 ... sou mesmo um palerma. Querem passar à minha frente na fila do autocarro? Podem ir que eu serei incapaz de armar confusão. Querem deixar-me na seca para ser atendido numa esplanada numa tarde solarenga? Por mim tudo bem, não pedirei o livro de reclamações por isso. Querem gozar com a minha cara quando não me dão prioridade nas passadeiras? E daí, se eu estiver distraído o azar é meu, a rua é pública mesmo! O taxista conduz  como se não houvesse amanhã! Coitado, ele deve ter família e para quê prejudicá-lo anotando a matricula e ligar para a empresa onde trabalha? Não costumo incomodar ninguém por tudo e por nada. A vizinha não limpa os dejectos que o seu bobi deixou no patamar do prédio? Um respeitador condómino deve colaborar com seu desinteresse, afinal a senhora não tem culpa de ser porca e do cão ter cu.
... sou mesmo um palerma. Querem passar à minha frente na fila do autocarro? Podem ir que eu serei incapaz de armar confusão. Querem deixar-me na seca para ser atendido numa esplanada numa tarde solarenga? Por mim tudo bem, não pedirei o livro de reclamações por isso. Querem gozar com a minha cara quando não me dão prioridade nas passadeiras? E daí, se eu estiver distraído o azar é meu, a rua é pública mesmo! O taxista conduz  como se não houvesse amanhã! Coitado, ele deve ter família e para quê prejudicá-lo anotando a matricula e ligar para a empresa onde trabalha? Não costumo incomodar ninguém por tudo e por nada. A vizinha não limpa os dejectos que o seu bobi deixou no patamar do prédio? Um respeitador condómino deve colaborar com seu desinteresse, afinal a senhora não tem culpa de ser porca e do cão ter cu.Posso me considerar um tipo educado. Respeito as filas, não deito lixo para o chão, cedo o lugar às velhinhas e grávidas, abro as portas e dou passagem às senhoras. Peço por favor, sou agradecido e agradeço sempre. Peço desculpas, perdão até, por pisar um pé alheio. Acho que sou normal. Essas e outras pequenas grandes atitudes fazem com que se tenha sempre razão para reclamar. Infelizmente ou não, raramente interfiro na contenda quando assisto a conflitos. A melhor atitude é ficar quietinho, fazendo o que tenho a fazer, mantendo a minha habitual calma tibetana, deixando os beligerantes com a sua ignorância verbal. Procuro ignorar gente que não se respeita.
Para ser franco, já estou cansado de ouvir tantos queixumes. Estou cheio desta crise, das falências e despedimentos oportunistas, do mau temperamento, dos maus ministros, do treinador, do governo, dos eternos casos de justiça, de tanta injustiça. Confesso, eu estou farto e já não suporto mais ouvir as cenas dessa novela chamada “Freeport”. Não pretendo ser previsível, nem vos aborrecer por dizer que cada vez mais tenho receio de abrir um jornal e já fujo do noticiário das têvês. Estou sem pachorra para discutir o que vem acontecendo neste mundo. Estamos todos equivocados nas pequenas e nas grandes questões das quais falamos todos os dias. Para quê gastar tantas energias a reclamar da vida se ela não quer saber disso para nada! Fingir que tudo está bem é hipocrisia, eu sei, e quem não chora não mama, ok! Mesmo sabendo que há formas mais directas de não estar de acordo com as situações, eu confio na Democracia, e como tal procuro sempre cumprir a minha obrigação cívica e usarei de novo o direito de voto para reclamar. Sou mesmo um palerma.
 














 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
