Não, não é o Paulo que vos fala, apesar do título poder sugerir algo a ver com a virilidade do locador. Mas não tem. Por estes dias serei o locatário deste gabinete. Antes de contar a minha história passo às apresentações. A minha espécie é outra. Chamam-me de Macho. Sou o resultado híbrido do cruzamento de um asinino (o burro) com um equídeo (a égua), espécie muar e uma das principais fontes de riqueza da região transmontana. Durante muitos anos vivi no estábulo que ficava na divisão inferior da casa e só de lá saia para beber água fresca, carregar mercadorias e transportar os meus donos, os avós do Paulinho e do (Tó) Manel. Enfim, era uma vida bastante chata, passada a ruminar palha seca, abanar a cabeça e a cauda para sacudir as moscas e cagar o chão por onde passasse. Ai o quanto ansiava pelo fim do Verão, pelo mês de Setembro. Por essa altura os meus dias tinham outra emoção com a chegada dos meninos da cidade e que vinham cá passar umas semanas de férias, pelo menos até às festas da freguesia.
Mós do Douro é uma primitiva povoação rodeada de montanhas, virada a sul e oposta ao preguiçoso e pachorrento Rio Douro. De gente alegre e sincera, bairrista e sentimental, crente e trabalhadora, amiga da sua aldeia, terra agreste e produtiva. Nas suas encostas, entre camadas de xisto e solo barrento crescem hortas, pomares, olivais, amendoais e vinhas que dão um belo colorido e textura a todo o vale.
De manhãzinha, bem pela fresca, saio à rua carregado com alguma carga e com os miúdos sentados na minha albarda. Puxado à rédea pelo meu dono, sigo cuidadoso em direcção à Gricha, aos distantes campos de cultivo no cimo das montanhas de onde se pode avistar a Lousã. Fazemos uma paragem obrigatória no bebedouro do fontanário, junto do terreiro que é o centro principal da povoação, para beber e encher os cântaros de água fresca. É ali, à sombra do majestoso olmo que antes existia, símbolo da terra, que a população se reúne e convive diariamente. Já se vêem as decorações na igreja e todos os preparativos para as tradicionais celebrações da terra. Ao 3º domingo de Setembro a população residente e a emigrante junta-se na aldeia e celebra com festejos e procissões as tradicionais festas em honra e devoção à Nossa Senhora da Soledade. Ouve-se um chamamento familiar e vemos passar por nós o tio Farrincha que vai regar a sua linda horta no Valemampaz. Acenam-lhe.
De bandulho cheio rumo agora pela estrada poeirenta de Santo Amaro. Os meninos seguem no meu lombo, irrequietos e atentos, apreciando a paisagem e enchendo o avô de perguntas. Mais à frente saio da estrada e sigo por um caminho longo e duro, feito todo ele debaixo de um sol escaldante e desgastante, o que aumenta o meu apetite. Sempre que posso vou mordiscando aqui e ali umas ervas e uns raminhos suculentos das amendoeiras. Às tantas, a ladeira torna-se tão estreita e íngreme que todo o cuidado é pouco para não tropeçar os cascos nas pedras. Mesmo assim, acabo quase sempre por deslizar as ferraduras numa rocha mais lisa e escorregadia e, logo logo, o velhote solta a sua habitual frase de reprimenda que o menino Paulinho nunca mais esqueceu: Arre macho… Raiiis te partiram os cornos... ao que as crianças retorquíam inocentes: Mas ó avô, o macho não tem cornos!!!
E é esta a minha história! Muito mais teria para contar mas... (relinchando) agora vou ali ao palheiro ter com a mula da cooperativa para uma private party (piscando o olho). Até sempre.
Ao meu avô Zé Maria, com saudade.Mós do Douro é uma primitiva povoação rodeada de montanhas, virada a sul e oposta ao preguiçoso e pachorrento Rio Douro. De gente alegre e sincera, bairrista e sentimental, crente e trabalhadora, amiga da sua aldeia, terra agreste e produtiva. Nas suas encostas, entre camadas de xisto e solo barrento crescem hortas, pomares, olivais, amendoais e vinhas que dão um belo colorido e textura a todo o vale.
