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1. Miguel Relvas? Miguel Relvas? Que mais posso eu 
dizer...Como sabem, caros leitores, tenho dedicado vários textos a esta 
personagem da nossa vida política. Que mais posso dizer? Que Miguel 
Relvas não tem credibilidade para ser porteiro do meu prédio, quanto 
mais Ministro de Portugal? Isso já todos sabemos . Que Miguel Relvas 
mente e mente muito sobre qualquer matéria, em benefício dos seus 
próprios interesses? Já não há leitor que duvide desta constatação. 
Como é que Miguel Relvas continua a desempenhar cargos governativos em 
Portugal? Fácil: porque os políticos portugueses (com honrosas 
excepções) têm medo uns dos outros e das várias teias de influência que 
foram tecendo. Passos Coelho deve um (ou mais?) favorzinhos a Miguel 
Relvas e a José Luís Arnaut (a nomeação para a REN não foi mera 
coincidência e só surpreendeu os mais distraídos) e, por conseguinte, 
não os pode afastar - caso contrário, estaria a assinar o seu 
certificado de óbito político. É triste esta realidade? É, muito, muito 
triste. Infelizmente, a verdade é que a nossa democracia carece de uma reforma estrutural. 
2. Dito isto, este texto surge na sequência da nova 
polémica (outras aparecerão, estou certo) que envolve Miguel Relvas: a 
sua "licenciatura" em Ciência Política e Relações Internacionais foi 
tirada em tempo supersónico, recorrendo ao expediente das "equivalências".
 Mais: apurou o EXPRESSO que só três das cadeiras do curso de faz de 
conta de Miguel Relvas tinham professor. Entretanto, o processo de 
Miguel Relvas, na Universidade Lusófona, foi tornado público: 
confirmou-se que houve um processo de claro favorecimento a Miguel 
Relvas, sendo o seu diploma obtido de forma tão fácil como se tivesse 
sido atribuído por uma marca de cereais ao pequeno-almoço. 
3. Posto isto, resta o nosso comentário. Falar sobre 
Miguel Relvas é falar sobre um grupo de políticos que ao longo dos 
últimos anos (décadas) foi beneficiando de um conjunto de favores por 
parte de diversos empresários e entidades, devido aos cargos que forma 
ocupando na vida pública portuguesa. Sabe-se que em Portugal os 
empresários não se metem com o poder político e tentam agradar às 
figuras políticas que julgam ter grande peso nos partidos políticos: no caso
 de Miguel Relvas, a Universidade Lusófona até o destacava na sua lista 
de "famosos" por si licenciados. Todos nós já concluímos que a 
licenciatura de Miguel Relvas vale zero - é um caso ainda mais grave do 
que o de José Sócrates - e a Universidade Lusófona objectivamente 
prestou um favor a Miguel Relvas: o currículo desta nossa personagem 
política não permitiria, de modo algum, obter um curso por equivalências.
 Afirmar que Miguel Relvas poderia ter tirar um curso universitário de 
Ciência Política e Relações Internacionais por equivalência, devido aos 
cargos políticos que foi desempenhando, é o mesmo que afirmar que a Tia 
Mercília, da Gafanha da Nazaré, pode dirigir-se à Universidade Lusófona 
para pedir a equivalência do curso de Gestão e Economia devido á sua 
larga experiência na gestão da mercearia local! Ouvi dizer que ela trata
 das contas do pão e da banana como ninguém - e, no fundo, tratar das 
bananas é o mesmo que gerir as contas públicas nacionais! Enfim... 
4. Entendamo-nos: o que repugna no caso da 
pseudo-licenciatura de Miguel Relvas é a circunstância de esta 
personagem política não ter o mínimo de respeito por si próprio. Se tivesse
 o mínimo de carácter, jamais aceitaria tirar um curso nestas 
circunstâncias. É precisamente nestes pequenos episódios - que alguns 
desconsideram por se tratar apenas de um curso - que se revela o 
carácter, a fibra, a seriedade das pessoas que nos governam. Se Miguel 
Relvas tem escrúpulos e uma falta de vergonha tal que lhe permite esta chico- espertice
 de tirar o curso sem praticamente ir à Universidade - e, ainda por 
cima, sempre gostou de proclamar que é licenciado - é capaz de todas as 
trafulhices. Não é uma pessoa séria, honesta, exigente para consigo e 
com sentido do ridículo: se não no que toca aos assuntos da vida 
particular, não o poderá ser (nunca!) na gestão da coisa pública. O 
episódio da licenciatura é o retrato perfeito de Miguel Relvas: alguém 
que nasceu nas estruturas partidárias e construiu uma teia de 
influências, de favores e favorzinhos, que o permitiu subir na vida. 
Miguel Relvas não serviu a política portuguesa; serviu-se da política 
prosseguindo o seu interesse exclusivamente pessoal. Enriqueceu (e 
muito) à custa de servir Portugal, servindo-se a si. Com uma 
licenciatura que vale zero, construindo uma empresa cuja actividade 
ninguém (ou poucos) conhece realmente, Miguel Relvas construiu uma 
fortuna pessoal. Sabe que, de acordo com as declarações de rendimentos 
entregues no Tribunal Constitucional, Miguel Relvas é dos ministros com 
rendimentos mais elevados, só superado por Paulo Macedo? Como? 
5. Em conclusão, o episódio da licenciatura de Miguel 
Relvas não é grave por si: é gravíssimo porque revela que Miguel Relvas 
não sabe actuar de forma séria - a sua vida pessoal, e por maioria de
 razão política, está cheia de episódios mal contados. Miguel Relvas não
 sabe ser sério na gestão dos seus asssuntos pessoais - logo, não sabe 
ser sério na gestão dos interesses de Portugal. Este homem não pode ser 
Ministro de Portugal. Demita-se, Miguel Relvas, e saia com um pouco de 
dignidade. A seu bem e a bem de Portugal. Já hoje.