Tudo acontecia na Praça da Batalha. Os passeios de eléctrico, a comédia das vendedeiras, o romance dos namorados, as encenações no São João. A estreia do filme do momento, vai no Batalha diziam! Nas tardes de Domingo subíamos Santa Catarina como sempre o fazíamos, sem pressas. A primeira sessão da matiné do Águia d’Ouro era às 3 horas da tarde, ainda a tempo de espreitar umas montras, de tomar um quente cimbalino e de encontrar a bilheteira aberta, a tempo de voltar e satisfazer a constante curiosidade e alegria em conhecer o cinema por dentro.
Cinema de culto, de aparência gasta e cinzenta, animado pelos cartazes dos filmes em exibição e sempre com fila na bilheteira. De bilhete rasgado, entramos naqueles corredores húmidos com cheiro a mofo. À entrada ficavam as portas de acesso à plateia, os lugares mais caros. Subíamos as escadas para o 1º piso e nos reuníamos num pequeno quiosque onde se vendiam uns gostosos caramelos e chocolates, óptimos para confortar os estômagos durante a exibição cinematográfica. Empurramos a porta do 1º Balcão - ímpares. Um velho funcionário, de lanterna na mão, recebia-nos e guiava-nos pela sala escura e ampla, perfilada de cadeiras de madeira e couro coçado, até ao lugar indicado no resto do bilhetinho. Enquanto a sala enchia e murmurava nós aguardávamos à conversa, acomodados perante uma enorme cortina castanha que escondia a tela branca, como um espelho reflector das luzes que trespassariam as fitas. De súbito ouvia-se o sino característico do sinal de início da sessão. As luzes apagavam-se lentamente, a cortina subia, e do projector surgia aquele momento mágico na imensa tela branca e suja. Um intenso brilho colorido seguida da música inundavam o anfiteatro, desenho após desenho, o mundo fantástico da bicharada de Walt Disney lá estava.
Depois o filme. Um filme de acção com os melhores actores da sétima arte, intercalado por um intervalo para uma mijinha e um cigarrito conversador. Bons tempos aqueles, mas, como tudo o que é bom dura pouco, um dia acabou. O fim do cinema Águia d’Ouro aconteceu em 1989. A geração actual, habituada às salas quadradas e sem cor, às pipocas e baldes de palhinhas, jamais vai conhecer o clima de mística e magia que naquela sala fervilhava nas matinés de Domingo.
That´s all folks
That´s all folks
19 comentários:
E não se fez nada com esse velho cinema? Recuperação, nova casa...
Aqui em Lisboa, quase todos foram recuperados e têm nova vida: hotel, hardrock café, teatro, centro de reuniões.
O meu primeiro filme foi os 1001 dálmatas, no cinema Tivoli, hoje totalmente e muito bem renovado Teatro Tivoli, na Av. Da Liberdade, onde tantos anos morei.
No Tivoli também vi Mary Poppins e Música no Coração. Gostava do ritual do intervalo (agora já começa a haver outra vez!), em que todos se dirigiam para o balcão onde bebiam um cafezinho de saco!
Eram tão giras as salas antigas de cinema:-)
E o que me chateia mais, agora, é que nem eu resisto às Pipocas...
Não Patti, ainda não se fez nada. O link com essa história não apareceu no post, agora já lá está.
Numa das minhas visitas a Lisboa com os meus pais recordo-me de ter ido mais o meu irmão ao Tivoli ver o Herbie. São muito parecidos estes cinemas centenários, cheios de história e tradição.
Beijos
Pois Vekiki, as pipocas! Também não resisto. Depende do filme que se for assistir. Se não, faz como eu leva-as para comer em casa.
Beijos
O meu 1º filme, tinha 5 anos, foi o urisinho brincalhão no Tivoli, em Luanda.
Tenho estado aqui a ouvir a linda música que tu tens no blogue.
Já fui ver o link do cinema.
E qeum manda o menino colocar ali na sua coluna do lado direito a música do filme da minha vida?
Também lá tenho o Alfredo e o Toto na minha coluna...
Gi, do meu primeiro filme não tenho a mínima ideia, varreu-se-me. A música tá boa não tá?
Beijos
Patti, manda o meu bom
gosto, :)
Este é um dos meus filmes.
Vamos lá das a volta a isto!
Beijos
Oh faxabôre, eu não sei por aqui esses linkezinhos bonitinhos directamente para o post, mas também tenho um post assim:
http://aresdaminhagraca.blogspot.com/2008/06/no-sou.html
(oh coisinho, como é que eu faço isso dos linkezinhos nos comments?
Mandas mail? Mandas?)
Voilá
voilá e foi para o galheiro!
É das coisas que me irrita. Fazer um comentário lindo, falar do "cinema paraíso", da Mary Poppins, das idas ao cinema dos 7 magnificos (eu e a irmandade) e na altura de gravar, esfumaçar-se!
:)))))
Ficam pelo menos as recordações desses tempos! Fica a pergunta: será que foi extinto por causa do nome? (Águia de Ouro na cidade do Porto...? ;)
Aquele abraço
Ao ver esta tua Historia, vei-me à lembrança o 1º filme que fomos ver para maiores de 16 anos...eh..eh, a ansiedade de ver umas gajas nuas, a pressa de entrar no cinema (penso que foi no Coliseu)...iamos ver a Cleopatra...mas ao fim dos primeiros 15 minutos, sem ver sequer um Sutien já estavamos a pensar se afinal valia a pena ficar por lá...mas que desilusão...
Abraço
Tó (Mano)
Inês
Vamos lá dar a volta a isto.
Beijinhos
Pedro
Mesmo assim o Aguia é superior. Isto é tudo uma questão de capitais. Olha pró Parque Mayer!
Abraço
Tó
Foi no Coliseu, foi. E não te esqueças que ainda não tinhamos 16 anos e assim tivemos que "aquecer" as mãos do porteiro com uns escudos extra para entrar. Subimos para as bancadas da Geral, a 25 tostões cada bilhete, e acabamos por sair antes do fim da fita que se partiu um ror de vezes.
Abraço mano.
Engraçado, mais uma a engrossar a lista do Tivoli, eleito como o cinema debutante ;) O meu primeiro filme foi o "Música no Coração", no... Tivoli! Lembro-me perfeitamente: tinha 8 anos e vestia um vestido amarelo... ;)
Bjs
Eu adoro pipocas, mas só em casa. Irrita-me solenemente o 'crshh crshh'. E depois, as pessoas não conseguem comer em silêncio: ora explica-me lá que barulho faz ir-se tirando as pipocas uma a uma do cimo? nenhum. Mas porque é que têm de sacudir o balde de cada vez que metem um à boca??? Hum???
CA NERVOS!!!
Fizeste-me recordar o cinema Europa, em Campo de Ourique, e outros tantos...
bjs
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