De manhãzinha, bem pela fresca, saio à rua carregado com alguma carga e com os miúdos sentados na minha albarda. Puxado à rédea pelo meu dono, sigo cuidadoso em direcção à Gricha, aos distantes campos de cultivo no cimo das montanhas de onde se pode avistar a Lousã. Fazemos uma paragem obrigatória no bebedouro do fontanário, junto do terreiro que é o centro principal da povoação, para beber e encher os cântaros de água fresca. É ali, à sombra do majestoso olmo que antes existia, símbolo da terra, que a população se reúne e convive diariamente. Já se vêem as decorações na igreja e todos os preparativos para as tradicionais celebrações da terra. Ao 3º domingo de Setembro a população residente e a emigrante junta-se na aldeia e celebra com festejos e procissões as tradicionais festas em honra e devoção à Nossa Senhora da Soledade. Ouve-se um chamamento familiar e vemos passar por nós o tio Farrincha que vai regar a sua linda horta no Valemampaz. Acenam-lhe.
De bandulho cheio rumo agora pela estrada poeirenta de Santo Amaro. Os meninos seguem no meu lombo, irrequietos e atentos, apreciando a paisagem e enchendo o avô de perguntas. Mais à frente saio da estrada e sigo por um caminho longo e duro, feito todo ele debaixo de um sol escaldante e desgastante, o que aumenta o meu apetite. Sempre que posso vou mordiscando aqui e ali umas ervas e uns raminhos suculentos das amendoeiras. Às tantas, a ladeira torna-se tão estreita e íngreme que todo o cuidado é pouco para não tropeçar os cascos nas pedras. Mesmo assim, acabo quase sempre por deslizar as ferraduras numa rocha mais lisa e escorregadia e, logo logo, o velhote solta a sua habitual frase de reprimenda que o menino Paulinho nunca mais esqueceu: Arre macho… Raiiis te partiram os cornos... ao que as crianças retorquíam inocentes: Mas ó avô, o macho não tem cornos!!!
E é esta a minha história! Muito mais teria para contar mas... (relinchando) agora vou ali ao palheiro ter com a mula da cooperativa para uma private party (piscando o olho). Até sempre.
A todos os mosenses boas festividades.
Bom fim-de-semana.
22 comentários:
O que faziam dois machozinhos em cima de um macho que era puxado por outro macho?
Faziam uma machofotografia.
Gostei de ler, Macho. Contas histórias muito giras. :)
E fazes justiça ao nome ou também piscas o olho a outros "machos"?
Abraço, daqueles à macho!
Cada vez que venho cá e leio estes teus posts fico enternecida! A sério! A forma como contas as coisas é realmente fantástica! O teu avô está certamente orgulhoso de ti!
:) Beijinho
Ainda bem que és o meu "Backup", e fazes despertar imagens que temos guardadas da nossa infancia...obrigado mano.
Beijos ao Avô Zé Maria, à Avó Maria do Amor Divino, ao Padrinho Farrincha e à madrinha...(que saudades daquele arroz..)
Contas essas memorias de forma fabulosa!
Ps - Espero que private party tenho corrido bem! Eheheheh
Abraço
Depois de sacudir umas moscas anónimas que tiveram o atrevimento de pousar no meu cerro, como prometi ao menino Paulinho vou responder aos vossos comentários.
Olha se não é o mano Tó, por cá mais conhecido como Manel das Iscas. E quem poderá esquecer o arroz e a simpatia da Madrinha Ilda. Todos temos bastantes saudades deles.
Uma relhinchadela meu malandro.
Então não se vê que faziam figura de machos, e dos latinos!
Obrigado pelo comentário menina Gi. O Paulinho disse-me que as suas histórias o deixam metido num 31 de tanto gostar delas.
