Texto de Paulo Gaião no Expresso:
"Um dos
pontos fortes da agenda de Angela Merkel em Portugal é a formação
profissional. Outro será certamente o ensino dual, com formação teórica e
prática (que levou há uns dias Nuno Crato à Alemanha para assinar um
protoloco). Outro ainda é a criação de um banco de fomento, para apoiar
políticas de investimento, à semelhança do que já existe na Alemanha.
Esta agenda básica, própria de um país
subdesenvolvido (o Banco Mundial, que costuma andar pelo Terceiro
Mundo, também já está cá a trabalhar na Refundação do memorando)
demonstra como a nossa incapacidade desceu ao grau zero.
O pior é que a culpa é inteiramente nossa. Aqui nem há
lugar a argumentos de que o euro quando apareceu era uma moeda muito
forte para a nossa camioneta, que os bancos alemães se aproveitaram de
nós com juros baixos para embarcarmos no consumo fácil, que a senhora
Merkel é hoje uma megera que nos faz sofrer pelos nossos erros.
Em matéria de formação profissional, estamos
conversados com os dinheiros desbaratados do Fundo Social Europeu na
década de 1980 e 1990. Também com a paixão pela educação de António Guterres que não deu em nada.
No que respeita ao ensino dual, colocar alunos a ter
aulas teóricas na universidade num dia e nos outros quatro dias a fazer
prática em empresas não é propriamente inventar a roda. Ainda que pareça, face à maneira como Crato correu para a Alemanha.
Esquecemo-nos que já tivemos ensino técnico e ensino
liceal e que foi a seguir ao 25 de Abril que acabámos com a divisão e
fizemos o ensino unificado em boa medida por causa de um preconceito
ideológico que via no ensino técnico o proletariado e no liceu a
burguesia. Por causa disto, não criámos uma escola empresarial e
lançámos muitos cursos desajustados das necessidades.
O mesmo aconteceu com os politécnicos, que se tornaram
(com algumas excepções) segundas universidades, com todos os vícios
académicos. Deram mais canudos aos jovens mas não os prepararam para a
vida profissional. Hoje, este falhanço, contribui para temos milhares de
jovens no desemprego.
O Banco de Fomento, que uns querem criar de novo e
outros formar a partir da Caixa Geral de Depósitos também não é
propriamente a invenção da pólvora.
O Estado Novo teve Planos de Fomento e até criou
precisamente um Banco de Fomento Nacional (com todas as limitações da
ditadura, o condicionamento industrial, os monopólios dos grandes grupos
e famílias, o espírito tacanho de Salazar).
É estranho que o movimento anti-Merkel que por aí anda,
encabeçado pelo Dr. Mário Soares ( que já lhe chamou tudo e agora diz
que não tem réstea de patriotismo o português que a apoiar) não denuncie
a humilhação que é ver Merkel em Portugal explicar-nos velhas ideias
que até o salazarismo desenvolveu."
3 comentários:
Creio que um dos grandes males do pós 25 de Abril foi acabarem com as escolas industriais e comerciais e pensar-se que todos "tinham que ser" doutores e engenheiros (oportunidades iguais para todos), ficando a maior parte apenas com uma parte do liceu e não sabendo "fazer coisa nenhuma" em lado algum !
Trabalhei sempre nas, ou com as, direcções industriais em consultoria e o grande problema com que se deparava era a falta de profissionais qualificados nos vários domínios, comerciais e industriais : electricistas, torneiros, mecânicos, carpinteiros, serralheiros, construtores civis, etc., etc..
Por esse motivo, a rentabilidade e produtividade das indústrias sofreu as consequências actualmente ainda visíveis ! Só "curiosos" que aprenderam pelo que viam, mas sem saberem o porquê das coisas !
É também um erro pensar-se que quem tirava um curso comercial ou industrial não poderia seguir economia, gestão ou engenharia, desde que o pretendesse !
Sou um fervoroso adepto do regresso, quanto antes, desses cursos, para bem da produtividade do nosso país, o que agora vai demorar muitos anos ! :((
Foi um grande tiro nos pés, da Revolução ! :(((
Nos últimos anos tentou-se remediar o mal, mas foi um mau remendo, sem nexo !
.
A semelhança entre o salazarismo e a postura e filosofia alemãs é muito grande... e nem sequer é de hoje, não sabias?
Infelizmente damos mais atenção ao que nos dizem (impõem) de fora do que as ideias criadas cá dentro. Claro que muitas das ideias nacionais visam alguns umbigos e não o progresso... Abraço!
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