quarta-feira, julho 14

outra bicicleta!!!

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Mais do que nos dar a conhecer e recordar momentos que marcaram a nossa vida, o velho álbum de fotografias faz também reflectir sobre aquelas pequenas coisas que tanta emoção e satisfação nos deram. São pequenos rectângulos de papel que fazem cócegas à memória e nos provocam belas histórias, como recordar o primeiro brinquedo, o primeiro dia de escola, a primeira briga, a primeira comunhão, a primeira bebedeira, o primeiro carro, o primeiro sorriso do filho, eu sei lá... emoções fortes de momentos que gostaríamos de reviver, e é natural que assim seja. Mais uma vez reviro o fundo do baú, não para contar como foi o primeiro beijo mas porque muito antes da minha primeira namorada eu tive a minha primeira bicicleta.

Sendo eu o primogénito, no dia do meu quinto aniversário tive o privilégio de ser o primeiro a conhecer aquela que marcou as pedaladas de infância. Era uma Orbita de uma cor invulgar, num tom verde “bisga”, com pneus brancos, rodinhas extra, desdobrável e sem velocidades. O suficiente para começar a pedalar e deixar de vez o triciclo esquecido a um canto. Passados três meses e tal foi a vez do meu irmão receber a sua e parar de embirrar. Olhando a fotografia com atenção, dou conta como aquele pátio era pequeno, mas na altura parecia-me haver muito espaço para dar aos pedais.

Mas aqueles eram tempos de brincar na rua, onde perigo era palavra proibida e radical era brincadeira de criança. Desde o momento que me foi permitido percorrer a rua de uma ponta à outra, eu meti na cabeça que já era a altura de largar aquelas rodinhas ridículas. E todos os momentos com os nossos pais, são momentos de "primeira vez de bicicleta", onde aprendemos, caímos, insistimos e nos estatelámos ao comprido. Eles estiveram lá para nos ajudar a levantar e tentar de novo, para nos curar as feridas, sempre ao nosso lado quando, já sem o amparo das rodinhas, nos viram crescer e aventurar por um mundo que florescia a cada pedalada. A quantidade de sustos e de acidentes que tive desde então, foram apenas troféus guardados na minha pele em forma de cicatrizes nos joelhos e nas palmas das mãos.. Hoje, fico até admirado quando passo pela rua, pelos lugares onde adorava fazer quilómetros e aventurar-me pelos pinhais da vizinhança. Não sei como tinha coragem de descer algumas ladeiras que eu descia, apostando com os meus amigos em corridas de bicicleta ou de carrinhos de rolamentos pelo passeio da rua. Fechava os olhos e só rezava para não atropelarmos ninguém, mas parece que as rezas não ajudaram muito. A minha mãe deve recordar-se bem das vezes que tratou as nossas cabeças partidas.

Mas acontecem coisas na vida que não tem explicação e as pedaladas foram trocadas por outras namoradas. As bicicletas que me levaram a todo o lado foram esquecidas e acomodei-me numa vida totalmente sedentária onde era agora o carro que me carregava o tempo todo. E nem caminhar eu caminhava mais, até ao dia que decidi ser a altura de recomeçar a tomar o gosto pelas pedaladas. Foi quando chegou o momento, porque aprender a andar de bicicleta não é simplesmente aprender a andar de bicicleta, é mostrar o que a vida tem para nos oferecer, e que, dependendo de tudo o resto que nos possa acontecer, eu como pai estive ao seu lado, para o ensinar, ajudar a levantar, encorajar e recomeçar.

Assim, um dia resolvi comprar uma bicicleta, aquela que está ali na barra lateral, e tornei-a minha companheira de viagens e muitos passeios solitários. Foi a que mais quilómetros fez comigo, estrada fora. Fez-me gozar de muita adrenalina e ajudou-me a sentir a tremenda sensação de liberdade que é alcançar distâncias, que antes seriam impensáveis para mim de alcançar, apenas com o suor como combustível. Mas eu, que já devia ter idade para ter juízo, abusei da bicha que agora reclama a reforma e descanso. E foi com aquela mesma alegria de menino, que ganha a sua primeira bicicleta no dia de aniversário, que dei a primeira volta numa leve e esbelta bicicleta de estrada, a minha nova companheira para continuar a pedalar com o maior dos prazeres.



n.d.r.: Parabéns Sérgio Paulinho, és cá dos meus pá.



8 comentários:

Gi disse...

Pela evolução, quqer dia vejo-te no Tour de France.

Poetic Girl disse...

De pequenino se começa! bjs

Teté disse...

Nunca tive bicicleta em criança, aprendi a andar em alugadas, mas uma das últimas vezes que montei uma torci um pé...

Enfim, cada um é como é, se gostas de andar de bicicleta força, que a malta tem de ter algumas alegrias no dia a dia... :)

Beijocas!

ψ Psimento ψ disse...

Lembro-me bem da minha primeira bicicleta. Era Preta e também tinha rodinhas, depois o meu pai tirou uma e depois a outra saiu sozinha e eu nem reparei e continuei a andar. Agora que acabaram os exames e estou de férias vou deixar o carro em casa, o metro não falo mais dele e vou de bicicleta para a praia. Demora 30 minutos mas vai fazer-me muito bem. Começo amanha ;)
Abraços

Patti disse...

Penso que todos nos nos lembramos da nossa primeira bicicleta, da cor, da campainha, das rodinhas, do cestinho na frente, dos trambolhões, dos joelhos esfolados e das aventuras na bisga.

Em boa hora voltaste ao teu prazer da infância. Há que recuperar hoje tudo aquilo que ela nos trouxe de felicidade: os passeios de domingo, os piqueniques, as matinés, as reuniões familiares, as brincadeiras na rua, o pião, os berlindes....

Adeus amigo, deixo-te uns raios de sol. Parto para Lagos, para férias merecidas e descansadas. Volto num qualquer dia de Setembro :))))))))))

Rafeiro Perfumado disse...

Lembro-me perfeitamente da minha primeira bicicleta, ganha no natal, com direito a decoração de gambiarras e tudo. Lembro-me também da primeira viagem nela, com um primo atrás. E lembro-me também dela se ter partido ao meio e nós termos ido por uma ribanceira abaixo. A partir daí a memória já é um bocado mais confusa...

Tó disse...

Agora é que vou fazer uma "Birra" para ter uma igual à tua nova Bicla...(só lhe falta o ar condicionado eh...eh)

Boas pedaladas Mano!!!!

Gata Verde disse...

Fizeste-me remexer no meu baú de memórias e fiquei saudosista...
:)