sexta-feira, setembro 23

bailinho da Madeira

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Artigo de opinião escrito por Leonel Moura, retirado daqui.


Em certos países Alberto João Jardim estaria hoje em grandes apuros, destituído, processado, eventualmente preso. Por cá não lhe vai acontecer nada. O mesmo não se pode dizer dos restantes 10 milhões de portugueses que vão receber a conta de um bailinho que dura há três décadas.


Conceda-se, Jardim tem estilo. Um estilo trauliteiro, burlesco, depreciador das regras mínimas de convivência civilizada. Eleito democraticamente age como um ditador. Humilha os adversários, censura, persegue quem ousa criticá-lo. É um homem de outro tempo e de outra cultura. Para ser um Kadhafi só lhe falta a tenda, e já agora o petróleo. Como não o tem vai saqueando o país inteiro. Hábil nas ameaças, quantas vezes já acenou com o separatismo, ainda é mais habilidoso a conseguir o que pretende. E todos, sem excepção se têm vergado à sua vontade. Governos socialistas, sociais-democratas, sucessivos presidentes, todos cederam. Ninguém sai incólume desta história.

Agora foi apanhado em flagrante. O buraco da Madeira finalmente abriu-se à vista de todos. E tal como em tanta farsa que abunda nos dias que correm, a súbita indignação dos agentes políticos e dos responsáveis institucionais é patética, hipócrita, indigna mesmo. Toda a gente sabia.

As irregularidades são evidentes, confirmadas até pelo próprio naquilo que Jardim designou, com a habitual displicência, por um "lapsus linguae".

O esquema é simples de explicar. Combina-se a obra, faz-se e inaugura-se, mas sem emissão de faturas que são atiradas para uma data posterior. A despesa não é contabilizada e não aparece nas contas públicas. Mais tarde emerge como dívida.

O esquema é simples mas ilegal. Mesmo para um leigo ficam no ar algumas questões. Existiram cadernos de encargos, concursos, adjudicações, contractos, registos administrativos? Se não existiram é um caso de polícia. Mas se existiram como foi possível não detectar a inexistência de facturação? Que entidades deviam fiscalizar e não o fizeram? Com o túnel ou a estrada inaugurados ninguém reparou que não havia conta para pagar?

O mundo está cheio de engenharias financeiras. No sector privado elas são corriqueiras, mas na Administração Pública, porque estão em causa dinheiros dos contribuintes, é suposto existirem mecanismos de controlo que as impedem e vão desde os serviços da entidade adjudicante ao Tribunal de Contas e chegam mesmo aos organismos europeus. Aparentemente para a Madeira tudo isto falhou. E das duas uma, ou houve incompetência ou conivência.

É por isso que reduzir este "caso" ao arquipélago e à figura truculenta de Alberto João Jardim, esconde a realidade dos factos. O buraco da Madeira puxa Portugal para mais perto da Grécia. Os mecanismos de fiscalização não são fiáveis, a justiça não funciona, a irresponsabilidade prolífera na administração pública.

Ninguém escapa. O Presidente da República mostra mais uma vez falta de isenção e postura suprapartidária. Basta comparar a solene e extemporânea declaração ao país em 2008 por causa do académico Estatuto dos Açores e a presente complacência para com as tropelias de Jardim.

O PS nunca conseguiu realmente enfrentar Jardim e, não poucas vezes, lhe aparou os maiores golpes. Isto para não falar da incapacidade de se apresentar como alternativa democrática e apresentar candidatos decentes.

PC e Bloco também não podem falar de alto porque, exceptuando a asfixia democrática, a Madeira representa aquilo que defendem. Ou seja, funcionalismo da maioria da população, intenso investimento público. E até, uma vez apanhado em flagrante, Jardim, tal como Louçã e Jerónimo, também quer a renegociação e mesmo o perdão da dívida. O PP é o único que apresenta um discurso coerente sobre o assunto. (!!!) (as exclamações são minhas)

Mas é claramente o PSD que fica pior na fotografia. Seguindo o exemplo da China, vive em regime de um partido dois sistemas. O do Continente onde se mostra muito moralista, defensor do rigor financeiro, adverso ao investimento público e o da Madeira onde reina a imoralidade, a trafulhice e o esbanjamento do dinheiro público. Afinal, sabemos agora, a grande gordura que caberia mesmo cortar encontra-se na barriga de Jardim.

1 comentário:

Kok disse...

Todos, mas todos, os que passaram pelo Governo e pela Assembleia da República, permitiram que o Sr. Jardim andasse à rédea solta.
E sabiam!
Não se ponham agora com atitudes de donzela ofendida...

1 abraço!