabeça dos candidatos à governação, e os tiros para o ar misturam-se com os trovões e molhadas que S. Pedro tem ofertado. Está muito renhida a caçada ao ponto das sondagens anunciarem um empate.
José Sócrates, qual caçador furtivo, dispara em todas as direcções, tendo já acertado várias vezes no seu dedo grande do pé esquerdo e em dois ministros que iam a passar. À custa de tanto tiro falhado não se perspectiva repetir a sua melhor época. Espantou a caça toda e anda agora com armamento pesado completamente desadequado. Anda armado até aos dentes com um canhão de optimismo ao melhor estilo dos caça fantasmas. A polvorosa de beijocas e bacalhaus não deixam margem para exercícios de carácter e requerem a mira mais apurada para não dar de caras com um funcionário público. Apesar de as audiências estarem a diminuir os autocarros chegam pejados de reformados à procura da merendinha.
À custa de tanta falta de jeito para as armadilhas, Passos Coelho continua evasivo. Apresentou-se à caça com material titubeante, muita pólvora seca e falta de pontaria, nomeadamente ao calo do seu pé direito. Os seus fiéis perdigueiros partidários farejaram estratégias mas não conseguem convencer os “bichos” a irem de livre vontade para dentro da jaula. Antigos caçadores do PSD foram chamados a aguçar as setas laranjas e saíram com a sua arma de destruição massiva em batida à raposa socialista. Manuela ainda acossa o inimigo e afia as garras a votos caídos por danos colaterais, sabendo que os descontentes com o governo se deixam apanhar mais facilmente.
Paulo Portas elege a pesca submarina. Tudo o que vem à rede é peixe, diz, e lança o arpão aos votos dos desfavorecidos que costumam habitar as feiras e os mercados. Já os eleitos para se empanturrarem em jantares-comício, onde a malha é mais apertada, por não conseguirem fugir são facilmente apanhados. PP até já sonha vir a ser primeiro-ministro garantindo que formará a invencível armada submarina para afundar..., isto é, governar o país. Não, ele não disse isto nos debates, foi mesmo um devaneio que teve. E se não chegar a primeiro-ministro pelo menos quer ser ministro de alguma coisa.
Jerónimo permanece adepto da caça desportiva. Sabe que o voto na CDU nunca o irá levar ao governo mas mesmo assim dá um tirito ou outro enquanto sorve mais um copinho de tinto. Esta época, os caçadores comunistas estão particularmente focados nos votos mais novos, “sobretudo ao pequeno-almoço, porque são mais tenrinhos e dão para fazer uma canja extraordinária”, porque é pelo estômago que se agarram os votos. Ele está ciente que as expectativas excedem em muito tudo o que pensava antes do início da caçada e mesmo que o pecúlio continue escasso virá para a praça pública propagandear a sua vitória.
O caçador mais perigoso de todos é o Louçã porque com aquela voz de seminarista a apontar aos votos intelectualizados, da classe operária à classe média, vai tentando hipnotizar as suas vítimas. É fiel às suas convicções e tácticas de caça do Bloco e acredita que sendo postas em prática de certeza absoluta de que a economia nacional levará a maior implosão de que há memória. Crê que conseguirá a maior colecta de sempre e, embora diga que não se coligará com os socialistas, também ainda não explicou como vai conseguir chegar a ministro para depenar a classe alta.
A caça de subsistência ainda é praticada por outras comunidades indígenas que na ânsia de conseguirem um lugar à mesa no assento parlamentar exploram regiões mais isoladas do universo partidário português. Para todos eles apenas lhes resta a caçada aos gambuzinos.
A caça ao voto não mudou nada nestes 37 anos. Basta recordar como têm sido feitas todas as campanhas. Alguém se lembra de ver um partido a fazer uma campanha eleitoral a falar aos portugueses do que pretende fazer se for eleito para formar governo? Ninguém. e por um motivo muito simples. Porque gastam o tempo de antena só a acusar uns aos outros em vez de falarem deles próprios e dos seus programas. Bem sei que é uma forma airosa de meterem a viola ao saco e não cumprirem as promessas que fizeram na ânsia de obter o voto. Há milhares de votos sem dono, num país deprimido e oprimido, onde vale tudo menos arrancar olhos. Quer dizer, se for preciso arrancar um ou outro, também não seja por isso. As técnicas são muitas e passam por vários meios até o papelucho entrar na ranhura da urna. O político nacional percebe tanto de caça como uma perdiz de finanças públicas. Sai à rua para caçar ursos com fisgas. O ambiente de festa é criado para o momento, nem que para isso seja preciso usar algum fogo amigo, ou seja os meios autárquicos partidários da mesma cor. O ambiente rural, que leva a beber um copinho de tinto às 9 da manhã. O ambiente popular, propício a beijar putos ranhosos e pessoas em geral, algumas de higiene duvidosa. Todos sabemos que a gente se deixa caçar de qualquer maneira. O povo quer e põe-se a jeito. E neste país o cidadão que se põe a jeito já está caçado. Só falta pôr uma maçã na própria boca e deitar-se em cima de uma travessa. O cidadão indeciso, aquele que o político procura apanhar, não está para grandes dissertações sobre a situação económico-financeira do país. O povo que é na sua grande maioria simples, e na sua intelectualidade gente que sente e pouco sabe, está cansado de ser maçado pelas projecções dos querem ganhar a todo o preço. O que deve ser avaliado é o trabalho, a ética, o carácter das pessoas. Apesar de viver com dificuldades, não precisa que gajos que não sabem o que isso é venham dizer que compreendem que tem de pagar contas no final do mês. Compreendem! Exactamente, o quê? Quando gastam milhares de euros na campanha? Os políticos não compreendem nada do que é a vida de um cidadão. O povo está cansado de manipulações políticas, e muitos decidem o voto na hora do voto ou, na larga maioria, nem lá põem os pés. Este estratagema não dá mais resultado. Uma campanha limpa é mais vencedora. Os actuais políticos são os grandes perdedores pois enquanto deveriam apresentar soluções, projectos com uma política séria, perdem tempo com o passado, remoto e recente. Se querem ser bem sucedidos nesta coisa de caçar votos, não podem endrominar ainda mais. Sejam claros na mensagem, empenhados na transparência e digam em verdade o que vão fazer. Sem relambórios. Sem falsos argumentos. Cabe agora a cada um de nós não desiludir estas pessoas que arriscam a honra, o carácter e a idoneidade para nos governarem. Por isso votem e, por muito que vos custe, tentem levá-los a sério.
5 comentários:
O que precisamos mesmo é de levar as coisas com humor, caso contrário, entramos todos em depressão.
Num aspecto estou inteiramente de acordo contigo: estou fartinha desta fantochada a que chamam campanha! Tanto, que deixei de ver, porque me parece que tiros nos pés todos têm dado... :S
E vou votar, sim, pelo meu país e porque acho ser meu dever! Embora nenhum dos candidatos me convença... portanto terá de ser no mal menor!
Como diz o ditado, um dia é da caça e outro do caçador.
Deus queira que o caçado não seja o Zé-Povinho.
Beijinhos.
Não sei!
Não sei em qual dos "caçadores" dispararei o meu voto.
Para dizer francamente gostava de afinfar uma chumbada em cada um deles.
Mas não posso. Nem devo, acho eu!
Para domingo só tenho uma certeza: vou votar.
Em quem? Pois, não sei.
1 abraço pah!
Gostei IMENSO do humor do texto, além de concordar imenso com tanto do que escreves. PARABÉNS!
Abraço e... logo também haverá eleições, mas com outros boletins. (sorrisos)
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