Após a grande revolução andróide, que se tornara o único sistema operativo para todo o sistema solar, a sociedade era a família e educava uma criança de uma forma mais colectiva, sob a influência do pós-humanismo. Assim, como os seus amiguinhos, Félix recebeu o seu primeiro robot educativo, recheado de recursos e programado para ser o seu “big brother” que permitia, entre muitas outras funções, a sua mãe monitorizar todos os passos que dava assim que saísse de casa. Para um miúdo de apenas quatro anos, Félix demonstrava ser bastante inteligente e perspicaz, e dentro da sua inesgotável curiosidade queria conhecer melhor todas as potencialidades do seu novo companheiro. O pai programou o Sócrates para registar e reportar em tempo real tudo o que faziam, o que levou Félix a perguntar-lhes: E se eu não quiser que saibam onde estou? O pai riu, olhou para a mãe e brincou: Oh meu maroto, e eu posso saber como é que um menino do teu tamanho vai andar por aí sem que os pais saibam onde estás? É só para tua segurança, filho… Félix começou a olhar desconfiado para o seu robot. Se ele saía da escola e parava no parque para brincar, logo a mãe ligava a voz do Sócrates e lhe pedia para ter cuidado. Se aceitasse o convite de um amigo, a mãe cobrava explicações por ter trocado o seu caminho normal por outro que não era habitual. Ao longo do tempo, ele foi aceitando o robot, uma caixinha brilhante que já o conhecia bem, cada vez com maior amizade e carinho. Sócrates cumprimentava-o com cordialidade, perguntava se queria jogar xadrez com ele e, quando passavam junto de uma nave de gelados, o robot vibrava e avisava que o Mega de Morango, o gelado preferido do garoto, estava em promoção! O que deixava o Félix ainda mais curioso era mesmo saber como aquela máquina estranha podia fazer aquilo tudo, e isso para ele era uma fixação.
A grande revolução andróide foi-se tornando o padrão mundial. Utilizado por todos os governos, monitorizava os humanóides, adoptando o uso de implantes, uma tecnologia desenvolvida para a colocação de um nano-chip, o Chipo, sob o couro cabeludo incorporado no crânio das pessoas, que através dele podiam fazer mil e uma coisas, desde controlar sistemas de reconhecimento, compras com débito instantâneo e reciclagem dos fluidos corporais. Nessa época, os implantes eram logo inseridos nos bebés mal nasciam. Assim, tanto os desaparecimentos, como abusos e maus tratos envolvendo crianças, foram simplesmente apagados do planeta. A pedofilia foi extinta e a violência quase passou à história. Todas as actividades humanóides que envolvessem identificação e localização do indivíduo eram realizadas com a rapidez do omnipresente Chipo. O planeta Terra tornara-se um local pacífico e bom para se viver. É claro que haviam algumas excepções! Algumas organizações rebeldes resistiam em países do antigo terceiro mundo e recusavam-se a adoptar a nova tecnologia. Teimavam em viver numa pré-história tecnológica. Ocupavam regiões longe do desenvolvimento do mundo real, numa espécie de reservas naturais, tentando aqui e ali sabotar e limitar o sucesso do sistema operativo, introduzindo alguns vírus maliciosos da velhinha Internet.
Naquele dia, Félix estava numa aula de Autonomia Privativa, a disciplina que menos gostava. Ele assistia à aula da sua mesa, numa ampla sala com vista para um imenso monitor transparente. Haviam um sem número de comandos na sua mesa, e o Chrome, uma superfície sensível à sua íris, exibia uma tabela de questões que teria de responder para ultrapassar mais uma etapa da sua formação. Félix estava cada vez mais pálido. Magalhães reconheceu-lhe imediatamente uma brusca mudança na sua pulsação e mesmo antes que ele instruísse o primeiro comando, abriu uma janela privativa no Chrome e propôs ao sistema um intervalo para dúvidas de ingenuidade. Receptivo a esclarecer dúvidas de ingenuidade, menino Félix?, questionou. Não é nada disso Sócrates! Já reparaste que dia é hoje?
É 13 de Março de 2099, sexta-feira 13!!! Porquê?!
Kraftwerk - The Robots (Live)
18 comentários:
Muito interessante, gostei!
:))
E o Menino óspois acordou??
xinhinhus pa tu da lua
Olá!
Longo mas verdadeiro e sensivel :=)
ehehehe
Beijocas
Bom fim de semana
Seja bem vindo Devaneante.
Abraço e bom fds
Sandra, ós despois o menino ficou coradinho e foi com o Sócrates no comboio ao circo!
Beijinho e bom fds
mjf, o texto é para o fim-de-semana que se espera seja bem longo.
Beijinho e bom fds
Hmmm....Sócrates...sexta feira treze...tás a falar da crise?? ;D
Um abraço
DANTE, foste perspicaz e leste bem nas entrelinhas, pá. Parabéns!
Abraço e bom fds.
Podias ter dado um nome mais original ao robot, sei lá, Magalhães, por exemplo!
Abraço!
Pois podia Rafeiro, mas aí teria de corrigir todos os erros ortográficos e gramaticais, o que não daria tempo até 2099!
Abraço e bom fim-de-semana
Numa Sexta-Feira 13 andar com um Sócrates à perna, vai lá vai!É mesmo um chip dum azar.
Gi, há quem diga que um azar nunca vem só!
Beijo e bom fim-de-semana
:))
e os coelhinhos num foram todos unzatroces duzoutros?? isso ékera bom e fixolas :))
xinhinhus paulo e bom fim de coiso
Sexta 13, micro-chips, controle total do Chipo .... etc .... e o Sócrates ... uiiii que azares.
Bem, amanhã já passou :))
Bom fim de semana ... bjinhos
Hummm... e para lá caminhamos, nessa monitorização da nossa vidinha, a começar pelos telelés que algumas empresas dão aos seus funcionários!
Mas não me digas que em 2099 ainda haverá gente supersticiosa... :)))
Beijocas e bom fim de semana!
Oi :)
Passa pelo meu cantinho, tenho lá um miminho para ti
beijinho*
Adorei esta visão do futuro :)
Ah, e o nome do robot também.
Bj,
(i)
Olá Paulofski...aconselho-te um filme bem engraçado: "o Homem bicentenário"...é sobre andróides mais humanos que muitos humanos...
boa semana
bjs
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