Anda cá Rafeiro, chega aqui mais perto e vais ver como te fica bem um "U" impresso na testa. E eu lá pisco o olho a outros machos! Pelo menos não lhes cheiro o traseiro.
Vá lá, pega uma festinha com o focinho, daquelas à macho.
Sabe menina Lili que o menino Paulinho fica muito contente quando ilustres meninas aqui o visitam. Tenho a certeza de que irira adorar conhecer a animação que há nas festas da minha terra.
Uma sonora relinchadela para a menina.
E se correu bem, menino PB. Não sobrou palha sobre palha.
Ó clique aqui para ver o meu sorriso amarelo!
LOL para os comentários.
Quanto ao post. LINDO, terno e com o habitual qb de divertido.
Faxabôre de continuar assim e beijos para a Maria e demais família :)
Ohhh.. Um macho às direitas ;)
Bj,
(i)
O menino Paulinho fez bem em deixar-te a chave, moço Macho.
Espero que rave equina tenha corrido a preceito com a amiga mula ;)
Nem seria preciso o menino Paulinho me pedir. É um prazer continuar por cá a cag..., digo, a enxotar moscas ajaponesadas. Bom, o que me agrada mesmo é receber os visitantes no gabinete. E que visitas! Até lhe saltou a tampa quando contei ao menino Paulinho que a menina Olá lhe deixou lembranças no gabinete. Ficou muito contente sabe, e pediu que lhe retribui-se os beijinhos com muitos beijinhos! Como enviar beijinhos não é a minha especialidade, ora deixa cá ver outro sorriso.
E às esquerdas também menina Inês Brito. São duas para cada lado!
Relinchadelazinha.
Sabe menina Safira, elas não me largam! Dizem que sou, como é que se diz! Um macho man. Vai daí tive de continuar a rave aqui no gabinete. Apareçam, a palha é por conta da casa.
Ah, Macho, aposto que também aproveitavas as férias para aprender a ler e a escrever com o menino Paulinho... :)
E é sempre bom recordar essas boas memórias asininas e as belas aldeias do nosso país, do ponto de vista de quem nelas reside. Que afinal de contas são aqueles que as amam, não é?
Mas obrigada por me tirares uma duvida: não sabia se um macho relinchava ou zurrava, dada a sua genética mista. Fiquei a saber! :D
Festinhas nesse lombo!
Ó Macho tu tem cuidado com as histórias que contas... o Paulo não te disse que o gabinete está sob escuta?
O meu amigo macho já voltou para a pacatez do seu estábulo e para a ruminação não deixando no entanto de me pedir para vos agradecer as mensagens que deixaram.
É Teté, eles relincham pouco e baixinho. São tímidos mas trabalhadores pouco dados a birras como os burros.
Carlos, já que o dizes bem que ando desconfiado disso! Acho que vou escutar os meus acessores.
Inteligente,a postagem.
Mas, gostoso mesmo é o miss en cene do desenrolar nos comentários.
Valeu!
"AAAnda maacho...tche tche" Qual D. Quixote e Sancho Pança a vaguear por entre moinhos na terra de Cervantes! São o D.Paulo e D.Tó Mané guiados pelo seu fiel escudeiro avô Zé Maria, por terras do "mundo mágico e do maravilhoso" do Torga!
Reparo que vosso macho tinha a crina mais aprumada que o meu burro o "russo"!
As vertigens que dava quando baixavam a cabeça para coçar as patas ou para beber água!
Recordo agora com saudade o tio Zé Maria!
Um grande abraço primo!
E as chicotadas que apanhavamos nas pernas. Aquele rabo não parava de um lado para o outro sempre a sacudir moscas, já para não falar das fábricas de merda que eram. Aliás, actualmente as ruas das Mós perderam um pouco do característico cheiro e aspecto que os poios de merda e palha lhe davam.
Um abraço primo Alexandre!
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