terça-feira, julho 7

con dulce alegría

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Praça da Galiza, Porto (foto Wikipedia)

A caminho do liceu onde eu estudava, o do Infante D. Henrique, tantas vezes perto de ti passei e nem sequer te conhecia. Mesmo sem que desses conta disso, eu ficava atraído por ti, pela tua firme presença, pela forma como me sorrias quando passava perto de ti, logo tu a quem a vida não sorriu. Mas eu não te conhecia e olhava para ti como se fosses uma deusa da mitologia grega, tão elegante estavas, numa postura tranquila e relaxada. Como as mãos artistas de Barata Feyo tornaram uma rocha de granito frio e inerte numa figura tão graciosa e atraente. Percebia até no teu espelho de água verde uma certa vaidade reflectida das tuas origens, mesmo que fossem lágrimas de saudade das tuas gentes. Não mudaste nada. Os anos passaram por ti e tu continuas na mesma, a sorrir às nuvens e aos pássaros, como se o tempo não existisse. Lembro de uma tarde quente de verão, já com as férias grandes à porta. Eu e alguns colegas de turma fomos refugiar-nos aos teus pés e banhar-nos à descarada no teu pequeno mar. E tu lá estavas, iluminada pela sombra das árvores da tua praça, impávida e serena, como uma pomba ferida que permanece para sempre rodeada dos filhos. Nunca antes eu ouvira falar de ti, e de ti só sabia o nome escrito na pedra, Rosália. Alguns anos mais tarde voltei a passar por perto mas estavas tão atenta ao reboliço da estudantada que nem deste por mim. Depois procurei saber mais de ti e da tua obra, quem foi Rosália de Castro. Procurei ler as tuas poesias, saber do teu orgulho pela terra, pelas tuas gentes, pela tua Galiza. Ouvi os teus Cantares Gallegos e percebi o quanto o teu sorriso é genuíno e feliz, de quem brinca e toca piano para os filhos. Mas quem poderia saber o que te ia na alma se a tua poesia chora tristeza e sofrimento? Mesmo sem teres dado por mim confiei-te o nosso menino, mas nem era preciso porque sei que ali cuidas dos filhos dos outros como se fossem teus. Quando os vês chegar pela manhã, a entrar na escola, dás-lhes sempre os bons dias. Pedes-lhes cuidado para atravessar a rua. Sorris quando eles passam perto de ti, distraídos, para o jardim. É claro que percebeste como eles cresceram tanto. Já passaram cinco anos, sabias? O nosso menino e os colegas vão agora para o liceu, para uma outra etapa da vida. Vão conscientes que o patrono Gomes Teixeira, o dos números e das matemáticas, tem razão no pedido que faz nas paredes na sua escola. Trabalhai e sereis úteis, aprendei e sereis grandes. A ti, à escola, a todas as professoras e professores, profissionais e colaboradores, só temos de estar muito gratos pelo jovem que nos ajudaram a educar.


Xente - Berroguetto


8 comentários:

Gi disse...

Eu adorava brincar às estátuas.
O blogobairro agora deu-lhe para a estatuária (a Patti e tu).
Quanto aos nossos filhos é tão bom sabermos que a educação lhes corre no sangue e que eles nos são e serão gratos, igualmente.

mjf disse...

Olá!
O tempo passa tão depressa...
Mas é bom que nós recebemos uma boa educação e fazemos os possiveis ,para que os nossos filhos sejam pessoas com boas e bem formadas:=)

Beijocas

Teté disse...

O tempo passa a correr, não é? Este próximo ano lectivo já o meu filhote termina o liceu, parece que ainda foi ontem que andei com ele ao colo...

Nunca tinha ouvido falar dessa Rosália de Castro, mas de viúvas em vida já, possivelmente desse tal verso mais conhecido. E sim, gosto dessas estátuas que são estátuas tradicionais, não de algumas que são um mero monte de pedras a simbolizar não sei o quê...

Beijocas!

Tó (Mano) disse...

O tempo corre e nem damos por isso...qualquer dia aparecem-nos em casa com o "Canudo".

P.S: Também andava distraido naquele tempo que nem tinha reparado na estátua.

Abç Mano

joana disse...

O tempo corre mesmo.
Ainda bem que os nossos filhotes seguem o caminho da educação.
Beijocas para voces

Patti disse...

Muito prazer Rosália, já conheces a minha Camila?

Kok disse...

Se nos detivermos um pouco, pensando, podemos assumir que tantas e tantas pessoas boas, com valor e com valores, passam por nós diariamente.
Nas pequenas cidades é fácil já que (praticamente) todos se conhecem.
Nas grandes cidades não! Porque passamos pela vida correndo e quase sem olharmos para o lado, nunca saberemos o que perdemos.
Akele abraço. pah!

Si disse...

Ó faxabôre, tem que passar lá por casa, para receber os aplausos do pessoal do blogobairro à sua criação. O desfile está a decorrer!!