sexta-feira, novembro 9

porque "Merkel vem a Portugal inventar a roda"

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Texto de Paulo Gaião no Expresso:

"Um dos pontos fortes da agenda de Angela Merkel em Portugal é a formação profissional. Outro será certamente o ensino dual, com formação teórica e prática (que levou há uns dias Nuno Crato à Alemanha para assinar um protoloco). Outro ainda é a criação de um banco de fomento, para apoiar políticas de investimento, à semelhança do que já existe na Alemanha.

Esta agenda básica, própria de um país subdesenvolvido (o Banco Mundial, que costuma andar pelo Terceiro Mundo, também já está cá a trabalhar na Refundação do memorando) demonstra como a nossa incapacidade desceu ao grau zero. 

O pior é que a culpa é inteiramente nossa. Aqui nem há lugar a argumentos de que o euro quando apareceu era uma moeda muito forte para a nossa camioneta, que os bancos alemães se aproveitaram de nós com juros baixos para embarcarmos no consumo fácil, que a senhora Merkel é hoje uma megera que nos faz sofrer pelos nossos erros. 

Em matéria de formação profissional, estamos conversados com os dinheiros desbaratados do Fundo Social Europeu na década de 1980 e 1990. Também com a paixão pela educação de António Guterres que não deu em nada.  

No que respeita ao ensino dual, colocar alunos a ter aulas teóricas na universidade num dia e nos outros quatro dias a fazer prática em empresas não é propriamente inventar a roda. Ainda que pareça, face à maneira como Crato correu para a Alemanha. 

Esquecemo-nos que já tivemos ensino técnico e ensino liceal e que  foi a seguir ao 25 de Abril que acabámos com a divisão e fizemos o ensino unificado em boa medida por causa de um preconceito ideológico que via no ensino técnico o proletariado e no liceu a burguesia. Por causa disto, não criámos uma escola empresarial e lançámos muitos cursos desajustados das necessidades.
   
O mesmo aconteceu com os politécnicos, que se tornaram (com algumas excepções) segundas universidades, com todos os vícios académicos. Deram mais canudos aos jovens mas não os prepararam para a vida profissional. Hoje, este falhanço, contribui para temos milhares de jovens no desemprego.  
        
O Banco de Fomento, que uns querem criar de novo e outros formar a partir da Caixa Geral de Depósitos também não é propriamente a invenção da pólvora. 

O Estado Novo teve Planos de Fomento e até criou precisamente um Banco de Fomento Nacional (com todas as limitações da ditadura, o condicionamento industrial, os monopólios dos grandes grupos e famílias, o espírito tacanho de Salazar).
 
É estranho que o movimento anti-Merkel que por aí anda, encabeçado pelo Dr. Mário Soares ( que já lhe chamou tudo e agora diz que não tem réstea de patriotismo o português que a apoiar) não denuncie a humilhação que é  ver Merkel em Portugal  explicar-nos velhas ideias que até o salazarismo desenvolveu." 


3 comentários:

Rui disse...

Creio que um dos grandes males do pós 25 de Abril foi acabarem com as escolas industriais e comerciais e pensar-se que todos "tinham que ser" doutores e engenheiros (oportunidades iguais para todos), ficando a maior parte apenas com uma parte do liceu e não sabendo "fazer coisa nenhuma" em lado algum !
Trabalhei sempre nas, ou com as, direcções industriais em consultoria e o grande problema com que se deparava era a falta de profissionais qualificados nos vários domínios, comerciais e industriais : electricistas, torneiros, mecânicos, carpinteiros, serralheiros, construtores civis, etc., etc..

Por esse motivo, a rentabilidade e produtividade das indústrias sofreu as consequências actualmente ainda visíveis ! Só "curiosos" que aprenderam pelo que viam, mas sem saberem o porquê das coisas !

É também um erro pensar-se que quem tirava um curso comercial ou industrial não poderia seguir economia, gestão ou engenharia, desde que o pretendesse !

Sou um fervoroso adepto do regresso, quanto antes, desses cursos, para bem da produtividade do nosso país, o que agora vai demorar muitos anos ! :((

Foi um grande tiro nos pés, da Revolução ! :(((
Nos últimos anos tentou-se remediar o mal, mas foi um mau remendo, sem nexo !
.

Nanny disse...

A semelhança entre o salazarismo e a postura e filosofia alemãs é muito grande... e nem sequer é de hoje, não sabias?

Rafeiro Perfumado disse...

Infelizmente damos mais atenção ao que nos dizem (impõem) de fora do que as ideias criadas cá dentro. Claro que muitas das ideias nacionais visam alguns umbigos e não o progresso... Abraço!