sábado, abril 16

meia volta e força

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Esta noite, diante do espelho, eu resmunguei para um tipo que me mirava com um certo sarcasmo. Ok, pá, tu ganhaste. Chegaste aos 45 anos, airoso e jovial. Cheio de saúde!? Nem tanto assim, se não fosse esta maldita constipação! Então, o que é que tu querias? Horas sentado, de uns anos para cá, diante de um computador, preservaram quase toda a resistência, paciência e esperança. Porque, se não sabem, faço a mesma coisa há metade desse tempo!

Abril é um mês especial. Tudo começou numa bela noite primaveril do século passado. A trovoada bradava naquela madrugada tenebrosa, iluminando um leito de hospital, onde uma maravilhosa mãe trazia mais um cagão a este mundo.

Há vinte e tal anos eu era um jovem magricela, envergonhado mas achando que tinha todo o tempo do mundo. Sim, pois! Não foi por falta de sabedoria, que não me conhece ainda, mas estava seguro de que bastaria bater à porta para que ela se me abrisse. E abriu-se.

No espelho encontro um gajo que me fita com os seus olhos verdes. Não me chama cota nem velho de meia idade. Não combinaria com alguém que passou a adolescência e juventude a ouvir Pink Floyd, e depois Joy Division, The The, Echo and the Bunnymen e New Order, em vez de estudar. Mas o que gostava mesmo era das madrugadas ligado ao éter, com o qual, eu, literalmente, viajava pelo Oceano Pacífico, na banda do Som da Frente.

Não se sabe. Se não tomasse certa direcção, não conheceria os lábios da mulher mais bela que me chamou. Se não fosse por ali, eu não saberia o bem-estar que proporciona um salário, uma casa, uma vida. Até hoje me visto de alegria ao lado do meu filho. Não sei quantas voltas eu daria na tal máquina. Se me fosse possível, depois de usá-la não sei quantas vezes, de frente para trás e de trás para frente, voltaria sempre para o mesmo tempo, para o presente.

Tá bem, hoje eu pratico desporto, tornei-me exímio a pedalar, descobri outras modalidades que não o cigarro e o levantamento de copos. Ninguém me supera no “erguer cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer”, desde que as noitadas sejam aos dias de semana.

Insónias, dioptrias, colonoscopias, toque rectal - já estão avisados - me apanharão preparado, mantendo um espírito jovem. E se tenho 45, não teria graça alguma agora viver os 45 que me restam, medroso e receoso do que possa calhar em sorte.


Echo and the Bunnymen - Nothing Lasts Forever

6 comentários:

Almeida(pai) disse...

Muitos parabens por teres chegado aos 45 e continuares a manter a frescura dum sempre jovem.
São os votos dos teus pais.

Lua disse...

PARABÉNS!!!Olha que não parece nada...Tas mt bem conservado!!!


(Claro...desde que foste á mesma clinica da Lili Caneças)...lol


Bjinhos...=)

Teté disse...

PARABÉNS!!!

Fazes anos no mesmo dia do meu filho, que nesta altura está a iniciar a sua vida de adulto. Com alguns erros de percurso, como todos nós nessa transição. E que um dia também olhe para o espelho, com o mesmo espírito jovem que tu, sem arrependimentos do rumo que vier a seguir...

Beijocas e um resto de dia muito feliz! :)

Laura disse...

Nem por acaso, passei por aqui, visita domingueira e dou com um rapaz que fez anos e ainda se sente um tipo porreiro, feliz. Pois aqui vai meu abraço apertadinho, e viver a vida é preciso, e não são as noitadas de copos em demasia que nos fazem felizes...
Gostei de te ler, ah e ainda ri com os gémeos que me ensinaste onde estavam...bora rir...

Beijinho de Parabéns. já passou mas, mais vale tarde que nunca.

laura

Ju disse...

Truz, truz, truz, posso entrar?
Já entrei.
Antes de mais os meus parabéns.
Quando tinha 45 anos também me sentia uma jovem. A partir dos 5O é que as coisas começam a doer.
O espírito é que podemos e devemos mantê-lo sempre jovem. Já o corpinho é mais complicado...

Continuação de bom domingo

Kok disse...

PARABÉNS!
Mas parabéns daqueles mesmo de topo, cravejados de coisas boas.

Apesar de atrasados são genuínos e de concepçõn nacional; nada de chinesices!

Afinal o tempo não passa de um conceito!

Akele abraço pah!